Wanano – Kotiria

David J Phillips

Autodenominação: Kotiria (Chenela 1993; Socioambiental), Kótedia, Kótirya.

Outros Nomes: Conhecido no Brasil (português) como o Uanano ou Uanana, Wanâna, na Colômbia (espanhol) Guanano ou Guamana, confirmando a prática de traduzir a Língua Geral. São chamados Okotikana pelos Tukano, Okodyswa pelo Kubeo e Panumapa pelos Tariana.

População: Os 1.500 Wanano constituem-se entre vinte or mais grupos linguísticos que casam entre si mesmos no Rio Uaupés. No Brasil Chernela diz há dez assentamentos Wanano no Rio Uaupés, separados de 3 a 24 km, cada aldeia tem entre 30 e 160 pessoas. DSEI/FORN: 735 no Brasil (2005). A estimativa da população no Brasil é 500 a 600 (550 no Brasil: AMTB 1995); incluindo a população na margem ao sul na Colômbia o total seria 1.500 a 1.600. Instituto Antropos (2009): 1.619 (Brasil: 506; Colômbia: 1.113).

Língua: Wanano pertence ao grupo Tukano Oriental, uma das duas do subgrupo do norte; Guanano (SIL). Diferenças de dialeto existem entre rio a cima e rio a baixo. Novo Testamento 1982, Alfabetos 5% em sua língua, 25-50% em português.

Localização: Estão no extremo noroeste do Estado Amazonas, no Brasil, às margens do alto Rio Uaupés; entre Arara e Taracuá são hegemônicos, em cima de Taracuá até Mitú na Colômbia convivem com os Kubéo. Os Tariana estão rio a baixo e os Baniwa no norte no rio Aiari, um afluente do Rio Içana. Também 1.000 no Rio Vaupé, Santa Cruz, Colômbia.

Terra Indígena Alto Rio Negro, AM, de 7.999.380 ha, homologada e registrada no CRI e SPU, com 26.046 indígenas de 20 etnias (SIASI/SESAI/ISA 2013).

História:
Os Portugueses entraram no rio Uaupés em 1730 quando tropas foram mandado para as cabeceiras para definir a fronteira. Entre 1740 e 1750 20,000 índios foram escravizados. Durante os próximos 50 anos os Portugueses estabeleceram uma base militar na foz do Rio Uaupés no Rio Negro e mandaram expedições de reconhecimento para cima. Eles mudaram índios para trabalhar em cultivar suas roças, fabricar coisas e demarcar as fronteiras. Os indígenas resistiram e em 1782-3 muitos fugiram dos seus assentimentos no baixo Rio Uaupés.

A primeira missão católica foi estabelecida em 1849 para os Rio Uaupés e Içana. Nos anos 1880 o governo da Província convidou os franciscanos e Frade V. Zilocchi fundou a missão em Taracuá. Dois outros frades chegaram e estabeleceram um povoado dos Tariana em Ipanoré e impôs trabalho obrigatório nos índios. Tentaram controlar o comércio dos regatões. Um dos frades ridiculizou os pajés e expôs as flautas sagradas às mulheres. Os índios revoltaram em 1888 e expulsaram os franciscanos e voltaram para suas malocas. Os indígenas tornaram vítimas do sistema de escravidão de dívida para com os comerciantes que também levaram as mulheres e as crianças como escravos. Depois desta reversa com os franciscanos o Papa Pio X deu autoridade aos salesianos a missão do Rio Negro em 1914. Em 1929 os salesianos estabeleceram uma missão 60 km. rio abaixo do território dos Wanano.

A coleta de borracha alcançou o território Wanano entre 1880 e 1912 e muitos aproveitaram ganhar uma renda tanto na Colômbia e no baixo Rio Negro. Os Wanano sofrem os internatos salesianos com a intolerância da sua cultura e língua como os outros povos da região. Este sistema terminou somente quando foram cortadas as verbas federais em 1987. A Terra Indígena Alto Rio Negro foi estabelecida em 1996.

Subsistância: As aldeias são em terra firme na beira do rio (Chernela 1993.4).. As casas são feitas de barro ou casca de arvore, com telhados de palha, construídos em redor de uma ‘praça’ retangular com vista do rio. Cada casa tem uma porta da frente dando para a ‘praça’, e outra que leva para os trilhos para as roças e floresta. Há cercas de 40 cachoeiras no rio entre Santa Cruz e Yabaraté, associadas com eventos na história do Wanano ou Guanano (Waltz, C. 1985). As cachoeiras de Villa Fatma recordam um grande dilúvio. Suas plantações de mandioca e a pesca formam também o meio de troca dia a dia entre os grupos. A floresta da região é relativamente esparsa e o solo e os rios são de baixo nível de nutrimento para sustentar plantas e animais.

Artesanato: Trocam carajuru (um pó corante com as folhas de um cipó) usado na pintura dos bancos rituais tukano, outros artefatos rituais e nos seus corpos. Fabricam cestos e objetos de tururi.

Sociedade:
O Kotiria ou Wanano tem um sistema social de hierarquia singular na região. Eles têm vinte cinco sibs ou clãs em uma hierarquia, conforme a origem de cada ancestral no mito da sua origem. A posição na hierarquia ou ‘patente’ é o princípio que governa relações entre clãs, famílias e indivíduos. Os clãs são patrilineares e exogâmicos. Cada clã usa um grupo exclusivo de nomes que são repetidos por cada geração. Eles não tem genealogias profundas, é suficiente demonstrar por nome e pela maneira de cumprimentar os outros o qual clã pertence e sua posição na hierarquia. Os descendentes dos ancestrais mais velhos têm prioridade sobre os outros, e no dia a dia são usados os títulos de parentela, não conforme idade do individuo, mas conforme o posição do clã na hierarquia. Os homens do clã na hierarquia mais alto são descendentes do irmão primordial mais velho, são chamados ‘nossos irmãos mais velhos’ e ‘chefes’ os dos clãs mais baixos são conhecidos como ‘os irmãos mais novos’, ‘os últimos’ ou ‘os servidores’ (Chernela 1993).

Na Colômbia formam uma fratria de mais ou menos treze clãs patrilineares, em uma hierarquia conforme a idade dos ancestrais, quando chegaram na região. Os Wirou chegaram por último nas costas de aves, e são considerados servos dos outros Porém há uma tendência na conversa e atribuir a seu próprio clã uma posição mais alta na hierarquia (Waltz 1985.44).

A posição mais baixa na hierarquia social é conforme o ancestral mais recente no mito de origens, ou este não veio do Lago de Leite, mas chegou à região de outra maneira, ou são considerados servos para caçar, para os outros, etc. Chernelo escreve que as sociedades indígenas do rio Uaupés – Vaupés são uma exceção no conceito de hierarquia social. A posição ou status na hierarquia é fixa, porém os grupos não têm poder econômico ou militar para suportar sua posição. Os outros grupos e indivíduos podem aproveitar a flexibilidade social. A população Wanano se acha em assentimentos maiores do que outros povos estudados (C. Hugh Jones 1979; I. Goldman 1963). As sociedades assentadas rio abaixo tem mais recursos, mais fertilidade das roças, melhor pesca e mais mão de obra. O Wanano cabe nesta situação comparada aos outros povos estudados. A Amazônia noroeste mostra uma zona de hierarquia: os grupos rio acima mantêm a ideologia de hierarquia, mas com poucas manifestações dela, enquanto os grupos rio abaixo são envolvidos dia a dia na pratica da hierarquia social (Chernela 1993.13).

Outro aspecto destas sociedades do Alto Rio Uaupés é pela exogamia apesar a distinção de identidade pelos ancestrais mantida pelos homens no clãs todos os povos são relacionados por casamento: 14,000 falantes de diversas línguas e etnias sobre uma área de 150,000 Km. quadrados (Chernela 1993).

Um grupo de adolescentes participou em uma oficina organizada por diversas entidades para ser multiplicadores das informações, em suas aldeias, sobre alcoolismo, consumo de drogas e suicídios entre os povos indígenas (Socioambiental – Noticias 09/03/09).

Cosmovisão:
(segimos Waltz, C. 1985 nesta secção). A cosmovisão é semelhante à dos Barasana, porém estes falam de muitas ‘canoas anacondas’, não de uma só, trazendo os ancestrais dos indígenas para a região(Hugh-Jones, S 1979). Os pajés Kotiria ou Wanano interpretam o mundo em termos de Água, Rocha e Fumaça, partes do universo que têm seus próprios povos, e associados com os seres primordiais: Anaconda, Onça, Águia e seis classes de pessoa que devem ser controlado, especialmente Bisiu do reino da Fumaça.

Os Wanano se chamam ‘O Povo d’água’ e preferem viajar por canoa em vez de andar na floresta, e preferem a pesca à caça.

O povo ancestral foi criado por Cohamcu no lugar chamado Wapari Duri, rio abaixo de Yauaraté no Brasil; seus ancestrais subiram na Canoa Anaconda e desembarcaram no buraco em baixo da água na rocha em Santa Cruz. Cohamacu deu presentes a cada um, mas a maioria temia a ele. Barea não tinha medo e recebeu uma espingarda; ele é o ancestral do não-indígenas, os estrangeiros, os brancos. Cjene foi o irmão mais velho dos ancestrais wanano, e capitão da Canoa, por isso a clã Cjenoo é o mais alto na hierarquia. Os wanano explicam porque o ‘branco’ em uma cultura material mais avançada; é devido ao medo dos ancestrais wanano que receberam somente penas, caapi, e cerveja de mandioca (Waltz 1985.55).

O Mundo d’água está situado na profundeza do rio e habitado pelo Povo Peixe (Wahi Masa). Anaconda é o animal chave deste mundo e é o avô dos habitantes, o Povo Peixe. Este é de pele pálida como os estrangeiros, mas vestem se da casca da anaconda. É imaginado que eles vivam na sua casa, praticando as coisas dos estrangeiros, com sentar à mesa, usar garfo e prato, e por consequência os estrangeiros são suspeitados de ser Povo Peixe. A mulher wanano precisa de se proteger do Povo Peixe, que pode a raptar para ser esposa. Especialmente as moças ao início da puberdade pintam o rosto vermelho; para tomar banho no rio, especialmente depois de dar a luz os pajés sopram fumaça de tabaco sobre elas, e cantam a Mulher Ancestral (Pahonori Masono) que mora com Cohamacu no Lago Leite. Ela originou o costume de fumar tabaco, e soprou a fumaça para adormecer o Povo Peixe. O pajé trabalha para defender o povo do Povo Peixe.

Cohamacu criou sua mulher de uma arvore, mas em pouco tempo eles brigaram e ele a matou e tomou uma Mulher Anaconda. Mas seu sogro Anaconda tentou o esmagar e as piranhas o morderam. Depois Cohamacu achou uma linda moça wanano e ele a ensinou roçar e plantar mandioca, assar farinha e fermentar a cerveja da mandioca. Porém a sogra conversava de mais todo o tempo, que fez crescer erva daninha na roça e a mandioca ganhou uma casca dura para protegê-la. Até hoje as mulheres têm que trabalhar descascando a mandioca.

A segunda categoria é o Mundo da Rocha. É a terra onde moram os Wanano e o animal chave é a onça. O Povo Rocha era criado por Cohamacu no tempo longínquo, mas depois o sol, a lua e as estrelas apareceram. Formado em Diroa Cohamana quando esta se transformou em rocha por ser atingido por um raio. O avô rocha chegou na rocha, que tem forma de uma bacia em Yabareté. O Povo Rocha queriam destruir a Canoa Anaconda, para não deixar os indígenas ancestrais chegar na região, e foram destruídos por Wanari Cohanacu e seu Irmão que hoje moram nas rochas perto de São Gabriel da Cachoeira, Brasil. Por isso o Povo Rocha não ameaçavam mais.

Os Seres da Mata (Macarasa Macaina) moram ao lado das rochas e são importantes com influencia para prejudicar os Wanano; os pajés gastam muito tempo tentando controlá-los. As almas de todo tipo dos animais habitam no interior das rochas, a maioria são pacíficas. Porém Boraro, o chefe das almas dos animais é perigoso. Também outro ser, Wahi Wai Toro chacoteia gente para ir para sua casa. A onça tem a alma mais forte porque se alimenta de gente. Os pajés tentam ter poder sobre as almas dos animais, usando um cristal (wijõ) para abrir a casa da Alma Animal e soltar animais para a caça.

O cristal pode ser usado para matar gente, e pelo menos antigamente o sacrifício de uma criança era necessário para contrariar este poder. Isso explica porque o pajé não tem filhos! O pajé não deve comer pimenta chili por um ano depois de cheirar o cristal, e depois cantar por um dia. Se ele quebrar este tabu alguém vai morrer.

Todo Wanano que morre vai para as casa dos mortos, que são os rochedos, um chamado Lugar Alto (Buhi Cohto) perto da aldeia de Matapi. O outro é chamado Ilha da Geração Velha (Bucu Turu Nuco) perto de Cemeteria. Os mortos que eram maus na vida ficam na cova, e são chamados Almas do Diabo e são uma ameaça para os vivos. A qualquer danificação da casa é atribuída a elas; o vapor de pimenta chili fervida e usada para proteger uma casa. Mas as almas do pajés cria temor, antigamente ele era enterrado no chão da maloca, e esta era queimada completamente.

A terceira categoria é O Mundo da Fumaça, ou o Céu: Quando o pajé fuma e sobra a fumaça do tabaco ele faz contato com o Mundo do Céu e os Seres de lá. Um é o Pai das Águias (Cja Bucu), uma águia enorme e brava, o Pajé do Céu, que se alimenta de seres humanos. A fumaça faz o Pai do Céu dormir para que a alma do pajé, depois de tomar caapi, possa entrar na Casa do Céu e aprender do Chefe de Diabos, Bisiu, as soluções de problemas ou curas.

Conforme os mitos enquanto este Bisiu ensinava os primeiros Wanano dançar a dança de compartilhar de frutas e a iniciação (Yurupary), ele matou alguns jovens que o atormentava. Os Wanano ficaram com raiva e o queimou em uma fogueira, a fumaça do o corpo de Bisiu ascendeu ao céu, onde ele mora até hoje. Os primeiro venenos vieram das cinzas da fogueira, e por isso Bisiu é responsável por todas as maldições e envenenamentos, etc. Igualmente ele fornece as curas para as doenças aos pajés.

Bisiu é também Yurupary, o antepassado legendário, que é considerado de comparecer no rito de iniciação, pela música ou das cornetas. Ele vem acompanhado por seus demônios, por isso as mulheres devem fugir. Os jovens iniciantes devem demonstrar sua coragem por enfrentar Bisiu e os demônios, assim provando sua qualificação para ser homem do povo. Entre os Barasana, Yurupary está chamado pelas flautas sacras por apresentá-lo com um dos ancestrais do povo (Hugh-Jones, S 1976); um exemplo que um rito ou elemento cultural semelhante entre diversas culturas nem sempre recebe a mesma interpretação.

Bisiu, chamado também Cohamacu Trovão (Wapo Cohamacu), é chefe dos Guardiões do Wijõ, o cristal, residentes da Casa do Céu que também conhecida como Casa de Trovão. Um índio é considerados de estar doente porque sua alma se desapareceu e o pajé ganha uma nova para substituí-la de Bisiu. A morte não é considerada o resultado de um acidente ou de uma doença, mas por quebrar um tabu. A alma deixa o corpo no momento da morte.

A Humanidade: O homem tem corpo, porém recebe uma alma, respirada para dentro (yajeripohna) or ‘oferenda de respiração’ com Wanri Cohamacu primeiramente formou sua primeira esposa de uma arvore e respirou sua vida ou alma para dentro dela. A alma contribui os atributos pessoais como ser agradável, bondoso ou compassivo; ela é a fonte da vida moral. Os estrangeiros não têm alma porque os primeiro encontrados, borracheiro, traficantes de escravos etc., eram cruéis. O estômago e o coração fisco é a fonte das emoções. Ter misericórdia (pja ñu) significa literalmente ‘barriga de misericórdia’. Os animais possuem almas também, a onça e a anta são almas ‘fortes’, e conforme seu comportamento, mostram-se ser almas de compaixão ou inteligência.

Os espíritos: São ‘seres invisíveis’ (bajueraina) e de muitos tipos, mas não podem ser controlados pelos homens, os pajés usam um vapor de pimentas fervidas para fazer os sair. Os da floresta são maus, que esmagam e comem gente. Há um só bom espírito, Macucu, que tem deixado de comer pessoas. Os espíritos que moram nas cavernas e nas rochas não se alimentam de seres humanos.

Os pajés: O pajé tem uma grande responsabilidade, sua própria saúde sofre pelo tabu em não comer para conseguir o poder do cristal e ganha inimigos quando ele não tem sucesso em curar. Waltz cita um caso de um pajé que estava sempre na casa dela para receber alimento e medicina! Outro rejeitou o cosmovisão para converter-se ao Cristianismo. Com o acesso à medicina moderna poucos jovens querem ser pajé, e assim as tradições estão esquecidas e os wanano estão buscando a vida moderna devido as estrada e o comercio.

Comentário: A Missão Novas Tribos do Brasil trabalha com este povo (MNTB).

Bibliografia:

  • CHERNELA, Janet Marion,1983: Hierarchy and economy in the uanano kotiria speaking peoples, Colombia Universiy.
  • CHERNELA, Janet M, 1993: Wanano indians of the Brazilian Amazon, University of Texas.
  • DAI/AMTB 2010, ‘Relatório 2010 – Etnias Indígenas do Brasil’, Organizador: Ronaldo Lidório, Instituto Antropos –instituto.antropos.com.br
  • DERBYSHIRE, Desmond C. and Geoffrey K. Pullum, editors. 1998: Handbook of Amazonian languages, vol 4.‭  Berlin/New York: Mouton de Gruyter. [ix] 646 p.
  • GOLDMAN, Irving, 1963:. The Cubeo Indians of the North West Amazon, Urbana: University of Illinois Press.
  • HUGH-JOHNS, Christine, 1979: From the Milk River: Spatial and Temporal Processes in Northwest Amazonia, Cambridge: CUP.
  • HUGH-JONES, Stephan, 1976: ‘Like Leaves on the Forest Floor: Space and Time in Barasana Ritual’ 42nd International Congress of Americanists, Paris.
  • HUGH-JONES, Stephen: The Palm and Pleiades, Cambridge: CUP 1979, also 1972.
  • WALTZ, Carolyn: ‘Water, Rock and Smoke: Guanano View of the World’ in Five Amazon Studies on Worldview and Cultural Change, Ed; William R. Merrifield, Dallas: International Museum of Anthropology, 1985.