Jamamadi

David J. Phillips

Autodenominação: Cada subgrupo tem seu nome próprio com o sufixo – deni. Jamamadi foi dado pelos Paumari e significa ‘povo do mato’, mas aceito por muitos grupos (Schröder 2002).

Outros Nomes: Kanamanti, K- Jamamadi, Yamamadi, Kaiamadi (DAI/AMTB 2010).

População: 884 (DAI?AMTB 2010), 890 (SIASI/SESAI 2012). Acerca 800 (Schröder 2002).

Localização: Em seis Terras Indígenas:

T. I. Camadeni, AM, de 150.930 ha homologada e reg. CRI e SPU entre os rios Purus e Tapauá, com 148 Jamamadi (FUNAI 2010).

T. I. Caititu, AM, de 308 062 ha na margem direta do rio Purus e banhada pelo afluente Paciá, ao sul de Lábrea, homologada e reg. no CRI e SPU com 1.022 Apurinã, Jamamadi e Paumari (FUNAI 2010).

T. I. Inauini/Teuini, AM, com 468.996 ha no rio Inauni, afluente da margem esquerda do rio Purus, homologada etc. com 107 Jamamadi (FUNAI 1993).

T. I. Jarawara/Jamamadi/Kanamanti, AM, de 309.233 ha na margem esquerda do rio Purus ao oeste de Lábrea, homologada etc. com 530 Jamamadi e Jarawara (FUNAI 2010).

T. I. Igarapé Capanã, AM, de 122.555 ha na margem esquerda do rio Purus, homologada etc. com 40 Jamamadi (FUNAI 1999).

T. I. Jamamadi do Lourdes, AM, em identificação.

Língua: Jamamadi, Deni e português (DAI/AMTB 2010). Jamamadi é da família linguística Arawá da Amazônia Ocidental. Muito poucos falam o português. Dialetos: Bom Futuro, Cuchudua (Maima), Jaruára (Jarawara, Yarawara), Jurua, Kitiya (Banauá, Banavá, Banawá, Banawa Yafi, Jafí), Mamoria (Mamori), Pauini, Tukurina (que talvez seja uma língua separada). Outros chamados Jamamadi são mais semelhante a Kulina. Alfabetismo na primeira língua 60-100%. Dicionários em português e inglês e porções bíblicas produzidos entre 1991-2007 (SIL).

História: Os Jamamadi viviam entre os rio Juruá e Purus, o território delimitado na terra firme ente o rio Xiruã afluente do Juruá ao noroeste, o rio Pauiní ao sul e o rio Mamoriazinho, afluente do rio Purus. Não tinham canoas e se dedicaram à caça e à agricultura. Em 1845 alguns Jamamadi trabalharam pelo comerciante Manoel Urbano da Encarnação. Em 1877 os franciscanos atraiu 50 Jamamadi para sua missão no rio Marmoriazinho, que receberam roupa e ferramenta e voltaram para sua aldeia, e os padres desistiram. No final do século XIX eles sofreram cem mortos por uma epidemia de sarampo. Em 1905 no rio Inauini, sessenta Jamamadi eram presos por um grupo de seringueiros peruanos, trazidos de longe à força ao seringal. O SPI criou o Posto Indígena Manauacá, no rio Teunini, para proteger o povo, quando estava quase extintos mas na década 30 uns 85 Jamamadi moravam no posto, coletando látex e castanha do Pará. Eles migraram diversas vezes devido às epidemias. A aldeia de São Francisco com a presença de Robert e Barbara Campbell, os missionários do SIL era um ponto de atração. A situação do povo era desoladora com apenas oitenta Jamamadi, mas depois a população começou a recuperar até atualmente é de cerca de 240 pessoas (Schröder 2002).

As T. I.s Caititu, Camadeni, Igarapé Capanã, Inauini/Teuini e Jarawara/ Jamamadi/ Kanamanti estão incluídas no projeto demarcatório PPTAL (Projeto Integrado de Proteção às Populações e Terras Indígenas da Amazônia Legal), no âmbito do Programa Piloto para a Proteção das Florestas Tropicais no Brasil (PPG7). (Schröder 2002).

Estilo da Vida: Os Jamamadi habitem a terra firme com florestas ombrófilas. As aldeias são pequenas. Antigamente construíam malocas grandes de forma cônicas, de diâmetro de 40 metros e 22 metros de altura, com divisões internas de até 25 famílias. Hoje usam casa de tipo regional.

São principalmente agricultores, cultivando a mandioca de 17 variedades e a macaxeira de oito variedades. Antigamente comiam beiju de macaxeira, hoje é mais a farinha de mandioca. É difícil limpar as roças por isso brocam novas roças cada ano, então em redor das aldeias existem diversas roças e capoeiras em diversos estágios de rotina de cultivação. Coletam frutos silvestres e mel de abelha. Preparam bebidas de açaí, da bacaba e da pupunha.

A caça é divida entre a ‘caça de perto’ das capoeiras e roças e a ‘caça de longe’ caçado durante as expedições coletar a copaíba. O óleo da copaíba é trocado com os regatões, os quais exploram os índios. Schröder calcula que os comerciantes conseguem um lucro de até 3.000% (Schröder 2002). O método de extrais o óleo por derrubar as arvores está reduzindo as possibilidades deste produto.

A pesca é de menos importância feita com arco e flecha, linhas e anzóis ou de tinguijada na estação seca. As mulheres fazem a pesca quando os homens estão fora na extração copaíba.

Sociedade: A descendência é patrilinear, o casamento de preferencia é de primos cruzados e o casal mora com a família da mulher pelos menos até o nascimento do primeiro filho. Durante este tempo o marido presta serviço ao sogro. É a tradição que o primeiro filho é criado pela avó materna e os filhos sequentes são criados pela avó paterna. A influencia do evangelho diminuiu o sexo extraconjugal. As meninas depois da primeira menstruação estão de reclusão em uma casinha ao lado da casa.

Artesanato: Confeccionam rede de dormir de fibras de algodão ou de castanha. fazem cocares de penas de arara e tucano, coladas com breu e colares de sementes, dentes de macacos, e pulseiras de conchas fluviais. Fabricam canoas pequenas (Schröder 2002).

Religião: Cristão 60%, evangélicos 15% (Joshua Project Jamamadi aberto 1/9/2014). Global Recordings produziu gravações de mensagens bíblicas e dos Jamamadi cantando.

Xingané é a festa comunitária de iniciação da menina, em tempo de lua cheia. As meninas ficam reclusas durante meses em uma uavaçá (choupana) construída dentro da casa dos pais, com apenas uma porta. A menina só sai da reclusão quando não há pessoas do sexo masculino por perto, com o rosto coberto, para as necessidades fisiológicas. No dia da festa, as mulheres cantam, e à noite, começa a cantoria dos homens. As meninas ficam despidas, da cintura para cima, com as cabeças cobertas por uma espécie de cesto que lhes venda os olhos, e com pulseiras de conchinhas nos tornozelos. Dançam ao redor de um pau fincado no centro do pátio até quase raiar o dia, por duas noites. Na terceira noite as mocá estão amarradas de bruços sobre os troncos que servem de altar e as acompanhantes ficam de lado, segurando-as. Alguns homens aproximam-se, machucando as meninas com fortes varadas. Rapidamente suas costas e pernas ficam feridas. Em seguida as meninas desamarradas e levadas, sobre os próprios troncos, até a casa dos pais, onde homens mais velhos lhe oferecerão remédios que lhes aliviarão as dores do corpo e apressarão a cura das feridas (FUNAI 27-07-2014).

Em 2009 foram realizadas duas oficinas de Direitos Humanos e Violência e capacitação de Formação para Líderes de Associação com o povo Apurinã e Jamamadi da região de Boca do Acre, no Amazonas. Surgiram muitas afirmações dos trabalhos em grupos que asseveravam o direito a uma religiosidade tradicional própria ou mesmo o direito de ser cristão sem deixar de ser indígena, sem deixar a cultura tradicional.

Cosmovisão:

Comentário: A língua foi estudada pelos missionários americanos Barbara e Robert Campbell, da SIL (Sociedade Internacional de Linguística), que realizaram um trabalho pioneiro a partir de 1963, desenvolvendo uma grafia simples e clara. Foram seguidos por seus filhos Steve e Robin Campbell dando assistência médica e mecânica, enquanto Jonathan e sua esposa Rosa concentram em continuar a tradição bíblica com os evangelhos de Lucas e de João.

Bibliografia:

  • DAI/AMTB 2010, ‘Relatório 2010 – Etnias Indígenas do Brasil’, Organizador: Ronaldo Lidório, Instituto Antropos –instituto.antropos.com.br./
  • FUNAI, 2014, portal.mj.gov.br/ data /Pages/ MJA63EBC0EITEMID5B8E67. E2D74644E59C5BB7C3CBDA5F32PTBRNN.htm aberto 1-9-2014.
  • HEMMING, John, 2003, Die If You Must – Brazilian Indians in the Twentieth Century, London; Pan Macmillan.
  • SCHRÖDER, Peter, 2002, ‘Jamamadi’, Povos Indígenas do Brasil, Instituto Socioambiental, São Paulo.pib.socioambiental.org/pt/povo/jamamadi.
  • SIL 2013, Lewis, M. Paul, Gary F. Simons, and Charles D. Fennig (eds.). 2013. Ethnologue: Languages of the World, Seventeenth edition. Dallas, Texas: SIL International. Online version: www.ethnologue.com.