Kanoé

David J. Phillips

Autodenominação: Kanoé

Outros Nomes: Canoé, Guaratégaya, Guarategaja, Guaratira, Kapixaná,Kapixanã, Koaratira, Amniapé e Kapishanã (SIL).

População: 100 (DAI/AMTB 2010).90 nas margens do rio Guaporé T. I. Rio Branco e Rio Guaporé (Bacelar 2002). 150 (SIL 2000). 97 mais 3 no rio Omerê (Bacelar 2004).

5 indivíduos na T.I. rio Omerê: Veja o perfil ISOLADOS do IGARAPÉ OMERÊ

Localização: Estãodivididos entre as Terras Indígenas Rio Branco e Rio Guaporé, no sudoeste de Rondônia, com famílias nas T.I. Pacaás-Novas e Sagarana (Bacelar 2002)

T. I. Rio Branco, (RO), era parte da antiga Parque Indígena Ricardo Franco, de 236.137 ha homologada e registrada no CRI e SPU, com 679 Aikanã, Arrikapú, Aruá, Djeoromitxí, Makurap, Tupari e Kanoé (FUNAI 2008).

T. I. Guaporé, (RO), parte da antiga Parque Indígena Ricardo Franco, de 115.788 ha homologada e registrada no CRI e SPU, com 589 índios (FUNAI 2005).

T. I. Omeré, (RO), de 26.177 ha homologada e registrada no CRI, com 5 Akuntsu e 3 Kanoê contatados pela FUNAI em 1995.

T. I. Rio Cautário, (RO), em identificação, com três povos.

Língua: Kanoé, ou Kapixaná, Kapishana, também chamada Amniapé. Poucos falantes, talvez três ou sete (Bacelar 2002) e todos usam português.Poucos indivíduos conhecem a língua materna, mas pretendem reavivar sua consciência étnica com a língua (Bacelar 2002). Bacelar analisou esta língua e descobriu que é uma língua isolada (Bacelar 2004).

História: Na época colonial espanhol do território atualmente a Bolívia, os povos indígenas eram subjeito às missões católicas e assimilados, e no século XIX os sobreviventes eram escravizados para colher o látex da borracha. No lado português da fronteira os portugueses tomaram a política de manter os índios nas suas terras para servir como guardiões da fronteira. Os Kanoé fizeram parte deste grupo de povos indígenas (Bacelar 2002). Porém a descoberta de ouro em Cuiabá no século XVII atraiu invasões dos portugueses. No fim do século XIX trouxe mais invasões para colher a borracha e a custosa construção da ferroviária Madeira – Mamoré começou para ultrapassar as cachoeiras no rio Madeira e levar a borracha rio abaixo para o Amazonas. 3.600 trabalhadores morreram de malária e outras doenças para construir 367 km de trilhos (Hemming 1995. 267). Afinal a linha foi abandonada em 1972. Este projeto contribuiu muito para a subjecção dos povos indígenas, não somente pela violência, mas também pelas doenças que os brancos trouxeram (Bacelar 2004.26).

Marechal Rondon contatou os Kanoé em 1909. Estavam em duas aldeias da região do rio Tanaru e no alto rio Corumbiara, possivelmente representando duas tribos kanoé que se separaram no passado, por não concordar em ter contato com os brancos. Estas corresponderam aos dois nomes Kapixanã e Kanoé (Bacelar 2004.40).

Em acordo com a política de Segurança Nacional durante os anos 80 do século XX, o governo procurou a integração da região amazônica com a rede de rodovias. As rodovias BR 319 a Manaus e BR 364 a Cuiabá, ligando a região com São Paulo, expandiu largamente o desenvolvimento agricolar e o assentimento da população de colonos e posseiros em terras indígenas na década 80. O desmatamento aumentou de uma maneira descontrolada, reduzindo as terras dos índios para áreas cada vez menores. Afinal a descoberta de ouro do rio Madeira provocou uma desastre ecológica (Bacelar 2004.27). Os Kanoé sofreram uma imposição imperialista de cultura alheia de fora para dentro.

Estilo de vida: Os Kanoé cultivam mandioca, cana de açúcar, milho, batata-doce, amendoim, milho, banana, cará mamão, abacaxi e tabaco. Não cultivam a mandioca ‘brava’. As roças são bem organizadas e limpas, destocadas e com a coivara bem feita. Criam porco do mato e galinhas na aldeia, guardados em casas e galinheiras provas de onças. Preparam ‘chicha’, uma bebida fermentada feita de milho, macaxeira ou mandioca (Bacelar 2004.29). Caçam e pescam e fazem coletas de castanhas, frutos e de larvas de insetos e formigas. Usam canoas nos rios para ter contato com os vizinhos. O contato com a sociedade dos colonos introduziu alimentos não indígenas, ferramenta de aço, transporte de motor, bebidas alcoólicas e e a influença de ‘seitas duvidosas’ (Bacelar 2004.30).

Artesanato: Os Kanoé do Igrapé Omerê fabricam chapéus circulares de plastico.

Os Kanoé, com os Aruá, Arikapú, Jabuti e Djeoromitxí fabricam um estilo de cestos chamado Marico, feitos de vários tamanhas de fibras de tucum com malhas pequenas e médias (Bacelar 2002). São feitos embornais e tiracolos nomeados ‘maricos’. Fabricam uma cerâmica simples (Bacelar 2004.29).

Sociedade: As aldeias eram formadas de um número de malocas redondas, cobertas de palha alicuri, semelham se à forma de colmeia. Estas casas formavam um círculo em redor de um pátio. Cada maloca era a moradia de um clã patrilinear que consistia das famílias nucleares.

A moça logo após a primeira menstruação era isolada dentro de um cercado de esteiras na maloca por quinze dias, comendo uma regime de reguarda. No dia do casamento ela era banhada e pintada e adornada com colares e pulseiras. O noivo também tinha o corpo pintado e adornado com penas de arara, colares e pulseiras de dentes. A festa continuava até o amanhecer. O casamento era exogâmico patrilocal. Hoje os relacionamentos sociais são desestruturados, com pais solteiros, pelo casamento com outras etnias e até com brancos (Bacelar 2004.30-32). Já em 1930 devido às perdas de homens kanoé, faltaram as oportunidades das mulheres se casarem no povo e se casaram com homens de outras etnias e mudaram sua residencia, e assim perderam sua identidade étnica.

Religião: Os Kanoé usam rapé alucinógeno e tabaco nas rituais para manipular os espíritos (moã), relacionados aos elementos da natureza. O deus do milho (kwaryry) é homenageada na ocasião da coleta do milho. Duas entes mitológicas são relacionadas com Jesus (Bacelar 2004.29,31).

Bibliografia:

  • BACELAR, Laércio Nora 2002, ‘Kanoé’, Povos Indígenas do Brasil, Instituto Socioambiental, São Paulo.
  • BACELAR, Laércio Nora 2004, Gramática da língua Kanoé, Katholieke Universitiet Nijmegen, Holanda.
  • DAI/AMTB 2010, ‘Relatório 2010-Etnia Indígenas do Brasil’, Organizador: Ronaldo Lidório, Instituto Antropos –instituto.antropos.com.br.
  • HEMMING, John, 1995, Amazon Frontier; The Defeat of the Brazilian Indians, London: Pan Macmillan.
  • SIL 2009, Lewis, M. Paul (ed.),. Ethnologue: Languages of the World, Sixteenth edition. Dallas, Tex.: SIL International. Online version: www.ethnologue.com..