Pankararu

David J. Phillips

Autodenominação: Pankararu.

Outros Nomes: Pancararu (DAI/AMTB 2010);Pancaré, Pancaru, Pankarará, Pankaravu, Pankaroru, Pankarú (SIL).

População: 1.562 (DAI/AMTB 2010); 5.880 (SIL).

Localização: Pernambuco e Alagoas (SIL) e Minas Gerais.

T. I. Fazenda Cristo Rei, perto da rodovia PE-244, entre Garanhuns e Buíque, PE, em identificação, com 3.046 Pankararu (FUNASA 2010).

T. I. Pankararu, perto de Petrolândia, no município de Tacaratu, PE, homologada e registrada no CRI, com 8.376 ha e 5.584 Pankararu (FUNAI 2003).

T. I. Entre Terras, ao norte da T. I. Pankararu, aumentando esta nos lados norte e leste, homologada e registrada no CRI, com 7.550 ha e 1.072 (FUNAI 2001).

T. I. Cinta Vermelha de Jundiba, a sudoeste de Corinto, MG, Terra em identificação, com Pataxó e Pankararu.

T. I. Pankararu de Araçuaí, a sudoeste de Corinto, Norte de Minas, MG, status: dominial indígena, com 258 Pankararu.

Araçuaí, MG: Há um grupo dos Pankararu nas imediações de Araçuaí, no Vale do Jequitinhonha, que migrou do Pernambuco. Em 2002 era 17 indivíduos desta etnia (Cácio Silva comunicação particular e veja Silva 2008, 104). Aldeia de Apukaré com 68 ha com acesso ao Rio Jequitinhonha na fazenda chamada Alagadiço, no município de Coronel Murta.

Língua: Pankararu, não é provada de pertencer a uma família linguística, mas alguma palavras semelhantes às línguas Tupi. Não há falantes conhecidos (SIL).

História: Os Pankararu sempre viviam entre as serras: da Fonte Grande, Serra da Pedra D’água e Cachoeira de Itaparica a margem do Rio São Francisco, local tradicional de sepultar os seus mortos. Eram chamados ‘índios dos sertão’ ou os Tapuia por oposição aos Tupis do litoral e aos Jê dos cerrados a oeste. Os missionários avançaram de Santo Antônio da Glória, na Bahia para dentro do Pernambuco. Em Cana Brava (hoje Tacaratu) os Pankararu encontraram-se com os Jesuítas pela primeira vez e fugiram, mas os missionários conseguiram reunir os Pankararu em um aldeamento na margem do Rio São Francisco, deslocados de Cana Brava e das Ilhas Acará, Surubabel e Várzea, que é chamado Brejo dos Padres.

Nos meados do século XX, o SPI conseguiu ter os direitos dos povos indígenas reconhecidos, mas isso provocou uma reação. Durante os últimos 25 anos do século XX aconteceram muitos incidentes violentos no nordeste e leste do Brasil, sobre as terras dos índios, que já eram bem aculturados. Todos estes vinte três povos, todos, exceto os Fulnô, falam somente português (Hemming 2003.583). Entre 1949 e 1964 a primeira demarcação da Terra foi contestada pelos posseiros com sucesso.

Com o governo militar em 1964, o SPI foi extinto e em 1966, foi criado a Guarda Rural Indígena, com o objetivo de transformar os indígenas em militares. Muitos Pankararu entre outros foram transportado para Belo Horizonte, onde receberam treinamento militar, para ser usados em reprimir seus próprios irmãos. O resultado foi a destruição da cultura e morte de muitos. Foi estabelecido a Colônia Penal Indígena em Minas Gerais para a ‘reeducação’ dos índios acusados falsamente de diversas crimes (Silva 2002.25).

Em 1979, a construção da hidroelétrica de Itaparica desalojou dezenas de famílias camponesas, que não recebendo reassentamento, mudaram para o território indígena. A Terra de 8.100 ha foi homologada em 1983, que implicou na retirada dos posseiros, o que não aconteceu. Em 1984, a FUNAI fez um levantamento e estimou que havia 540 posseiros. O sindicato de trabalhadores rurais sugeriu que os Pankararu trocar as áreas de densa população ocupadas pelos posseiros por outras com baixa densidade de população. Desde de 1979 o aumento da presença de muitos não índios no território Pankararu tem ocasionado muitos conflitos entre os indígenas e posseiros. Os Fulniô e os Pankararu eram empobrecidos e não tinham terras suficientes para manter suas populações (Hemming 2003.590). No fim do século eles tentaram reviver sua tradições e os Pankararé lhes pediram ensinar o ritual do torê (Hemming 2003.593).

Uma família nuclear migrou para o Vale do Jequitinhonha ‘na década de 1950, devido o grave problema da seca e vários conflitos com posseiros, resultantes da construção da hidrelétrica de Itaparica, no Rio São Francisco, que inundou a maioria das terras férteis da região. Após morarem com os Krahô, Xerente e Karajá, uniram-se aos Pataxó da Fazenda Guarani em 1983, onde permaneceram por onze anos, até conseguirem, em 1994, sua própria terra no Vale do Jequitinhonha (Silva 2002.102 citando Caldeira, 2001c.35)’.

Estilo da Vida: Os Pankararu creem que a forma rectangular das Terras Indígenas Entre Serras e Pankararu é conforme a doação imperial pelo Pedro II dada às missões e portanto ao povo nos séculos XVIII e XIX. Entretanto o funcionário do SPI encarregado com a demarcação na década 40, diminuiu a área de 1.4290 a 8.100 ha. O erro foi corregido pela o acréscimo da T. I. Entre Serras em 1999. Eles sempre viveram entre as serras: da Fonte Grande, Serra da Pedra D’água e Cachoeira de Itaparica a margem do Rio São Francisco. Antigamente eles praticavam seus rituais perto da Cachoeira do São Francisco.

Vivem hoje em 14 aldeias. No centro da Terra é Brejo dos Padres, um vale de terras férteis que possui vária fontes de água. Outras aldeias são Tapera, Serrinha, Marreca, Caldeirão, Bem-Querer e Cacheado. Os Pankararu cultivam o feijão, o milho e a mandioca. Cada comunidade tem uma casa de farinha onde fabricam a farinha de mandioca. Também fazem comercio a pinha, fruta típica da região (Gaspar 2009). A subsistência é pela agricultura familiar, produzindo feijão, mandioca e milho e criam porcos e galinhas (Silva 2002.116).

Sociedade: A liderança é exercida por homens. Em Pernambuco eles continuam tendo como líderes o cacique e o pajé, os quais parecem ser escolhidos pelos praiás. O grupo em Minas tem uma divisão entre os velhos que preferem a vida tradicional e os mais novos que preferem as vantagens oferecida pela sociedade nacional. O grupo (Silva 2002.115). A aldeia de Apukaré, MG, em 2002, enfrentaram o problema de não pode participar do Programa de Implantação de Escolas Indígenas de Minas Gerais, devido ao reduzido número das crianças. Também atendimento médico é somente em Araçuaí, a 37 km.

Artesanato: Fazem um comercio de artigos de artesanato.

Religião: A Cachoeira do Afonso Pena é tradicionalmente sacra onde os ancestrais afogaram em um dilúvio. A Cachoeira de Itaparica é local para o sepultamento dos mortos.Os Pankararu observam os ritos e festas do Catolicismo. Também praticam seus rituais tradicionais com a Corrida do Umbu e a Festa do Menino do Rancho. A Dança dos Bichos no qual os homens fazem concorrência em imitar os movimentos de animais como o cachorro, a formiga, o proco e o sapo. O Toré é uma dança por homens, mulheres e crianças nos fins da semana, com o ritmo marcado por maracás feitos de cabaças. O cânticos são cantados em português com frase da língua pankararu (Gaspar 2009).

Identificam-se como católicos de uma maneira sincretista. As danças são marcadas pelas cantorias, que usam português com palavras da sua língua que eles não sabem bem o significado; o ritmo é marcado por flauta, maracá e o apito (Silva 2002.110). A dança é chamada Toré, como de todos os povos do nordeste. O Toré é dançado ao ar livre por todos, homens, mulheres e crianças realiza-se no fim da semana em um terreiro, formando um círculo em pares, cada par gira em torno do círculo e ao mesmo tempo em torno de si próprio, pisando furiosamente o chão.

Outro ritual, O Menino no Rancho, é a iniciação dos meninos com doze anos de idade. Um rancho é armado no meio da aldeia e dois grupos são formados para disputar o menino. Um grupo é dos praiás, os protetores mágicos e o outro dos padrinhos do menino. O menino é pintado de branco e vestido de palha.’Trava-se uma luta simbólica terminando sempre com a vitória dos praiás que introduzem o menino no poró, onde passa uma temporada servindo ao seu praiá, aprendendo da cultura, e quando também recebem o seu próprio praiá. As mulheres cantam enquanto os homens lutam, pois o ritual é dedicado a Mãe D’água que ameaça roubar o menino, e ela deve ser apaziguada (Silva 2002.113).

Há outra cerimonias: a Festa do Umbu quando os homens tentam flechar os primeiros frutos do umbuzeiro. A Dança do Cansanção é uma dança em que os homens tentam evitar golpes de galhos de cansanção ou urtiga e a sensação de queimadura ao toque com a pele. Na Dança dos Bichos os homens imitam os movimentos de animais (Silva 2002.113).

Cosmovisão: Os praiás são tantos os espíritos dos ancestrais, como as pessoas que podem receber os espíritos para realizar curas e vidências. São entidades que protegem o povo e os orientam quanto aos seus rituais e tradições. São vinte e dois e cada grupo de Pankararu possui um praiá como seu protetor. O praiá do grupo em Minas é Apukaré, o nome da aldeia. Os praiás humanos se cobram com vestimentos de fibras de caroá e mascaras. Os homens se vestem fora da aldeia no poró, bebendo ‘garapa’, um caldo de cana, e fuma um cachimbo, e devem ser considerados transformados no próprio praiá (Silva 2002.114). O Poró é uma clareira do mato, proibido às mulheres. O caroá (Neoglaziovia variegata), que é comum no Nordeste, é considerado encantado pelos Pankararé (Rêgo 2012).

Comentário: A MNTB trabalha com este povo.

A aldeia Apukaré, MG, não tinha presença evangélica, mas a Igreja Metodista dou os 8 ha ao território. Talvez seja possível a mudança de um a família de Pernambuco. A evangelização necessita um estudo sério da cosmologia Pankararu. Em 2002, a necessidade de uma escola indígena, também com aulas para os adultos (Silva 2002.117).

Bibliografia:

  • ARRUTTI, José Maurício, 2005, ‘Pankararu’, Povos Indígenas do Brasil, Instituto Socioambiental, São Paulo. pib.socioambiental.org/pt/povo/pankararu.
  • DAI/AMTB, 2010, ‘Relatório 2010 – Etnias Indígenas do Brasil’, Organizador: Ronaldo Lidório, Instituto Antropos –instituto.antropos.com.br.
  • GASPAR, Lúcia, 2009, Índios Pankararu.Pesquisa Escolar Online, Fundação Joaquim Nabuco, Recife. Disponível em: <basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar.>. Acesso em: 12 março 2014.
  • HEMMING, John, 1987, Amazon Frontier-The Defeat of the Brazilian Indians, London: Pan Macmillan.
  • HEMMING, John, 2003, Die If You Must – Brazilian Indians in the Twentieth Century, London; Pan Macmillan.
  • RÊGO, Lilane Sampaio: 2012, ‘O Lugar Encantado do Croá no Saber/Fazer Indígena
  • Pankararé Raso da Catarina Bahia.’, Salvador: Dissertação (Mestrado) – Universidade do Estado da Bahia, Faculdade de Educação.
  • SIL 2013, Lewis, M. Paul, Gary F. Simons, and Charles D. Fennig (eds.). 2013. Ethnologue: Languages of the World, Seventeenth edition. Dallas, Texas: SIL International. Online version: www.ethnologue.com.
  • SILVA, Cácio Evangelista, 2002, ‘Minas Indígena:Levantamento Sociocultural e Possibilidades de Abordagens Missionárias nos Grupos Indígenas de Minas Gerais’, Viçosa, MG, Dissertação apresentada ao Programa Pos-Graduação da Escola de Missões Transculturais do Centro Evangélico de Missões, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Missiologia.
  • SILVA, Cácio, 2008, Fenomenologia da Religião, Anápolis, GO: Transcultural Editora e Livraria.