David J. Phillips
Autodenominação: Magüta ou Due’e. Na sua fala diária os Tikuna se chamam Due’, que significa ‘gente’ ou ‘povo’ (Reyes 2008).’ Magüta significa ‘grupo de pessoas que pesca com vara’.
Outros nomes: Ticuna, Tukuna, Magüta. O nome Tikuna parece ser de origem estrangeira; talvez se origine de raiz do tupi: ‘taco-uma’ que quer dizer ‘homens pintados de preto’ ou ‘peles pretas’. O nome foi lhes dado por seus vizinhos visto que os Tikuna se pintavam pretos com o suco do jenipapo (Genipa americana).
População: 25,000 in Brasil (2000 SIL). População total em todos os países: 41,000. 8,000 na Colômbia e 8,000 no Peru, de Chimbote no Peru até Santo Antônio do Iça no Brasil (SIL). Mas a FUNAI 1994: 23,000 no Brasil. Peru: 4,200 (1988). Colômbia: 4,500 (1988). Lista Central do Instituto Antropos: Brasil – 32.613. Peru – 4.200. Colômbia – 4.535.
Localização: Antigamente os Tikuna ocuparam as cabeceiras e os trechos centrais dos rios pequenos da margem esquerda do Rio Solimões, que entram o Rio Putumayo, a divisa entre Colômbia e Peru, e Rio Iça no Brasil de 71° 15′ to 68° 40′ Oeste.
Hoje seu território abrange áreas em Peru, Colômbia e Brasil. No Peru eles ocupam a região do nordeste do Departamento de Loreto, na Província de Maynas. Na Colômbia, os Tikuna habitam no Trapézio Amazônia no Departamento de Amazonas. No Brasil, eles moram no Estado de Amazonas, nos municípios de São Paulo da Olivença, Santo Antônio do Iça, Benjamim Constant, e Fonte Boa (Reyes 2008). O Mapa de Curt Nimuendajú de 1944 identificou os Tikuna nas seguintes localizações: 1. Entre os Rios Amazonas-Solimoes e o rio Iça entre Loreta e Santa Rita, incluindo a Área Indígena Eware Tikuna. 2. Na beira direita do rio Javari /Yavari, portanto no Brasil, entre San Juan e Atalaia. 3. Na beira direita do rio Solimões entre Santo Antônio do Iça e a Ilha Timbotuba. 4. Na beira direita do rio Solimões na A. I. Tikuna do Feijoal.
Vivem em 27 Terras Indígenas.
Língua: Antigamente era considerada parte do grupo Aruak, mas agora é considerada uma língua isolada, talvez relacionada com a língua Yuri, agora extinta. No Brasil, os Tikuna agora têm literatura escrita na sua língua e escolas supridas pela FUNAI e pelo MEC. Livros de texto são usados por professores indígenas, treinados em Português e Tikuna. O projeto de gravar as narrativas tradicionais está suprindo alguma literatura para motivar a leitura e a pratica de ler. A qual os Tikuna já estão recebendo no Peru desde os anos 60. Uma dúzia de livros é publicada no idioma cada ano, usando um sistema fonético simplificado semelhante ao português brasileiro. A língua Tikuna tem cinco tons, que mudam o significado das mesmas palavras. Novo Testamento: 1986, e porções.
História: Conforme seu mito da criação do mundo a origem dos Tikuna era na ravina Eware, perto da fronteira entre Brasil e Colômbia. As tradições contam que Yo’i, um herói sobrenatural, pescou os primeiros Tikuna das águas vermelhas do Igarapé Eware, nas cabeceiras do igarapé São Jerônimo. Assim começaram os Magüta, a autodenominação Tikuna, que significa ‘grupo de pessoas que pesca com vara.’
Antigamente o lado esquerdo do Amazonas – Solimões era ocupado pelo Omagua, os inimigos do Tikuna, que os atacaram e escravizaram. Os lados do Río Putumayo eram habitados pelos Arawak e pelos Mariaté, Yumana e Pasé, que se tornaram extintos durante o século 19. No oeste dos Tikuna moravam os Peba e Yagua, que ainda são seus vizinhos. Quando os Europeus chegaram os Omagua resistiram e foram derrotados. e destruídos pela guerra, escravidão e das doenças europeias. E os Tikuna ocuparam seu território. Os Tikuna perderam parte da sua população durante a Guerra entre Brasil e Paraguai (1864-1864). No fim do século 19 e no começo do século 20 era o tempo da valorização da borracha e os Tikuna sendo clientes escravizados e deportados para outras localidades pelos patrões brasileiros seringueiros.
Em 1932 houve uma guerra entre a Colômbia e o Peru novamente, que fez que os Tikuna se emigrassem da beira esquerda para o lado direito do Amazonas. Nos anos 1940 os fazendeiros e outras pessoas das cidades invadiram a área na Colômbia. Nos anos 1950, o comercio desenvolveu em peles e nos animais na cidade de Leticia, Colômbia. A Igreja Católica estabeleceu escolas na região durante os anos 60 e 70 (Reyes 2008).
O contato dos Tikuna com os brancos, especialmente com o estabelecimento de fazendas para a criação de gado, que destruiu o mato e diminuiu a caça, os indígenas adotaram uma forma diferente de assentamento. Hoje os Tikuna habitam aldeias de 70 a 1,500 habitantes; os maiores estão no Brasil. Na década 70, dois fatos influenciam os Tikuna no Brasil, o crescimento da sua população e a concentração nas aldeias no Rio Solimões.
No passado os Tikuna tiveram controle do seu território em acordo com alianças entre eles mesmos. Nos séculos 18 e 19 estenderam seu território para a margem direita do Amazonas – Solimões. Hoje em dia o direito da terra é baseado no trabalho para ganhá-la. Este costume é rigorosamente observado; ainda quando a terra está abandonada os Tikuna reconhecem que pertence ao dono que trabalhou para ganhá-la. Durante os anos os governos demarcaram áreas indígenas para os Tikuna (Reyes 2008).
Antigamente os Tikuna moravam em malocas feitos no mato na terra firme, separadas uma da outras, mas conectadas por trilhos no mato. As malocas eram de forma oval, ou retangular com extensões semicirculares nos fins. As paredes eram feitas de paxiúba, e bem fechadas contra os mosquitos. Mais tarde eles usavam mosquiteiros. Cada maloca abrigava 50 a 150 indígenas. Dentro cada família nuclear tinha sua secção aos lados, em redor da área central que era reservada para as cerimônias.
Nas áreas aonde a caça tornou-se escassa os Tikuna se mudaram de estilo de vida. As malocas eram substituídas por casas retangulares de famílias nucleares, mais perto dos rios, muitas construídas no igapó, sobre esteios altos. Hoje as casas têm três espaços definidos, consistindo primeiro de uma plataforma elevada, segundo o quarto aonde o casal dorme usando mosquiteiros, e terceiro, uma plataforma no telhado onde as crianças podem dormir e coisas de valor estão gasalhadas (Reyes 2008). A comida é preparada em uma barraca separada da casa.
Subsistência e atividade comerciais: Este território é em geral plano com áreas extensas de igapó, a floresta baixa inundada de 7 a 10 meses no ano (Merkler 2001. 46-55, 46). Os Tikuna cultivam mandioca, macaxeira, milho, feijão, banana, e frutos. Cada família tem a sua roça na terra firme e também cultivam roças plantadas no igapó alto durante a seca.
As mulheres fazem a cultivação e são responsáveis para preparar a mandioca e a comida. Elas também preparam o paiaucru, a cerveja consumida nas festas. É fermentada sendo que são as mulheres que mastigam a pasta tirada na preparação da mandioca, e depois cuspam na mistura. A maior parte do fruto colhido é consumida pelas crianças.
Os homens são responsáveis pela caça e pesca. Eles usam a zarabatana, arca e flecha, mas preferem não usar espingardas, pois o barulho do tiro espanta os animais. Antigamente os Tikuna eram bem conhecidos por suas zarabatanas de 3 metros. Os Tikuna mantinham o segredo em preparar o veneno curari, por um processo secreto, porém é conhecido que Strychnos castelneana and Cocculus toxicofera são entre os ingredientes. O veneno está guardo em tubos ou potes de barro, e ele forma parte do comércio entre as tribos e chamado ‘o veneno Tikuna’. Eles aprenderam a depender mais da pesca, e constroem dois tipos de canoa, um esculpido de troncos e o outro feito da casca de arvores. Pescam com lanças, cacuris e o veneno curare.
Os Tikuna fazem comércio com os ribeirinhos, vendendo peixe, mandioca e fruto para comprar roupa, cadernos, sal, açúcar, pilhas, cartuchos e panelas, etc. Colhem também cera, a borracha, e a sarçaparrilha para vender.
Artesanato: Os Tikuna são excelentes artesãos. Sendo os homens responsáveis organizarem as festas, fazem as roupas especiais para as cerimônias. Hoje turistas compram os artesanatos, como as mascaras e roupas cerimoniais. Os Tikuna fabricam as roupas das fibras da camada interior da casca do arvores Sapucaia; esta fabrica é feita por bater as fibras.
Um mito explica a origem das roupas de fibra usadas nas cerimônias:
Dizem que um velho e sua esposa, com alguns outros homens partiram para uma viagem; não sei para onde, eu acho que era na direção do mundo subterrâneo. O velho ensinou aos outros um truque mágico. Quando ele soltou uma flecha que fincou alto no tronco do pau Sapucaia (Fícus sp.), tirou-se do tronco uma fita branca de fibra, a largura de da palma da mão, rolando de cima para o chão. Cada homem selecionou um pedaço, o estendeu e pintou com manchas pretas como a pele da onça, assim fazendo por si uma roupa de onça. Vestiram-se das roupas se tornaram em onças e atravessaram o mato, matando e comendo gente. Porém outros índios descobriram o segredo, e consideram como pudessem os matar. Uma vez um velho em forma de onça atacou um grupo de caçadores, e o velho foi morto por um deles. A esposa do homem-onça descobriu quem matou seu marido, a qual estava escutando a conversa dos caçadores, resolveu vingar seu marido. Ela, vestida da roupa da onça, correu atrás o caçador e o destroçou em pedaços (Nimuendajú 1952.147).
Estas roupas de fibra são chamadas na’rii para ser usadas nas cerimônias. Os homens pintam nelas desenhos para representar os diversos espíritos e demônios da floresta.
Sociedade: Os Tikuna são sociais, mas também independentes. ‘São um povo altamente individualista não aceitam ordens ou obedecem a mandamentos’ (Merkler 2001.48). Porém isso cria um faccionalismo, que divide as aldeias maiores que não tem sua união baseada nos laços familiares. Outra fonte descreve os como ‘sinceros, honestos e afetuosos’. Um terço dos Tikuna tem recebido influencia cristã. Sua sociedade divide se em dois grupos de clãs: um associado com o leste, que usa nomes de arvores, e o outro associado com o oeste e usa nomes de aves. Os clãs são exogâmicos, e fazem cumprir isso é por penalidades rigorosas.
Os homens não se enfeitam muito, mas as mulheres usam tatuagem no rosto que às vezes indica seu clã. Os homens usam colares de dentes de animais como a onça ou os macacos. Eles cortem o cabelo com uma franja e deixando o comprido atrás.
Os Tikuna praticam diversos ritos de passagem. O parto é realizado em uma barraca provisória, separada da maloca ou da casa, e o bebe é pintado preto com uma tinta derivada da Genipa americana. Os pais ficam isolados com o bebe até o cordão umbilical se separar. A deusa Tae fornece uma alma para o recém-nascido. Quando a criança começa a engatinhar há uma cerimônia, e a criança é pintada de vermelha com uma tinta tirada da semente da Bixa misturada com o óleo do Piqui. Depois as penas de um papagaio são coladas nesta pintura. Quando a criança tem aproximadamente quatro anos realiza-se mais uma cerimônia que envolve arrancar todo o cabelo dela. Quando o cabelo cresce de novo uma cerimônia envolve o corte de cabelo.
Os meninos são iniciados na sociedade por ser separados e dados o rapé. Durante o transe alucinante resultante os rapazes são instruídos nos segredos do uaricana. Este é uma trombeta feita de um rolo da casca de uma arvore, que os Tikuna acreditam que o uaricana tem poderes mágicos. Dois instrumentos são dados a cada menino, que são escondidos das mulheres e os meninos não iniciados.
As moças são iniciadas pela cerimônia de Moça Nova ou la pelazón em espanhol, que é central na sociedade Tikuna. No começo da menstruarão a moça está separada em um quartinho circular perto da parede oriental ou ocidental, conforme o grupo do clã. Ela pode sair do isolamento quando os homens não podem vê-la. Um homem deve assobiar para avisar que está perto. Durante alguns meses antes da festa as comidas e os frutos são preparados pelos convidados para trazer. O anfitrião providencia o paiaucru em grande quantidade, que é guardado em vasos cerâmicos. Uma cerca de palha é construída entre o quartinho e a casa. Estatuas e uaricana estão escondidos atrás da cerca.
Depois os homens e rapazes passam entre eles e inalam o rapé; diversos são escolhidos pelo anfitrião para tocar seus instrumentos. Máscaras e os na’rii ou as roupas de fibra são feitas e usadas pelos convidados, cada pintada para representar os espíritos e demônios do mato. Uma máscara chamada Yurupary tem um rosto de cera preta, com um nariz grande, orelhas grandes e cabelo de fibra que representa o espírito do vento. As orelhas simbolizam a necessidade de ouvir o vento. Outra semelhante a um macaco, com genitais destacados, representa o trovão. Outras máscaras representam arvores e animais importantes na mitologia do Tikuna. Um mito conta:
Uma vez os demônios desejavam celebrar uma festa, mas não tinham carne. Uma noite terrível eles atacaram uma maloca Tikuna e mataram todo o mundo. Os vizinhos seguiram os demônios para uma sua caverna nas montanhas e taparam a entrada com folhas de palmeira, deixando um pequeno buraco. Fora do buraco eles acenderam uma grande fogueira e jogaram vagem de pimenta no fogo. A fumaça penetrou a caverna e todos os demônios morreram sufocados. Depois os vizinhos entram e olharam para as caras dos demônios mortos, que tinham comido a gente Tikuna. Depois disso eles fabricaram as máscaras para representar os demônios mortos (Merkler 2001).
Talvez as máscaras representem esta derrota dos demônios, para desencorajá-los magoar a companhia. Os convidados vestidos de máscaras e roupas representando os demônios congregam em grupos grandes no mato e começam a dançar, visitando de casa em casa, aceitando paiaucru oferecido. Na hora marcada todos vão para a maloca, deixando o centro do chão para a cerimônia. Eles entreguem suas máscaras para o anfitrião, assim revelando suas identidades. Neste momento seus rostos são pintados com a tinta vermelha do annatto e cada recebe um pedaço de carne, que eles colocam numa estante perto do quartinho da moça. A festa continua toda a noite, bebendo e tocando os uaricana e outro instrumento, o boo boo.
No dia seguinte a moça é pintada com a tinta preta do jenipapo (Genipa americana) e dirigida para dentro da cerca. Mais tarde ela está enfeitada com penas, fitas e um pequeno acangatar, etc.
Alguns convidados dançam com a moça e ela está levada para o centro da casa, e seus olhos são cobertos. Ela é dada um pedaço de pau em chamas, que ela joga contra um esteio, que representa um demônio. No terceiro dia da festa as mulheres arrancam o cabelo da moça, começando de cima para baixo na cabeça, deixando um tufo de cabelo em cima, pintado vermelho. Os homens vestidos de roupas e mascaras representam os demônios tentando atacar a moça. Uma coroa de casca está colocada na cabeça da moça; ela é forçada beber cachaça para diminuir a trauma de ter o cabelo ser arrancado (Barlow Rossi 1975.53). No enquanto os tambores tocam sem cessar; os Tikuna acreditam que se os tambores cessam um demônio vai machucar a moça. A cerimônia termina quando o tio paterno dela arranca o tufo. O tio lhe dá instruções sobre as responsabilidades de ser mulher casada. Todas as máscaras estão deitadas em cima dela e quando ela engatinha fora da monte, é considerado o seu novo nascimento como mulher. As máscaras são desfeitas e dadas ao anfitrião e a moça está levada para banhar no rio, e ela mergulha com uma flecha mágica, que a protege dos demônios. Algumas meses depois, quando o cabelo cresce, é cortado e ela está pronta para se casar. Os pedidos de casamento são feito ao tio paterno e ela pode recusar! O novo casal mora perto dos pais dela.
O casamento tem que ser exogâmico, que é um casamento com uma moça do outro grupo de clãs.Antigamente casamentos entre tio e sobrinha, e entre primos eram populares. Também a poligamia com irmãs era permitida, porém o padrão atual é a monogamia. Os filhos pertencem ao clã do seu pai. Os filhos de casamentos mistos com brancos não tem clã. O divórcio não é comum. Os filhos aprendem dos seus pais observando a prática. Muitos hoje vão para as escolas. Os filhos herdam dos pais e as filhas das mães (Nimuendajú 1952.64).
No passado os chefes de grupos locais eram os cabeças de famílias grandes, considerados de terem poderes mágicos para tratar com alheios. Hoje em dia estes taxáuas são mais porta-voz do seu grupo. Controle social é pelo boato, a alienação social e feitiçaria. O maior temor é da vingança dos poderes sobrenaturais contra a desobediência da regras, especialmente aquela contra incesto. As associações Tikuna das aldeias têm conseguido escolas e empregos dos municípios e assim atraem mais moradores Tikuna (equipe 2008).
O Xamanismo: O xamanismo tem um papel importante entre os Tikuna e o xamã que é valorizado como curandeiro, devido ao seu conhecimento em plantas. Os Tikuna crêem que o sol causa as epidêmicas que são levadas pelo vento. Creem também que as crianças ficam doentes quando os espíritos das arvores sequestram as almas delas. Os xamãs são capazes de comunicar com os espíritos de certas arvores. Um xamã mau pode ter contato com estas arvores, e fabricar um pó mágico, que contem espinhos invisíveis. O pó está jogado sobre a vítima, que vai morrer se outro xamã não chupar os espinhos invisíveis fora e aplicar uma pomada de ervas. O xamã que causa muitas mortes é considerado um xamã mau. Um xamã bom pode identificar o xamã mau por mastigar tabaco. O xamã mau e sua família serão mortos, pela família das vitimas, para vingar as almas das vitimas (Merkler 2001). A influência os xamãs tem diminuído pela influência dos missionários.
O Cosmovisão: Conforme a mitologia Tikuna o mundo é dividido em dois, um mundo superior e um mundo inferior. O mundo superior existe em baixo das estrelas. Há dois tipos de seres, os mortais e os imortais. Os últimos são mortais que vão para lugares eternos, e assim tornam imortais. A posição destes lugares é conhecida, mas eles são inacessíveis (Reyes 2008). A deusa mãe, Taé, reside com índios e os homens que viviam vidas justas no mundo superior. A entrada consiste do espaço entre dois postos que se abre ou feche conforme a vida da pessoa que tenta entrar. As almas dos mortos tentam entrar pelo espaço entre os postos; os criminosos são bloqueados. Se um criminoso suceder passar ele será jogado para a terra por Taé, onde está destruído por demônios ou transformado em um sapo e morre. A Taé não é a mais poderosa deidade, mas tem o poder de destruir o mal. Ela é o mestre do naáë, a parte racional e emocional da alma humana.
Todo o mundo tem duas partes da alma, uma, o naáë vai para o mundo superior e a outra, o natcií, fica vagando no lugar na terra onde o morto morava. O natcií começa a existir depois da morte; ela se disfarça como um animal durante o dia e assombra cabanas velhas, mas anda a noite em forma humana, e chupa sangue e devora carne e ossos. Os Tikuna têm medo dos natcií. Uma outra fonte descreve as crenças diferentes: Há um bom espírito, Nanuola, e um espírito mau, Locasi. Os mortos estão enterrados em jarros de barro, com comida e arca e flechas.
O mundo inferior consiste de demônios, os seres mais antigos da mitologia Tikuna. Alguns pertencem aos clãs. Têm formas grotescas e vivem em baixo da terra e da água. Entram suas habitações por cavernas. O demônio do Oriente é mestre do peixe; o demônio do Ocidente é mestre do barro do oleiro. São perigosos à gente.
O deus Dyai é o inimigo dos demônios, criou a humanidade, estabelecendo os costumes, leis, e criou a culturas materiais. Ele é herói para os Tikuna e por reverencia substituam seu nome por Tànànti (pai), Baiá ou Búti. Os seres mitológicos mais importantes são Yo’i e Ipi, dois irmãos que são heróis e que confrontam os demônios na terra, ou o mundo intermédio e no mundo inferior. O primeiro homem era Nutapa, de quem descenderam os irmãos e irmãs míticos. A primeira cerimônia de Nova Moça foi iniciada por o xamã poderoso chamado Me’tare.
Os Tikuna têm uma tendência de aceitar movimentos messiânicos. Curt Nimuendaju e Maurício Vinhas de Queiroz identificaram sete movimentos entre os anos 1900 e 1961. Estes movimentos começaram com um Tikuna tendo visões e revelações, causando muitos dos índios de se juntar e abandonar o trabalho de seringueiro. Foram terminados por invasões de ‘civilizados’ matando os índios. Chegou a noticia em 1971 de um Padre Santo estava fazendo milagres. Este era Irmão José Francisco da Cruz, um mineiro que tinha viajado por muitos países ate chegar no Rio Iça, Peru. Nos anos 1980 um movimento messiânico envolveu quase toda a população Tikuna nesta Irmandade da Santa Cruz (Reyes 2008). Para escapar o desastre escatológico os índios tiveram que mudar para as aldeias em redor dos cruzeiros bentos que Padre Santo ergueu. Os batistas e alguns católicos não aderiram ao movimento.
Missões: Os Carmelitas Portugueses tentaram converter os Tikuna no meio do século 18, mas com pouco sucesso devido à escravidão. Depois os Jesuítas criaram uma aldeia, Loreta, no Peru, com 700 Tikuna. Os Franciscanos continuaram até as revoluções do Século 19.
Uma de nossas fontes acusa os missionários ‘que forçaram o Tikuna de renunciar suas crenças’ e ’em muitas ocasiões infectaram o Tikuna com doenças ocidentais’ (Merkler 2001). Isso ignora o contato com centenas ou milhares de soldados, as chamadas tropas de resgate, mestres de escravos, seringueiros, ribeirinhos, garimpeiros, comerciantes, viajantes barcos regatão transportando e trocando mercadorias, que tiveram muito mais contato com os Tikuna, em comparação com um numero muito menor de missionários. Todos, muitas vezes exploradores, não são beneficiadores dos indígenas. Os missionários eram os pioneiros em serviços medicais e educação e analisar e preservar os idiomas indígenas. Também é bom reconhecer que toda cultura muda, sendo que os índios têm a capacidade e o direito humano de escolher por si mesmos suas crenças. Os Tikuna não são ‘forçados’ por ninguém, sendo eles ferrenhos defensores da sua cultura. São tratados como ‘perolas em estado bruto para os antropólogos’ (Callado 1999.140), isto é, cobaias de laboratório ao ar livre, parados no passado. A atitude é paternalista, que os indígenas rejeitam, e não reflete os fatos, portanto não é científica.
Em 1957, a Association of Baptists for World Evangelism (Associação de Batistas para Evangelismo Mundial) estabeleceu um trabalho em Santa Rita, no Solimões. ‘Mais que 15,000 Tikuna alcançados com o evangelho e quatorze igrejas e um programa de treinamento para pastores indígenas estabelecidos. O Hospital Batista Amazonas realiza evangelismo medico- cirúrgico.
Em 1953 a família Anderson de SIL estabeleceu um trabalho lingüístico em Cushillococha, Loreta, Peru. Apesar de muitos pensarem que não existiam idiomas tonais no Peru, eles descobriram cinco tons na língua Tikuna. Em 1957 houve os primeiros conversos e tradução de trechos bíblicos, a instalação de uma escola primaria pelo governo, conseguiu a escritura do terreno para os Tikuna e uma serraria e plantios agrícolas começaram. O trabalho começou com uma escola na aldeia de Bufeucocha. As escolas ensinam o Espanhol e a idioma Tikuna (Barlow Rossi 1975).
Bibliografia:
- BARLOW ROSSI, Sanna: God’s City in the Jungle, Huntingdon Beach: Wycliffe Bible Translators, 1975.
- CALLADO, Manuel: Uma Introdução à História do Amazonas, Manaus: Objetivo, 1999, pag.140
- EQUIPE de Edição da Enciclopédia, 2008,’Ticuna’, Povos Indígenas do Brasil, Instituto Socioambiental, São Paulo. pib.socioambiental.org/pt/povo/ticuna
- MERKLER, Adam, et al: Under the Canopy – Myth and Reality in Western and North-western Amazonia, Fresno Art Museum, 2001
- NIMUENDAJÚ, Curt, 1952, The Tukuna. Berkeley and Los Angeles: University of California Press.
- REYES, Fajardo, Gloria Myriam: ‘Ticuna’, www.everyculture.com/ South-America/Ticuna.html (Translated by Ruth Gubler) Acessado 2008.
- REYES, Fajardo, Gloria Myriam (1986). Visión etnográfica de los Tikuna de San Martín de Amacayacu. Bogotá: Universidad Nacional de Colombia.
- SIL 2014, Lewis, M. Paul, Gary F. Simons, and Charles D. Fennig (eds.). 2014. Ethnologue: Languages of the World, Seventeenth edition. Dallas, Texas: SIL International. Online version: www.ethnologue.com