David J Phillips
Autodenominação: Taliaseri(Cabalzar 2006).
Outros Nomes: Taliáseri, Tariano (DAI/AMTB), Tariáno, Tarîna (SIL) Taliaseri, Tariana (DAI-AMTB 2010).
População: Brasil: 1.914, Colômbia: 205 (DAI/AMTB 2010). Total em os dois países: 430 (SIL), 1.910 (ISA 2002). Colômbia: 330 (SIL).
Localização: Em quatro Terras Indígenas:
- T I Alto Rio Negro, de 7.999.380 ha entre São Gabriel da Cachoeira e a fronteira com a Colômbia, incluindo os vales dos Rios Uapés, Içana e Xié. A população é 25.404 (2012) de vinte povos com os Tariano. Homologada e registrada CRI e SPU
- T I Médio Rio Negro I, homologada e registrada de 1.776.140 ha situada ao sul de São Gabriel da Cachoeira na margem direita do Rio Negro e entre os Rios Curicuriari e Marié. A população de 2480 FUNASA 2007) com dez povos com os Tariana.
- T I Médio Rio Negro II, homologada e registada na margem esquerda do Rio Negro, entre São Gabriel da Cachoeira e Boa Vista. Os Tariana com oito povos e uma população total 1.083 (FUNASA 2007).
- T I Balaio, homologada e registrada com 257.281 ha entre os Rio Damiti e Iá e cortada pela BR 307, ao norte de São Gabriel da Cachoeira. População 350 (FUNAI 2000).
- T I Cué-Cué/Marabitanas, declarada com 808.645 ha entre a margem esquerda do Rio Negro montante de São Gabriel da Cachoeira. 1.864 (FUNAI 2010).
- Também no Rio Vaupés e baixo Rio Papurí na Colômbia (SIL).
Língua: Tariano, Tukano Oriental (DAI/AMTB 2010). Da família linguística; Aruak, Maipuram Setentrional. A língua principal é Tucano ou Nheengatu (SIL). Tariano é extinta na Colômbia, 100 falantes no Brasil em 1996 (SIL).
História:
Os povos Aruak são o maior grupo linguístico no Brasil e chegaram da região do Caribe viajando pela atual Venezuela e entrando na Amazônia do norte, e uma tribo, os Kustenaú, agora extintos, penetrou subindo o Rio Xingu e foram vistados por uma expedição alemão em 1884 (Hemming 1987.403). No alto Rio Negro os Aruak são representados pelos Baniwa, Baré, Kuripako, Warekena e os Tariana. Os Tariana viviam na região há séculos, pois pelas pesquisas dos cacos de cerâmica encontrados em Jurupari foram feitas há 600 anos, e os Tariana chegaram na região em esta época. Existe uma maloca dos Tariana, coberto de capoeira alta, perto do povoado de Santa Maria, na boca do Rio Papuri. Os velhos contam que foi construída na mata em cima da serra, com duas valas em redor dela, por causa da guerra com os Tukano, quando chegaram no Rio Uaupés. Depois da guerra os guerreiros Tariana se casaram com as mulheres Tukano (Cabalzar 2006.58).
Os povos indígenas do baixo Rio Amazonas sofreram primeiro das epidemias e da escravidão pelos portugueses, e porque em pouco tempo durante o século XVII houve uma carência de trabalhadores braçais para as plantações coloniais. Em 1639 um frota pretendia subir o Rio Negro a busca de escravos, porém os padres Cristóbal de Acuña e André de Artieda aconselharam contra o projeto, alegando dificuldades da viagem (Cabalzar 2006.73). Em 1657, duas expedições subiram o Rio Negro e voltaram com mais de setecentos escravos. Construíram o forte São José do Rio Negro (atualmente Manaus) na foz do Negro para servir de base para a busca de mais escravos. Os jesuítas, e depois os carmelitas estabeleceram aldeias de missões no Rio Negro (Cabalzar 2006.74). Durante o século XVIII houve a guerra contra os Manao que atacaram as missões e levaram presos os índios das aldeias das missões. A guerra despovoou o médio Rio Negro. Uma epidemia de varíola devastou, em 1740, e outras de sarampo em 1749 e 1763, o alto Rio Negro. Com a expulsão dos jesuítas e apesar das boas intenções da lei pombalina, os indígenas continuaram ser explorados, especialmente devido a importância militar do alto Rio Negro em definir a fronteira com o Império Espanhol (Cabalzar 2006.80).
Mais tarde os regatões exploraram os índios, forçando os trabalhar sem pagamento, e até raptando meninos para Manaus (Cabalzar 2006.85). Nos meados do século XIX começou o programa do governador da nova Província do Amazonas para a ‘civilização e catequização’ com o Diretório dos Índios no vale do Alto Rio Negro. Um capuchino batizou 700 índios e construiu capelas em vinte quatro vilas nos Rio Uaupés e Içana. Com uma aliança de cinco chefes Tukano e Tariana estabeleceram dez novos povoados na beira dos rios, atraíram com presentes de ferramentas os índios da floresta para trabalhar no serviço do governo, outros foram levados para Manaus como mão de obra e as crianças colocadas nos orfanatos. Tudo foi feito à força com a presencia de soldados. Os índios nos povoados tinham dificuldade em se subsistir, as condições sendo miseráveis com fome e a exploração dos comerciantes. 263 Tariana viviam na vila Jauarethe Cachoeira no rio Uaupés. Apareceu nesta época os movimentos proféticos de Kamiko, atribuído ter poderes de liquidar as dívidas do povo, absolver seus pecados, etc. Em 1857 o Diretor do Rio Içana enviou uma força militar que atacou diversas aldeias, e os índios fugiram para a mata (Wright 2005.111ss). Os Tariana foram influenciados por outros profetas Baniwa durante as décadas 70 e 80 (Wright 2005.157).
O tempo da borracha do final do século XIX até os meados do século XX continuou a exploração dos índios do alto Rio Negro. No início do século os salesianos começaram a reagir contra os abusos dos regatões, porém Nimuendajú criticou a intolerância dos salesianos em relação à cultura indígena, especialmente nos internatos (Cabalzar 2006.93). Em 1949 Sophie Muller da Missão Novas Tribos na Colômbia iniciou a evangelização dos Baniwa do Rio Içana, com muitos conversos. Mas foi perseguida e escapou de volta para a Colômbia, mas o trabalho que fundou ainda continua.
Estilo da Vida: Moram no médio rio Uaupés, baixo Papuri e alto Iauiapri, o centro do povoamento fica entre as cachoeiras de Iauareté e Periquito(Cabalzar 2006).
Sociedade: Os Tariana, mesmo um povo Aruak, são integrais ao sistema social Tukano. Os povos falam sua língua e consistem em um número de clãs em uma hierarquia. A hierarquia determina sua contribuição nos rituais, sejam os ‘chefes’ que patrocinam as festas, especialistas de danças e ornamentos, pajés ou servos. Os povos são patrilineares e exogâmicos, e se casam com uma mulher de um outro povo que fala outra língua. São também patrilocais, os filhos moram com o pai e suas mulheres deixam sua família e sua língua, etc. Os Tariana são o povo que se casa com um maior número de etnias, seguidos pelos Tukano. Recebem mulheres tucano e pira-tapuyana e enviam mulheres tariana para estes povos (Pagliaro et al 2005).
Artesanato: São especializados em implementos de pesca como caiá, cacuri e matapi (Cabalzar 2006).
Religião: São católicos e evangélicos, o ritual tradicional persiste na memória dos mais velhos. Enquanto os Salesianos, queimando as malocas e colocando as crianças nos seus internatos tentaram eliminar a cultura indígena, os missionários evangélicos manteram a cultura material, e os próprios indígenas, depois de se converter terminaram os rituais tradicionais, os substituindo com encontros comuniais de ‘conferencias’ bíblicas.
Cosmovisão: A hierarquia dos clãs reflete a posição na Anaconda mítica que trouxe os ancestrais para o Rio Negro. Antigamente a maloca representava o cosmo
Comentário:
Bibliografia:
- CABALZAR, Alosio, 2006, (redator) Povos Indígenas do Rio Negro, uma introdução à diversidade socioambietal do noroeste da Amazônia brasileira, São Gabriel da Cachoeira/ São Paulo: FIORN-ISA.
- DAI/AMTB 2010, ‘Relatório 2010-Etnias Indígenas do Brasil’, Organizador: Ronaldo Lidório, Instituto Antropos instituto.antropos.com.br
- EQUIPE do programa do Rio Negro, 2002, ‘Tariana’, Povos Indígenas do Brasil, Instituto Socioambiental, São Paulo. pib.socioambiental.org/pt/povo/tariana
- HEMMING, John, 1987, Amazon Frontier-The Defeat of the Brazilian Indians, London: Pan Macmillan.
- HEMMING, John, 2003, Die If You Must – Brazilian Indians in the Twentieth Century, London; Pan Macmillan.
- PAGLIARO, Heloísa, Azevedo, Marta Maria e Santos , Ricardo Ventura (orgs.), 2005, Demografia dos povos indígenas no Brasil, Rio de Janeiro: Editora Fiocruz.
- SIL 2013, Lewis, M Paul, Gary F Simons, & Charles D Fennig (eds), 2013. Ethnologue: Languages of the World, 17th edition. Dallas, Texas: SIL International. Online version: www.ethnologue.com
- WRIGHT, Robin, 2005, História Indígena e do Indigenismo no Alto Rio Negro, São Paulo, SP, Instituto Socioambiental.