Kayabi

David J. Phillips

Autodenominação: Possivelmente iputunuun que significa ‘o nosso pessoal’ conforme a sugestão de Georg Grünberg (Senra 1999). Os professores Kayabi preferem o soletrar ‘Kaiabi’.

Outros Nomes: Kajabi, Kaiabi, Parua, Maquiri, Caiabi, Caiabi (DAI/AMTB 2010). Kawaiwete, Kaiaby, Cajabi (Senra 1999).

População: 1.619 (DAI/AMTB 2010), 1.000 (SIL), da etnia 1.620 (FUNASA 2006), 2.202 (SIASI/SESAI 2012). Os índices de crescimento tende a dobrar a cada 13 anos (Senra 1999).

Localização: MT, PA (DAI/AMTB 2010). No norte de Mato Grosso, no Parque Xingú e no sul do Pará nos rios Teles Pires e Tatui (SIL).

Parque Indígena do Xingu, MT, de 2.642.004 ha, homologada e reg. CRI e SPU, com 5.982 indígenas (SIASI/SESAI 2012). 756 são Kayabi (Senra 1999).

T. I. Rio Arraias, MT, em identificação com Kayabi.

T. I. Apiaká-Kayabi, MT, de 109.245 ha, cortada pelo rio Peixes, homologada e registrada no CRI e SPU, com 446 Apiaká, Munduruku e Kayabi (FUNAI 2003).

T. I. Batelão, MT, de 117.050 ha, ao leste da T. I. Apiaká-Kayabi, declarada e suspensos os efeitos da portaria através de liminar.

T. I. Kayabi, MT e PA, de 1.053.257 ha nas duas margens do rio Teles Pires, homologada, com 387 Apiaká, Kaiabi e Munduruku (FUNAI 2000).

Língua: Kayabida família linguística tupi-guarani. O uso da íngua é mais vital no Parque, mas muitos fora do Parque não a falam mais. Todos bilíngue em português (SIL). Alfabetismo 1%-5%. Dicionário e Gramática produzidas e on Novo Testamento traduzido em 1999 (SIL).

História: Os Kayabi viviam nas margens do rio Teles Pires ou São Manuel, grande afluente do rio Tapajós. Primeiro contato era em 1850 pelo francês Francis de Castelnau como uma ‘tribo hostil’ que chamou Cajahis (Senra 1999). Os Rikbaktsa eram seus inimigos ao oeste. O SPI fundou o Posto Pedro Dantes no rio Verde em 1922, mas os Kayabi o destruiu. O Posto foi mudado ao Teles Pires em 1927, mas os índios mataram o agente do Serviço e depois três outros brasileiros. Em 1941 o SPI montou outro Posto no baixo rio Teles Pires, e depois Posto José Bezerra no alto rio. Este tinha poucos recursos quando alguns dos Kayabi se mudaram para lá. Um jesuíta visitou Bezerra em 1955 e ainda sem recursos. Também a empresa Conomali estava derrubando a floresta e trazendo colonos. Pior, roupa infecionada com sarampo foi trazida ao Posto e 198 Kayabi morreram e deixou 40 sobreviventes. Outras epidemias seguiram nas décadas 50 e 60 (Hemming 2003.143).

O povo sofreu muito com a demanda para borracha no Segunda Guerra Mundial. Os seringueiros subiram o rio Tapajós e o Teles Pires e alguns índios trabalharam com eles. Os Irmãos Villas Boas amontaram uma expedição em 1948 que alcançou orio Teles Pires. A primeira noite ouviram imitações de diversos animais que não se dão, quer dizer os índios estavam presentes escondidos. Os irmãos gritaram algumas palavras em Tupi e os gritos dos ‘animais’ cessaram. Responderam a uma reposta de ‘Vem cá’ em Tupi e se encontram com dois Kayabi, que agitados bateram seus peitos dizendo ‘Kayabi, Kayabi’. Persuadiram os dois a visitar seu acampamento e nos dias seguintes chegaram outros de visita, trazendo presentes de peixe, caça e palmitos (Hemming 2003.142). Os Kayabi eram ansiosos de ter contato com estes brancos amistosos. Três voltaram para o Xingu com os antropólogos. Quarenta mais Kayabi transferiram-se ao Xingu em 1955. Estabeleceram roças perto da base Diauarum, sendo excelentes agricultores, e supriram alimentoa à base por muitos anos (Hemming 2003.144). Um Kayabi, Sabino, ajudou a construir o Posto Leonardo no Parque e chegou a ser o auxiliar dos Villas Boas (Hemming 2003.156).

Desde 1953 os jesuítas, como Missão Anchieta, trabalharam com os Kayabi deixados no rio Peixes, que queriam ficar nas suas terras tradicionais. Padre Dornstauder tomou posse no seringal derrelicto, que ele chamou Posto Santa Rosa. Ele quis adaptar os índios à realidade dos colonos em seu redor, mas ao mesmo manter sua identidade e autonomia. A Missão organizou diversas expedições com os Kayabi para localizar os seu inimigos antigos, os Rikbaktsa entre 1956 e 1962, e descobriu quarenta aldeias. Mas trinta Kayabi se transferiam para o Xingu em 1966. Em 1968, motivado pelos jesuítas, a FUNAI conseguiu a criar a T. I. Apiaká Kayabi (Hemming 2003. 145).

Os Kayabi estão empenhado em fazer expedições para recuperar as suas terras tradicionais nos rios Teles Pires e Tatuy (Peixes) e a demarcação de uma faixa de terra contígua ao limite oeste do PIX (Senra 1999).

Estilo da Vida: Antigamente as malocas eram grandes para abrigar uma família extensa. Eram de 24m de comprimento e 12m de largura cobertas de palha até chão. No PIX primeiramente as casas eram espalhadas em grupos de família, mas depois em assentimentos maiores encorajado pela administração do Parque. Mas o padrão espalhado era o resultado dos sofrimentos e a depopulação depois contato na sua terra tradicional. E m algumas aldeias no Parque eles estão voltando a construir casas maiores de novo.

As roças são brocadas e derrubadas em maio e junho, a coivara é feita em agosto e o plantio em setembro e outubro. Plantam diversas variedades de mandioca, milho, algodão, amendoim, batata, cará, banana, fava, cana de açúcar, abóbora e melancia. A pesca se tornou mais importante do que a caça (Senra 1999).

Sociedade: Alem da família nuclear é a parentela que forma a unidade doméstica da família extensa. O homem mais velho mantem junto a si seus filhos e noras, genros e filhas e netos, mas a tendencia de residencia é uxorilocal, mas hoje em dia a relação entre sogro e genro não é como era. Os pais recebem novos nomes com o nascimento do primeiro filho. O chefe ou pajé é responsável para dar os nomes (Senra 1999). As etnias do norte do Parque Indígena do Xingu formaram a Associação T. I. Xingu, uma iniciativa que veio principalmente dos Kayabi que, através dela, estão envolvidos em vários projetos relacionados com a sustentabilidade ambiental, econômica e sociocultural. O projeto Kumaná tem por objetivo o regate da cultura pela confecção de artefatos e a realização de festas.

Artesanato: Os homens confeccionam peneiras, apás e cestos. As mulheres tecem redes e tipóias de algodão e colares de tucum.Desenvolveram uma arte caracterizada por complexos padrões gráficos de inspiração mitológica e uma participação ativa no movimento indígena organizado em defesa dos interesses das etnias do Parque (Senra 1999).

Religião: Os pajés eram os intermediários entre este mundo e o mundo sobrenatural. Todos os homens e os animais têm uma ai’an, que é a fonte da vida ou a ‘alma’. O ritual mais importante é o Yawaci quando todas as aldeias se reúnem para ouvir os cantos dos guerreiros sobre a morte de um inimigo e a quebra dos seu crânio, que é o momento da iniciação do jovem Kayabi. Eles têm voltado a realizar o Yawaci, sem guerras, como uma afirmação das sua identidade étnica.

Cosmovisão: O cosmo consiste de diversas camadassuperpostas. Existem no céu os Ma’it os grandes pajés. Creem nos chefes dos animais e os anyang e mama’é que roubam as almas humanas. e os heróis que ensinaram a cultura aos Kayabi.

Comentário: Rose M. Dobson, SIL, analisou a língua.

Bibliografia:

  • DAI/AMTB 2010, ‘Relatório 2010 – Etnias Indígenas do Brasil’, Organizador: Ronaldo Lidório, Instituto Antropos –instituto.antropos.com.br.
  • HEMMING, John, 1987, Amazon Frontier-The Defeat of the Brazilian Indians, London: Pan Macmillan.
  • HEMMING, John, 2003, Die If You Must – Brazilian Indians in the Twentieth Century, London; Pan Macmillan.
  • SENRA, Klinton, 1999, ‘Kaiabi’, Povos Indígenas do Brasil, Instituto Socioambiental, São Paulo. pib.socioambiental.org/pt/povo/kaiabi
  • SIL 2014, Lewis, M. Paul, Gary F. Simons, and Charles D. Fennig (eds.). 2014. Ethnologue: Languages of the World, Seventeenth edition. Dallas, Texas: SIL International. Online version: www.ethnologue.com.