Palikur — Païkwené

David J. Phillips

Autodenominação: Païkwené (Capiberibe 2012).

Outros Nomes: Pamiwa, Aukwayene, Aukuyene, Paliku’ene, Paricuria, Paricores, Palicur, Parikuriena, Parinkur-léne (DAI/AMTB 2010). Paikwene, Palicur, Palijur, Palikour, Palincur, Paricores, Paricuria, Parikurene, Parinkur-lene (SIL).

População: Brasil: 918, Guiana Francesa: 470 (DAI/AMTB 2010). Total étnico: 1.540, No Brasil: 1.290 (SIL). 1.293 (IEPÉ 2010), 720 (Passes 1994). No Brasil:999 (FUNAI 2001), Guiana Frances: 500 (Quexalós 2000).

Localização: Nos dois lados da fronteira entre Brasil e Guiana Francesa, na bacia do rio Uaça, afluente na margem direita do rio Oiapoque/Oyapok , e na margem esquerda do rio Cassioporé, no município de Oiapoque (Martiniqua), no norte do Amapa.

Terra Indígena Uaçá I e II, AP,de 470.164 ha, homologada e registrada na SPU com 4.462 Galibi-Marworno, Karipuna do Amapá e Palikur (FUNAI 2011). Vivem em dez aldeias (SIL).

Na Guiana Francesa: Vivem na cidade de Saint Georges, nos municípios de Regina e de Roura e Macouria, quatro assentimentos no baixo rio Oiapoque e a aldeia de Kamuyene, próxima a cidade de Macouria com 200 habitantes. Os indígenas têm direitos de uso temporários para ‘tirar sua subsistência da floresta’ mas não reconhecimento jurídico da posse das terras (Capiberibe 2012).

Língua: Palikur. A língua é em uso vigoroso. Muitos falam a Creola Karipuna Francesa. A maioria dos jovens usam português (SIL).Da família linguísticaAruak. Alfabetismo na segunda língua: 25%. Existem dicionário (Yuwit kawihka dicionário Palikúr – Português, editores: Harold G. e Diana Green egramáticae o Novo Testamento foi traduzido em 1982 (SIL). Os Galibi-Marworno, Karipuna do Amapá na T. I. falam Creoulo.

História: Os primeiros viajantes europeus no século XVI encontraram perto do litoral que hoje em dia é o Estado do Amapá o povo numeroso chamado ‘Paricura’. Os Palikur são o povo mais antigo da região, os Karipuna e os Galbi chegaram depois. Em 1820 missionários franceses calcularam a população indígena do Amapá ser duzentos mil, mas em anos 70 de mesmo século Crevaux pensava que fosse apenas menos de três mil. As doenças da Europa espalharam antes dos brancos, levadas por índios e quilombolas. A região sofreu também gravemente da malária (Hemming 1987.345).

Amapá estando no litoral atlântico e próximo à cidade de Belém perdeu sua população indígena em pouco tempo, devido à doenças importadas e à escravidão. O norte do antigo Território foi contestado entre Portugal e a França, mas dado ao Brasil em 1900. A paisagem é de várzea, chata coberta de charnecas e floresta baixa, inundadas na estação das chuvas. No interior é coberta de campo e mata de galeria nas margens dos rios. Os indígenas aproveitam o meio ambiente viajando em canoas. Mas eles demoraram de mudar sua lealidade de Creoulo Francês para Brasileiro por causa da memória das expedições brasileiras para escravizá-los. Há três povos: Os tupi Karipuna, os caribe Galibi e os aruak Palikur. Os Galibi eram uma grande tribo no Suriname e Guiana Francesa e um grupo migrou-se para o sul. Os Karipuna chegaram na região no século XIX, reféns escapando da Ilha de Marajó. Os Palikur preferiam manter relações com os Crioulos que continuaram na região (Hemming 2003.407).

O SPI tentou estabelecer escolas para estes povos na década 30 que duravam por pouco tempo. Enquanto os outros dois povos estavam meio aculturados, os Palikur viviam ainda em ‘práticas primitivas’. Durante os anos 40 e 50 o SPI tentou projetos de modernizar a pesca, introduzir a criação de gado e búfalo e extração da tinta brasil, mas todos estes fracassaram devido à indiferença do índios, má administração e falta de recursos. Outros projetos industriais foram experimentados, sem êxito. Foram os Palikur que resistiram o mais esta política de fazê-los ‘cidadãos úteis’. O SPI monopolizou o comércio da farinha de mandioca e pesca dos índios com os regatões que supriram os garimpeiros no norte da região. Os Palikur rebelaram e o Posto do SPI se fechou. Os índios mudaram-se para a margem francesa do rio Oiapoque para trabalhar nas fazendas e pescar. Apesar destes contratempos os três povos manteram suas identidades étnicas e suas populações cresceram. Os Palikur eram católicos nominais, mas Harold e Diana Green do SIL chegaram na aldeia Palikur em 1965. (Hemming 2003.407-409).

O padre Nello Ruffaldi começou a trabalhar entre os Karipuna, melhorando a saúde deles e ‘os índios descobriu que o evangelho é para unir e dar auto estimo’. Em 1976 ele organizou a primeira assembleia e os chefes dos povos pediram a FUNAI demarcar uma Terra Indígena para parar as invasões no seu território. Isso aconteceu em 1983. As assembleias continuaram cada ano, incorporando outras nações indígenas. A assembleia de 1995 terminou com o Turé e um culto cristão com a participação dos pastores das Assembleias de Deus, a Missão Novas Tribos do Brasil e o padre Nello. A situação dos índios era melhor com o comércio da mandioca, plantações de cana e milho, educação primária, graças à FUNAI, o Estado do Amapá e os missionários (Hemming 2003.412).

Estilo da Vida: Os Palikur vivem em treze aldeias às margens do rio Urukauá, afluente da margem esquerda do rio Uaça, no centro da Terra Indígena. Da sua cabeceira até o médio do rio o meio ambiente é de floresta terra firme. Ao longo do baixo rio Urukauá a paisagem é de campos que ficam alagados na estação das chuvas. Os campos são divididos por tesos que são sempre em cima da água, nos quais estão construídas as casas das aldeias, que são formadas por uma família nuclear ou estendida, que vareiam em população de sete a oitenta pessoas. Porém a maior é o Kumenê, 670 habitantes, com duas ruas paralelas e a escola e os postos da FUNAI e de saúde são localizadas um pouco fora da aldeia. A aldeia cresceu com a evangelização evangélica e a construção do templo da Assembleia de Deus. Na cabeceira do rio é aldeia Ywawka, criada em 1998 na beira da estrada BR-156 para vigiar contra invasões da T. I. São oito aldeias na margem esquerda do rio Urukauá e cinco na margem direita com aldeia dos Galibi-Marworno quase na foz do rio (Capiberibe 2012).

Os Palikur fazem a broca e a coivara das roças no verão e plantam mandioca brava, banana, abacaxi, pimenta, batata cará. Da mandioca produzam beiju, tapioca, e outros. Fornecem 80% da farinha de mandioca da cidade de Oiapoque. Acesso às roças é a pé na estação seca e pela canoa no inverno.

Os Palikur praticam a queima do junco na estação seca para facilitar a passagem de suas canoas, empurradas por longas varas. A pesca durante o verão, julho a setembro é facilitada pelas águas baixas e feita com anzole linha, zagaia e arco e flecha. A Assembleia dos Povos Indígenas do Oiapoque determina que o piraucu não pode ser pescado e a piracema somente em março A fartura permite que uma parte é salgada, ou com o fornecimento de energia elétrica é congelada, para o consumo interno na época de escassez. Fazem a coleta de ovos de tracajá, jacaré e camaleoa (Capiberibe 2012).

No inverno os Palikur caçam na mata de terra firme, e ficam à espreita para anta, veado, paca, cutia, macaco aranha e guariba. Especies de aves são caçadas, como a garça, jaburu, maguari e mergulhão. Durante o inverno fazem a limpeza das roças e em dezembro a produção da farinha (Capiberibe 2012).

Sociedade: Entre 1925 e 2002 a população na área da T. I. cresceu de 186 a 1011. Na Guiana Francesa entre 2000 e 2011 cresceu de 700 a 1.500 pessoas. A sociedade Parikur observa regra de residencia uxorilocal e o homem muda de status quando casa suas filhas, tornando-se um sogro. A decisão de formar uma aldeia fica com o chefe do grupo domestico. A casa do fundador tem as outras casas em redor. O fundador é o cacique que representa sua aldeia. As decisões que afetam a aldeia são discutidas por todos os homens da comunidade. A penalidade de uma transgressão em brigas, furtos ou traições matrimoniais é roçar terreno de uso comum. O assassinato do último pajé resultou no expulso dos homens responsáveis. Os líderes da igreja evangélica também têm seu papel no regulamento da sociedade.

São divididos em seis grupos patrilineares de descendência chamadas ‘gentes’ ou ‘povos’, que dar os sobrenomes que têm equivalentes em português. Estes nomes são transmitidos pelo pai que são imutáveis mesmo depois casamento da mulher. Estes grupos são exogâmicos (Capiberibe 2012).

O contato entre as quatro etnias, Palikur, Galibi-Marworno, Galibi-Kaliña e Karipuna é feito nas Assembleias Gerais dos Povos Indígenas do Uaça, nas festas religiosas evangélicas e nas celebrações do Dia do Índio e em visitas na cidade de Oiapoque. As conferencias evangélicas reúnem indígenas das etnias dos dois lados da fronteira e tem resultado em alguns casamento interétnicos. A participação dos evangélicos em aspectos da festas é limitada por sua ética, mas se uma situação requer a ação conjunta de todas as etnias os Palikur evangélicos participam ativamente (Capiberibe 2012).

As aldeias palikur, com suas população em 2007, são: Kumene (572), Flecha (69), Tawary (44), Kamuywa (49), Kwikwit (29), Amomin (31), Puaytyeket (68), Urubu (42), Mangue II (46), Ywauka (49) (Anonby 2007.10).

Os quatro povos, Galibi do Marworno, Palikur, Karipuna e os Galibi do Oiapoque formaram em 1992 uma associação política chamada Apoio. O primeiro chefe foi eleito prefeito da cidade de Oiapoque. A chefe em 2007 era a ortodontista Vitoria Santos e a associação ganha recursos para a educação e saúde (Anonby 2007.11).

Artesanato: Confeccionam trançados, cestarias, potes de cerâmica, flautas de bambu e ossos, bordunas, escudos e arco e flecha, cocares de penas, bancos e canoas. também sabem prepara a bebida fermentada à base da mandioca usado pelos Karipuna no ritual do Turé.

Religião: A maioria são pentecostais das Assembleias de Deus. O Museu dos Povos Indígenas do Oipoque – Kuahi formado em 1997 e administrado por jovens das quatro etnias está com o projeto de conservar o conhecimento dos rituais antigos.

Cosmovisão: Atualmente os Palikur afirmam a criação do universo conforme a Escritura Cristã, mas há traços da cosmologia antiga. Criam em planos celeste, subterrâneo ou sub-aquático, habitados por diversos espíritos. Os mitos ocupam uma posição ambígua sobre sua realidade, que permite os existir como ‘histórias dos antigos’ convivendo com a cosmovisão cristã.

Comentário: Depois de dois anos de analise da língua do casal Green do SIL saíram e seu lugar foi tomado por um pastor norte-americano pentecostal, Glen Johnson, que não falava nem português nem uma língua indígena. Ele teve um soldado brasileiro para traduzir, e um dos Palikur que entendia português e assistiu uma escola em Belém, Paulo Orlando Watay, se converteu. Ele se tornou um pastor-chefe com um ministério muito efetivo até os pajés e curandeiros se converteram. Instituiu um regime, comum entre os protestantes, de abandonar fumo, bebidas e as festas. Cultos eram realizados todo sábado e domingo. Um Palikur, Afonso Yoyo, testemunhou, ‘O padre não explicou nada, ele não fez a doutrina penetrar nossos corações. Agora eu oro, canto e choro porque sou feliz. Porque eu me amo, amo aos outros inclusive os que não me conheço.’

Os Greens do SIL voltaram e tentaram limitar os excessos do pentecostalismo. Por algum tempo a congregação foi desviada a uma versão do ‘evangelho de prosperidade’ e Paulo Orlando levou uma cisão para fundar outra aldeia. Outros protestantes tentaram corrigir a doutrina inclusive a NTMB. Depois dois anos Paulo Orlando voltou para liderar o trabalho (Hemming 2003.409-411). Histórias bíblicas e outras estórias foram traduzidas em Crioulo, por Alfred e Joy Tobler (1983), Simeão Fort e outros (1983) e Rebeca Spires (1997).

Bibliografia:

  • ANONBY, Stan, 2007, ”A Report on the Creoles of Amapá”, SIL International.
  • CAPIBERIBE, Artionka, 2012, ‘Palikur’, Povos Indígenas do Brasil, Instituto Socioambiental, São Paulo. pib.socioambiental.org/pt/povo/palikur.
  • DAI/AMTB 2010, ‘Relatório 2010 – Etnias Indígenas do Brasil’, Organizador: Ronaldo Lidório, Instituto Antropos –instituto.antropos.com.br/
  • HEMMING, John, 1987, Amazon Frontier-The Defeat of the Brazilian Indians, London: Pan Macmillan.
  • HEMMING, John, 2003, Die If You Must – Brazilian Indians in the Twentieth Century, London; Pan Macmillan.
  • SIL 2014, Lewis, M. Paul, Gary F. Simons, and Charles D. Fennig (eds.). 2014. Ethnologue: Languages of the World, Seventeenth edition. Dallas, Texas: SIL International. Online version: www.ethnologue.com.