Karipuna do Amapá

David J. Phillips

Autodenominação: ‘Karipuna’ que indica ‘índios misturados’ ou ‘civilizados’ (Equipe 2006).

Outros Nomes: Karipuna creolo, Karipuna do Uaçá, Caripuna (DAI/AMTB 2010).

População: 2.235 Total (DAI/AMTB 2010),400-600 no rio Curipi (Toblar 1987), 1.726 (Anonby 2007), 1.700 (2002).

Localização: Os Karipuna vivem em dez aldeias no rio Curipi, afluente da margem esquerda do rio Uaçá, quatro na rodovia BR 156, uma aldeia no rio Juminá e mais uma no rio Oiapoque. Em três Terras Indígenas que são contíguas:

Terra Indígena Galibi, AP, de 6.689 ha na margem direita do rio Oiapoque/Oyapock, fronteira Brasil/Guiana Francesa, homologada e registrada no CRI e SPU, com 130 Galibi do Oiapoque e Karipina do Amapá (FUNAI 2011).

T. I. Juminá, AP, de 41.601 ha, entre e na confluência dos rios Oipoque e Uaçá, homologada e registrada no CRI e SPU, com 61 Galibi de Marworno e Karipuna do Amapá (FUNAI 2011).

T. I. Uaçá I e II, AP,de 470.164 ha, homologada e registrada na SPU com 4.462 Galibi-Marworno, Karipuna do Amapá e Palikur (FUNAI 2011). Vivem em dez aldeias (SIL).

Língua: Um dialeto de Crioulo da Guiana Francesa, com palavras da sua língua original, especialmente os nomes de flora e fauna, e também palavras portuguesas. Os jovens estudam em português nas escolas e preferem esta língua (Toblar 1987.6).

História: O Amapá estando no litoral atlântico e próximo à cidade de Belém perdeu sua população indígena em pouco tempo, devido à doenças importadas e à escravidão. O norte do antigo Território foi contestado entre Portugal e a França, mas dado ao Brasil em 1900. A paisagem é de várzea, chata coberta de charnecas e floresta baixa, inundadas na estação das chuvas. No interior é coberta de campo e mata de galeria nas margens dos rios. Os indígenas aproveitam o meio ambiente viajando em canoas. Mas eles demoraram de mudar sua lealidade de Crioulo Francês para Brasileiro por causa da memória das expedições brasileiras para escravizá-los. Há três povos: Os tupi Karipuna, os caribe Galibi e os aruak Palikur. Os Galibi eram uma grande tribo no Suriname e Guiana Francesa e um grupo migrou-se para o sul. Os Karipuna chegaram na região no século XIX, reféns escapando da Ilha de Marajó (Hemming 2003.407).

Os Karipuna de hoje são de diversas origens, alem dos indígenas são Guianês Francês, Chines e Arabe da Santa Lúcia. Os Yao, povo caribe da Ilha da Trindade, fugiram dos espanhóis no século XVII (Anonby 2007.7). Os Karipuna viviam na região de Breves, na ilha de Marajó, Pará, e falava uma língua tupi. Para escapar da revolta da Cabanagem em 1830 migraram para rio Ounari, afluente nas cabeceiras do rio Maroni na Guiana Francesa e começaram a falar Crioulo. Depois as meadas do século mudaram-se para o rio rio Curipi, afluente na margem esquerda do rio Uaçá, Amapá (Toblar 1987.7). Em 1854 o ouro foi descoberto nos rios Oiapoque e Curupi que atraiu garimpeiros de diversa origens, Guianês Francês, Chines e Árabe da Santa Lúcia, entre outras. Também viviam no rio Curupi quilombolas ou escravos africanos fugidos (Anonby 2007.7).

A região do norte do Amapá recebeu a presença constante do governo brasileiro somente no seculo XX, e as etnias indígenas responderam de maneiras diferentes. A região do rio Uaçá ainda era disputada com a Guiana Francesa, então em 1920 foi criada a Comissão Colonizadora do Oiapoque que avisou a necessidade de colonizar a região com ‘elementos nacionais’, mas a Colônia Agrícola de Clevelândia de presos políticos e nordestinos pobres fracassou. Por isso a Comissão da Fronteira liderado por Rondon apontou a necessidade de um posto indígena e uma escola para ‘incorporar os índios à sociedade’ (Equipe 2006).

Foi Cel. Rondon que chamou os indígenas no Curupi ‘Karipuna’ e o nome ficou. Nos anos 30 os Karipunas eram considerados o mais instruídos e ‘civilizados’ dos índios no norte de Amapá (Anonby 2007.7). As escolas funcionavam por três anos na aldeia dos Galibi do Uaçá entre 1934-1937 e em Santa Isabel do Karipuna entre 1945 e 1950. Esta pouca regime de educação teve uma influencia na identidade das etnias para o uso do português, o crescimento das aldeias a noções cívicas e do futebol. A atuação do SPI diminuiu por falta de recursos, mas os Karipuna eram o que mais participaram no alistamento eleitoral e votaram de acordo com as indicações de seus lídres, e não conforme as do agente do SPI! A criação da FUNAI em 1967 resultou na criação dos Postos Indígenas Kumarunã e Palikur e os Kruipuna eram servidos pela continuação do Posto Encruzo, substituído pelo Posto no Curipi em 1979 (Equipe 2006).

O padre Nello Ruffaldi começou a trabalhar entre os Karipuna, melhorando a saúde deles e ‘os índios descobriu que o evangelho é para unir e dar auto estimo’. Em 1976 ele organizou a primeira assembleia e os chefes dos povos pediram a FUNAI demarcar uma Terra Indígena para parar as invasões no seu território. Isso aconteceu em 1983. As assembleias continuaram cada ano, incorporando outras nações indígenas. A assembleia de 1995 terminou com o Turé e um culto cristão com a participação dos pastores das Assembleias de Deus, a Missão Novas Tribos do Brasil e o padre Nello. A situação dos índios era melhor com o comércio da mandioca, plantações de cana e milho, educação primária, graças à FUNAI, o Estado do Amapá e os missionários (Hemming 2003.412).

Estilo da Vida: Uns 70 km rio abaixo no rio Uaçá da Rodovia BR- 156 é a foz do rio Curipi. Os Karipuna vivem em dez aldeias neste rio, com as populações: Espírito Santo (351), Manga a maior (465), Encruso (25), Acaizal (91), Jondef (64), Tamima (54), Santa Isabel (262), Paxiubal (44), Zacarias (32) e Japim (33). Na estrada BR-156 há quatro aldeias Karipuna: Piquia (19), Curipi (32), Estrela (87) e Karia (29) (Anonby 2007.5). No rio Jumina, afluente do rio Oiapoque, há duas aldeias, Uaha que é dos Galibi Marworno e Kumana (76) dos Karipuna. Mais rio acima do rio Oiapoque é a aldeia karipuna Ariramba (Anonby 2007.6).

A caça de anta, veado, cotias, pacas, guaribas, macacos, quatis, etc. é feita nos tesos da terra firme nas cabeceiras dos rios. A pesca no rio e peixe da água salgada do mar são importante para os Karipuna. Na estação da seca os homens fazem mutirões de brocar e fazer a coivara de novas roças. Encontram esta época os ovos de camaleoas nas roças queimadas. As primeiras chuvas caem em outubro e novembro e o plantio é feito (Equipe 2006).

Sociedade: Os Karipuna são integrados com a vida brasileira, mas sente certo nível de preconceito pelos Brasileiros (Anomby 2007.15). A escola em Manga ensina o Crioulo nos primeiros três anos; a língua é valorizado mas seria perdida se a escola não ensinasse. O resto no ensino é em português (Anonby 2007.11). Casam-se com parentes próximos, incluindo sobrinhos e primos, apesar da críticas dos vizinhos que encaram o sistema de ser incestuoso. Os casamentos ‘de fora’ tendem a ser mulheres se casando com homens não indígenas e os homens escolhendo mulheres das outras etnias indígenas. Estes laços contribuem para formar os mutirões nos trabalhos de manter casa, fazer a farinha ou limpar as roças (Equipe 2006).

Os quatro povos, Galibi do Marworno, Palikur, Karipuna e os Galibi do Oiapoque formaram em 1992 uma associação política chamada Apoio. O primeiro chefe foi eleito prefeito da cidade de Oiapoque. A chefe em 2007 era a ortodontista Vitoria Santos e a associação ganha recursos para a educação e saúde (Anonby 2007.11). Algumas famílias moram em Cayenne, Guiana Francesa e em Oiapoque existe uma rua chamada ‘Karipuna’ onde muito vivem (Anonby 2007.12).

Artesanato:

Religião: Os Turés são festas de danças, beber e cantar na companhia dos karuãna (seres sobrenaturais), como retribuição às curas que propiciaram por intermédio dos pajés. Os participantes dos Turés são aquelas famílias que confiam no certo pajé e considerem os karuãna dele ser os amigos deste pajé. Os Turés são realizados no fim de semana em outubro quando a lua é cheia. Um grupo de homens prometem de ser auxiliares do pajé durante o ano (Equipe 2006).

A festa do Divino é quinze dias quando todos vão para a aldeia do Espirito Santo. É a Grande Festa, conforme o calendário católico em maio quando é comemorado a ascensão de Jesus, e o mastro do Divino é erguido e dez dia depois é Pentecostes, quando o mastro é derrubado. No sábado antes começam a prepara da carne de caça e peixe e caxiri. No dia da Ascensão os homens escolham no mato um tronco para o mastro e há baile toda a noite interrompido por preces na capela. Na véspera de Pentecostes é o dia da processão da Meia Lua quando todos vão ao cemitério com velas acesas (Equipe 2006).

Cosmovisão: Os Karipuna creem em mundos paralelo ao este mundo, nos fundos do mato ou das águas, onde vivem os seres chamados karuãna, ‘bichos’, ‘mestres’, etc. Contato com estes pode causar ataques, morte ou engravidar as mulheres. Os pajé têm a capacidade e tratar este seres. Os ‘mestres’ cuidam dos lugares que habitam na floresta. Os mortos ‘ficam por aí’ e podem causar doenças no vivos (Equipe 2006).

Comentário: Histórias bíblicas e outras estórias foram traduzidas em Crioulo, por Alfred e Joy Tobler (1983), Simeão Fort e outros (1983) e Rebeca Spires (1997). Uma obreira da NTMB está preparando um dicionário português – crioulo (Anonby 2007.18).

Bibliografia:

  • ANONBY, Stan, 2007, ”A Report on the Creoles of Amapá”, SIL International.
  • DAI/AMTB 2010, ‘Relatório 2010 – Etnias Indígenas do Brasil’, Organizador: Ronaldo Lidório, Instituto Antropos –instituto.antropos.com.br.
  • EQUIPE de edição da Enciclopédia, 2008, ‘Karipuna do Amapá’, Povos Indígenas do Brasil, Instituto Socioambiental, São Paulo. pib.socioambiental.org/pt/povo/karipuna-do-amapa.
  • HEMMING, John, 2003, Die If You Must – Brazilian Indians in the Twentieth Century, London; Pan Macmillan.
  • SIL 2014, Lewis, M. Paul, Gary F. Simons, and Charles D. Fennig (eds.). 2014. Ethnologue: Languages of the World, Seventeenth edition. Dallas, Texas: SIL International. Online version: www.ethnologue.com.
  • TOBLAR, S Joy, 1983, ”The Grammer of the Karipuna Creole”, Série Linguística, Brasília, DF: SIL International.