Kanamari — Tukana

David J. Phillips

Autodenominação: Tukuna que significa ‘gente’ e inclui todos da família linguística Katukina (Costa 2006).

Outros nomes:Tukanã, Canamari, Tukana, Tsolohom Diana.

População: 1.654 (DAI/AMTB 2010), 647 (SIL 1995), 1,327 (ISA 1999), 1.654 FUNAS 2006), 3.167 (Funasa, 2010, Costa 2006).

Localização: Moram nos rios Curuçá, Javari, Itaquaí e Jutaí (na T. I. Vale do Javari) na margem esquerda do médio rio Juruá (T. I. Mawetek) e na margem direita do rio Juruá (na T. I. Kanamari). Há pequenos grupos nos rios Japurá, Maraã e Parana do Paricá e uma comunidade em Umariaçú, no alto rio Solimões entre os Ticuna.

T. I. Vale do Javari (AM)de 8.544.480 ha homologada e registrada no CRI e PRU na fronteira com o Peru, com 13 povos, 3.759 indígenas (CONDISI 2009)

T. I. Kanamari do Rio Juruá (AM), de 596.433 ha homologada etc. com 496 Kanamari (Neves/Labiak 1984).

T. I. Maraã/Urubaxi (AM), de 94.405 ha homologada etc. com 185 Kanamari em 1993 (FUNAI).

T. I. Mawetek (AM), de 115.492 ha homologada e reg. com 205 Kanamari (FUNAI 1995).

T. I. Patauá (AM), de 615 ha homologada etc. com 47 Mura e Kanamari (FUNAI 1998).

T. I. Paraná do Paricá (AM), de 7.866 ha hoologada etc. com 40 Kanamari (FUNAI 1987).

Língua: Kanamarí, da família linguística Katukina. 1.650 falantes. Dialetos: Tshom-Djapa (Txunhuã-Djapá, Txunhuã Dyapá), Tsohon-Djap, veja em baixo (SIL).

História: A região do Vale do rio Javari sofreu por formar a fronteira mal definida entre o Brasil e o Peru, explorada pelos serigueiros de ambos os países e longe de a qualquer autoridade dos países. Os relatórios de massacres conhecidos dos índios devem ser apenas representantes de um número muito maior e desconhecidos. For exemplo um serigueiro raptou duas crianças dos Kanamari do alto rio Juruá e os índios conseguiram libertar as crianças. Porém a vingança do seringueiro foi atacar a aldeia, matou quatro mulheres e jogou duas crianças na água e as matou a tiros. Depois ele destruiu a maloca e os plantios da roça (Hemming 1987.294). Kenneth Grubb pesquisou a região a favor da Missão Coração de Amazônia (atualmente MICEB e M. AMEM) em 1927 e descobriu que elementos dos índios, como os Kulina, Korubo e Marawa, já eram incorporados na população ‘civilizada’. Outros como os Kanamari e Katukina, que eram nações numerosas foram na década 20 muito reduzidos (Hemming 2003.58).

Os Kanamari vieram dos rios Juruá e Jutai, mas sofreram ataques dos serigueiros. A maioria ainda vive nestes rios, mas na década 40 do século XX outros fugiram para as áreas mais isoladas do Vale do Javari e se estabeleceram no alto Itaquaí e nos rios Javari e Japurá. Nos anos 50 os seringueiros e madeireiros os seguiram provocando contato constante, que resultou em eles trabalhando com os brancos em escravidão e suas mulheres se casando com alheios. Em 1998 tiveram contato com os Tsohom-Djapa (ou Tshom-Djapa), que fala um dialeto da sua língua e agora vivem ao seu lado e trabalham para eles (Anonby e Holbrook 2010.6).

Estilo de vida: Os Kanamari têm uma vida nômade conforme as estações do ano. Cada estação é dividida conforme a quantidade de chuva. Durante a seca de abril a setembro as famílias dispersam para fazer expedições de caça e coleta de tracajá e seus ovos nas praias. É também o tempo dos rituais. Durante a estação chuvosa se reúnem na aldeia e todas fazem tudo juntos com os parentes, caçar e comer e extraindo a pupunha das copeiras das roças velhas. A pupunha é usada para fazer uma bebida (Costa 2006).

Perderam muitas das suas praticas tradicionais, mas continuem a caçar e pescar e cultivam suas roças. Envolvem-se nas oportunidades do comercio com os regionais e empregam os Toshon-Djapa nas roças. Alcoolismo é um problema sério (Anonby e Holbrook 2010.7).

Sociedade: Os Kanamari se dividem em grupos endogâmicos, nomeados pelo nome de um animal e com os sufixo -dyapa como Dom-dyapa (peixe grupo) e Bin-dyapa (mutum grupo). Eram conforme a sua dispersão anterior nos rios e seus afluentes. Não têm um termo para ‘aldeia’. Os grupos se definiam por alianças e afastamentos entre si mesmos. Esta organização foi rompida pelos problemas do contato com os não índios. Hoje vivem em aldeias nomeados pelo local ou pelo chefe e parentes do seu grupos podem viver em outro local e existem muitos casamentos entre grupos. Estão tentando recriar os grupos endogâmicos ou pessoas viajar a busca dos parentes dos seus grupos e morar com eles (Costa 2006).

Artesanato:

Religião: Os pajés são necessários para os Kanamari ter contato com o Céu. Eles possuem os poder os espíritos (dyohko) que lhes permitem tirar flechas de doenças dos seus pacientes. Os espíritos são ‘familiarizados’ pelo pajé e são transformados em pedras resinosas que estão guardas em uma bolsa, e necessitam ser alimentados com o fumo de tabaco. Quando o pajé morrer as pedras se transformam de novo em espíritos livres. A própria alma do pajé é também um dos Kohana que fica na terra após da sua morte e se transforma em jaguar, que deve ser ‘familiarizada’ por outro pajé para não prejudicar os vivos (Costa 2006).

O ritual Devir Kohana é quando os Kanamari recebem uma visita dos deuses ou Kohana. Neste ritual o pajé introduz os espíritos dentro dos homens que estão vestidos em roupas de folhas de buriti. Perdem a consciência e os espíritos cantam as canções dos deuses através deles. É considerado ser essencial para a regeneração da vida (Costa 2006).

Uma criança pode ser sarada pelos homens que bebem os suco do omamdak e assim a alma é ‘assoprada’.

No ritual de Devir Jaguar outras canções são usadas e marca o fim do tempo de luto quando a alma do morto chega no Céu. Este ritual pode envolver parentes de longe (Costa 2006).

Cosmovisão: Quando o Céu Antigo (Kodah Kidak) caiu em pedaços, foi criado o mundo de floresta e tempo e um novo Céu Novo (Kodoh Aboawa) que é muito alto. Dentro o Céu Novo fica o Céu Interior onde vivem os deuses Kohana e onde todos são jovens. Os Kanamari foram criados pelo herói Tamakori, que então os deixou no médio Juruá e desceu para Manaus, onde criou os brancos. Então continuo a viver no mesmo lugar (Cost 2006).

Os Kohana vêm do céu para buscar as almas do mortos e as levar para o céu. A viagem é por seguir o arco-iris ou passar rio acima, mas a viagem é longa e envolve um processo de rejuvenescimento para os adultos. Durante a viagem os vivos observam o tempo de luto, enquanto a alma paira entre céu e terra e até pode se aproximar dos parentes vivos e dar doenças as crianças. Ao chegar no Céu a alma descansa em uma rede pronta e bebe caiçuma dos Kohana e recebem um novo corpo feito de folhas de buruti e se torna um dos Kohana. O grande pajé Dyanim depois de subir ao Céu Interior revelou que há um Terra nova onde ninguém morre e todo o mundo é parente, acabando com as divisões dos grupos e as inimizades entre as etnias desta terra. Os animais mortos passam pela mesma viagem e transformação, e durante a viagem podem atacar os vivos (Costa 2006).

Comentário: A MNTB trabalha entre este povo.

Bibliografia:

  • ANONBY, Stan e HOLBROOK, David J., 2010, ‘A Survey of the Languages of The Javari River Valley, Brazil’, SIL Electronic Survey Report 2010-003, March 2010, Dallas, Tex: SIL International.
  • COSTA, Luiz, 2006, ‘Kanamari’, Povos Indígenas do Brasil, Instituto Socioambiental, São Paulo. pib.socioambiental.org/pt/povo/kanamari..
  • CONDE, Ananda, 2008, ‘Korubo’, Povos Indígenas do Brasil, Inisituto Socioambiental, São Paulo. pib.socioambiental.org/pt/povo/korubo.
  • DAI/AMTB 2010, ‘Relatório 2010-Etnia Indígenas do Brasil’, Organizador: Ronaldo Lidório, Instituto Antropos –instituto.antropos.com.br.
  • HEMMING, John, 1987, Amazon Frontier-The Defeat of the Brazilian Indians, London: Pan Macmillan.
  • HEMMING, John, 2003, Die If You Must – Brazilian Indians in the Twentieth Century, London; Pan Macmillan.
  • MNTB 2005, Missão Novas Tribos do Brasil, Anápolis, GO, www.mntb.org.br.
  • SIL 2009, Lewis, M. Paul (ed), Ethnologue: Languages of the World, Sixteenth Edition. Dallas, Tex: SIL International. Versão on line: www.ethnologue.com