Marúbo

David J. Phillips

Autodenominação: Os Marubo ou Marúbo não parecem ter uma (Melatti 1998).

Outros Nomes: Kaniuá, Marova, Maruba (SIL). Os Marúbo aceitam este nome, mas não é sua autodenominação (Melatti 1998).

População: 1.252 (DAI/AMTB 2010) 595 (SIL 1995), 1043 (ISA 2000), 1.705 (Funasa, 2010).

Localização: Vivem em dois lugares:

Terra Indígena Vale do Javari, homologada e registrada no CRI e SPU com 8.544.48 ha nas cabeceiras dos rios Itui, Arrojo e Curuça em quatro aldeias e em Atalaia do Norte (Anonby e Holbrook 2010.10). População: 3.759 de 13 etnias. Os assentimentos com sua população estão situados: No rio Ituí logo acima da foz do rio Novo de Cima (88 em 1998). Nas cabeceiras do rio Ituí até acima da foz do Paraguaçu, com uma aldeia ao lado da missão Vida Nova (380 em 1998). No rio Curuçá entre as confluências do rio Pardo e do rio Arrojo (182 em 1998). No Igarapé Maronal, afluente do alto Curuçá (231 em 1998) (Maletti 1998).

Dominial Indígena Aldeia Beija Flor de 41 ha com Marubo e 9 outros povos.

Língua: Marúbo (DAI/AMTB 2010) da família linguística Pano norte central. Não parece ser inter inteligível com Matsés (SIL). Os Marúbo dizem que a língua é dos Chaináwavo, uma etnia extinta. Os jovens falam português (Melatti 1998).

História: Os Marúbo tiveram contato com serigueiros peruvianos no fim do século XIX e tiraram o látex por eles em troca pelos artigos industriais. A região foi abandonada pelos seringalistas acerca de 1912. Nas décadas 30 e 40 do século XX se isolaram quando a borracha acabou e mudaram para o alto rio Curuça. Organizaram-se em clãs ou secções que eram provavelmente elementos sobreviventes de diversos povos, que falaram línguas diferentes, decimados na época da borracha. Nos anos 50 procuram contato com os regionais no rio Juruá para ter mais ferramenta de aço. Começaram comercio em peles de animais e tiveram contato com madeireiros que estavam entrando na região (Anonby e Holbrooks 2010.12; Melatti 1998).

Em 1952 a Missão Novas Tribos do Brasil e a SIL começaram a trabalhar com os Marúbo, aprenderam a língua bem e deram assistência médica e educação para os ajudar enfrentar o mundo de fora. Os Marúbo manteram boas relações com os missionários e os índios manteram seus costumes e malocas (Hemming 2003.539). A população cresceu com mais de 400 em um local. Os missionários combateram epidemias e sarampo, meningite, influenza e tuberculose.

Houve ataques pelos Matsés por volta de 1960 e os Marúbo responderam por matar 14 deles (Melatti 1998). Os índios das duas comunidades nos rios Curuçá e Ituí continuaram tirarem o látex e o vender aos regatões, e protestaram quando o governo tentou fechar os rios ao comércio. A FUNAI entrou a região em 1974, e quando esta demorou fazer uma pista de pouso para os teco teco dos missionários eles mesmos brocaram o mato para fazê-la (Hemming 2003.539).

São um dos povos maiores e influentes da Terra Indígena do Vale Javari e envolvidos no Conselho Indígena (CIVJA) que fornece assistência médica. Seus inimigos são os Matsés, mas têm bons relacionamentos com os Matis e jogam futebol com eles e os ajudam nas roças. A MNTB tem uma escola e alguns alunos assistem as escolas secundárias em Atalaia e Cruzeiro do Sul (Anonby e Holbrooks 2010.12).

Estilo de Vida: Moram em malocas construídas em cima de uma colina e também construem ao lado pequenas casas para guardar os pertences das famílias.A maloca é a moradia comunal e estas outras estruturas são de indivíduos, guardando ferramentas, armas de fogo, panelas, utensis para a extração do látex, etc. As casas são construídas de forma pirâmide com quatro paredes de palha tecida (Hemming 2003.538).Muitas das atividades comerciais com a economia regional cessou com o isolamento da T. I.

Vivam por agricultura de coivara, cultivando milho, mandioca, banana, papaia, goiabada, algodão, mamões e tabaco. As roças estão em baixo da aldeia nos vales vizinhos. Os homens brocam e aceiram as roças e abrem as covas para plantar as bananeiras, etc, e as mulheres cuidam das plantações e fazem a colheita. Os homens caçam e confeccionam as coisas de madeira. As mulheres fazem a cerâmica e tecem as maqueiras de tucum (Melatti 1998). Pescam com tinguijada e anzol e linha (Anonby e Holbrooks 2010.12).

Artesanato: São habilidosos em fabricar cerâmica e cestos (Hemming 2003.538).

Sociedade: Os Marúbo são formados pela agregação dos sobreviventes de povos indígenas dizimados (Melatti 1998).A pintura corporal é de desenhos geométricos e fios de contas brancas ligadas entre o espectro do nase e as orelhas. A maloca é moradia por diversos casais e seus filhos sob a liderança do ‘dono’. Esta unidade consiste da família da sua esposa, as famílias dos irmãos dela e as famílias dos filhos. O dono pode se casar com as irmãs da esposa. Cada família tem um espácio entre os esteios de aproximadamente 9m. quadrados. A ala no meio é formada de troncos que servem para assentos dos homens. As mulheres assentam-se em esteiras no chão (Melatti 1998). A maloca tem um trocano ou tambor de um tronco escavado. Hoje em dia os grupos são maiores com malocas próximas unidas sob um líder que trata as relações com alheios (Melatti 1998).

Os Marúbo se dividem em 18 secções matrilineares, chamadas por animais e são associadas em pares. As gerações alternam entre as duas secções. Os filhos de uma mulher pertencem a outra secção, mas seus netos, filhos das suas filhas, pertencem a mesma secção dela. Pessoas não podem se casar com pessoas das duas secções do seu par. O casamento preferido é com a prima, filha de um irmão da mãe e também com as irmãs da prima. Estas pertencem às outras secções. Porque o tio, mesmo da secção da mãe do ego se casa fora das duas secções. Assim os filhos do ego vão pertencer da secção da suas esposa, a do par com a qual o tio se casou. Nomes passam dos filhos dos avôs e das filhas dos avós.

Religião: Somente os homens mais maduros usamo rapé e a ayahuasca (caapi). Realizam a festa da colheita do milho. Qualquer homem maduro pode entoar os cânticos de cura, tomando ayahuasca e rapé, sentado em redor do doente. Há também praticantes especiais para fazer isso. Os cânticos narram a origem do doente de outros seres e como a doença entrou o corpo e invocam outros seres para entrar no copro para combatê-la. Outra cura é por comer um mingau, sobre o qual foram entoados os cânticos. O pajé através de tomar ayahuasca pode receber os espíritos no seu corpo e visitar as casas dos espíritos benevolentes com a finalidade de curar ou achar coisas perdidas (Melatti 1998).

O transporte para a maloca de um novo trocano (instrumento de percussão constituído de um tronco de madeira com uma cavidade retangular profunda) tem seu ritual (Melatti 1998). Praticam curas de pajelança e cerimonias fúnebres (Anonby e Holbrooks 2010.12). O rito fúnebre no passado era de cremação e pulverização dos ossos e a ingestão das cinzas dentro de uma comida pastosa, com fazem os Yanomami. Hoje os cadáveres estão levado bem fora da aldeia e enterrados na sua rede. Um tapiri é construído sobre a cova (Melatti 1998).

Cosmovisão: Todas as coisas são feitas pela transformação dos corpos de seres mortos. O mundo é feito em camadas.Os homens vivem nas camadas de terra Névoa, que está em cima de outra camadas inferiores. Sobre a terra há outras camadas dos céus. Os Marúbo vieram do chão, cada secção do seu buraco ao lado da foz de todos os rios. Cada secção subiu os rios até chegar na sua região aonde moram hoje. Durante este percurso ele aprenderam sua cultura.

Os homens têm duas almas, a direita ou do coração que após da morte segue o Caminho da Névoa, enfrentando diversas dificuldades até chegar ao lugar das almas das sua secção para experimentar uma vida feliz. A alma do esquerdo vaga pela terra. A origem da maloca é contada por um mito do herói Vimi Peya, que os jacarés o ensinou a construir quando ele moravam em baixo das águas (Melatti 1998).

Comentário: A Missão Novas Tribos do Brasil trabalha com este povo (MNTB).

Bibliografia:

  • ANONBY, Stan e HOLBROOK, David J., 2010, ‘A Survey of the Languages of The Javari River Valley, Brazil’, SIL Electronic Survey Report 2010-003, March 2010, Dallas, Tex: SIL International.
  • CONDE, Ananda, 2008, ‘Korubo’, Povos Indígenas do Brasil, Inisituto Socioambiental, São Paulo. pib.socioambiental.org/pt/povo/korubo.
  • COSTA, Luiz, 2008, ‘Kanamari’, Povos Indígenas do Brasil, Instituto Socioambiental, São Paulo. pib.socioambiental.org/pt/povo/kanamari.
  • DAI/AMTB 2010, ‘Relatório 2010-Etnia Indígenas do Brasil’, Organizador: Ronaldo Lidório, Instituto Antropos –instituto.antropos.com.br.
  • HEMMING, John, 1987, Amazon Frontier-The Defeat of the Brazilian Indians, London: Pan Macmillan.
  • HEMMING, John, 2003, Die If You Must – Brazilian Indians in the Twentieth Century, London; Pan Macmillan.
  • MELATTI, Julio Cezar, 1998. ‘Marúbo’, Povos Indígenas do Brasil, Instituto Socioambiental, São Paulo. pib.socioambiental.org/pt/povo/marubo.
  • MNTB 2005?? Missão Novas Tribos do Brasil, Anápolis, GO, www.mntb.org.br.
  • SIL 2009, Lewis, M. Paul (ed), Ethnologue: Languages of the World, Sixteenth Edition. Dallas, Tex: SIL International. Versão on line: www.ethnologue.com.