Kuripako

David J. Phillips

Autodenominação: Usam os nomes das suas fratrias como Walimanai ou Wakuenai. Não se identificam como Baniwa, pois não é sua autodenominação nem a dos Baniwa. Na Venezuela sua autodenominação é Wakuenai que significa ‘os da nossa língua’ (ISA 2002).

Outros Nomes: Curipaco, Coripaco (ISA), Curipaco, Koripako, Korispaso, Kuripako, Cumata, Ipeca, Pacu, Paku-Tapuya, Palioariene, Pato Tapuia, Pato-Tapuya, Payualiene, Payuliene, Ipeka-Tapuia (SIL).

População: 1.200 (DAI/AMTB 2010). 1.332 (DSEI/FOIRN 2005). 1.250 no Brasil (SIL). 3.460 na Venezuela (SIL), 7.830 na Colômbia (SIL).

Localização: Nas margens do rio Içana e seus afluentes Cuari, Aiairi e Cubate e em comunidades no Alto Rio Negro/Guainía na Venezuela. Também nas cidades de São Gabriel da Cachoeira, Santa Isabel do Rio Negro e Barcelos, AM (ISA 2002). Em cinco Terras Indígenas, quatro são homologadas e registradas:

T. I. Alto Rio Negro (7.999.380 ha) com 17 outras etnias, população total 19.721.

T. I. Médio Rio Negro I (1.776.140 ha) com 10 outras etnias, total 2.480.

T. I. Médio Rio Negro II (316.194 ha) com oito outras etnias, total 1.083.

T. I. Balaio (257.281 ha) com sete outras etnias, total 350.

T. I. Cué-Cué/Marabitanas (808.645 ha) com oito outras etnias, total 1.864. Identificada e subjeita a contestação.

Língua: Coripaco, Kuripako, Um dialeto da língua baniwa (ISA 2002). Classificada como Arawak, Maipuran setentrional, interior. ‘O idioma baniwa que é um pouco distinto do idioma kuripako, mas semelhante. Com isso, houve aceleração da tradução, pois o que tínhamos traduzido em kuripako, agora só precisa ser adaptado para o baniwa’ (Bezerro, MNTB). O Novo Testamento foi traduzido em 1959 na Colômbia e mais tarde no Brasil (SIL).

História: Os Kuripako como os outros indígenas do Alto Rio Negro sofreram das ‘regates’ e foram levados rio abaixo para escravidão. Os Baniwa contam histórias de líderes que escaparam e voltaram para o Rio Içana. Mais tarde os índios se transferiram suas comunidades das cabeceiras dos igarapés para as margens dos rios maiores (ISA 2002).

A missionária da Nova Iorque, Sofia Müller, da Missão Novas Tribos evangelizou os índios Kuripako na Colômbia em 1945. Em 1948 entrou no Brasil pelos Rios Aiari e Içana e teve contato com multidões de Baniwa e Kuripako, vindo em canoas para ouvi-la pregar o evangelho. Ela ensinou os indígenas de ter orgulho na sua independência dos seringueiros e patrões brancos, mas ela foi oposto às festas de embriaguez e imoralidade. Reconheceu que os mitos eram a inspiração deste conduto. Foi uma linguista excelente e traduziu os evangelhos e algumas epístolas em Baniwa e alfabetizou os índios com 75% sucesso. Igrejas foram organizadas com lídres indígenas locais e conferencias bíblicas foram realizadas seis em seis meses. O movimento foi aceito pelos índios como meio de resistência contra sua dependência e sua exploração pelos regatões e outros brancos. Müller não distribuiu produtos industriais para ‘facilitar’ a conversão.

Em 1953 os Salesianos persuadiu o SPI chamar Müller para o posto da policia, mas os índios a ajudaram escapar de canoa rio acima, passando à noite a casa onde estava o delegado assistindo uma festa. Ela continuou a trabalhar entre os índios na Colômbia por mais 40 anos. Os Salesianos tentaram ganhar os Baniwa e Kuripako de volta da ‘heresia’ protestante, mas não conseguiram (Hemming 2003.257s).

Na década 70 depois o sucesso em comerciar a cestaria os garimpeiros invadiram a região que provocou conflitos. Os missionários tentaram e buscaram o apoio da FUNAI que tomou também o lado da companhia de mineração (Wright 2006.195). Os Kuripako foram envolvidos na formação da FOIRN, que procedeu com a demarcação as Terras Indígenas por causa da mudanças provocadas pelo projeto da Calha Norte.

Estilo da Vida: Os dois básicos meios de subsistência são a agricultura de coivara, a pesca e também a caça. Há áreas de terra firme para abrir roças, mas no Rio Içana existem muito igapó e pouca terra para roçar. O povo tem grande conhecimento do mato, dos solos e dos vários tipos de vegetação. A pesca é feita mais na estação da seca na lagoas do médio rio Içana e usam arco e flecha, lança, tinguijada e matapi. Muitos homens viagem para participar na extração de castanha, sorva, borracha e piaçava. Vendam mandioca no comercio.

Sociedade: A sociedade é dividida em fratrias patrilineares e exogâmicas que moram em regiões diferentes nos rios. Os Kuripako são diferente das fratrias Baniwa em manter também uma diferencia de língua. O casamento preferido é entre primos cruzados patrilaterais, mas o noivo trabalhar para o sogro por algum tempo. O casal mora com o pais do marido. Os capitães que tratam as relações com os de fora são aprovados pela comunidade.

Artesanato: São eficientes na confecção de cestaria de arumã para o comércio (ISA 2002) e organizado pela Organização Indígena da Bacia Içana fundada em 1992. O sucesso da Projeto Arte Baniwa foi pela liderança de um índio evangélico (Wright 2009.194). Fabricam também raladores de mandioca, redes, urutus, balaios e acangataras.

Religião: A pajelança está em declínio e há poucos pajés fazendo curas hoje em dia. As comunidades evangélicas são organizadas em igrejas com anciões ou presbíteros locais da comunidade. Os evangélicos têm cultos com as leituras do Evangelho e a celebração da Santa Ceia mensalmente. Grupos de indígenas reúnem nas Conferências Bíblicas em dois ou três meses. Essas cerimônias fornecem ocasiões de alegria e felicidade, quando – além dos ensinamentos da Bíblia – há uma fartura de comida e jogos para todos.

Cosmovisão: O Criador Nhiãperikuli retirou um casal fundador de cada fratria de um buraco da cachoeira de Uapui, no rio Aiari para viver em locais determinados, onde havia patauazal. Cada casal teve filhos que formaram os ancestrais de cinco patri-sibs nas fratrias.Os xamas acreditam em um cosmo que consiste em varias camadas colocadas verticalmente até o último céu (Apakwa Eenu) com o sol em cima de tudo. A casa dos mortos está alcançada pelo cordão umbilical de Kuwai.

Comentário: Sophia Müller e Henry Lowen completaram a tradução do Novo Testamento em Kuripako e em Baniwa.Missionários Zenilson e Rita Bezerra da MNTB aprenderam a língua Baniwa em preparação para aprender Kuripako, que é muita aparecida. Viveram na aldeia Jerusalém. Fizeram lições de evangelização e discipulado. A tradução do Velho Testamento está em andamento com Gênesis, Jonas e alguns Salmos completos. São parte da equipe de onze obreiros entre os Baniwa e Kuripako.

Bibliografia:

  • CABALZAR, Aloisio, 2006, Povos Indígenas do Rio Negro, Cabalzar ed, São Gabriel da Cachoeira, AM: FOIRN/ISA.
  • DAI/AMTB 2010, ‘Relatório 2010 – Etnias Indígenas do Brasil’, Organizador: Ronaldo Lidório, Instituto Antropos –instituto.antropos.com.br.
  • HEMMING, John, 2003, Die If You Must – Brazilian Indians in the Twentieth Century, London; Pan Macmillan.
  • ISA 2002, ‘Coripaco’, Equipe de edição da Enciclopédia, Povos Indígenas do Brasil, Instituto Socioambiental, São Paulo. pib.socioambiental.org/pt/povo/coripaco.
  • SIL 2009, Lewis, M. Paul (ed), Ethnologue: Languages of the World, Sixteenth Edition. Dallas, Tex: SIL International. Versão on line: http://www.ethnologue.com.
  • WRIGHT, Robin M. 2009 ‘Baniwa Art: The Baniwa Protestant Ethic and Spirit of Sustainable Development’ in Native Christians: Modes and Effects of Christianity among indígenous peoples of the Americas, Aparacida Vilaça e Robin M. Wright eds, Farnham, Surrey, Inglaterra: Ashgate Publishing Ltd.