Jarawara

David J. Phillips

Autodenominação: ‘E yokana’ que significa ‘pessoas de verdade’ ou ‘pessoal mesmo’ (Schröder 2007). Usam e ka one mati ‘nosso povo’ para se referir a eles mesmos. Podem também usar o termo Jarawara (que eles geralmente pronunciam Sarawara ou Sarowara) (www.etnolinguistica.org/lingua:jarawara).

Outros Nomes: Jaruara, Jarauara (DAI/AMTB 2010), Jarauára, Yokana, Yarawara.

População: 180 (DAI/AMTB 2010), 218 (FUNASA 2010).

Localização: Na região próxima do médio rio Purus (AM) em uma Terra Indígena:

T. I. Jarawara/Jamamadi Kanamanti, AM, de 390.233 ha de terra firme e a várzea, homologada em 1998 entre os municípios de Lábrea e Tapauá contígua na T. I. Banawá com 530 Jarawara e Jamamadi (FUNAI 2010).

Língua: Jarawara da família linguística Arawa. Jarawara, Jamamadi e Banawá são dialetos da mesma língua, chamada às vezes Madi. Poucos falam português. A língua foi analisada entre 1978 e 1988 pelo SIL. Um Dicionário Jarawara-Português produzido por Alan Vogel (SIL) em 2005 e o dicionário Jarawara- Inglês em 2006. Textos na língua foram produzidos por membros da JOCUM (jovens com uma Missão). A maioria sabe escrever a língua. Professor Pete Schröder da UFPE e o linguista australiano Robert M W. Dixon trabalharam na língua. Porções da Bíblia produzidas entre 1991 e 2007 (SIL).

História: Os próprios Jarawara dizem que vieram do alto rio Purus do Acre e desceram o rio até chegara na sua posição atual onde vivem por oitenta anos ou quatro gerações no passado. Naquela época muitos deles se casaram com outro povo chamado Wayafi que falava a mesma língua, mas provavelmente era um subgrupo da mesma etnia. Os primeiros contatos descrevem o povo dividido em clãs com nomes por animais e plantas, morando em uma só maloca. Os grupos de parentela se mudaram constantemente no território. O motivo de sedentarizar era a presencia dos missionários do SIL na aldeia Casa Nova e da JOCUM na Água Branca. (Schröder 2007).

Estilo da Vida: Os Jarawara vivem três aldeias maiores e outras menores. As casas são do estilo regional feitas de pranchas de paxiúba, sobre palafitas e com telhado de palha ou alumínio. As casas têm um quarto e a cozinha aberta sem paredes na frente. Cada casa tem casinhas para os animais domésticos nos fundos, horta e a aldeia tem uma casa de farinha com fornos (Schröder 2007). As casas são espalhadas sem padrão, exceto nas duas aldeias que têm a pista de pouso onde as casas estão em fileira no lado da pista.

A Terra é banhada por um números rios pequenos e delimitada pelo rio Piracuca no norte e o rio Cainã ao sul. Vivem pela agricultura complementada com caça e pesca. Plantam nas sua roças 17 variedades de mandioca, cinco de macaxeira, batata-doce, ariá, cará, taioba, milho, bananas, abacaxi, jerimum, melancia, caju e pupunha, cana-de-açucar e tabaco. No quintais cultivam arvores fruiteiras, palmeiras, legumes, verduras, pimentas e temperos. Caçam na terra firme e no planície e nas ilhas do rio Purus. Pescam a tinguijada (Schröder 2007).

Comercializam o látex, castanha do Pará, óleo de copaíba e sorva e algum produto agrícolas e artesanato. As aldeias Casa Nova e Água Branca têm escolas e pista de pouso devido à presencia dos missionários, que ainda mantêm suas casas nas aldeias por visitas.

Os Jarawara possuem casas na cidade de Lábrea, que estão constantemente invadidas. Sofrem também as invasões dos madeireiros e os pescadores turistas na Terra Indígena na outra margem do rio Purus. Apesar de representações ao governo até agora não há uma solução.

Sociedade: São divididos em cinco aldeias principais – Casa Nova, Água Branca, Saubinha, Nazaré e Yemete, que são entidades economicamente e politicamente autônomas. Consistem de acerca de cinquenta pessoas e um cacique para tratar a sociedade nacional. As casas abrigam uma família nuclear e um casal novo construí sua casa perto do pai do marido quando nascem os filhos. Casamento de preferencia é de primos cruzados. As mães solteiras são numerosas (Maizza 2002).

Artesanato:

Religião: O ritual de passagem da jovem é chamado chicane, marina ou ayaka. Seus cabelos são cortados e ela fica escondida em um compartimento de pari dentro da casa dos pais durante três a seis meses, saindo somente quando necessário, coberto por um tecido. O fim da reclusão é anunciado pelo pai e as outras aldeias são convidadas para a festa na noite da lua cheia. Toda a aldeia prepara o alimento. No final a moça é amarrada e chicoteada até sangrar e no dia seguinte podes seguir sua vida.

Os mortos são enterrado ao lado de uma das árvores que plantou. Depois de três dias diversos seres saem do corpo, como um espírito de onça, um espírito ou monstro e um animal. O último vai vagar na terra e pode ser caçado. O espírito da onça vai ser domesticado por um pajé. O monstro é canibal e vai vagando na terra. O espírito da pessoa pode ser levado ao céu por seus ‘filhos’ e ‘netos’, espíritos das suas plantas. Quanto mais árvores um Jarawara plantar, mais “filhos” ele terá no céu. Depois de uma iniciação vai morar em uma aldeia no céu. Outra opção é virar queixada na terra com a possibilidade de ser caçada, e torna-se ‘dono da queixada’ (Maizza 2002).

10% dos Jarawara são evangélicos.

Cosmovisão: A origem do povo é contada pelo mito: A aldeia foi atacada e derrotada por um inimigo antropófago, os Juma, que comeram todos exceto uma jovem que se fingia de ser morta e assim escapou dos inimigos. Mais tarde ela se encontrou com um jovem do seu povo que estava ausente no tempo do ataque. Eles se casaram e criaram uma família escondidos dos inimigos dando origem ao povo Jarawara de hoje.

Existem quatro mundos, o subterrâneo, a terra, as águas e o céu em dois níveis. Os homens vivem na terra e no céu com os animais e os espíritos. Nas águas vivem os monstros sob o principal Maka, um ser que pode aparecer de disfarce como cobra ou humanoide para atacar e comer os Jarawara. Um morto perde sua alma para vagar na terra e se transformar em uma queixada ou ir para o céu junto aos parentes mortos e os espíritos das plantas que ele plantou. Avida no céu é parecida à vida na terra mas melhor. O caçador sempre abate uma anta e consegue carregá-la para casa! No nível mais alto céu vive Jesus, os pajés não conseguem entrar lá (Maizza 2002).

Comentário: O SIL tem trabalhado com este povo por mais de 20 anos. elo linguista-missionário Alan R. Vogel e por Robert Dixon, que publicaram diversos artigos, teses e livros sobre o assunto (SIL). Global Recordings e filme Jesus são disponíveis na língua.

Bibliografia:

  • DAI/AMTB 2010, ‘Relatório 2010 – Etnias Indígenas do Brasil’, Organizador: Ronaldo Lidório, Instituto Antropos –instituto.antropos.com.br.
  • MAIZZA, Fabiana, 2002, ‘Jarawara’, Povos Indígenas do Brasil, Instituto Socioambiental, São Paulo. pib.socioambiental.org/pt/povo/jarawara.
  • SCHRÖDER, Peter, 2007, ‘Jarawara’, Povos Indígenas do Brasil, Instituto Socioambiental, São Paulo. pib.socioambiental.org/pt/povo/jarawara.
  • SIL 2013, Lewis, M. Paul, Gary F. Simons, and Charles D. Fennig (eds.). 2013. Ethnologue: Languages of the World, Seventeenth edition. Dallas, Texas: SIL International. Online version: www.ethnologue.com.