Parakanã – Awaeté

David J Phillips

Autodenominação: Awaeté, que significa ‘gente de verdade’ em oposição a akwawa que são seus inimigos, como os Kaiapó (Almeida-Silva 2014.30; Fausto 2004).

Outros Nomes: Paracanã, Apiterawa (DAI/AMTB2010), Awaeté, Parakanãn, Parocana (SIL).

População: 900 (DAI/AMTB 2010), 900 (SIL), 1.266 (FUNAI 2010). A população se encontra em franco crescimento, a uma taxa média anual de 5,39% ao ano, em treze aldeias (Almeida-Silva 2014.30)

Localização: Pará, no baixo rio Xingu, próximo as cidades de Altamira e São Felix, em duas Terras Indígenas:

  • TI Parakanã, Pará, de 351.697 ha, na bacia do rio Tocantins, nos municípios de Repartimento, Jacundá e Itupiranga, homologada e registrada no CRI e na SPU, com 1.000 Parakanã (Programa Parakanã 2014).
  • TI Apyterewa, Pará, de 773.470 ha na margem direita do rio Xingu, nos municípios de Altamira e São Féliz do Xingu, homologada e registrada no CRI e na SPU, com 452 Parakanã (FUNAI 2011).

Língua: Akwawa (DAI/AMTB 2010), Parakanã (SIL). Uma das línguas Tupi-Guarani, na família linguística Akwawa com Asurini Tocantins e Suruí do Pará. O uso da língua é vigoroso (SIL).

História: Os Awaeté tinham um vasto território na terra firme interflúvia entre os rio Tocantines e Xingu. Houve uma cisão entre os Awaeté em finais do século XIX, e são dividido em Paracanãs Ocidentais e Orientais. A divisão foi causada por um conflito sobre a posse de uma mulher raptada. Os Orientais assentaram-se nos rios Pucuruí, Bacuri e o rio da Direita; enquanto os Ocidentais foram para noroeste para viver entre os rios Jacaré e Pacajazinho-Arataú, formadores do rio Pacajá. Este grupo ocidental percorreram a floresta e até abandonaram a horticultura e modificaram sua organização social (Fausto 2004). A cisão é caraterística de sociedades caçadores coletores, porque um grupo maior trazem a desvantagem de percorrer distâncias maiores para obter recursos e a oportunidade de causar conflitos (Gosso 2004.7). No princípio do século XX o nome Parakanã era usado pelos Arara-Pariri, que foram forçados abandonar o alto Iriuaná, afluente de margem esquerda do rio Pacajá por ataques dos Awaeté Ocidentais.

Os Awaeté foram avistados pela primeira vez em 1910, e identificados como o povo que atacaram os colonos e trabalhadores da Estrada de Ferro do Tocantins. A Estrada foi construída para completar a navegação do rio, ultrapassando as cachoeiras entre Tucuruí e Marabá, que começou a construção em 1905. Eram confundidos também com os Asurini que também atacaram os colonos da região. O SPI estabeleceu um Posto no Tocantins, na margem do rio Pucuruí em 1928 e os Ocidentais o visitaram regularmente, mas os Orientais, ocupando os rios Pucuruí, Bacuri e o rio da Direita, não souberam da existência do Posto. Travaram contato esporadicamente com os seringueiros, coletores de castanha e caçadores de gato.

Na segunda metade dos anos 30 e 40 a guerra começou entre os Parakanã e entre os Orientais e os Asurini. Depois a ‘pacificação’ dos Asurini, os Ocidentais retornaram a visitar o Posto, mas as invasões no seu território cresceram.

Na década de 1950 os Ocidentais viviam na bacia do rio da Direita, mas nos anos 60 se deslocaram para o alto rio Andorinha. Com a construção as estradas Cuiabá-Santarém e da Transamazônica, a FUNAI começou uma ‘guerra de pacificação’. O primeiro contato com os Orientais houve em 12 de novembro de 1970 e os índios atraídos pelos presentes oferecido abandonaram suas aldeias. O contato causou uma intensa depopulação, pois na época não se cogitou em usar acompanhamento médico ou medidas preventivas.

Em 1972 foram reduzidos a 82 indivíduos. A recuperação da população de 300 nos anos 90 foi assistida após o convênio da FUNAI com a Cia Vale do Rio Doce e depois com a Eletronorte e suas terras estavam demarcadas e livre de qualquer intrusão. Os Orientais continuavam a encarar os brancos com desconfiança. Atribuíram as doenças à feitiçaria dos mesmos, e os remédios passarem a ser vistos como paliativos pelas doenças que os brancos continuam a enviar (Fausto 2004).

Na década 70 os Ocidentais passaram a habitar a região das cabeceiras dos rios Bacajá e Bom Jardim, afluentes do rio Xingu. Os Ocidentais foram contatados em 1971 durante a construção a Rodovia Transamazônica. Depois as visita ao Posto Pucuruí eles tinham mudados para o sul no alto curso do rio Cajazeiros, onde um dele foi morto por regionais. Prosseguiram para o oeste, mas depois uma contenda sobre uma mulher, um grupo se separou e chegando na rodovia, foi contatado pela FUNAI e transferido para o Posto Pucuruí. O grupo maior dos Ocidentais continuaram para oeste, alcançando o entre rios Xingu Bacajá, onde atacaram os Araweté. Um conflito com os Xikrin causou os Ocidentais se refugiarem na bacia do igarapé São José, mais para o sul.

O impacto das consequências graves da construção da Rodovia Transamazônica e da hidroelétrica de Tucurui provocaram a criação do Programa Parakanã, uma iniciativa da FUNAI e da ELETRONORTE, para proteger os limites da T. I. Parakanã, promover a saúde integral dos índios e recuperar sua capacidade produtiva (Bem ti vi).

Estilo da Vida: São moradores do interflúvio Pacajá-Tocantins e não são canoeiros, sendo da terra firme são caçadores excelentes. Sua horticultura é pouca diversificada, sendo da mandioca amarga. A caça era quase totalmente dos animais terrestres e a fauna aquática era desprezara e entre as aves somente o mutum e o jacu eram preferidas. Então a pesca era pouco praticada, usando a tinguijada na estação seca (Fausto 2004). Mas os Ocidentais com sua andanças progressivas no interior abandonaram agricultura. Estima-se que os bandos de caçadores coletores podem ser compostos de mais ou menos 30 indivíduos, que é mais adequado para manter a subsistência. Mas os Parakanã conseguem manter um grupo de aproximadamente 100 indivíduos por aldeia, por ter a agricultura como complemento da caça e da coleta (Gosso 2004.6). As aldeias têm as casas voltadas para o centro, os fundos para a mata. Não há barreiras entre as casas e adultos e crianças têm livre acesso a qualquer lugar do acampamento (Gosso 2004.7).

Sociedade: Os Parakanã são divididos entre as duas Terras Indígenas. Na T. I. Parakanã vivem três aldeias dos Orientais, Paranatinga, Paranowa’ona e Ita’yngo’a e duas aldeias dos Ocidentias, Maroxewara e Inaxy’anga. O povo foi transferido para a T. I. entre os anos 1984 e 1986, devido a formação do lado da represa hidrelétrica de Tucucuí (Almeida-Silva 2014.29). Na T. I. Apterewa são apenas Ocidentes em duas aldeias, Apyterewa e Xingu. (Fausto 2004).

Os Orientais tendem a uma organização centralizada com poligamia restrita e defendem seu território, mas os Ocidentais preferem uma organização decentralizada, com poligamia general e tendem a guerra, ampliando sua zona de atuação e raptando mulheres e roubando os bens.

A população se encontra em franco crescimento. O espaçamento entre as gravidezas ficou menor desde a implantação do Programa Parakanã que procurou para diminuir a mortalidade e aumentar a população e melhorar as condições nutricionais (Gosso 2004.11).

As crianças são livres de fazer muitas brincadeiras até perigosas e longe dos olhares dos adultos, como subir arvores, pular e nadar nos rios. As próprias crianças controlam os riscos conforme suas habilidades e acidentes são poucos. Os meninos recebem um arco e flechas de brinquedo do pai. Também as crianças confeccionam bonecos, pratos jabutis ou bolinhas com argila da margem do rio Paranowaona. É observado que as figuras humanas são confeccionadas pelas meninas e os outros objetos pelos meninos. Tiram folhas de palmeira da mata e tecem cestos. É observado que há uma baixa frequência de brincadeira de briga entre as crianças Parakanã em comparação com outros povos. Talvez isso seja um reflexo da ausência de competitividade entre os Parankanã, como seria de se esperar em sociedades mais pacíficas. Também as crianças imitam os adultos, por exemplo, meninos brincam uma reunião diária dos homens (tekatawa) com danças e música. As meninas brincam fabricar a farinha de mandioca e lavar roupa. Os homens jogam o futebol quase todas as tardes e as vezes meninos e meninas imitam. Os meninos maiores jogam vôlei (Gosso 2004.58, 65). A competição entre os Parakanã é difícil a estimular, e eles parecem perder a motivação para agir (Gosso 2004.73).

As mulheres podem levar as crianças com elas na coleta, que não seria possível na caça. Também a coleta fornece a maior parte do alimento. O caçador compartilha a carne conforme as relações de parentela, que é considerado uma troca, pois também recebe do outro (Gosso 2004.33). As mulheres fazem a pintura corporal dos homens nas festas, em geral as pinturas representam animais da floresta que são homenageados por eles em seus rituais.

Artesanato:

Religião: Três festas delas mais importantes são elas: a ‘festa das tabocas’ (takwara-rero’awa), a ‘festa do cigarro’ (opetymo) e a ‘festa do bastão rítmico’ (waratoa). Poder-se-ia acrescentar ainda a ‘cauinagem’ (inata’ywawa). O caium é feito de amêndoa do babaçu e um mingau de palmito da mesma palmeira. Há também celebrações da caça de certos animais e da coleta do mel silvestre. Devido ao menos valor dado à agricultura do povo não há festas associadas com a cultivação. O único cultivar usado nas festas é o tabaco.

Cosmovisão: Os Awaeté têm mantido sua cultura e praticam rituais com música e dança. Um guardião da memória, o Moroyroa, um idoso respeitado, em cada aldeia reúnem os homens à noite para contar ou explicar os pontos da cultura. Entre os Ocidentais os mulheres participam também. Os mitos não são algo do passado, pois o tempo do mito e do Owera, o espírito, se confunde com o presente. Os mito servem para dar coragem para enfrentar os perigos da floresta, a vida em forma de alimento ou a morte por animais selvagens, ou por encontros com o Owera. Este é representado pelo gambá. (Almeida- Silva 2014.31).

Comentário:

Bibliografia: