Kokama

David J. Phillips

Autodenominação:

Outros Nomes: Kocama, Cocama (DAI/AMTB 2010), Kokama Ucayali, Xibitaoa, Huallaga, Pampadeque, Pandequebo (SIL).

População: Brasil (AM): 705 (DAI/AMTB 2010), 411, dos quais 50 falantes de Kokama (SIL). 9.636 (FUNASA 2010).

Colômbia: 236 (DAI/AMTB 2010), total étnico 20 (SIL).

Peru: 10.705 (DAI/AMTB 2010). Total étnica no Peru: 15.000 (SIL). 11.370 (INEI 2007).

Localização: No Brasil no alto e médio rio Solimões em 13 Terras Indígenas (AM).

T. I. São Domingos do Jacapari e Estação, AM, de 134.781 ha homologa e reg. CRI, com 604 Kokama (FUNAI 2011).

T. I. Prosperidade, AM, de 5.572 ha homologada e reg. CRI, com 156 Kokama (FUNAI 2011).

T. I. Espírito Santo, AM, de 33.849 ha homologada e reg. CRI, com 425 Kokama (FUNAI 2011).

T. I. São Sebastião, AM, de 61.058 ha homologada e registrada no CRI, 494 Kokama e Kaixana (FUNAI 2011).

T. I. Acapuri de Cima, de 19.400 ha, declarada, 141 Kokama (FUNAI 2011).

T. I. São Gabriel/São Salvador, AM, em identificação, com 203 Kokama (FUNAI 2011).

T. I. Ilha do Camaleão, AM, 236ha, homologada e reg. no CRI e SPU, 457 Kokama e Ticuna (FUNAI 2010).

T. I. Sururuá, AM, de 36.125 ha, declarada, com 197 Kokama e Ticuna (FUNAI 2011).

T. I. Barro Alto, AM, de 1.937 ha, homologada e registrada no CRI, 62 Kokama (FUNAI 2011).

T. I. Sapotal, AM, de 1.264 ha, homologada, 524 Kokama (FUNAI 2011).

T. I. Santa Cruz da Nova Aliança, AM, de 5.969 ha,homologada, 339 Kokama (FUNAI 2011).

T. I. Lago do Correiro, AM, de 13.797 ha, homologada e reg. no CRI, com 50 Kokama e Ticuna (FUNAI 2011).

T. I. Guanabara, AM, de 15.600 ha, declarada, com 382 Kokama (FUNAI 2011).

Língua: Kokama do trono linguístico tupi-guaranii, subgrupo III (SIL). Outra sugestão é uma língua crioula, resultado do contato com as línguas Tupi, Aruak e Quichua. A língua é ensinada nas escolas e os materiais didáticos são produzidos com o alfabeto peruano e com o alfabeto brasileiro. Alfabetismo em Kokama 3%. Gramatica e porções bíblicas produzidas entre 1961 e 1967 (SIL). No Brasil há falantes trilíngues em espanhol, português e Kokama (SIL).

História: O primeiro contato deste povo com os europeus foi a expedição de Juan de Salinas Loyola em 1557, que descobriu o rio Ucayali no Peru. Subindo o rio os espanhóis eram recebidos pacificamente pelos Kokama. Eles foram impressionados com a cultura do povo, as vestes de algodão, pinturas e plumagens e a cerâmica fina. Outra expedições descobriu os Kokama no rio Solimões, pois o povo deslocava-se constantemente em busca de terra para cultivar e águas para pescar. Este movimento provocou guerras com os outros povos.

Depois 1650 o rio Ucayali foi invadido pelos missionários católicos, os jesuítas subindo da foz e os franciscanos vindo do sul. Um padre Bartolome Peréz estabeleceu uma missão entre os Kokama, mas esta durou apenas por três meses. Entre 1657 e 1659 os padres Toma Mojano e Domingo Fernandez viveram entre os Kokama, até a situação tornou perigosa e eles mudaram-se para Santa Maria de Huallaga e levaram consigo cem guerreiros Kokama com sua famílias. No lado brasileiro a politica de Pombal insistiu na educação indígena em falar português, e proibiu o uso do nheengatu e das línguas indígenas. Também perderam suas terras para o sistema agrário-exportador ancorado em grandes plantações monocultores de algodão e cana-de-açúcar. As crianças enviadas às escolas dos religiosos não se consideram mais indígenas (Almeida e Rubim 2012.68). A resistência dos Kokama causou a perda das suia plantações. Os Kokama por algum tempo se mesclaram entre os Ticuna no Solimões e perderam sua identidade étnica e assim o povo Kokoma ‘desapareceu’.

Nos meados do século XX os Kokama observaram a mobilização política dos Ticuna, inclusive reuniões para motivar a demarcação de suas terras, e nos anos 80 começaram a reivindicar sua identidade e sua terras. Em 1971 algumas famílias Kokama saíram nas suas aldeias no rio Marañon para seguir o profeta Francisco da Cruz que subiram o rio Içá no Brasil onde o profeta se estabeleceu a sede de seu movimento.

Ainda hoje os Kokama vivem em constante movimento na busca de terras para plantio e de águas para pescar. As relações entre os Kokama e os Ticunas foram ambíguas durante longo tempo, mas nos anos 80 os Kokoma passaram a se distinguir dos Ticuna, reivindicando suas terras e polícias de educação e saúde diferenciadas. Este processo de autorreconhecimento provocou grande tensão nas relações do povo Ticuna com a sociedade nacional (Almeida e Rubim 2012.69-70). No princípio a FUNAI não os reconheceu, pela falta de organização política e de identidade linguística. O reconhecimento étnico do povo ocorreu gradativamente pelo esforço de convencimento dos técnico da FUNAI. Realizaram uma assembleia geral para discutir a escolha dos nomes indígenas dos seus membros com a presença de um linguista do CIMI. Alguns membros da comunidade falavam que seus avós tinham nomes indígenas, e que eles gostariam de ter um nome próprio, em sua língua e foram renomeados (Almeida e Rubim 2012.72).

Estilo da Vida: Antigamente as aldeias consistem d uma maloca abrigando uma família extensas. Hoje as aldeias consistem de casas em palafitas em fileiras de frente para os rios. As áreas aos lado e nos fundos das casa são cultivadas durante a estação de baixo água. O ajuri é o trabalho coletivo para brocar e plantar as roças. A pesca e a caça são feitas pelos homens e o preparo do alimento é pelas mulheres, mas também ajudam os homens em plantar e na colheita. As mulheres usam um xale nos ombros e uma saia de algodão. Os homens usam um tipo de camisa, uma cushma, com diversos desenhos geométricos. Na comunidade Nova esperança do Brasileirinho em Manaus há 15 famílias (Almeida e Rubim 2012.73).

Sociedade: Hoje as aldeias são formadas de grupos de parentes, autônomas das outras. São patrilinear e os casais residem pela regra patrilocal.

Professores indígenas Kokama foram reconhecidos em Manaus e no Alto e Médio Solimões (Almeida e Rubim 2012.75). O reconhecimento étnico é fortalecido pelo reconhecimento das escolas kokama pelos MEC e pela instituição de concurso municipal. Mas os próprios professores passam por uma formação mais completa na língua kokama, produzindo materiais didáticos com mitos, histórias, diálogos, grafismos, música e danças em Kokama. Em 2012 somente as escolas no município de São Paulo de Olivença eram organizadas (Almeida e Rubim 2012.77).

Artesanato: Usam braceletes, pulseiras, cinto de algodão, tornozeleiras em enfeites plumárias. Confeccionam peneiras e cestas cilíndricas com desenho hexagonais.

Religião: Creem na vida após da morte que é estado sem limitações e sofrimentos, com seus parentes, um ideal da vida terrestre. Os Kokama tinham quatro tipos de pajé: os que curavam através de sopros no ar, os cantadores que chamavam espíritos para que alma do doentes não o abandonasse, os que chupavam e o jejuador receitando um jejum rigoroso para descobrir a origem da maldade. Muitos participavam no uso de plantas alucinógenas, em particular a ayahuasca, também chamada soga. A alma do pajé ou o mesmo o próprio pajé ‘voava’ e o espírito falava por sua boca. Este últimos são chamados sume (Equipe 2006).

Cosmovisão: Creem em um deus que cuidava dos homens do céu chamado Ini Jará.

Comentário: Norma Faust e Evelyn G. Pike do SIL trabalharam na língua nas décadas 50 a 70 (SIL).

Bibliografia:

  • ALMEIDA, Alfredo Wagner Berne de, RUBIM, Altaci Corrêa, ‘Kokama: a reconquista da língua e a as novas fronteiras políticas’, Revista Brasileira de Linguística Antropológica, Volune 4, Número 1, Julho de 2012, 67-80.
  • DAI/AMTB 2010, ‘Relatório 2010 – Etnias Indígenas do Brasil’, Organizador: Ronaldo Lidório, Instituto Antropos –instituto.antropos.com.br.
  • EQUIPE da edição da Enciclopédia, 2006, ‘Kokama’, Povos Indígenas do Brasil, Instituto Socioambiental, São Paulo. pib.socioambiental.org/pt/povo/kokama.
  • SIL 2014, Lewis, M. Paul, Gary F. Simons, and Charles D. Fennig (eds.). 2014. Ethnologue: Languages of the World, Seventeenth edition. Dallas, Texas: SIL International. Online version: www.ethnologue.com.