Waimiri Atroari – Kinja

David J Phillips

Nome Próprio: Kinja, quer dizer ‘gente verdadeira.’ Waimiri Atroari era usado desde dos primeiros contatos pelo SPI (Serviço de Proteção aos Índios). Na língua geral waimiri significa ‘flecha curta’ e os Kinja usam flechas pequenas.

Outros nomes: Atroahy, Atroaí, Atroarí, Atrowari, Atruahí, Ki’nya, Kinã, Uaimiri, Wahmiiri, Jawapweri, Yauaperi.

População: 350 (1995 SIL); 913 (ISA 2001), 450 (Milliken),930 (2001 ISA), 1.120 (PWA – 2005), 931 (Ins. Antropos 2008).

Localização: Terra Indígena Waimiri Atroari, um território no Amazonas e no Roraima de 2.585.910ha, no sul demarcado pelos Rios Camanau e Curiuaú e toda a área para o norte ate as afluentes do rio Alajau, até seu afluente o rio Jauaperí. Homologada e registrada no CRI e SPU em 1971, com 1.662 em 24 aldeias de Waimiri Atroari e Isolados Piriutiti (Progama Waimiri Atoari 2013).

Língua: Atruahí. Da família Carib, com alguma diferençias de dialeto entre as aldeias. Dialectos: Atruahi, Waimirí (Uaimirí, Wahmirí), Jawaperi (Yauaperi). Relacionado com aslínguas Sapara, Pauxiana, Piriutite, and Tiquiriá. Classificação: Carib, Norte, Leste -Oeste, Guiana-Waimiri.

História:
Os Waimiri Atroari ou Kinja eram conhecidos como guerreiros que defendiam seu território. Os próprios Kinja dizem que havia dois povos chamados iky e wekmiri, que se uniram sob a ameaça dos brancos, porém é provável que sempre tinha uma só etnia, apesar das diferenças de dialetos (Milliken 1992:11). Durante o século 17 os brancos buscavam escravos na área. Há evidencia de expedições de ‘regate’ e de missionários católicos no Rio Jauaperí. Houve muitos conflitos entre os indígenas. Quando os povos Aruak deixaram a região para mudar para o norte acerca de 1780, os Waimiri Atroari ficaram no território – kinja itxiri (terra de kinja), como os únicos habitantes. O governo da Província do Amazonas organizou ataques contra os índios.

Contato com os brasileiros que penetravam subindo do rio Negro começavam acerca 1850; os indígenas atacaram três assentimentos que provocou expedições militares em 1874 que massacraram muitos índios. Em 1885 o antropologista brasileiro João Barbosa Rodrigues, enviado pelo governo, tentou apaziguar a situação com algum sucesso. Mas no século vinte o Governador do Estado Nery ordenou a matança de 283 índios. Alípio Bandeira estabeleceu contato pacifico de novo em 1911.

No anos 1940 o SPI fundou um Posto no Rio Jauaperí que foi mudada para cima das invasões sertanejas, mas este foi destruído pelos brancos e foi abandonado. Depois o SPI estabeleceu um Posto no Rio Camanaú. Os Waimiri atacaram os postos e recuaram para as cabeceiras do rios.

A construção da estrada BR 174 entre Manaus e Boa Vista provocou mais violência, os índios mataram uma equipe pacificadora liderada por um padre, porque mostrou uma atitude superior e insensível aos indígenas. Durante a construção do BR 174 a FUNAI tentou forçar os Waimiri mudar para fora da área da construção. Os indígenas sofreram epidêmicas que mataram aldeias inteiras, que criam ser um resultado de feiticeira. A Terra Indígena Waimiri-Atroari foi criada em 1971. A FUNAI, liderado por Gilberto Pinto Figueiredo conseguiu bons contatos com os indígenas em diversos locais, mas a presença do batalhão de construção da estrada prejudicou as relações e no meio da violência Figueiredo foi morto em 1974. Seu substituto quis ‘ensinar os índios uma lição’ e afirmou que a política da pacificação da FUNAI já fracassou (Milliken 1992: 8). A empresa de mineração Taboco recebeu direito de extrair estanho no nordeste do território indígena, e o governo revogou os decretos que estabeleceram a Terra Indígena. Os capitães indígenas foram enganados e concordaram. Em 1987 o governo estabeleceu de novo o Terra Indígena, mas apesar disso a FUNAI contratou ilegalmente com a empresa para continuar com o resultado que o rio Alalaú tem ficado muito poluído (Milliken 1992:9). Em 1986 a represa hidrelétrica de Balbina, no rio Uatumã, já quase completa, foi autorizada pelo governo; esta inundou uma grande área da floresta do território do povo. A FUNAI continuou aculturar os Waimiri Atroari, e um terço deles foi removido do Rio Abonari, fluente do Rio Uatumã, para Maré e trabalhar nas plantações com outros empregados indígenas, que não simpatizaram com a cultura deles. Desde 1989 o Programa Waimiri-Atroari da FUNAI é financiado pelo convênio da Eletronorte, provendo os serviços de saúde, ensino, produção e ecologia. A empresa telefônica OI construiu parte da rede de comunicação de fibra óptica que vem dos Estados Unidos até Brasil e entre Boa Vista até Manaus ao longo da BR 174, e assim também atravessa a Terra Indígena (ISA).

Desde 1960, há um comercio com o Waiwai em produtos, como pulseiras e colares, que Kinja não fabricam por se mesmos! Eles tem também contato com os Pirititi (Piruichichi) que não querem contato com o mundo fora (www.everyculture.com).

Estilo de vida: Hoje moram em dez aldeias estabelecidas pela FUNAI e Electronorte em 19 grupos (24 aldeias SIL) e se casam entre as aldeias, mas cada assentimento se identifica como Waimiri ou Atroari. A casa, a área em redor e o roçado é chamado mydy taha, a casa grande. A maloca é circular, coberta de um telhado cônico de palha, o chão é divido com as áreas familiares na periferia e o centro é reservado para os homens e as cerimônias. Antigamente os homens usavam cintos de raízes e as mulheres aventais de fibra de tucum e sementes de bacaba; hoje usam roupa comum. Os homens confeccionam a cestaria e ensinam os jovens antes de se casar.

O alimento diário é a mandioca, os homens cortando as roçadas, os homens e as mulheres plantam, e somente as mulheres colhem e preparam a farinha. Toda a família pode sair pescar ou colher frutas silvestres juntos. Os homens caçam com arca e flecha ou com as poucas espingardas. A anta, a queixada, o porco-do-mato cateto e os macacos-aranha formam a maior proporção da caça (Rumor 2000). Pesquisas da caça eram feitas entre 1993-1994 que demonstraram que não havia redução da população dos animais. 3.004 unidades eram mortas entre 41 especies em um ano, 87% sendo anta, javali (Tayassu pecari e Tayassu tajacu) e macaco aranha. Antigamente os Kinja sempre mudaram as aldeias conforme a disponibilidade da caça, porém o assentimento sedentário era imposto pela FUNAI e por isso hoje em dia necessita viajar grandes distâncias para caçar.

A pesca é importante também. O rio Camanaú é de água negra, entretanto há peixe suficiente nos igapós. Os Kinja não usam veneno na caça, e reconhecem os perigos de usar timbó na pesca (Milliken 1992.29). O alimento e a caça são compartilhados com todas as famílias da aldeia.

Eles têm uma tradição de construir canoas grandes, mas não usavam fogo para abrir o tronco e aumentar a estabilidade; hoje são substituídas por voadeiras de alumínio, mas as canoas pequenas ainda são fabricadas e usadas para pescar nos igapós. Hoje os Kinja queimam os mortos e jogam as cinzas nos rios. Os Waimiri Atroari conservam sua rica cultura material de cestarias com grandes variedade de formas; o artesanato é vendo pelo Projeto Waimiri Atroari em Manaus. Uma empresa vende joias feitas de sementes, etc. dos Waimiri.

Sociedade:
Os Waimiri Atroari dividam o mundo entre kinja, nós gente, e todos os outros ka’aminjá. Os Kinja se dividam entre parentes aska e os ba’ashrá, os Waimiri das outras aldeias. Não há organização fora da aldeia, e novas ‘casas grandes’ conforme a pressão de população e a necessidade da caça, pesca e novos roçados. Entretanto as festas, maryba, são oportunidades para a gente das aldeias se reunir e renovar sua alianças. As festas consistem em danças e cantos.

As pessoas morando na mesma aldeia, aska, são consideradas parentes, inclusive aquelas que são apenas co-residentes. Os termos para primos paralelos são de irmão e irmã, primos cruzados são cunhados. As distinções são usadas somente para as gerações imediatas.

Casam-se entre primos cruzados e somente na mesma aldeia. O casamento entre primos paralelos é considerado incesto. Os últimos são considerados e chamados irmãos e irmãs. As segundas geração do ego são chamados pelos mesmo termo conforme ascendendo ou descendendo. Antigamente o marido morava e trabalhava para seu sogro. A FUNAI está tentando modificar os costumes. Desde 1989 escolas existem em dez assentimentos. No passado os pais que suportaram suas família bem tinha influencia com os pajés para liderar; atualmente o FUNAI escolha capitães novos que têm pouca autoridade. Os empregados do FUNAI predominam nas aldeias e representam dos os vícios dos caboclo e os novos Waimiri querem se assimilar.

Cosmovisao:
O universo dos Waimiri Atroari consiste e de domínios de seres mitológicos e dos homens que são diferentes mas interpenetram.
Os Waimiri Atroari têm muitos mitos etiologias sobre os primeiros homens, a origem da agricultura, da mulher e dos brancos, um grande diluvio. O céu era considerado de constituído de pedra. Os animais descem do céu para fornecer a caça. Mawá subiu ao céu numa trepadeira para ficar.

Todos os animais e seres mitológicos eram humanos, até um dia quando choveu pedras. A casa que suportou esta ”chuva’ teve um esteio muito forte no meio de pau d’arca (tabebuia). Os Waimiri Atroari ou Kinja são descendentes das famílias que moravam naquela casa e o posto no meio suas maloca simboliza sua proteção.

Os Waimiri Atroari se denominam kinja (gente verdadeira) em oposição a kaminja (não indígena), a makyma (canhoto) e a irikwa (morto-vivo).

Eles encaram sua mydy taha, a casa grande, como segura em comparação o mato, que é perigoso, especialmente para os não guerreiros, as mulheres e as crianças que devem ser acompanhadas. A terra, especialmente a mata é domínio de feras que chupam o sangue, os irikwa ou yirkwá (os mortos vivos), os iamai (criaturas semelhantes aos morcegos) e os ianana. Os Ianana morava nos caules da arvore angelim (Hymenolobium petraeum), uma da madeiras mais duras e prova de água. Porém a arvore não era prova do fogo que os Kinja acendeu para matar Ianana, mas o filho dele sobreviveu e foi adotado pelo Kinja. Este filho de Ianana tinha muito sorte em caçar e quando o povo não acreditou sua explicação voltou morar na floresta (R. do Vale 1991).

Contam os Waimiri Atroari que antigamente existiam dois grupos denominados Iky e Wehmiri. Os Iky viviam na cabeceira do rio e tinham a pele sakra (mais clara) e os Wehmiri moravam próximo à foz e tinham a pele tapyryma (mais escura que os Iky). Esses dois grupos habitavam tanto o fundo do rio, pois eram parentes do xiriminja o povo peixe mitológico. Os Kinja acreditam que os xiriminja ainda moram nos leitos dos rios, que antigamente ensinou o povo ter sexo e se casar, malhar os cestos, cantar e dançar e plantar manivas nas roças (R. do Vale 1991).

A Marba é uma festa de três dias de danças, canções e comida, recordando todo aspecto da vida e das crenças dos Kinja. Os meninos recebem iniciação com trés anos. Os jovens são iniciados com adultos e os casamento e amizades são feitos e desfeitos. A myda maryba é celebração de uma nova maloca para garantir que raios bons percorram a casa e os irikwa (os mortos-vivos) não se aproximem e a construção dura por muitos anos.

Os Waimiri-Atroari chama o Deus Cristão Papai no Céu. Há poucos pajés hoje em dia. Eles não usavam alucinogênios e tabaco para contatar os espíritos.

A morte: Antigamente o espirito (akta) era considerado de deixar o corpo e voltar pela floresta para um lugar da aldeia aonde morava no passado. Hoje aceitam a ideia cristã da alma ir para o céu com Deus e estão enterrado orientado para o leste conforme as instruções do FUNAI.

Bibliografia:

  • DAI/AMTB 2010, ‘Relatório 2010 – Etnias Indígenas do Brasil’, Organizador: Ronaldo Lidório, Instituto Antropos –instituto.antropos.com.br
  • ISA: Instituto Socioambiental.
  • MILLIKEN, W. et. al. 1992 Ethnobotany of the Waimiri Atroari Indians of Brazil, London, Kew: Royal Botanical Society.
  • R. DO VALE, Maria Carmen, 1991: ‘The Trauma of Contact’, Survival: Newsletter, Londres : Survival International, n. 29, pag. 8-9.
  • SIL 2009: Lewis, M. Paul (ed.),. Ethnologue: Languages of the World, Sixteenth edition. Dallas, Tex.: SIL International. Versão on line: www.ethnologue.com
  • SOUZA-MAZUREK, Remor De, Rosélis, et. al. 2000, ‘Substistence hunting among the Waimiri Atroari Indians in Central Amazonia, Brazil’, Biodiversity and Conservation, Amsterdam: Kluwer Academic Publishers, Vol. 9, No. 5, Pag. 579-596.
  • ‘Waimiri-Atroari’ www.everyculture.com/South-America/Waimiri-Atroari acessado Julho 2010.