Mamaindé — Nagayandu

David J. Phillips

Veja também Perfil dos Nambikawa.

Autodenominação: Os Mamaindê usam nagayandu, que significa ‘gente’, para se chamar. É também usado para significar todos os Nambikwara em contraste dos não indígenas. Às vezes o sentido inclui outros indígenas vizinhos como os Cinta-Larga e os Pareci (Miller 2008).

Outros Nomes: Nambiwara do Norte, Nambiwara-Mamaindê.

População: Os Mamaindé 136 (DAI/AMTB 2010), 200 (Anonby e Eberhard 2008). Sobreviventes dos Da’wendê, D’awandê e Sabanê moram com os Mamaindé (Miller 2008). 330 em 2007 (SIL).

Os Negarotê: Acerca de 100 (Anonby e Ebehardt 2008). 65 no T. I. (Socioambiental).

Localização: Uns 200 Mamaindê vivem na aldeia de Capitão Pedro na T. I. Vale do Guaporé (MT) e uma família na cidade de Vilhena (RO) (Anonby e Ebehardt 2008). Vivem entre os rios Cabixi e Pardo.

Os Negarotê: Terra Indígena Lagoa dos Brincos perto da rodovia MT440. A aldeia fica a duas horas da aldeia Capitão Pedro dos Mamaindê, a cidade mais próxima é Comodoro (MT) na BR364. 17 em Barroso. Outro grupo mais ao sul próximo a Nova Alvorada (Anonby e Ebehardt 2008). A T. I. Foi homologada em 1996.

São grupos dos Nambikwara que vivem em dez aldeias (SIL), no oeste de Mato Grosso, divididas pela Rodovia BR170, nas Terras Indígenas Nambikwara, Paukalirajausu, Pequial, Pirineys de Souza, Sararé, Taihantesu, Tirecatina, Tuberão/Latundê, Umutina e Vale do Guaporé; Os Negarotê estão ao norte e os Wasusu ao sul.

Língua: Mamaindé é uma língua Nambiwara do Nambikwara Setentrional (Eberhard). Outro dialeto é Negaroté e é semelhante às Lakondê (quase extinta), Latundê e Tawandê e duas mais extintas que formam o grupo Nambikwara Setentrional (SIL).

Stella Telles concluiu que existem dois ramos da Nambikwara Setentrional: Primeiro: Latundê, Lakonde e Tawande (as últimas duas com um falante cada) e segundo: Mamaindê and Negarotê (Telles 2002:28).

Os Mamaindê preferem a ler sua própria língua, porém uma prova demonstra que sua habilidade é melhor em português e leem a Bíblia mais em português. As crianças escolares preferem o português. Sabem ler: Mamaindê: 3%, português: 50% (Anonby e Ebehard 2008).

Os Negarotê: Ninguém lê Mamaindê e quatro estão estudando fora em português. Há aproximadamente 90% entendimento entre Negarotê e Mamaindê (Anonby e Ebehard 2008).

História: Em 1907 Rondon foi pedido montar uma linha telegráfica de Cuiabá, 1.000 km. para Acre. Ele encontrou os Nambikwara colhendo mel e foi atacado, porque o povo teve sofrido recentemente um ataque de seringueiros e conseguiram dissuadir seus inimigos invadir a floresta do alto rio Tapajós. Rondon anotou o físico forte dos homens e a ordem e limpeza das aldeias, porém eram mais coletores nos cerrados do que caçadores. Anotou que dormiram no chão e não em redes.

Os Nambikwara abandonaram as aldeias e queimaram uma cabana da expedição para evitar encontrar com os brancos. Em atravessar o rio Juruena, Rondon foi atacado de novo e foi desta altura que ele adotou a política de não atirar, pois os índios tiveram direito de proteger seu território (Hemming 2003.9-11). Em 1913 Rondon voltou à terra dos Nambikwara com ex-presidente Theodore Roosevelt e um grupo de Nambikwara visitou seu acampamento, entrando em uma grande fileira, com mulheres e crianças, todos nus (Hemming 2003.45). O novo SPI montou um Posto em Pontes de Lacerda em 119 para atrair os Nambikwara, mas não conseguiu o contato. Um segundo Posto estabelecido em 1924 não podia manter contato com o povo (Netuno 2010).

Infelizmente as relações entre seringueiros e os Nambikwara continuaram hostis. Lévi-Strauss passou algum tempo com 20 Nambikwara no rio Papagaio, anotou seu estilo de vida mais simples que os outros povos. A sua população foi arrasada de 10.000 a 600 na década 20. Em 1933 uma missão protestante norte americana tentou contato, mas os índios não eram satisfeitos com presentes, um índio morreu depois tratamento médico inadequado e os Nambikwara mataram os seis missionários (Hemming 2003.48).

Em 1968 o governo federal incentivou a agricultura na área do Nambikwara e demarcou uma Área Indígena pequena e árida para todos os grupos do povo. As terras mais férteis dos Nambikwara no Vale do Guaporé foram vendido às empresas agrícolas. A FUNAI demarcou pequenas ‘ilhas’ para o povo morar. T .I. Lagoa dos Brincos (para os Mamaindé e Negaroté), T. I. Pequizal, e T.I. Taihãntesi foram demarcadas. A abertura da BR 364 facilitou a maior invasão da área (Netuno 2010). Os Nambikwara do alto Guaporé foram mudado para a nova T. I., mas eles reconheceram que não puderam sobreviver lá e marcharam de volta, 30% morreu na viagem David Price organizou com a FUNAI uma campanha de vacinação contra tuberculose. Em 1976 Price com um casal de SIL, Menno e Barbara Kroeker conseguiram ensinar a maioria ler e escrever sua língua e alguns em português. Também um curso de aritmética foi ensinado. Três agentes dedicados da FUNAI foram treinados (Hemming 2003.316-317).

O casal Kingston (SIL) começou um programa de alfabetização que foi recebido com entusiasmo e a maioria dos Mamaindê podem ler e escrever, mas isso parou depois da saída dos Kingstons em 1977 (SIL foi expulso do Brasil na época). Mais tarde os professores brasileiros tentaram ensinar português com sucesso limitado, até uma professora morou na aldeia por três anos até 2002, e muitos aprenderam ler e escrever português (Anonby e Ebehard 2008). Durante os anos 90 as estradas para as aldeias eram construídas pelos madeireiros e muitos conflitos resultaram. Os índios suspeitam que os madeireiros mataram o chefe Mamandê Capitão Pedro (PIB/CEDI, 17/08/93, in Povos Indígenas).

Estilo da Vida: Os Mamaindê preferem construir suas aldeias em áreas mais elevadas na beira do cerrado onde o solo é arenoso. Usam o termo halodu que significa campo ou cerrado também para referir à aldeia. A aldeia atual está situada num planalto chamado Yu’kotndu que significa ‘pendurada na beira/boca (da serra)’. As roças são brocadas e cultivadas na floresta entre os rios Pardo e Cabixi. A geração mais velha ainda caça e cultiva a roça. Os Mamaindê aprenderam pela FUNAI plantar arroz e abacaxi para vender em Vilhena. Os Mamaindê com os Negarotê estão envolvidos com o projeto de criar gado, cercando grandes áreas de terra (Anonby e Eberhard 2008).

Artesanato: Os Mamaindê confeccionam colares e outros adornos para vender (Anonby e Ebehardt 2008).

Sociedade: Veja perfil dos Nambikwara. Os Mamaindê são uma mistura de diversos grupos extintos de Nambikwara, os Tawanxtxu, Taxwensitxu, Mamainsitxu, e Taxmainitxu e há uma variedade de dialetos entre os velhos. Na aldeia Negarotê seis dos 19 casais eram mistos, quatro com Mamaindê e dois com outros Nambikwara Vinte Mamaindê participaram nos Jogos Olímpicos Indígenas em 2007 (Anonby e Ebehard 2008).

Religião: O poder do xamã é considerado pelos Mamaindê em possuir muitos objetos e enfeites corporais, como as voltas de colares de contas pretas de tucum, dados pelos espíritos dos mortos e o pajé que o iniciou. São coisas mágicas que o capacita a enxergar as coisa invisíveis dos espíritos. Enxergam também os enfeites dentro dos outros. A iniciação do pajé é por sofrer uma surra dos espíritos na floresta e desmaia, neste momento ele recebe os enfeites e uma mulher-espírito, descrita como uma onça, apesar o pajé a veja como ser humano. Ela vai acompanhá-lo em todo lugar, sentado ao seu lado e o auxilia nas sessões de cura. A iniciação é chamada um processo de morte (Miller 2008).

Pouco a pouco o pajé velho passa os enfeites para o novato que o acompanha para que ele aprenda. Uma prova é que tem que ficar na mata sem arma uma noite inteira. Cobras e onça etc serão enviadas para assustá-lo, mas ele deve enxergá-las como gente e as pede não atacá-lo. O pajé não deve fazer muitas atividades cotidianas para não perturbar sua mulher-espírito, que pode o abandonar e levar seus enfeites (Miller 2008).

Para os Negarotê a iniciação do pajé é um tipo de reclusão em uma casinha feita de folhas de buriti para receber instrução de um pajé maduro e beber muito chicha (Miller 2008).

Cosmovisão: Os Mamaindê consideram que antigamente nos tempos míticos alguns animais eram ‘gente’ (nagayandu) e também os espíritos dos mortos se transformam em animais (Miller 2008).

Comentário: Acerca de 1900 havia 3.000 Mamaindê. Em 1965 quando Peter e Shriley Kingston começaram a estudar sua língua havia uma população de 50, devido aos conflitos como outros indígenas e os epídemas de sarampo. O povo ficou tão desmoralizado que até levaram suas crianças à estrada para entregá-las aos viajantes. As equipes includiram David Barnard, Irene Meech, Dave e Rebecca Spencer e em 1990 Dave e Julie Eberhard substituiu os Kingston. A população subiu a 136. Dave Eberhard escreveu artigos sobre a língua. Os Kingston e os Eberhard deram assistência médica por programas de vacinação e ajudaram os Mamaindê adaptar as pressões do mundo não indígena, especialmente com um curso de alfabetização (Cahill 2004).

Não há evangélicos Mamaindê que se congregam regularmente, e tem pouco entusiasmo por literatura cristã na sua língua, como os outros Nambikwara que usam a Bíblia em português (Anonby e Ebehard 2008). A Missão Novas Tribos do Brasil trabalha com este povo (MNTB).

Bibliografia:

  • ANONBY, Stan, e EBERHARD, David, 2008, ‘A Survey of Three Northern Nambiquara Groups: The Mamaindê, Negarotê, and Latundê’, SIL Electronic Survey Report 2008-21, December 2008, Dallas, Tex: SIL International.
  • CAHILL, Michael, 2004, ‘ From Endangered to Less Endangered – Case Histories from Brazil and Papua New Guinea *SIL Electronic Working Papers 2004-004, August 2004 (Revised edition of SIL Electronic Working Papers 1999-006, October 1999).
  • DAI/AMTB 2010, ‘Relatório 2010-Etnia Indígenas do Brasil’, Organizador: Ronaldo Lidório, Instituto Antropos –instituto.antropos.com.br.
  • EBERHARD, Dave, ………’Mamaindé Coda Processes’ em Fifty Years In Brazil – Um Tributo aos Povos Indígenas, Eds: Mary Ruth Wise, Robert A. Dooley, Isabel Murphy, Dallas TX: SIL International, pag. 177-210.
  • HEMMING, John, 2003, Die If You Must: Brazilian Indians in The Twentieth Century, London: Macmillan.
  • MILLER, Joana, 2008, ‘Nambikwara’, Povos Indígenas do Brasil, Instituto Socioambiental, São Paulo, SP, Brasil. pib.socioambiental.org/pt/povo/nambikwara.
  • SIL : 2009. Ethnologue: Languages of the World, Lewis, M. Paul (ed.), Sixteenth edition. Dallas, Tex.: SIL International, www.ethnologue.com.
  • TELLES, Stella. 2002. Fonologia e Gramatica Latundê/Lakonde. Amsterdam: Vrije
  • Universiteit.