Kubeo — Pamí’wa

David J. Phillips

Autodenominação: Pamí’wa é a autodenominação, que significa provavelmente ‘primeiro povo’, mas não é usada no dia em dia. O motivo é para proteger a santidade da identificação com suas origens mitológicas. Dizem ‘Somos Kubéwa (Kubeo)’ e usam o nome do seu clã entre si mesmos, mas não com os alheios. Também o nome Kubeo indica as fratrias mais nova de baixas na sua hierarquia (Goldman).

Outros Nomes: Pamié, Cuveo, Cubeu, Kobeua, Kobewa, Kubwa, Kobéwa, Hehenawa, Cobewa, Kubéwa, Hehenawa, Pamiwa.

População: Total: 6,150. 407 no Brasil (Funasa, 2010) mas 4.238 na Colômbia (PIRN 1988). 25 (INEI, 2001).

Brasil: 381, Colômbia: 4,238 (DAI/AMTB 2010). 6,000 in Colombia (1994 SIL) 150 in Brazil (1986 SIL).

Localização: Brasil: Vivem em três povoados no Alto Uaupés e alguns no Alto Aiari e na Terras Indígenas:

T. I. Alto Rio Negro, AM, de 7.999.380 ha homologada e registrada no CRI e SPU, com 26.046 de 18 etnias (SIASI/SESAI 2013).

T. I. Balaio, AM, de 257.281 ha homologada e reg. no CRI e SPU com 350 de nove etnias (GT/FUNAI 2000).

A maioria vivem na Colômbia nos rios Vaupés, Cuduyari, Querarí e Pirabatón. No alto Uaupés e no alto Aiari, afluente do Rio Içana.

Língua: Tukano Oriental, mas também Cubeo Cuveo, Kobeua, Kubwa, Kobewa, Pamiwa, Hehenawa. Cubeo é a língua usada para comercio, vida domestica e a religião na região do Vaupés noroeste. Há uma atitude positiva sobre usar a língua, a maioria falam outras línguas Tukano e Espanhol e Português. Alfabetização em Cubeo é 35%, e 60% na segunda língua. Falada e escrita nas escolas primarias Tem jornais e o Novo Testamento (1989) e gramática, dicionário e textos na língua (SIL).

História: As tradições contam que os Kubeo desceram dos Andes para o rio Apaporis, seguiram para o rio Papuri até Yauaratê no rio Vaupés e dobraram rio acima, e antigamente assentaram nas margens do Vaupés. Depois mudaram para os afluentes Cuduiarí e Querarí. Atualmente os clãs mais altos da hierarquia estão situados no rio maior e os mais baixos se situam nas cabeceiras dos rios menores. A invasão dos Colombianos nos rios deslocaram os ‘fracos’, mas os mais altos na hierarquia ficaram firmes, porém acabaram sendo influenciados mais pela cultura do ‘brancos.’ Havia um avivamento de cultura nos anos 70 e novas malocas eram construídas e as danças para invocar os ancestrais realizadas.

Os primeiros missionários católicos eram Franciscanos e depois os Salesianos, que trataram a cultura, as malocas e a religião como contra a civilização católica. Organizaram a sociedade em vilas com casas para famílias nucleares. A reação era a formação de seitas de profetas – pajés. Os padres eram substituídos pelos Javerias, treinados pelos Jesuítas em Bogatá, que aceitaram a teologia da libertação. Depois os evangélicos evangelizaram os outros clãs, porém a maioria se consideram católicos. Os Kubeo responderam com uma mudança de estilo de vida e um sincretismo religioso. Goldman (2004.3) disse que a religião tradicional passou à clandestinidade. Uns trinta indígenas de diversas etnias foram forçados a integrar na FARC (Forças Armadas Revolucionária da Colômbia) em 2013.

Estilo da Vida: Durante o médio do século XX os Kubeo tem abandonado as malocas antigas, a última em 1960, para casas retangulares familiares e usam roupa comprada e mesas e cadeiras, panelas de alumínio, redes feitas nas fabrica e motores a popa. Porém os raladores de mandioca e os tipitis são ainda fabricados por eles mesmos.

Os roçados ou chagras são circulares e divididos em faixas conforme a idade das famílias na maloca ou no assentimento. O centro ou ‘coração’ tem um pé de coca plantado pelo chefe de ritual, é considerado uma pessoa que contribui a força de vida à plantação, e as plantas são uma extensão das famílias e tem uma hierarquia, a coca e a mandioca sendo irmãos mais velhos das outras plantas. A classificação das plantas varia conforme os clãs. Os homens e as mulheres plantam junto, o homem abrindo o chão e a sua mulher coloca o chantão o buraco. Conforme a rotação da roças de três a cinco anos um assentimento as vezes tem que mudar para uma igarapé, e no conceito deles perder status na hierarquia, mas depois uns 15 anos e a reflorestamento da roçado velho pode voltar ao seu primeiro lugar no rio maior.

Sociedade: Os 30 clãs se tratam como avos ou netos conforme a senioridade dos ancestrais. Os clãs são patrilineares e exógamos ligados por ritual, em grupos de cinco fratrias ocupando uma secção dos rios. O sistema dos rios e a hierarquia das fratrias são expressões paralelas de descendência. Os clãs de posição mais alta na hierarquia, descendentes de ancestrais sentados na cabeça da anaconda primordial, são os ‘patrões’ ou ‘chefes’ que organizam os rituais, danças comunais e os clãs mais baixos os cânticos e danças. Mais abaixo ainda na hierarquia são os pajés ou xamãs e os clãs servos, descendentes dos ancestrais na cauda da anaconda.

Acreditam que a anaconda procedeu rio acima até chegar ao centro do universo. A posição nos rios das aldeias são linhas visíveis para organizar a hierarquias de descendência. O nível das fratrias é conforme a distancia de Santa Cruz no rio Vaupés (Goldman 2004.71). O clã Bahúkiwa é inferior ao Hehénewa e reconhecem de ser de origem Maku, assimilados na hierarquia dos Kubeo.

Casamento é com primos cruzados de preferência. Durante uma festa com muita bebida, a moça é ‘capturada’ pelo rapaz e levada para a casa paternal dele. Os termos para marido e esposa são ‘pai ou mãe dos meus filhos’, pois o casamento não é considerado permanente até nascer o primeiro filho e assim o pai se torna participante no ritual do sib. Muitas vezes é a mulher que toma a iniciativa para o casal ser independente (Goldman 2004.117). A falta de filhos é motivo de divórcio.

Artesanato: Confeccionam mascaras de tururi.

Religiao: Há Kudeo Católico e Evangélico e um sincretismo da religião tradicional com elementos cristãos.

Cada assentimento ou maloca tem um chefe de ritual ou pajé. Goldman disse que é uma religião ‘aumentada pelas drogas'(2004.15), uma religião de revelação de visões, da percepção de mundos escondidos, de drogas e conhecimento oculto recebido por concentração mental. Os mitos não sempre se concordam porque o conhecimento ainda é parcial, e a religião surge do raciocino metafísico, para manter a identidade étnica, as linhas de descendência traçando a fonte da humanidade no criador. Mas a identidade étnica é determinada por descendência de Kúwai e por falar a língua do que citar um antepassado especifica (Goldman 2004.61). O ritual é para pensar da criação e recrio mito para manter a continuidade com o passado da sua identidade; é a adoração da essência de ser Kubeo (Goldman 2004.11).

Cosmovisão: O cosmo é uma criação, um produto do pensamento do criador Kúwai (Goldman 2004.10). Os Kubeo têm desenvolvido o conceito de Kúwai, muito alem da posição que ele ocupa entre os outros povos Tucano, até o clã Hehénewa, que Goldman estudou, reivindica Kúwai como deus e até o chama de ‘Dios’, e consideram que os outros povos têm seus próprios supremos seres. Por exemplo somente os Kubeo consideram Kúwai criador entre os povos da região (Goldman 2004.23). Kúwai é o Dono ou Mestre do Kubeo. Isso indica a influencia do Cristianismo e dos Arawak.

O Kúwai possui um aspecto trinitário modalista: Como irmão mais velho ele é iniciador da vida, como o irmão mais novo é o completador de sequências, forma e carne, e como o aspecto terceiro ele traz a morte. Kúwai é um ‘homem’ que pode se transformar em três irmãos ou em um á vontade (Goldman 2004.19). Ele conceitua protótipos das criaturas para a massa sem forma, e há uma sequência de estágios até chegar a forma do mundo atual. Até Kúwai é protótipo e fonte da vida dos Kubeo (Goldman 2004.42). Devido ao caráter trinitário Kúwai pode pensar e criar estruturas complexas que vemos no mundo.

O cosmo começou como uma massa sem-forma dentro um buraco na rocha, saindo do centro da terra. Kúwai concentrou seu pensamento, sentado em um banco cerimonial fumando um charuto e conceituou pessoas e instrumentos musicais, e produziu os Kúwaiwa, os antigos primordiais. Yurédo, a avó cuidou destas pessoas primordiais em uma casa de rocha, dando lhes a ordem de nascimento, porém estas rebelaram e a ordem social entre as fratrias e clãs ainda está disputada.

Há um dualismo entre as duas comunidades de Kúwai e os Kúwaiwa (os antigos) que sustentam um relacionamento fraternal. O relacionamento com o Ainkü, o Anaconda espírito, com sua ‘esposa’ e filhas, as outras anacondas espíritas é mais funcional (Goldman 2004.31). para este dois, porém Kúwai e Ainkü formam forças complementarias e simbióticas, Kúwai é o iniciador da criação e gera a vida, Ainkü é o completador e também uma presença oposta. Os dois são incompletos sem o outro para completar sua ação. Ao mesmo tempo são vistos como o bom e o mal, os Kubeo usam os termos Cristãos: Dios e Diabo. Ainkü não é modal trinitário mas seu espírito entra em todas as criaturas do rio, e também nos pajés durante os rituais pela mihí (caapi). Ele toma a forma do gavião-tesoura que torna-se o ‘anaconda’ do pajé (Goldman 2004.34). Há a tradição que os primeiros humanos chegaram na Canoa Anaconda e desembarcaram como peixe e depois viram em gente. Ele representa o nascimento e a morte. Os primeiros humanos eram incompletos e hoje são representados pelos instrumentos de música. Ele é também o protótipo das mulheres para resolver a morte pela procriação, providenciou os instrumentos de música e mihí (o alucinógeno caapi) que dão as visões do coração do Ainkü, que está em todas as criaturas do rio (Goldman 2004. 33). Nasceram também as manifestações da Anaconda espiritual como peixe, patos, etc. (Goldman 2004.35). Os pajés servem com as Anacondas. As fratrias variam em dar mais adoração ao Kúwai ou ao Ainkü. Então há um dualismo complementário na cosmologia Kubeo.

Antropologia: Os Kubeo destaquem o pensar a mente, mas não há termo para a mente, porém o homem foi criado pelo pensamento de Kúmai e as comunidades recriaram com as cerimônias as suas identidades nos seus pensamentos. O pensamento pode criar novos mundos mais permanentes do que este mundo. (Goldman 2004.374). Há três aspectos da vida mental: O raciocino que pode pensar da cosmologia, e pessoas que não pensam assim são ‘indelicado’ ou sem pensamento. A memória que está ativada pelas cerimônias em pensar da cosmologia. A contemplação (nyánka) dos ancestres. O ritual das cerimônias os leva para rever a vida das origens do mundo. Sendo produto do pensar de Kúwai os homens são filhos de Kúwai e pensam como ele pensa; e com esta ênfase na mente as crianças Kubeo são bons alunos hoje em dia. O coração do homem tem que alcançar o cérebro para o pensamento elevado e a mente supre as canções e as danças para experimentar o mundo primordial.

Comentário: Nancy L Morse, J. K. e Neva Salsar, K Jay e Michael B Maxwell do SIL trabalharam na língua na Colômbia.

Bibliografia:

  • DAI/AMTB 2010, ‘Relatório 2010 – Etnias Indígenas do Brasil’, Organizador: Ronaldo Lidório, Instituto Antropos –instituto.antropos.com.br.
  • GOLDMAN Irving, (!963), The Cubeo: Indians of the North West Amazon, Urbana: University of Illinos.
  • GOLDMAN, Irving, 2004, Cubeo Hehénewa Religious Thought: Metaphysics of a Northwestern Amazon People, Peter J. Wilson (ed), New York & Chichester: Colombia University Press.
  • HEMMING, John, 1995, Amazon Frontier; The Defeat of the Brazilian Indians, London: Pan Macmillan.
  • HEMMING, John, 2003, Die if You Must: Brazilian Indians in the Twentieth Century, London: Panmacmillan.
  • SIL 2009, Lewis, M. Paul (ed.), Ethnologue: Languages of the World, Sixteenth edition. Dallas, Tex.: SIL International. Online version: www.ethnologue.com..

 

——————–