Kwazá

David J. Phillips

Autodenominação: Kwazá, mas não era a autodenominação original. O povo não reconhecem os outros nomes como Koaiá, etc. que eram usados por seus vizinhos (van der Voort 1998).

Outros nomes:Kwazá; também conhecido como Koaiá, Koaya, Coaiá, Quaia, Arara, Tsãrã csinuténaheré, Tsãrã csuhuinaheré, e Tainakãw. (Anonby 2009). Ouaiá (SIL).

População: 33 (DAI/AMTB 2010), 40 (van der Voort 1998).Total 25 Kwazá (Anonby 2006.5).

Localização: Vivam em duas Terras homologadas e registradas no CRI e SPU (ISA).

T. I. Tuberão/Latundê (116.613 ha), no município de Chupinguaia, Rondônia, a maioria dos Kwazá com Aikanã e Nambikwara Latundê e Sabanê População total: 180. Aldeia de Rio do Ouro 67, Tubarão 48, Barroso 34 (Anonby 2006.5).

T. I. Kwazá do Rio São Pedro, RO (16.799 ha), homologada em 2003. População total 25 de uma família Kwazá com Aikanã ou 18 Kwazá (Anonby 2006.5).

Alguns Kwazá moram nas cidades de Porto Velho e Pimenta Bueno, sem contato com as aldeias (van der Voort 1998). 7 Kwazá em Chupinguaia (Anonby 2006.5).

Língua: Kwazá. Esta língua é isolada, não é classificada e é quase extinta (SIL). 25 falantes da língua (SIL 2005 e van der Voort 1998). Falam Kwazá, Aikanã e português, mas a família em Rio São Pedro fala só português.

História: Os povos no vasto interior a oeste dos Bororo e dos Paresí eram desconhecidos ainda no século XIX (Hemming 1997.202). Garimpeiros e seringueiros penetravam a região, mas contato só começou com a linha telegráfica estabelecida por Cel. Rondon. As cidades como Pimenta Bueno (1912) e Vilhena (1970) são mais recentes.Quase desconhecidos até 1942, os Salamãi chamavam os Kwazá de Koaiá.

Os Kwazá eram vizinhos dos Aikanã, Kanoê, Tupari, Mekens / Sakurabit e Salamãi e suas culturas são muito parecidas e eles mantinham relações entre si, trocando festas e mulheres, embora de que suas línguas não sejam mutuamente inteligíveis. Moravam nas cabeceiras dos rios no mato alto da terra firme a oeste do rio Pimenta Bueno, aonde ainda a aldeia de São Pedro (Anonby 2009.4). Tinham contato com os povos Mekens/Sakurabiat, os Salamãi e outros já extintos, com que têm semelhanças culturais formando, o que Denise Maldi (1991) chamou o ‘Complexo cultural do Marico’ (van der Voort 1998). Algumas das semelhanças são que viviam em malocas na forma de colmeia, beberam chicha de milho, mandioca, banana e açaí e fabricaram cestos de fibras de tucum (o ‘marico’), a antropagogia dos inimigos e as divisões em clãs (Anonby 2009.6). A mitologia era semelhante.

No século XIX viviam dois grupos de Kwazá no sul do futuro Território de Rondônia chamados ‘Tsãrã txinuténaheré’, ou ‘aqueles da terra grande, ou ‘Tsãrã txuhuinaheré’ ‘aqueles da terra pequena’ (van der Voort 1998). Os Kwazá viviam na mata alta da terra firme nas cabeceiras dos rios da margem esquerda do rio Apediá (Pimenta Bueno) afluente do rio Machado – Ji Paraná, que afinal liga ao rio Madeira. O igarapé São Pedro é um tributário do rio Apediá/Pimenta Bueno. Os Aikanã encaram os Kwazá como guerreiros e inimigos ferozes (Vasconcelos 2005).

Na década 30 os Aikanã e Kwará trabalharam para os seringalistas e eram pagos com café, açúcar e espingardas. Em 1940, o SPI abriu um Posto no Igarapé Cascata, afluente do rio Pimenta Bueno e os Aikanã, Kanoê vieram atraídos ao Posto, mas a população foi decimada por epidemias de sarampo e gripe e os índios se espalharam de novo no mato. Novamente na década 60 trabalharam na extração da seringa e como mão de obra para os brancos para ganhar produtos de fora.

Nos anos 70 começaram a trabalhar por si mesmos vendendo a borracha e mogno nas cidades (van der Voort 1998). Também tiraram madeira, trocando mogno por carros e alimentos, até a madeira quase acabou. A maioria foram mudada para a futura T.I. Tubarão Latundê em 1973. Uma aldeia pequena de Latundê foi descoberta mas quase todos morreram de sarampo em 1980, os 20 que sobrevivem moram na aldeia Barroso (Anonby 2006.6).

O governo de Presidente Figueiredo iniciou o plano Polonoroeste com o fim de acelerar o desenvolvimento de Rondônia e do Acre. O plano envolveu o pavimento da rodovia BR 364 para ligar a BR170 em Mato Grosso, com Porto Velho, atravessando Rondônia e Acre, passando Rio Branco, até a fronteira com a Colômbia. O impacto no meio ambiente e nos índios foi ignorado, mas o Banco Mundial requereu que parte do seu investimento seja dedicado ao bem dos povos indígenas. Pouco foi feito neste sentido, salvo a demarcação da Terra Indígena dos Nambiquara. O Projeto resultou em invasões descontroladas e desflorestação do território dos indígenas (Hemming 2003.573s).

Em 1973 a maioria se mudaram para terras piores na sua posição atual. Depois uma pequena aldeia de Latundê foi descoberta na terra, mas a maioria pegaram sarampo e morreram e atualmente somente vinte vivem na aldeia de Barroso (Anonby 2009.6).

Os Kwaza eram expulsos da sua terra na área da rodovia BR 364 por fazendeiros (van der Hoort 1998). Em 1996 criaram a ‘Associação Massakádos Povos Indígenas Aikanã, Latundê e Kwazá’. A Proteção Ambiental Cacoalense (PACA) de Rondônia deu apoio a Associação (van der Voort 1998).

Os Aikanã e Kwazá da aldeia São Pedro, por não tiveram a Terra demarcada, encontravam-se seriamente ameaçados pelos fazendeiros e políticos locais até 2000. A FUNAI e o CIMI fizeram um esforço para reconhecer a Terra (van der Vooft 1998). A Terra Indígena Kwaza do Rio São Pedro, nos municípios de Kwaza (RO) e Aikana (RO), com 16.799ha, onde habitam também os Paresí, foi homologada em 2003.

Estilo da Vida: Os Kwazá vivem com os Aikanã. Na T. I. Tuberão/Latundê existem três aldeias: Rio do Ouro, Gleba / Tubarão e Barroso. Tubarão fica 19 km. da cidade de Chupinguaia (Anonby 2006.4). Gleba com uma população de 48 Aikanã e Kwazá, 19 km a leste da cidade de Chupinguaia. 20 km. Ao norte de Gleba fica a aldeia Rio do Ouro com a maior população com 67, na maioria Aikanã. Barroso, 34 indivíduos na maioria de Latundê, fica 25 km. ao sul de Gleba (Anonby 2009.4 as populações são de 2004).

Em Rio do Ouro as casas estão espalhadas seguindo as diversas trilhas conduzindo aos seringais. Eles vivem da agricultura, mas descobriram que o solo é muito arenoso. Quinze famílias vivem em Rio do Ouro e a língua Aikanã é falada, mas as crianças usam também português entre si quando brincando. Os Aikanã de Rio do Ouro visitam a cidade de Chupinguaia mensalmente em 2004 para compras e assistência médica. Mas desde 2007 uma nova estrada de asfalto passa 3 km. perto da aldeia (Anonby 2009.7,10).

Em Gleba os indígenas praticam pouca da agricultura e compram os alimentos das cidades ou recebem dos parentes em Rio do Ouro. O solo é ainda pior e a renda de pensões do estado é maior. Alguns ganham por tirar a madeira para os madeireiros e as maquinas ajudam em manter as estradas. Outros têm trabalhado na minas na I.T. Cinta Larga. Pessoas de Gleba podem visitar a Chupinguaia todo dia (Anonby 2009.7).

As aldeias têm escolas em português até o quatro grau e a maioria dos Aikanã e Kwazá sabem ler português; alguns poder escrever um pouco em Aikanã (Anonby 2009.8). Jovens duas aldeias jogam futebol com os times regionais (Anonby 2009.8). Os Aikanã usam roupa iguais aos regionais (Anonby 2009.10). Os costumes dos Kwará desaparecem depois contato com a sociedade nacional. No passado, moravam em malocas de forma colmeia cabendo oito ou dez famílias. Pintavam o corpo com urucum, usavam colares, pulseiras, brincos e capacetes de penas, conchas e dentes. Dormiam em redes. Antigamente os homens perfuravam os lábios para o uso de batoques (van der Hoort 1998).

Usam camas em vez das redes tecidas de fibra de tucum. Não caçam com arco e flecha mais, usam espingarda. Não enfeitam mais o corpo com colares, pulseiras, brincos e capacetes de coco, dentes, conchas e penas, usam roupa dos regionais. Não jogam seu jogo de bola de cabeça, jogam futebol com times dos vizinhos (van der Vooft 1998). Hoje usam relógios, bonés e colares de prata. Comem arroz e feição, mas continuam a plantar roças de mandioca, amendoim, cará, banana, tabaco. Coletam frutas e criam diversas animais de estimação (Van der Voort 1998).

Praticam a agricultura de coivara e plantam nas roças arroz, feijão e mandioca, banana, amendoim, cará, tabaco, etc. Hoje caçam com espingarda e pescam com timbó. Mas o solo na Terra Indígena é pobre e muito arenoso (van der Hoort 1998). Em Rio do Ouro conseguem plantar, mas em Tubarão dependem do comércio para comida ou recebem de parentes em Rio do Ouro. As casas está espalhadas conforme as trilhas dos seringueiras (Anonby 2006.7). Uma grande parte do terreno é cerrado e a caça no mato está diminuindo. Conseguem matar uma anta cada semana (Anonby 2006.6).

A venda de borracha e palmito acabou no nos anos 90 e as fontes de renda são aposentarias e salários de professores indígenas e assessores de saúde (van der Hoort 1998).

Artesanato: As duas aldeias rendam por fabricar e vender artesanatos: brincos, pulseiras, colares, bolsas, anéis e alguns objetos de madeira (Anonby 2009.7). Maricos são cestas de fibras de tucum, tecidas em pontos miúdos ou médios, de vários tamanhos, e suportadas por uma alça na testa. São fabricadas exclusivamente pelas mulheres e usadas para transportar os produtos da raça ou da coleta (Pinto 2009.13).

Sociedade: Os Kwazá têm tradições orais da sua sociedade dividida em clãs com nomes de animais e traços específicos da mitologia. A organização social era divida em secções residenciais, provavelmente clãs, e a liderança era decentralizada entres os líderes destes grupos (van der Vooft 1998). A sociedade era igualitária e mulheres podiam ser lídres e pajés. Praticavam ritos de iniciação (van der Voort 1998). Não praticam mais os ritos de iniciação de adultos, quando as moças eram isoladas durante meses. Nas reuniões da aldeia em Rio do Ouros usam Aikanã, com uma explicação em português para aquelas pessoas que não entendem a primeira (Anonby 2009.6). Há uma falta de moças para os homens se casar; todos os casais em Gleba são mistos, com outras etnias indígenas ou com brancos. Em Rio do Ouro todos os casamentos são de Aikanã (Anonby 2009.8).

Religião: Como seus vizinhos praticavam um xamanismo e o pajé era importante como curandeiro, com contato no sobrenatural pelo uso de rapé feito de paricá. Mas o papel não deu autoridade de liderança. Mulheres podiam ser pajé. Os homens tocaram diversos instrumentos de música, especialmente as flautas sacras, as quais as mulheres eram proibidas de escutar (van der Vooft 1998). Praticavam rito antropofágicos comendo os inimigos. Tudo foi abandonado depois o contato com a sociedade nacional. Os missionários da Missão Indígena Uniedas ensinaram contra o xamanismo (van der Voort 1998). Estão restaurando as festas em 2005 (Anonby 2006.6).

Em Rio do Ouro estão revivendo as festas tradicionais e usam as duas línguas (Anonby 2009.6). A maioria são Evangélicos devido ao ministério dos missionários Terena (Anonby 2009.7).

Cosmovisão: A cultura era perdida pelo contato com a sociedade nacional (van der Voort 1998).

Comentário: Missionários Terena da UNIEDAS têm trabalhado na Terra Indígenas desde 1980. Queila França é a obreira da Igreja Uniedas Tubarão em 2012. Um casal da missão ALEM vivia em Rio do Ouro por 12 anos, Warrisson sendo professor e Ana é líder da igreja. A igreja é bem frequentada. O ministério das missões é todo em português e os indígenas preferem os cultos em português. Toda a aldeia assiste os cultos dois dias na semana, e cantam e leiam a Bíblia fluentemente em português, usando a versão Almeida Revista e Corrigida, mas admitam que não entendem muito. Os índios não se animam por uma tradução em Aikanã. Em Tubarão os índios não aceitaram tentativas pelos missionários de introduzir hinos e orações em Aikanã. Preferem usar português e a sabe ler bem (Anonby 2009.8). Contra Anonby, Vasconcelos diz que eles desenvolvem projetos da valorização cultural e procuram manter viva a língua por uma escola bilíngue (Vasconcelos 2005).

O antropólogo Heine van de Voort vivia entre os Aikanã e Kwazá por 14 meses entre 1995 e 1998, fazendo uma descrição linguística e textos da língua Kwará (van der Voort, 1998; Anonby 2009.6).

Bibliografia:

  • ANONBY, Stan, 2009, ‘Language Use on the Tubarão-Latundê Reserve, Rondônia, Brazil’, SIL Electronic Survey Report 2009-005, April 2019, Dallas, Tex: SIL International.
  • DAI/AMTB 2010, ‘Relatório 2010 – Etnias Indígenas do Brasil’, Organizador: Ronaldo Lidório, Instituto Antropos –instituto.antropos.com.br.
  • HEMMING, John, 2003, Die If You Must – Brazilian Indians in the Twentieth Century, London; Pan Macmillan.
  • PINTO, Nicole Soares, 2009, ‘Do poder do sangue e da chicha: os Wajuru do Guaporé (Rondônia)’, Dissertação: Universidade Federal do Paraná, Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes Departamento de Antropologia Social Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social- PPGAS, www.antropologiasocialufpr.br/dissertacoes/56pdf
  • SIL 2009, Lewis, M. Paul (ed), Ethnologue: Languages of the World, Sixteenth Edition. Dallas, Tex: SIL International. Versão on line: www.ethnologue.com.
  • VAN DER VOORT, Hein, 1998, ‘Kwaza’, Povos Indígenas do Brasil, Instituto Socioambiental, São Paulo. pib.socioambiental.org/pt/povo/kwaza.
  • VASCONCELOS, Ione, 2005, ‘Aikanã’, Povos Indígenas do Brasil, Instituto Socioambiental, São Paulo. pib.socioambiental.org/pt/povo/aikana.