Guaikuru – Argentina/Paraguai

David J. Phillips

Guaikuru é um nome genérico dado a um grupo do povos indígenos do Gran Chaco na Argentina, Bolívia, Paraguai e Brasil Hoje existem os três Toba, Pilagá e Mocovi na Argentina e no Paraguai e os Kadiweu no Brasil. O nome originou entre os Guarani para descrever os Kadiweu Mbayá e depois estendido a todo o grupo e significa ‘selvagem’ ou ‘bárbaro’.

Por informações sobre os Kadiweu no Brasil veja o perfil separado.

Autodenominação: Os Toba ou Qom se chamam Qom-lik que significa ‘povo’. ‘Toba’ é derivado do Guarani, que significa ‘testa grande’, usado pelos brancos.

Outros Nomes: Os Pilagá são conhecidos como Toba-Pilagá, Pilacá, Pitilagá, Yapitalgá, Zapitalagá, Pitelahá, Pitaleases e Ai.

Os Mocovi: Amókebit, Frentones, Mbocobí, Mocobí, Mogosnae, Mokoit, Mosobiae.

Os Toba: Qom, Chaco Sur, Qom, Toba Qom.

População: Toba 60.000. Pilagá: 4.000.

Pilagá: 4.465. Toba: 69.452. Mocoví:15.837 conforme o Censo Nacional de Población 2001 del INDEC.

Localização: Toba (Qom) nas Províncias de Salta, Formosa, Chaco, Santa Fé, Buenos Aires. Toba Oriental vivem entre os rios Pilcomayo e Bermejos. Toba do Paraguai no baixo rio Pilcomayo, Toba da Bolívia nos altos rios Pilcomayo e Bermejo.

Mocoví (Moqoit) nas Províncias de Chaco, Santa Fé. 3.500 Mocoví vivem nos departimentos de O’Higgins, Chacabuco, Fontana, e San Lorenzo na parte sul da província do Chaco, e nos departimentos de Garay, Obligado, San Javier, San Justo, e Vera no nordeste da província de Santa Fe, na Argentina.

Pilagá na Província de Formosa, na Argentina, em Las Lomitas, El Descanso, Campo del Cielo e Pozo de los Chancos. 800 vivem no meio rio Picomayo no Paraguai. A língua é a primeira aprendida antes de começar a escola, mas há falta de matéria didática.

Língua: As línguas pertencem à família linguística guaicuru.

Pilagá (Pilaca) dialetos Chaco-pilaga e Toba-pilaga, porções bíblicas traduzida 1938-1978, gramática e o Novo Testamento em 1993 (SIL).

Mocoví (Mocobí, Mbocobí) falada por acerca de 3.000, em Província Santa Fé: Novo Testamento 1988, porções bíblicas 1976 (SIL).

Toba (Chaco Sur, Qom, Toba Qom), Toba é do grupos linguístico Guaicuru. É falado no leste do Chaco e a província de Formosa. 700 falantes no Paraguai 100 possíveis na Bolívia. Dialetos: Toba sudeste e Toba do norte. No Paraguai: Toba-maskoy. Porções bíblicas 1964-1967, Novo Testamento 1980 (SIL).

História: O Chaco no norte da Argentina e uma parte do Paraguai era coberto de floresta e o planície entre os rios Paraná e Paraguai eram chamado o Mato Grosso. Ao oeste a floresta deu lugar para o campo. Os povos Guaikuru viviam nos campos atualmente no leste da Bolívia, no Paraguai e na Argentina. Eram caçadores coletadores e desprezaram a agricultura. Acerca de 1650 eles começaram a se deslocar do Chaco para as margens do rio Paraguai, e amontaram acampamentos próximos às fortificações europeias (Corradini 2008.81). Mas sua sociedade mudou para uma hierarquia de aristocratas e servos quando tornaram nômades pastorais com a adoção do cavalo roubado dos europeus. Resistiram a expansão da colonização europeia. Os europeus encontraram com os Toba no século XVI, e missões católicas começaram entre eles em 1590. Álvar Núñez Cabeza de Vaca para assumir o cargo de governador da Província do Paraguai e tentou achar um caminho mais próximo à região dos Incas. Em 1541 ele ouviu a queixas dos índios Guarani contra os Guaikuru, pedindo o amparo da coroa Espanhol. Foi decidido fazer guerra contra os Guaikuru, recrutando os Guarani. Depois a vitória da expedição os Guaikuru juraram lealidade à coroa (Petschelies 2013.76).

Os Guaikuru trataram os brancos e os outros índios com desprazo. Sendo nômades recusaram viver em missões. Como a adoção do cavalo tornaram-se cavalheiros ferrenhos não somente para migrar de um lugar para outro com seus rebanhos de bodes e ovelhas mas para atacar os outros. Os Guaikuru roubaram cavalos da missão jesuítica de Ypané em 1672 e logo passaram a dominar os outros povos do Chaco. Os Bandeirantes de São Paulo os descobriram com rebanhos de milhares de cavalhos, alem e muitos de gado e ovelhas e vivendo em tendas de couro. Trataram os animais bem, tendo o conhecimento das doenças. Não usaram laço mas correriam atrás para para pegar os cavalhos. Usaram-nos para caçar veado e ema. Coletaram algaroba (prosopis alba e nigra), chañar (Gourliea decorticans), mistol e diversas frutas com mel e gafanhotos azados.

Montaram sem sela, andando por dias, e atacaram com lança e boleadora. Poderiam se esconder ao lado do cavalho a galope, segurando à crina e com uma perna agarrando a costa do animal, para não constituir alvo claro para os inimigos. Os Mocoví atacaram os povoados espanhóis e tomaram caveiras como troféus e o número de penas na lança era conforme o número mortos pelo cavalheiro. Atacaram para capturar as mulheres e as crianças para manter a população. Os cativos eram vendidos como escravos aos fazendeiros espanhóis ou aumentaram a sociedade Guaikuru em uma escravidão quase voluntária, sendo bem tratados por seus mestres.

Praticaram o aborto e infanticídio para controlar a população, e por isso suas mulheres ficavam inférteis. Mas os Guarani assustavam os Guaikuru com a sua antropofagia ritual. Os homens andavam nus somente com um manto de lã ou um couro de onça. Homens e mulheres usavam pintura corporal de desenhos geométricos assimétricos, os dois lados do corpo tendo desenhos contrastes. Com os Terena ou Guaná, povo agricultor, tinham um sistema de troca de alimentos das suas roças por objetos europeus que obtinham em suas incursões guerreias. Mas o relacionamento era para tratar os Terena com inferioridade (Hemming 1987.115s, Petschelies 2013.75s). Os Guikuru mudaram-se para a margem esquerda do rio Paraguai, por volta de 1800, onde se encontram hoje (Corradini 2008.81).

A Argentina ganhou a independência em 1818 seguida por guerra civil até 1861. A Paraguai em 1811 seguida pela guerra do Paraguai (1864–1870), no qual o país perdeu entre 60 e 70 por cento da sua população, por conta da guerra e de doenças, e perdeu cerca de 140.000 quilômetros quadrados do seu território para a Argentina e o Brasil. Os povos Guaikuru eram aliados do Brasil na guerra contra o Paraguai, inicialmente, auxiliando no patrulhamento e defesa das fronteiras do Mato Grosso, quando ainda não se havia definido a questão dos limites do território nacional na região. Depois participaram na guerra como soldados nas frentes de combate (Corradini 2008.81).

Nas últimas décadas do século XIX o governo da Argentina dividiu o Chaco em lotes grandes para ocupara mais território e explorar a arvore quebracho, extraindo o taninos e a madeira. Esta política destruiu o meio ambiente e os madeireiros passaram a plantar algodão, usando a mão de obra dos índios Toba. O exército argentino estabeleceu uma linha de fortalezas para subjugar os índios, que eram concentrados em acampamentos como escravos, onde os índios cultivavam algodão. Os índios protestaram, quando o governo colocou um imposto de 15% no algodão. Em 1924 o governador do Chaco liderou um ataque de brancos que massacrou 200 índios, homens, mulheres e crianças. Na década 30 de século XX os Pilagá tinham uma população de 2.000 mas uma epidemia de varíola matou a metade.

Nos anos 80 a região sofreu inundações, que destruíram as plantações, e o governo encorajou os índios a se mudar para a cidade de Rosario, perto de Santa Fe. Desde 2008 muitos indígenas formaram o Movimiento Nacional Campesino Indígena para lutar pelas suas terras. No Chaco a cultivação de soja está acelerando a destruição da floresta e as comunidades indígenas têm perdidos suas terras e o uso de fertilizantes e inseticidas envenenam a água. Uma lei de 2007 limite a desflorestamento, mas madeireiros ilegais continuam a tirar a madeira, conforme a ong REDAF.

Estilo da Vida: Antigamente os homens caçam e pescam, e coletam mel. A coleta de fruto silvestres e lenha é feito pela mulheres. Com a perda do seus territórios os índios passam a cultivar algodão e criar gado. Fazem comércio de artesanato. Nos anos 80 as inundações destruíram as plantações. Na década 90 muitos Toba perderam seu emprego quando maquinas de colheita foram comparadas do Brasil. O governo do Chaco ofereceu uma passagem aos Toba para migrar-se para a cidade de Santa Fe. 10.000 mudaram-se para Rosario para viver nas villas miseria, favelas.

Sociedade: Os povos do Chaco se dividem em bandas que formam tribos. As tribos são endógamos com residencia uxorilocal. As tribos Pilagá são nomeadas por animais. Os Mocoví eram influenciados pelos missionários jesuítas, que tentaram os transformar em fazendeiros. Hoje todos os assentimentos Mocoví têm contato permanente com a sociedade nacional e os homens trabalham na agricultura, como peões e vaqueiros, ou migrantes trabalhando na ceifa. Menos que a metade fala sua língua.

Artesanato:

Religião: Os Pilagá recebeu o ministério de missionários protestantes evangélicos durante as décadas 50, 60 e 70. Os três povos receberam o ministério da SIL e já têm o Novo Testamento em espanhol e nas suas próprias línguas.

Cosmovisão: Conceitos tradicionais.

Comentário:

Bibliografia:

  • CORRADINI, Cirlene Moreno 2008, ‘Os Guaikuru: Patrulheiros da Fronteira Brasil- Paraguai à Serviço do Exercito Imperial Brasileiro’, Revista Territórios e Fronteiras V.1 N.1 – Jan/Jun 2008, Mestrado em História do ICHS/UFMT
  • DAI/AMTB 2010, ‘Relatório 2010 – Etnias Indígenas do Brasil’, Organizador: Ronaldo Lidório, Instituto Antropos –http://instituto.antropos.com.br/
  • HEMMING, John, 1987, Amazon Frontier-The Defeat of the Brazilian Indians, London: Pan Macmillan.
  • PETSCHELIES, Erik, 2013, ‘Os Guaikuru e seus outros: Esboço sobre relações políticas’, Revista História Social n. 25, segundo semestre de 2013.
  • SIL 2015, Lewis, M. Paul, Gary F. Simons, and Charles D. Fennig (eds.). 2014. Ethnologue: Languages of the World, Eighteenth edition. Dallas, Texas: SIL International. Online version: http://www.ethnologue.com