Arikapu

David J Phillips

Autodenominação: Arikapú significa o pássaro japú (Psarocolius decumanus) na língua Tupari dos Makurap vizinhos (Voort 2008).

Outros Nomes: Maxubí ou Mashubi provavelmente refere-se a um grupo já extinto, que falava Arikapú (Voort 2008).

População: 29 (DAI-AMTB 2010), 32 (FUNASA 2009).

Localização: Vivem dispersos de seu território entre outras etnias em duas Terras Indígenas, na Rondônia:

  • T I Rio Branco: Homologada e registrada de 236.137ha de floresta ombrófila aberta entre os Rios Branco e São Simão, afluentes do Rio Guaporé, com 679 indígenas (FUNAI 2008): Arikapú com Aikanã, Aruá, Djeoromitxi, Kanoê, Makurap e Tupari. Há isolados desconhecidos na parte meridional (Voort 2008).
  • T I Rio Guaporé: Homologada e registrada de 115.788ha de floresta ombrófila aberta na margem direita do Rio Guaporé, na fronteira com a Bolívia e extenso até o Rio Sotério, próxima a cidade de Guajará Mirim, com 589 indígenas (FUNAI 2005), Arikapú com Aikanã, Aruá, Djeoromitxí, Kanoê, Kujubim, Makurap, Sakurabiat, Tupari, Wajuru e Wari’ (Pacaás Novos).

Língua: Aricapú, é quase extinta, semelhante à Jabuti. A maioria fala Tupari (SIL). Era da família linguística Jabuti com Djeoromitxi e Maxubi que são diferentes das línguas vizinhas (Voort 2008). Atualmente os na T I Guarporé falam Makurap e na T I Rio Branco falam português e Tupari. Quatro falantes (Voort 2008).

História:
Os Arikapú sempre viviam nas cabeceiras do Rio Branco e na margem esquerda e seus afluentes, rio acima dos Makurap e Wayurú. Os seus inimigos, os Tupari, viviam na margem direita. De acordo com os estudos linguísticos as diferenças entre as línguas Jabuti, indicam que esses povos chegaram na região há 2.000 anos, vindo do leste como um ramo dos Macro-Jê (Voort 2008). O britânico Cel P H, Fawcett analisou palavras da língua em 1914.

Os indígenas do Rio Branco tiveram seu primeiro contato com os brancos no inicio do século XX quando os Tupari, Makuráp, Wayoró, Aruá e Jabuti foram atraídos pela frente de borracha para ganhar os bens industriais, e impressionados especialmente com os machados de aço. Nesta época os 3.000 Tupari, mesmo temidos como guerreiros, eram em paz com seus vizinhos (Hemming 2003.59). Um seringalista Paulo Saldanha instalou-se nas cabeceiras do Rio Branco e os Arikapú e os Djeoromitxí abandonaram as suas aldeias por 1934 para trabalhar no barracão dele. Neste momento o SPI começou a mover os indígenas para o lugar da futura Terra Indígena Guaporé acima da confluência do Rio Mamoré. Eles eram forçados de trabalhar em condições brutais e muitos fugiram (Voort 2008).

Os seringalistas amontaram um ‘barracão’ chamado São Luís, perto da boca do Rio Branco para armazenar o látex e outros produtos florestais, como a castanha do Pará, até as embarcações vieram para levá-los para Guajará-Mirim. Na época a língua Makurap era usada uma língua geral e por esta razão os Arikapu eram confundidos com este povo. Os Arikapu e outros foram transportados para limpar e cultivar as plantações de milho e mandioca. Mas, assim como aqueles que a principio havia trabalhado como seringueiros, esses pegaram doenças e muitos morreram de gripe, bronquite e outras doenças trazidas pelos brancos (Hemming 2003.59-60).

A consequência do uso de ferramentas de aço foi que os homens abriram roças maiores com safras agrícolas maiores, de modo que já não dependia de caça e pesca. Ter mais tempo livre, os jovens se mudaram para o lado dos seringalistas, e adotaram as roupas e a comida deles. No entanto, nas meadas da década 30 a situação se alterou, quando o agente da SPI levou à força índios para a cidade de Guajará Mirim. Ele comprou muitos seringais e oprimiu os índios. Estabeleceu um reinado de terror com um Boliviano chamado Severino e seus capangas em São Luís. Um grupo de Makuráp rebelaram e mataram Severino e os capangas.

Durante a Segunda Guerra Mundial o governo organizou um ‘Exercito de borracha’ e os seringueiros novos criaram tensões com os indígenas, tomando as suas mulheres. Em 1952 um seringueiro trouxe sarampo e muitos índios morreram (Hemming 2003.60-63). O suíço Franz Caspar viajou pela região em 1948 e subiu o Rio Branco, achando malocas Tuparis, Jabutis e uma dos Aricapú (Melatti 2011)

Os indígenas da T I Rio Branco são ameaçados pelo desmatamento em redor e caça fica mais escassa. Os madeireiros ilegais são ativos. Os pesticidas usados nas fazendas rio acima coloca em risco a saúde e os projetos hidroelétricos irregulares provocam danos nos sistema de rios. Não indígenas invadem os rios para pescar (Voort 2008).

Na década 90 a antropóloga Denise Maldi recolheu os mitos Arikapú e desenvolveu a teoria de um grupo de culturas que ela chamou de “complexo cultural do marico” e a antropóloga Betty Mindlin colecionou uma série de histórias tradicionais dos povos indígenas. O linguista Denny Moore, do Museu Goeldi, compilou listas comparativas de palavras na T I Guaporé e Hein van der Voort fez pesquisa de campo (2001-2004) com aqueles que são provavelmente os últimos dois falantes do Arikapú (Voort 2008).

Estilo da Vida: No passado os Arikapú viviam em grandes malocas em forma de abóbada. Plantavam roças de macaxeira, milho, inhame, banana e especialmente o amendoim. Faziam coleta de insetos e frutas. Caçavam e pescavam. Não cultivavam a mandioca ‘brava’. Comiam larvas de insectos, assadas ou cruas. Tomavam uma bebida fresca ou fermentada de milho ou inhame. A aldeia principal da T I Rio Branco é São Luís e é accessível de carro da cidade de Alta Floresta d’Oeste. As outras aldeias são alcançadas pelo rio e a cultura tradicional ainda está praticada.

Sociedade: Denise Maldi Meireles (1953-96) identificou o que chamou o ‘complexo cultural do Marico’ entre as etnias do Rio Guaporé, inclusive os Arikapú e os Djeoromitxi (Jabuti). Os caraterísticos são: Uma família extensa e patrilocal morando em uma maloca redonda, estrutura de abóbada, apoiada por um esteio central. Com a ausência da cultivação da mandioca ‘brava’, e pois a falta da farinha do mandioca, plantam o milho e beberam a chicha de milho na alimentação diária. Também bebem a chicha fermentada nas festa cerimoniais. As aldeias revezem em ser anfitriã das festas ou ser os convidados. Isso cria redes de solidariedade e reciprocidade. Este povos também confeccionam o marico (PIB 2003). Os Djeoromitxi vivem em grupos territoriais e a sociedade Arikapú é provavelmente organizada na mesma maneira.

Artesanato: A confecção do marico, que são cestas feitas de fibras de tucum ou buriti, tecidas pela mulheres em ponto miúdos e médios (PIB 2003).

Religião:
Enterravam os mortos no chão dentro das malocas, sentados em urnas cerâmicas. Mantinham uma fogueira em cima do túmulo por dias depois e muitas vezes as famílias levaram consigo as urnas quando se mudaram de casa (Voort 2008).

Em comum de outros povos do ‘complexo do marico’ os pajés usam um alucinógeno feito das sementes de angico, rapé ou paricá (Anadenanthera peregrina) para comunicar com os espíritos. É inalado por um tubo de taquarinha nas narinas e outra pessoa sopra da outra extremidade do tubo. Os xamãs também usam um léxico especial, aparentemente ininteligível aos não iniciados, e recitam preces desta forma durante o processo de cura. Os pajés Arikapú são considerados os mais poderosos da região (Voort 2008). Uma igreja evangélica opera na T I Rio Branco e os conversos criam uma divisão na comunidade.

Cosmovisão:
Os mitos Arikapú são etiológicos e contam como aspectos da natureza e cultura eram causados por falhas humanas. Um conta sobre a vingança de um genro contra a gula da sua sogra, que sempre roubou as espigas maiores do seu campo de milho. Ele transformou o campo por feitiços em uma roça enorme sem fim. A sogra foi à roça e ficou perdida, e o genro, seguindo escondido atrás dela, transformou ela em macucau, um passarinho tinamou. Mais tarde a filha da sogra entrou na roça e achou sua mãe a metade mulher e a metade tinamou. A filha abandonou seu marido, a sogra ficou tinamou e a roça se tornou em chapada.

Uma mulher se tornou em pote para que sua filha pudesse fazer chicha, mas o marido não gostou e quebrou o pote. A filha colocou todos os cacos junto, chorando. À noite a mãe apareceu em um sonho e explicou que uma borbulha de barro apareceria no fogo e a filha somente precisaria moldar o barro para fazer um pote novo (Mindlin 2002.213-216).

Comentário: Em 1968, os linguistas missionários Willem Bontkes e Robert Campbell fizeram um levantamento para o Summer Institute of Linguistics (SIL). Bontkes compilou uma pequena lista de palavras Arikapú no rio Branco e mencionou a existência de 14 falantes da língua (Vooft 2008). A Missão Novas Tribos do Brasil trabalha entre seus vizinhos os Wari’ (Pacaás Novos).

Bibliografia:

  • DAI-AMTB 2010, ‘Relatório 2010 – Etnias Indígenas do Brasil’, Organizador: Ronaldo Lidório, Instituto Antropos instituto.antropos.com.br
  • HEMMING, John, 2003, Die If You Must – Brazilian Indians in the Twentieth Century, London; Pan Macmillan.
  • MINDLIN, Betty, 2002, Barbecued Husbands and other stories from the Amazon, London: Verso.
  • SIL 2013, Lewis, M Paul, Gary F Simons, & Charles D Fennig (eds) 2013, Ethnologue: Languages of the World, 17th edition. Dallas, Texas: SIL International. Online www.ethnologue.com
  • VOORT, Hein van der, 2008, ‘Arikapú’, Povos Indígenas do Brasil, Instituto Socioambiental, São Paulo. pib.socioambiental.org/pt/povo/anikapu