Kamayurá

David J. Phillips

Autodenominação:

Outros Nomes: Kamaiurá, Camaiura (DAI/AMTB 2010), Kamayura, Kamaiurá e significa um jirau para guardar panelas, carne, etc.

População: 405 (DAI/AMTB 2010). 492 (FUNASA 2006). Estimada em 1954 ser 94, em 2002 ser 355 e em 2010:544.

Localização: MT, na aldeia Ipavu/Kamaiurá.

Parque Indígena Xingu (PIX), MT, de 2.642.004 ha nas duas margens do rio Xingu e seus formadores, a primeira Terra Indígena, homologada em 1961 por Presidente Jânio Quadros e registrada no CRI e SPU com uma população de 6.090 indivíduos de 16 etnias (SIASI/SESAI 2013).

Língua: Kamayurá (DAI/AMTB 2010), da família linguística tupi-guarani.

História: Os Kamayurá vieram do Wawitsa, no norte do parque do xingu, onde desembocam os principais afluentes do Xingu. No século estavam sedentizados à margem da Lagoa Ipavu. Quando Karl von den Steinen os visitou em 1886 sua população era 264.

Estilo da Vida: Os Kamayurá vivem com os Kiabi, Yudja e Suya na margem da Lagoa Ipavu, seis quilômetros do rio Kuluene. A aldeia é circular com as malocas (ocas) na beira do terreiro central. As malocas são de forma retangular, com comprimento de até trinta metros, e com uma cobertura de capim sapé (Imperata brasiliensis) chamado inhe. Cada oca é habitada por diversas famílias nucleares. A casa dos homens é no meio do terreiro e em forma redonda e contem também as flautas.

Cada grupo domestico ou oca se organiza para os homens preparar as roças de cada família nuclear. As mulheres retiram a mandioca do solo e processam para extrair a polpa e o polvilho no preparo do beiju, que é produto básico do seu alimento. Também preparam o mohete, caldo grosso que resulta da fervura da água que lavou a polpa. A polpa e o polvilho são guardados na casa para uso coletivo. Assam o beiju sobre uma chapa de cerâmica e o comem a toda hora e distribuem entre as casas da aldeia. Plantam também milho, mamão, abóbora e melancia. As mulheres e crianças fazem coleta de mel, pequi, jenipapo, mangaba, formigas, ovos de tracajá e lenha (Junqueira 2003).

O peixe com o beiju, constitui principal alimento dos Kamayurá. Usam timbó ou redes de nylon, arco e flechas e cacuri. A destruição da floresta e provavelmente a transformação global da clima está mudando a região Amazônica ser mais seca e mais quente. O resultado é que o peixe nos rios é dizimado; os homens pescam toda a noite e nada pegam. As crianças comem formigas em vez de peixe em seu beiju. 13.000 quilômetros quadrados da floresta são perdidos cada ano (Rosenthal 2009).

As harpias são guardadas em uma gaiola cônica na aldeia para suprir carne para as pessoas atingidas por tabus alimentares e obter penas. Um homem caça para achar alimento pela harpia (Junqueira 2003).

Sociedade: Os Kamayurá vivem em aldeias lideradas por grupos de irmãos. Quando nasce o índio recebe um nome de seu avô paterno e o nome do avô materno. Na meninice as orelhas são furadas e o menino recebe mais dois nomes dos avós paternos e maternos. Os rapazes são separados das mulheres e aprendem a caçar, lutar o huka-huka e fazer cesteira. A moça aprender a tecer esteiras, cozer, dançar e outras tarefas domesticas. depois quatro anos de separação são consideradas prontas para casar e recebem novos nomes.

O papel do chefe da aldeia é para manter a harmonia do grupo e resolver disputas. Os donos das casas passam as decisões do chefe aos seus parentes sobre as tarefas e atividades da aldeia. A troca de presentes é importante para os Kamaiyurá, quanto maior o prestígio da pessoas, mais generosa ela deve ser, e os presentes são usualmente colares de conchas. Serviços do pajé ou de enterro são retribuídos com artigos de alto valor. Trocas são feitas entre casas e entre aldeias.

Os povos do Xingu especializam em fabricar e trocar diversos artigos, os Kamaiyurá oferecem arcos de madeira dura, panelas de cerâmica, cintos de concha de caramujo. A troca é feita no evento denominado moitará. Entre as casas na mesma aldeia a iniciativa é pelos homens ou pelas mulheres mas nunca mistos. Levam os artigos para a casa dos outros. Os recebedores passam os objetos de mão a mão até os são depositados no chão e os visitantes depois de receberem mingau de mandioca ou castanha de pequi, se retiram para guardar a retribuição da visita. O moitará entre aldeias é realizado não estação seca e ambos os homens e as mulheres participam. Uma aldeia parte em expedição, conduzida por seu chefe, carregando os artigos que deseja trocar. Os objetos são oferecidos por indivíduos, mas apresentados para trocar pelo chefe. Os objetos podem ser armas, canoas, cerâmica, colares, cintos, adornos emplumados, sal, cabaças, alimentos, animais, etc. Antes da realização das trocas, os homens lutam huka-huka (Equipe 2002).

O infanticídio é praticado de filhos de mãe solteira, possuidores de malformação congênita e gêmeos. Atualmente, acerca de trinta crianças são mortas pelos Kamayurá cada ano, não obstante a FUNAI ofereça serviços de adoção das crianças rejeitadas.

Artesanato: Fabricam e trocam com as outras etnias, arco e flechas de qualidade, canoas, rede de pesca, redes de dormir, e potes cerâmicas. Com os materiais nativos usam também produtos industrializados, como contas e miçangas de vidro e porcelana, fio de lã e de algodão, e lata etc.

Religião: Os Kamaiurá organizaram a Escola da Cultura, que tem apoio da Funai, em que homens e mulheres mais velhos ensinam as crianças e jovens a dançar, cantar, fazer artesanato e conhecer as histórias do povo (Junqueira 2003).

Quando o índio morre, sua alma vai para uma aldeia celeste, semelhante a aldeia na terra. Lá não trabalham, andam enfeitadas e dançam e jogam bola. Devem ser enterrados enfeitados com flechas para o homem e fuso para as mulheres, para se defender dos passarinhos que tentam arrancar pedaços da alma para levar ao gavião.

O ritual do Kwarup celebra a solidariedade entre os povos do Alto-Xingu, por ritualizar o estado ideal da criação.

O ritual do Jawari se realiza por volta do mês de julho entre outras aldeias. Toma a forma de uma série de disputas em que cada homem atira dardos no adversário, procurando atingi-lo da cintura para baixo. Os dardos são atirados por uma especie de zarabatana e têm suas pontas embotadas com bolas de cera e suas hastes são enfiadas num coco de tucum (Jawari em língua kamayurá). O adversário tenta se esconder atrás uma faixa de varas (Equipe 2002).

Cosmovisão: Os Kamayurá contam um mito sobre sua origem. No princípio não havia dia, somente um céu escuro e trevas cobriam a terra. O povo não podia pescar ou caçar e morreram de fome. Alguém descobriu que as aves estavam escondendo o dia e o povo queira que alguém o tirasse delas. Afinal os Karayurá ganhou a vitória e o dia chegou em suas aldeias usando as penas vermelhas da Arara-vermelha.

A história é dividida em três etapas: o tempo mítico em que se deu a criação, o tempo dos avós antes da vinda dos brancos, e o tempo atual. Conforme as estórias os brancos e os Kamayurá eram gêmeos criado pelo herói Mavutsinin, que ofereceu uma escolha entre um arco e uma arma de fogo aos rapazes, insistindo que o Karayurá pegasse a arma de fogo. O Karayurá gostou de mais o arco e o segurou e o branco levou a arma de fogo. Irado Mavutsinin mandou o branco embora longe e o o deu muitos bens como o porco, arroz para comer, tijolos para construir. O índio recebeu beiju e peixe e permaneceu no mato. Depois Mavutsinin seguiu seu rumo próprio, sem que houvesse maiores intervenções de sua parte ou preces ou invocações da parte dos homens.

Os Kamayurá acreditam na existência de um tipo de potência abstrata, chamado mamaé, presente em diversos objetos, com uma natureza benéfica ou maligna. Este conceito regula a dieta do povo.

Comentário:

Bibliografia:

  • DAI/AMTB 2010, ‘Relatório 2010 – Etnias Indígenas do Brasil’, Organizador: Ronaldo Lidório, Instituto Antropos –http://instituto.antropos.com.br/
  • EQUIPE de Edição da Enciclopedia,2002, ‘Xingu’, Povos Indígenas do Brasil, Instituto Socioambiental, São Paulo. http://pib.socioambiental.org/pt/povo/xingu/
  • HEMMING, John, 2003, Die If You Must – Brazilian Indians in the Twentieth Century, London; Pan Macmillan.
  • JUNQUEIRA, Carmen, 2003, ‘Kamaiurá’, Povos Indígenas do Brasil, Instituto Socioambiental, São Paulo. http://pib.socioambiental.org/pt/povo/kamaiura/
  • ROSENTHAL, Elizabeth, 2009, ‘An Amazon Culture Withers as Food Dries Up’. New York Times, July 24th 2009.
  • SIL 2015, Lewis, M. Paul, Gary F. Simons, and Charles D. Fennig (eds.). 2014. Ethnologue: Languages of the World, Eighteenth edition. Dallas, Texas: SIL International. Online version: http://www.ethnologue.com