David J. Phillips
Autodenominação: Madija (pronuncia-se madirrá) que quer dizer ‘os que são gente’ (Silva 2003).
Outros Nomes: Culina, Madija, Madiha, Kulina Madihá (DAI/AMTB 2010). Kulyna, Corina (SIL).
População: 2.537 (DAI-AMTB 2010). A maioria dos Kulina moram em aldeias no rios Juruá e Purus no Acre e somem 1.737 em 15 aldeias. A aldeia maior é Canamari com 680 Kulina. No Sul do Amazonas 800 em 19 aldeias. No Acre 2.500 pessoas (Silva 2003). No Peru a população é 500 (SIL). 2.540 no Brasil (ISA 2002).
Localização: Vivem em várias Terras Indígenas:
- T I Kulina do Médio Juruá no Amazonas e pequena parte no Acre, de 730.142 ha homologada e registrada CRI e SPU com 2.300 Kulina (Comin 2004).
- T I Cacau do Tacauacá no município Envira, AM, homologada de 28.367 ha com : 230 Kulina.
- T I Kumaru do Lago Ualá, nos municípios de Juruá e Uarini, AM, homologada, etc, de 90.036 ha com 802 pessoas (FUNAI 2011).
- T I Deni, no médio rio Purus, AM, de 1.538.835 ha homologada e registrada, com 590 Deni e Kulina.
- T I Riozinho, no município Jutaí, AM, ainda em identificação População com 180 Kulina e Ticuna (FUNAI 2011).
- T I Kulina do Rio Envira, no município de Feijó, AC, homologada, etc. de 84.365 h a com 257 Kulina (FUNAI 2003).
- T I Kulina do Igarapé do Pau, no município de Feijó, Acre, homologada, etc de 45.590 ha com 127 Kulina (FUNAI 2003).
- T I Alto Purus, AC, de 263.129 ha homologada, etc., com 1.736 Kulina, Kaxinawá e Yaminawá (SIASI/SESAI 2013).
- T I Kaxinawa do Rio Humaitá no município de Feijó, AC, homologada, etc. de 127.383 ha com 287 Kulina, Ashninka e Kaxinawá (Iglesias e Aquino 2005).
- T I Jaminawa/Envira nos municípios de Feijó e S. Rosa do Purus, Acre, homologada, etc., de 80.618 ha com 111 Ashaninka e Kulina (FUNAI 2003).
- T I Vale do Javari, AM, de 8.544.480 ha homologada e registrada, : Os Kulina Pano vivem em uma aldeia Pedro Lopes, no meio rio Curuça 70 em 2000, 32 em 2010 e acerca de 40 moram em Tabatinga (AM) (Anonby e Holbrook 2010.9).
- No Peru: perto da fronteira nos rios alto Purus e Santa Rosa: população 400 (SIL).
Língua: Kulina, da família linguística Arawá (DAI/AMTB 2010). A proposta de Dixon 2004 é que Deni e Kulina são a mesma língua. Há pouca diferença com a dialeta no Peru. Porções bíblicas 1965-1985. O português torna-se dominante nas aldeias perto das cidades, o futuro ameaçado (SIL).
- No Peru: Culina: alfabetismo 50%. Educação primária em espanhol. Cartilhas publicadas.
- Kulina Pano é falado por 32 falantes no rio Curuça, aldeia Pedro Lopes e em Tabatinga e é diferente da Kulina e semelhante às Matis e Matsés (SIL).
História:
Os primeiros europeus para penetrar os rios Juruá e Purus de barco tiveram vistas dos índios. Um inglês, Chandless, escreveu um relatório da região em 1837 que deu as primeiras referencias aos Kulina e outros povos. No fim do século XVIII a vinda dos seringueiros do primeiro ciclo da borracha resultou em encontros violentos e os índios fugiram para as cabeceiras dos rios afluentes do Amazonas, aonde as águas ficam rasas de mais para as embarcações dos brancos. Também outros índios passaram do Peru para o Brasil. No início do século XX começou a escravidão de dívida pelos patrões ou seringalistas e a migração de nordestinos pobres para a região. Ao mesmo tempo começou a captura de índios para aumentar a mão de obras como coletores do látex e também o desejo dos índios obter ferramentas de aço ou outros produtos industriais contribuiu para a situação péssima.
Ainda nos anos 60 no Acre os seringalistas terrorizavam os índios nos seringais e até organizaram massacres de grupos de índios isolados. Os missionários da SIL e da MNTB entraram no vácuo devido a falta de recursos da FUNAI, que estabeleceu postos somente depois 1976. Os líderes indígenas se reuniram em Rio Branco (AC) e com o apoio do CIMI e da CPI protestaram a invasão de suas terras. Os missionários providenciaram assistência médica e educação (Hemming 2003.548). Os Kulina no Acre eram um povo abusado em todo lugar, e os regionais os exploram de toda maneira, como relacionaram os missionários da MNTB. A frustração na demora de demarcar uma Terra Indígena resultou em os Kulina e os Kaxinawá cortando um trilho perímetro por si mesmos em 1984 (Hemming 2003.559). Esta aliança com os Kaxinawa foi uma breve pausa entre os perídios de relações hostis que sempre mantinham com seus vizinhos (Silva 2003).
No Amazonas os 915 Kulina nas margens do médio rio Juruá sofreram também uma demora de demarcar seu território de 770.300 ha. Foi decidido que os próprios Kulina o fizessem e eles aprenderam a técnica de medição e completaram a tarefa durante os anos 90. Receberam a ajuda de missionários Luteranos e Católicas para segurar seus direitos (Hemming 2003.559).
No Vale do Javari os Matés mataram muitos dos Kulina Pano em ataques para roubar esposas. Sofrem também por doenças e ataques. Perdendo suas cultura e provavelmente não praticam mais sua religião. Estão assimilando a cultura regional (Anonby e Holbrook 2010).
Estilo da Vida: No passado famílias extensas moravam em malocas, estas estavam orientadas com as entradas ao leste e ao oeste. Hoje em dia um pai e avô, como líder, mora com uns vinte parentes com filhos e genros e netos. Constroem casas regionais com os assoalho uns um ou dois metros em cima do chão e o telhado de palha de duas águas. A cozinha também é uma plataforma ligada a casa nos fundos. Quando os filhos casados têm filhos se separam para ter suas próprias casas e roças (Silva 2003).
Artesanato: Os Madija ou Kulina produzam colares de sementes, dentes e pedras. Tecem chapéus e sais de palmeira. Cultivam o algodão e fabricam suas roupas e redes. Cada aldeia tem seu campo de futebol (Silva 2003).
Sociedade:
O casamento preferido é de primos cruzados bilaterais de um clã aliado. Os relacionamentos são governados pelo conceito de troca ou reciprocidade chamada manaco. O genro deve obrigações ao sogro e aos cunhados. Estas obrigações envolvem em ajudar a brocar as roças e construir casas e canoas. Também o genro deve dar presentas publicamente de carne de caça, etc. às suas esposas. As filhas aprendem as tarefas domesticas cedo com brinquedos de panelas cerâmicas pequenas e cestos pequenos feitos pelas mães. Todas as gerações das mulheres fazem seus afazeres juntos, indo para a roça ou ao rio para banhar (Silva 2003).
A sociedade é dividida em clãs totêmicos associados com um animal ou planta e as pessoas do clã são consideradas de manifestar um comportamento caraterístico do animal ou planta. Os Kulina são diferenciados também em categorias conforme os estágios da vida. Os Madija cantam no cotidiano durante as tarefa nas casas e os homens tocam flautas (Silva 2003).
Religião: As doenças são os resultados de feitiço quando um objeto penetra o corpo de uma forma mágica. O feitiço é feito pelo pajé de um outro clã e isso provoca a reciprocidade negativa em vingança. A música é usada em curas para extrair o feitiço do corpo pelo pajé; o canto ganha o controle do feitiço. Em certos rituais as mulheres cantam para ‘domesticar’ o feitiço do corpo do doente e sem elas a cura não acontece. Assim o feitiço invasor é harmonizado e é um tipo de reciprocidade pela qual a selvagem é domesticada.
Cosmovisão: O mundo é divido em camadas de céu, terra e embaixo da terra e outras. Todos os homens e as mulheres, brancos e indígenas, foram criados pelos heróis mitológicos Tamaco e Quira. Porém só os Kulina são madija (gente). A humanidade e as plantas são da terra, mas os espíritos pertencem à terra subterrânea e metamorfoseiam em animais de caça e sobem para ser caçados na floresta. O pajé bebe caapi ou através seus sonhos visita o mundo em baixo da terra para trazer os animais para ser caçados. A queixada é importante do ciclo de metamorfose e é símbolo da socialidade, sendo achada em manadas grandes. A floresta é masculino e não domesticada, e os humanos são domesticados por comer as plantas da roça ou a caça. A reciprocidade indica que os espíritos dos animais caçados voltam para o embaixo da terra. Nas casas os Kulina demonstram a mesma distinção: os humanos vivem e comem na plataforma do assoalho em cima do chão e os animais ficam na terra em baixo.
Comentário: A Missão Novas Tribos do Brasil trabalha com este povo (MNTB).
Bibliografia:
- ANONBY, Stan & David J HOLBROOK, 2010, ‘A Survey of the Languages of The Javari River Valley, Brazil’, SIL Electronic Survey Report 2010-003, March 2010, Dallas, Texas: SIL International.
- DAI-AMTB 2010, ‘Relatório 2010-Etnia Indígenas do Brasil’, Organizador: Ronaldo Lidório, Instituto Antropos instituto.antropos.com.br
- HEMMING, John, 2003, Die If You Must: Brazilian Indians in The Twentieth Century, London: Macmillan.
- SIL 2013, Lewis, M Paul, Gary F Simons & Charles D Fennig (eds), 2013. Ethnologue: Languages of the World, 17th edition. Dallas, Texas: SIL International. Online version: www.ethnologue.com.
- SILVA, Domingos Bueno da, 2003, ‘Kulina’, Povos Indígenos do Brasil, Instituto Socioambiental, são Paulo, pib.socioambiental.org/pt/povo/kulina