Pataxó-Hãhãhãe

David J. Phillips

Autodenominação: Pataxó Hãhãhãe que inclui remanescentes dos povos extintos os Baenã, Kamakã, Tupinambá, Kariri-Sapuyá e Gueran (Carvalho 2005).

Outros Nomes: Os Pataxó Hãhãhãe incluem grupos de outras etnias indígenas: os Tupinambá, os Kariri-sapuyá,os Kamakã (Menien), os Kariri-Sapuyá e os Baenã.

População: 3.600 (DAI/AMTB 2010), 2.375 (FUNASA 2010).

Localização: 200 km norte dos Pataxó em Porto Seguro, BA.

Reserva Indígena Caramuru-Paraguassu, nos municípios de Itajú do Colônia, Camacã e Pau-Brasil, e entre o rio Cachoeira, ao norte, e o rio Pardo, ao sul, BA, oficialmente de 54.000 ha, com 2.147 Pataxó (Cardoso e Souza 2005), 2.984 (FUNAI/Sul da Bahia 2011).

T. I. Fazenda Baiana (Nova Vida), no município de Camamu, BA, de 304 ha, 72 Pataxó (Cardoso e Souza 2005), 65 (FUNAI) 2003).

Língua: Pataxó e português. Nimuendaju encontrou a língua pataxó ainda falada em 1938. Da família linguística Maxakali. A CPI-SP elaborou uma cartilha ‘Lições de Bahetá’ (Cardoso e Souza 2005).

História: O território da Reserva é tradicionalmente dos Pataxó Hãhãhãe, situada nas cabeceiras do rio Salgado. O Posto de atração foi fundado pelo SPI em 1911 na confluência dos Rios Gongogi e Contas, porém faltou o conhecimento das línguas pataxó e kamakã, que dificultou a proteção dos índios (Cardoso e Souza 2005). Em 1938, dezesseis viviam na Reserva e sete fora. No princípio do século XX índios de outras etnias eram deslocados para a Reserva, os Tupinambá em 1936 e os Kariri-sapuyá em 1939. Os Kamakã (Menien) eram do Rio Ilhéus e onze viviam na Reserva em 1938, mas somente dois podia falar sua língua. Os Kariri-Sapuyá foram envolvidos em confrontos com os não-índios e foram expulsos das suas terras nos meados do século XIX. Alguns se refugiram na Reserva em 1938. Os Baenã existiam em dois grupos, um que foi deslocado para o Posto, mas todos do grupos morreram depois. O outro grupo vivia nas cabeceiras do Ribeirão Vermelho (Cardoso e Souza 2005).

Em 1926 o SPI deu uma reserva de 36.000 ha demarcada em 1937 chamado o Posto Caramuru- Paraguassu, porém o governo de Vargas, paranoide de subversivos marxistas na região, expeliu os índios. O SPI permitiu o governo da Bahia diminuir a área da reserva e permitir os fazendeiros usarem a maior parte para cultivar cacau, transferiu a pequena porção restante para os índios e abandonou o Posto (Hemming 2004.587-589).

Nos anos 30, Alberto Jacobina, Inspetor do SPI, relatou que era impossível retirar os índios da mata e eles e os funcionários sofriam muito da malária e a Leishmaniose. Os índios acharam os Postos sem recursos, e consideram a atração uma tática para eles morrer das doenças dos brancos. Ao mesmo tempo as terras dos índios eram invadidos, revindicadas por títulos falsos, os fazendeiros pagando uma taxa simbólica de 10 centavos por hectare, que em 1968 passou para FUNAI. Esta organizou novos contratos de 800 invasores em 1969 (Cardoso e Souza 2005).

Em 1976, o governo da Bahia vendeu o resto da terra, e os Pataxó ficaram sem terra vivendo a vida de mendigos. A FUNAI quis que ele rendassem 30.000 ha da Reserva e os índios ficassem somente com 6.500, mas os índios recusaram. A tribo foi deslocada provisionalmente para barracões em uma fazenda, sem terra ou água potável. O chefe Edísio e um outro Pataxó foram mortos. Outros ocuparam uma fazenda em agosto 1983, cercados pela polícia e pelos fazendeiros, e quando se renderam foram para a fazenda São Lucas de1.080 ha. A imprensa publicou fotos da situação, mas um juiz decidiu que eles ficassem com só 1.080 ha, porque os fazendeiros tinham comparado as terras do SPI. As tentativas de retomar a terra encontrou violência com a morte de alguns índios. A situação resultante dos índios era péssima, sem água porque os fazendeiros os negaram acesso ao rio, sem assistência médica. Em novembro 1985 eles ocuparam as fazendas vizinhas, e eram expulso por violência pela polícia. No fim do século 1.080 índios ainda viviam na fazenda São Lucas (Hemming 2004.587-589).

Em abril 1997 Galdino Jesus Santos foi à Brasília e assistiu uma reunião com a FUNAI com uma petição sobre a terra, mas foi morto na rodoviária, esperando o ônibus, por cinco jovens, que foram presos e emprisionados. No julgamento realizado em 2001 os acusados disseram que o objetivo era “dar um susto” em Galdino e fazer uma “brincadeira”. Recebram sentenças de quatorze anos, liberados em pouco tempo. O presidente da FUNAI assistiu o enterro, e participou em uma retomada de uma fazenda (Hemming 2003.588).

Em pouco tempo depois a demarcação da Terra Indígena foi completa e uma escola construída pelo governo federal. Mas a violência continua enquanto os invasores não recebam indenização e saiam das terras (Rabben 2004.160). O Supremo Tribunal Federal julgou nulos os títulos ilegais de terras e os fazendeiros se retiraram da Reserva. Entretanto em fevereiro 2013 a Justiça pediu a reintegração dos fazendeiros na terra indígena, aonde os índios têm construídos casas. Em maio 2013 uma equipe do SESAI fez campanha de vacinação.

Estilo da Vida: O único rio que corta a Reserva é um riacho de água salobra, sugestivamente denominado Salgado. A água potável provém da estocagem de chuva ou abastecimento por caminhão pipa ou tambores mediante pagamento de frete (Cardoso e Souza 2005).

Sociedade: O grupo englobado pelo nome Pataxó Hãhãhãe é composto de diversos subgrupos étnicos, que existem na Reserva pelas redes de parentela, mas modificadas pelos casamentos interétnicas. Alguns índios têm casas secundárias na cidade de Itajú do Colônia (Cardoso e Souza 2005).

Artesanato:

Religião: Praticam a couvade ou gravidez simpática pelo marido; para manter a vida da mulher e o nenê durante a gestão. O pai adota certas resguardas durante a gestão, e depois do parto (‘couvade’ é termo francês adotado pelo antropólogo E. B. Taylor para descrever a prática). O pai não come carne de anta, porco, macaco e veado, também não come banana e milho. Para celebrar uma boa caça cauim, a bebida alcoólica tradicional, é preparada pela mulheres de mandioca e milho. Para as danças os homens são pintados de listas negras e as mulheres com meias-luas concêntricas. O compasso é marcado por um instrumento feito de cascos de anta e um maracá. Dançam a noite inteira até todo o cauim é consumido. Realizam também corridas de tora, usando um pedaço do tronco de barriguda (Cavanillesia arborea). As doenças eram combatidas pelos xamã, com a fumaça de tabaco (Carvalho e Souza 2005).

Conforme o costume antigo dos Kamakã os mortos são pranteados por dias, o cadáver é pintado com linhas de vermelho e preto, e decorado com colares e o cocar de penas e deitado no tumulo, envolto em cortiça de árvore. O tumulo é uma cova forrada de estacas de paus e plantado em cima com algodoeiros e bananeiras (Carvalho e Souza 2005).

Três igrejas são na Reserva: Católica, Wesleyana que adapta-se à cultura local, e das Testemunhas de Jeová.

Cosmovisão: O ser supremo dos Kamakã é Queggiahorá e o céu entre o sol e a lua é a morada das almas dos mortos, que são divindades. O sol é a causa da morte e à noite se sacia daqueles que forma enterrados durante o dia. A lua é um ser beneficente que indica quando plantar e quando começar as chuvas. Aquelas almas dos mortos que não eram bem tratadas na vida, voltam na forma de onças, para fazer mal aos vivos e causar tempestades. Também outras voltam para ajudar plantar as roças. Os Pataxó consideram o trovão é um espirito maligno. O Toré, hoje, que constitui a sua mais relevante expressão ritual, porque durante o qual os encantados e os seres sobrenaturais se manifestam.

Comentário: A Missão IMB trabalha com este povo.

Bibliografia:

  • CARVALHO, Maria Rosário e SOUZA, Jurema Machado de Andrade, 2005, ‘Pataxó Hãhãhãe’, Povos Indígenas do Brasil, Instituto Socioambiental, São Paulo. pib.socioambiental.org/pt/povo/pataxo-ha-ha-hae.
  • DAI/AMTB 2010, ‘Relatório 2010 – Etnias Indígenas do Brasil’, Organizador: Ronaldo Lidório, Instituto Antropos –instituto.antropos.com.br.
  • HEMMING, John, 1987, Amazon Frontier-The Defeat of the Brazilian Indians, London: Pan Macmillan.
  • HEMMING, John, 2003, Die If You Must – Brazilian Indians in the Twentieth Century, London; Pan Macmillan.
  • SIL 2013, Lewis, M. Paul, Gary F. Simons, and Charles D. Fennig (eds.). 2013. Ethnologue: Languages of the World, Seventeenth edition. Dallas, Texas: SIL International. Online version: www.ethnologue.com.