Kamba

David J. Phillips

Autodenominação: Kamba ou Camba-Chiquitano (Faria 2013), são os Chiquitano na Bolívia.

Outros Nomes: Campa, Camba (DAI/AMTB 2010). Tarapecosi e Chiquito na Bolívia (SIL).

População: 2.100 no Brasil (DAI/AMTB 2010). 40.000-60.000 na Bolívia (SIL). 473 em MT agora MS (SIASI/FUNASA 2012). 108.206 (Censo Nacional da Bolívia 2001).

Localização: Na vizinhança da cidade de Corumbá, MS. Outros (Chiquitano) vivem nos municípios de Vila Bela, Cáceres e Porto Espiridião, MT. Há duas Terras Indígenas em identificação e uma declarada (2000):

T. I. Lago Grande (MT).

T. I. Chiquitano (MT).

T. I. Portal do Encantado (MT) declarada de 43.057 ha com 209 Chiquitano (FUNAI 2002).

Língua: Castelhano(DAI/AMTB 2010). Da família linguística Chiquitano ou uma língua isolada (Silva 2005). 40.000-60.000 falam a língua na Bolívia, mas SIL: 5.860 falantes com uma população étnica de 47.100. Uma pessoa em nove fala a língua, a maioria falam o espanhol. O Novo Testamento traduzido em 2012 (SIL). Há quatro dialetos: Tao, Manasi, Peñoqui e Piñoco, é possível que os Kamba no Brasil falam o Tao (Fernandes Silva 2000).

História: O termo Chiquitano foi aplicado a etnias distintas que habitavam uma vasta região entre o rio Paraguai a leste e o rio Grande a oeste, o chaco no sul e o paralelo de latitude 15. Chiquito significa ‘pequenos’, por causa das portas baixas das malocas. Em 1691 os jesuítas fundaram várias missões em Chiquitos, na Província de Santa Cruz de las Sierra, no território boliviana (Silva 2005.261). Suas origens eram de diversos povos que eram obrigados falar a mesma língua pela Missões. Estes incluiriam os Samucos, Paikoneka, Saraveka, Otuke, Kuruminaka, Kuravé, Koraveka, Tapiis, Korokaneka, Manacica e Paunaka (Fernandes Silva 2000).

Os jesuítas obrigaram os índios viverem em cidades de mil a três mil indígenas, ‘les reducciones’ para aprender a criação de gado, tecelagem, serviço militar e o catolicismo, até os padres eram expulsos em 1767. O regime fez os índios dependentes dos padres, que depois do expulso eram explorados por outros brancos nas fazendas e mais tarde nos seringais. A fronteira com Brasil não era fixa e os índios eram considerados bom trabalhadores e peões pelos fazendeiros brasileiros, e alguns foram trazidos da Bolívia para colonizar a área. A região da fronteira consistiu em geral dos Chiquitos. Um relatório descreve quatorze comunidades de Kamba nos municípios de Cáceres, Porto Esperidião e Vila Bela, Mato Grosso (Fernandes Silva 2000).

Os primeiros Kamba chegaram a região periférica da cidade de Corumbá a partir de 1945. Não eram aldeados e viviam em condição de extrema miséria e auto identificavam-se indígenas, e eram receberam uma discriminação como ‘bugres’ dos seus vizinhos, que eram também bolivianos. Eles tentaram afirmar que nasceram em solo brasileiro, enquanto os pais disseram que nasceram na Bolívia. A razão por isso é que a região era disputada entre os Espanhóis e os Portugueses. O Brasil, em 25 de fevereiro de 1928, assinou um tratado com a Bolívia para a construção de uma ferrovia de Corumbá a Santa Cruz de la Sierra (Faria 2013). Os primeiros Kamba chegaram como mão de obra na construção da ferrovia (Ferrocarril) entre 1945 e 1955, e daí se fixaram na cidade. Ajudado pela CIMI passaram a reivindicar a sua identidade étnica de grupo indígena depois 1980 (Silva 2005.263).

Estilo da Vida: Os Kamba vivem na periferia do município sul-mato-grossense de Corumbá, no bairro Cristo Redentor, no reduto São Francisco de Assis, descendentes dos primeiros Kamba que migraram das tierras bajas (terras baixas) na parte oriental da Bolívia, no Departamento de Santa Cruz( Farias 2013). Alem dos Kamba na vizinhança de Corumbá, MS, existem 29 assentimentos ou núcleos em Mato Grosso, que consistem de cinco a trinta famílias. Muitas comunidades ficam com terras reduzidas. A FUNAI está no processo de reconhecer alguns territórios chiquitanos mas até 2000 nenhuma demarcação foi realizada, mas três terras em identificação (Fernandes Silva 2000). Em 2013 uma foi declarada.

Os homens trabalham nas fazendas, especialmente na criação de gado e as mulheres em serviço domestico. Outros trabalham nos quartéis. Cultivam roças de milho, mandioca, feição, batata doce e criam galinhas, porcos e as vezes uma vaca. As casas são construídas com um átrio central que divide a casa em duas (Fernandes Silva 2000).

Sociedade: Existe um silêncio ou falta de reconhecimento sobre três povos de Mato Grosso do Sul, os Aitum, os Kamba e os Kinikinau, devido ao fato que sua presença no solo sul-mato-grossense não é reconhecida pela FUNAI e não têm terras demarcadas no estado (Silva 2005.256). Na Bolívia os Chiquitanosão representados politicamente pela Organización Indígena Chiquitana. Os Chiquitano no Mato Grosso, Brasil, mantêm relações com parentes na Bolívia. A fronteira é fluida por eles.

Os Kamba de Corumbá são marcados, pelo estigma dado pela população regional, que os veem como “índios sem aldeia”, “imigrantes”, “estrangeiros”, “bugres” ou “bolivianos”. São 393 pessoas, distribuídas em 96 famílias nucleares. Os Kamba possuem o anseio de serem reconhecidos como grupo étnico indígena pelo estado brasileiro e pela população regional que vive em volta do “Reduto São Francisco de Assis”, no Bairro “Cristo Redentor”, onde Kambas e munícipes compartilham do mesmo espaço, de algumas tradições religiosas católicas e, algumas vezes, da mesma identidade nacional, ou seja, de brasileiros (Faria 2013).

Artesanato: Confeccionam cerâmicas, redes e cochos de madeira

Religião: Catolicismo popular. Observam as festas dos santos. na terça feira do carnaval realizam o ritual do carnavalito com música de tambores e flautas. Um cotejo com bandeira coloridas percorre as casas e lama e tinta é jogadas nos homens. À noite as mulheres são permitidas flagelar os parentes masculinos (Fernandes Silva 2000).

Cosmovisão:

Comentário: Martin e Dorthee Krusi do SIL trabalharam na língua na Bolívia

Bibliografia:

  • DAI/AMTB 2010, ‘Relatório 2010 – Etnias Indígenas do Brasil’, Organizador: Ronaldo Lidório, Instituto Antropos –instituto.antropos.com.br.
  • FARIAS, Adriano Lúcio Bezerra, 2013, ‘Migração e presença Camba-Chiquitano em Mato Grosso do Sul: fronteira, práticas culturais e construções identitárias’ (UFMS-CPNA) www.cih.uem.br/anais/2013/?l=trabalhos&id=177
  • FERNANDES SILVA, Joana Aparecida, 2000, ‘Chiquitano’, Povos Indígenas do Brasil, Instituto Socioambiental, São Paulo. pib.socioambiental.org/pt/povo/chiquitano.
  • HEMMING, John, 1987, Amazon Frontier-The Defeat of the Brazilian Indians, London: Pan Macmillan.
  • HEMMING, John, 2003, Die If You Must – Brazilian Indians in the Twentieth Century, London; Pan Macmillan.
  • SIL 2013, Lewis, M. Paul, Gary F. Simons, and Charles D. Fennig (eds.). 2013. Ethnologue: Languages of the World, Seventeenth edition. Dallas, Texas: SIL International. Online version: www.ethnologue.com
  • SILVA, Giovani José da, 2005, ‘Identidade, Etnicidade, Globalização e Populações Indígenas em Fronteiras: A Presença Kamba em Corumbá (MS) (1945-1987)’, História Revista, 10 (2): 255-272, jul/dez 2005, Universidade Federal de Goias.