Kanindé

David J. Phillips

Autodenominação: Kanindé, derivado do chefe Canindé no século XVII.

Outros Nomes:

População: 700 (Gomes 2007. 17), 714 (FUNASA 2010).

Localização: Ceará no municípios de Aratuba e Canindé. Terra Indígena em processo pela FUNAI (Gomes 2007.17).

Língua: Português.

História: Os Kanindé sofreram um longo processo de migrações forçadas. Depois a segunda expulsão dos holandeses a frente de colonização portuguesa avançou para o interior com o estabelecimento das fazendas de gado nas margens dos principais rios, como o São Francisco, Jaguaribe, Açu, entre outros. Houve violentos confrontos com as nações indígenas chamados a ‘Guerra dos Bárbaros’ que continuou até a segunda década do século XVIII (Gomes 2012.27).

O Kanindé vieram da região do atual município de Mombaça, passando por Quixadá, pelas margens do rio Curu, junto com os Jenipapo. Chegaram ao Sítio Fernandes vindos da Serra da Gameleira por causa das secas e as invasões dos criadores de gado. Foram organizados os aldeamentos missionários a partir da década de 1660, que tornaram-se lugares da resistência. Outros grupos não aldeados como os Potiguares e os Canindé obtiveram na solicitação de sesmarias uma importante estratégia para a territorialização ao longo da primeira metade do século XVIII (Gomes 2012.28). Os Janduin se dividiram em disputa entre si e levavam o nome de seus chefes. A sua origem étnica dos Kanindé é com o chefe Canindé, principal da tribo dos Janduin, que liderou a resistência do seu povo no século XVII e obrigou os portugueses assinar um tratado de paz em 10 de abril de 1692, que garantia a ‘liberdade natural’ dos indígenas e sua conversão ‘à lei cristã’. Porém os Kaniné com seus parentes Jenipapo, atacaram as povoações e vilas nos primeiros anos do século XVIII. Houve um grande massacre contra os Kanindé em 1721.

Com a expulsão dos Jesuítas em 1759 os índios eram espalhados em vilas de índios no sertão e até considerados ‘assimilados’ e chamados ‘caboclos’ e as nações indígenas declaradas ‘extintas’. A origem do povoado de Canindé se relaciona com a construção da primeira capela em 1755. Milagres eram atribuídas ao São Francisco. A capela foi substituída por uma nova igreja em 1915 (Gomes 2012.84). Os capuchinhos italianos estavam em Canindé entre 1898 e 1923. No início da década 1980 ocorreu o surgimento de grupos reivindicando identificação e reconhecimento como povo indígenas, os Tapeba, Tremembé, Pitaguary e os Jenipapo-Kanidé. Depois os grupos em Crateús: os Kalabaça, Potiguara, Tabaara, Kariri e os Tupinambá. Afinal os Kanindé de Aratuba-Canindé, que adotarem o etnônimo Kanindé em 1995 (Gomes 2012.61,79).

Estilo da Vida: Vivem em duas comunidades, Sítio Fernandes em Aratuba e Serra da Gameleira em Canidé.

Sociedade: A aldeia Fernandes, que include a aldeia Balança tem 641 pessoas, em 185 famílias, divididos na maioria em duas famílias extensas, os ‘Francisco’ que viviam na serra desde 1874. e os ‘Bernardo’ que vieram da Gameleira na sertão de Canindé que chegaram em 1915 durante as secas (Gomes 2012.14).

Artesanato: Por inciativa de José Maria Pereira dos Santos foi apresentado ao público em 1995 o Museu dos Kanindé, de artesanato, objetos em madeira, instrumentos de caça e dança como uma afirmação da natureza indígena do povo Kanindé. Os objetos foram documentados, demonstrando a cultura artesanal, musical, agrícola e domestica. Também incluiu pedras, sementes e partes de animais (Gomes 2012.98, 113).

Religião: No processo de reconhecimento étnico se criara, os cargos de pajé e cacique e dançaram o Toré na aldeia (Gomes 2012.218). No Toré os puxadores são os índios no centro da roda que entoam os cantos e tocam os tambores e vestidos de cocar e usam maracá. Os Kanindé praticam catolicismo, o espiritualismo, a umbanda e o protestantismo. O padre católico organizou comunidades eclesiais de base, três na região de Fernandes. Alem de rezar o terço os Kanindé são devotos aos Santos José e Francisco. Também a presença de médiuns é notável que têm contato com os espíritos.

Cosmovisão:

Comentário: A igreja evangélica se estabeleceu em Fernandes.

Bibliografia:

  • DAI/AMTB 2010, ‘Relatório 2010 – Etnias Indígenas do Brasil’, Organizador: Ronaldo Lidório, Instituto Antropos –http://instituto.antropos.com.br/
  • EQUIPE, 2008, ‘Kanindé’, Povos Indígenas do Brasil, Instituto Socioambiental, São Paulo. http://pib.socioambiental.org/pt/povo/kaninde/
  • GOMES, Alexandre, et al, 2007, ‘Povos Indígenas do Ceará, Organização, Memória e Luta’, Fortaleza: Editora Ribeiros, pag 38-40, www.academia.edu, acessado 8-10-2015.
  • GOMES, Alexandre Oliveira, 2012, ‘Aquilo é Uma Coisa de Índio Objetos, Memória e Etnicidade entre Os Kanindé do Ceará’, Recife: Dissertação Pós-Graduação em Antropologia, Universidade de Pernambuco.
  • HEMMING, John, 2003, Die If You Must – Brazilian Indians in the Twentieth Century, London; Pan Macmillan.