Araweté – Bïbe

David J Phillips

Autodenominação: Os Araweté usam bïde, que significa ‘humanos’, ‘nós’, ‘povo’ para se nominar. Todos os humanos são bïde, mas o povo se consideram de ser humanos mais verdadeiros ou centrais do cosmo. Áraweté é uma invenção da FUNAI derivado de awa ete, ‘humanos verdadeiros’ usado pelos Asuriní. (Viveiros de Castro 1992.38).

Outros Nomes: Araueté, Araweteacute, Bide.

População: 450 (DAI-AMTB 2010); 398 (FUNASA 2010); 290 (ISA 2003).

Localização: Os Araweté moram em uma só aldeia à margem do igarapé Ipixuna, na margem direita do rio Xingu, perto de Altamira, Pará. Eles ocupam uma faixa de território das duas margens do igarapé da sua boca até as cabeceiras. A Terra Araweté é contígua a três outras: T I Trincheira-Bacajá dos Kayapó-Xikrin a leste, T I Apyterewa, os índios Parakanã, ao sul, T I Koatieno dos Asuriní ao norte e nordeste. O rio Xingu é a limite oeste.

  • T I Araweté/Igarapé Ipixuna homologada e registrada no CRI e SPU com 940.130 há e 397 Araweté (FUNAI 2011).

Língua: Araweté, é da família linguística Tupi Guarani. Assemelha-se à Asuriní do Tocantins, à Parakanã e à Tapirapé (SIL). Os jovens e crianças entendem algum português

História:
É possível que os Araweté habitavam as florestas entre os rios Tocantins e Xingu por séculos e conheciam os brancos há muito tempo, e ganharam cedo ferramentas de ferro abandonadas pelos regionais. Talvez sejam uma remanescente dos Pacajá que tiveram contato com os missionários jesuítas no século XVII. Até 1960 os Araweté habitavam a floresta da terra firme nas cabeceiras do rio Bacajá. Foram atacados e expulsos da região pelos Kayapó-Xikrun na década 60 e os Parakanã os atracaram em 1976 e 1983. Por sua vez eles deslocaram os Asuriní (Viveiros de Castro 1992.31). A chegada dos Parakanã em 1975 os forçou a fugir para as margens do rio Xingu.

A sua história é de fugas constantes de inimigos mais poderosos, e sua tendencia é se deslocar a lugares novos para sobreviver, e não defender um território próprio e por isso não pensam em voltarem para atras. Das 477 pessoas da últimas seis gerações que morreram, 34% foram mortos pelos inimigos e destas, três quartos perderam a vida pelos Kayapó (Viveiros de Castro 1992.52). A penetração de caçadores regionais a cata de pele de onça, etc. contribuiu à descoberta dos Araweté. Isolados, eles explicaram sua procura de contato com os brancos por ser aborrecidos com comer somente a carne da caça, porque os ataques dos inimigos não os deixaram plantar milho. Resolveram ‘amansar’ os brancos e não o contrário! Os agentes da FUNAI os acharam fracos e famintos (Viveiros de Castro 1992.12).

A construção da estrada Trans Amazônica na década 70 transformou a região. A FUNAI contatou os Araweté em 1976, e fez os marchar para o alto Ipixuna; 30 índios morreram durante a marcha. Em 1982 todos os Araweté congregaram em redor do Posto Ipixuna da FUNAI. Na época houve muitos mal entendimentos de cultura entre os funcionários da FUNAI e os índios que resultaram na degradação dos Araweté (Viveiros de Castro 2003).

O projeto Hidroelétrico do Xingu e a penetração de madeireiros no sul são ameaças ao seu território (Viveiros de Castro 1992.31). Em 1988 ele receberam dinheiro como indenização para uma quantidade de mogno derrubado pelos madeireiros. O dinheiro resultou em melhoras significantes no Posto: uma enfermaria, carros, um barco maior, ferramentas e um gerador elétrico; antes que o Governo Collar confiscou o saldo. Um médico italiano, Aldo Lo Curto, conseguiu verbas para ter assistência de uma enfermeira e uma professora (Viveiros de Castro 2003).

O plano original do Hidroelétrico do Xingu foi para construir seis represas, inclusive uma de Ipixuna, mas este projeto foi abandonado em 1990. Dois Encontros do Índios apresentaram os problemas ambientais e da inundação dos território indígenas, que não é permitida pela Constituição. Em janeiro 2011 um projeto reduzido com medidas para diminuir o impacto nas terra indígenas com a construção de uma represa, Usina Belo Monte, foi aprovado pelo Governo Lula. Entretanto por causa da baixa eficiência da usina outra repesas estão discutidas. O caso de Belo Monte envolve a construção de uma usina sem reservatório e que dependerá da sazonalidade das chuvas. Na época de chuva a usina deverá operar com metade da capacidade, mas, em estação de seca, a geração pode ir abaixo de mil MW. Isso com todos os impactos ambientais e socais coloca em dúvida a sua viabilidade.

Estilo da Vida:
Os Araweté são caçadores e agricultores da terra firme entre o Xingu e o Tocantins. O ambiente é de floresta baixa, menos 25 metros de altura com arbustos espinhosos. A terra é rochosa com colinas pequenas de rochas. A abundancia de caça e de preditores felinos é devido ao grande número de arvores frutíferas. A caça preferida é os animais menores como jabotis; tatus; mutuns, jacus e cotia. Cultivam milho nas roças; o milho predomine sobre a mandioca. Eles plantam quatro tipos de milho, consumidos na época da seca, e três de mandioca para a estação da chuva. Preparam mingau de farinha de milho e um mingau alcoólico usado nas festas. Cultivam também batata doce, inhame, macaxeira, algodão, papaia, banana, abacaxi e urucum. Os bananais de banana brava não são comidos pelos Araweté e são considerados de ser os jardins do Maï ou deuses.

O Igarapé Ipuxuna é de águas negras com cachoeiras que limitam os especies de peixe. Durante a seca, de agosto a novembro, quando a água do Igarapé é baixa é possível pescar com timbó. Na época da chuva, de dezembro a fevereiro, o Ipuxuna sobe cinco metros. A coleta de mel é importante; os Araweté têm uma classificação 45 tipos de mel.

Os Araweté depende do Posto de querosene, panelas, talheres e pratos, roupas, sabão, pilhas, lanternas e ferramentas. São dependentes do serviço médico, sem eliminar as curas tradicionais. Os brancos do Posto tornaram chefes do povo.

Eles usam a tinta vermelha urucum (Bixa orellana) nos seus corpos mais que outros.

Artesanato: Sua cultura material é rustica, mas incluí tecelagem de roupas para as mulheres de algodão e o maracá do pajé. Ambos dos sexes usam brincos compridos com penas de arara em forma de flor. O arco (irapã) araweté é mais curto e largo que os arcos dos outros indígenas e é feito de ipê (tayipa, Tabebuia serratifolia). O maracá do pajé é em forma de um cone invertido traçado de talas de arumã e enfeitado por penas caudais de arara que dão a semelhança a uma tocha (Viveiros de Castro 2003).

Sociedade:
Os Araweté são muitos individualistas e resistem a cooperação e têm relativamente menos instituições socais do que outros povos, porém têm conceitos cosmológicos mais desenvolvidos. A aldeia não tem um praça comunal, mas só os pátios de cada família. Antes de 1960 e a deslocações violentas devidas aos ataques dos inimigos a sociedade consistiu de pequenos grupos espalhados sobre uma área grande ligadas por alianças e casamentos (Viveiros de Castro 1992.12). A sociedade Araweté está preocupada com o mundo invisível mais do que com ela mesma, por isso não têm diferenciação interna em clãs, segmentos, etc.

As mulheres são prominentes em todas as atividade comunais (Viveiros de Castro 1992.2,10). Muitos dos fatores de organização social estão ausentes, como cerimonias de iniciação e outros ritos de passagem e a divisão clara de trabalho entre homens e mulheres. O ‘dono de uma aldeia’ é apenas quem começou a roça, mas este não tem direito sobre o terreno ou autoridade para organizar os demais famílias e casas.

Casamento entre primos cruzados é o ideal. O casal construem uma casa ao lado daquela dos pais da esposa. Quando um casal começa a se coabitar outros casais o visitam e um casal começa uma amizade chamada apihi-pihã, e estão sempre na sua companhia. O pai é concebido pelos Araweté como o que “faz” a criança; a mãe é apenas o receptáculo e na contribuí para a natureza genética da criança. Até o amigo apihi-pihã contribui seu sêmen para a geração da criança. Por isso a poligamia não é comum. Esta amizade forma um laço importante fora da parentela. A falta de filhos é motivo do divórcio (Viveiros de Castro 2003). A aldeia tem muitos araras, criados pelas penas, e crianças, 60% da população é em baixo de 12 anos. A maioria frequentam a escola e aprendem português e são responsáveis pela limpeza da aldeia.

Religião:
Os pajés são os mediadores entre os Araweté e os seres celestiais, especialmente os Maï, que são os bïbe ideais, com o poder de juventude eterna ou imortalidade. Os pajés conduzam os Maï e as almas perfeitas dos mortos para participar dos banquetes cerimoniais. Os alimentos de jabotis, mel, açaí, guariba e peixe e o mingau cauim de milho fermentado, são oferecidos aos celestes e depois consumido pelos Araweté. O canto usado pelos pajés é a ‘música dos Maï’ e canto dos guerreiros da sua dança é ‘dos inimigos’ que comunica a voz dos espíritos.

A festa de cauinagem é a festa mais importante da vida araweté. Uma família oferece preparar muito bebida de milho fermentada, tomando emprestado as panelas de todas as casas. Ela convida toda a aldeia para dançar. Um cantor é escolhido e todos os homens, sem os anfitrião, saem para caçar. As mulheres cantam e danças no pátio do anfitrião e o pajé realiza o serviço do cauna, chamando os Maï e as almas do mortos para tomar o cauna. Os caçadores voltam e entram a aldeia ao cair da tarde, tocando trombetas feitas de folhas de babaçu. A carne da caça é assada e servida a todos. A festa termina à alvorada como todos bêbedos. A associação assemelha-se ao ato sexual, ao leite materno e à guerra (Viveiros de Castro 2003).

O opirahë é uma dança dos homens dirigido por um cantor com que marca do ritmo com um chocalho. Os homens, pintados todos de urucum, dançam em linhas lentamente em círculos ante horários cantando. Nas festas os homens usam uma coroa de penas de arara.

Para os Araweté a morte é um evento produtivo sem considerar a vida terrestre de ponto de vista negativo. Os mortos são enterrados no mato e depois da morte o falecido se divide em um espectro na terra com os espíritos da floresta e a outra parte que é a alma. As almas dos recém-mortos viajem pelo trilho para o oeste para os dois portais do céu, que são guardados por cobras do aro iris. Chegando no céu são consumidos pelos deuses antropófagos, os Maï, que depois os ressuscitam dos ossos para serem como deuses. Esta transformação é somente para os Araweté e não para os outros humanos (Viveiros de Castro 1992.61,66). Seu conceito do ser humano é que ‘torna-se outro’. O Araweté está preocupado com um destino de transformação fora do tempo, da sociedade e dos afazeres cotidianos, para tratar o relacionamento entre os deuses e a humanidade (Viveiros de Castro 1992.1-4).

Cosmovisão:
“Estamos no meio” da humanidade, dizem os Araweté. Eles encaram a terra como um patamar entre os dois hipã ou camadas dos céus e do mundo subterrâneo. No princípio os deuses futuros e os homens habitavam a terra juntos, sem cultivação, trabalho ou a morte. O deus Aranãmi ficou com raiva pelos insultos da sua esposa e saiu com Heheded’a, o filho da sua irmã. Pegou seu maracá e começou a cantar e fumar. A pedra sobre a qual eles estavam começou a levantar formado um firmamento. Houve um grande cataclismo quando as outras camadas separaram da terra para ser a habitação dos deuses e a humanidade era abandonada na terra. Uma multidão de Maï e outros seres saíram com eles. Outros, os Iwã pidi pa, subiram ainda mais alto para formar o segundo céu, o Céu Vermelho. Tudo nos céus é feito de pedra que é maleável como barro. Perdendo seu fundamento de rocha a terra afundou num dilúvio. Jacaré e piranha enormes devoram os humanos, e somente dois homens e uma mulher sobreviveram para formar a humanidade atual, enquanto heróis moldaram a paisagem.

A terra é na forma de uma pires e a margem suporta o céu, que é como um domo sobre tudo. O sol brilha em todas as camadas, atravessando os céus durante o dia terrestre e o mundo subterrâneo durante a noite da terra. Por isso o pajé canta à noite para ter contato com os Maï durante seu dia. Mas cada mundo tem suas próprias lua e estrelas. Outros Maï fugiram dos monstros para fundar o mundo subterrâneo. O que é importante é o céu mais baixo, em cima do céu visível, o Maï pi, a morada dos deuses. Os Maï são semelhantes aos Araweté, mas maiores e mais fortes, mais sexuais e seu corpos brilham e usam barda brancas compridas e são imortais e moram em sua aldeia no meio do céu. O conceito de deidade assemelha-se muito ao humano (Viveiros de Castro 1992.66).

Existem no céu outros seres com suas aldeias, como os antropófagos Iaracï e ‘pajés dos inimigos’, os Awï peye. Os Maï não são encarados como os ancestrais dos Araweté e os outros seres celestes não são personificações dos animais ou outros aspectos da terra. Ser divino não é ser auto existente e eternamente existente, mas um estado que é ganho por deixar a terra, para uma existência perfeita por causa do cataclismo ou são os Araweté mortos transformados (Viveiros de Castro 1992.67).

Os pajés são necessários para ter contato com os deuses e viajam pelo trilho do sol no sentido oriental para ascender para os céu. Deuses e os mortos descem para participar das festas. Os mortos e as divindades são pintados pretos com jenipapo. A paisagem contem muitas lembranças dos Maï, por exemplo as plantas de banana brava e as marcas gravadas nas rochas. Na natureza e no tempo os Araweté distinguem entre causas naturais e os atos dos Maï, mas estão ‘vistos’ no som do maracá e cantos do pajé (Viveiros de Castro 1992.65).

Há diversos Mestres de plantas e rochas. Também há os Mestres dos animais como o Mestre dos queixada (Tayassu pecari) e o Mestre da Água que rapta mulheres. O mato é cheio dos Ãñï, espíritos bravo e brutais que comem, raptam e matam gente e especialmente são associados com os espectros dos mortos, enquanto a alma sobe ao céu. Todos os espíritos terrestres são perigosos por roubar a alma ou negar a entrada no céu; os espíritos devem ser mortos pelos pajés (Viveiros de Castro 1992.68).

Os Araweté dizem que vivem agora “na beira da terra”. A sociedade e a cultura são uma margem precária entre o mundo e o sobrenatural (Viveiros de Castro 1992.29). Seu conceito de território está em acordo com isso, sua preocupação é ter recursos para sobreviver e se se transformar em deuses e não defender seu território.

Dentro dos mitos são inimigos míticos incluindo os Towaho, inimigos altos, e os cantos de guerreiro contam sobre as batalhas, e são projetados para a região celestial. A classificação de humanos e seres celestiais confunde a memória histórica com a cosmogonia (Viveiros de Castro 1992.53).

Os Araweté creiam que um dia o céu, ficando pesado como todos os mortos transformados, vai rachar e cair para a terra e os deuses e os mortos viverão novamente neste mundo. Os homens que ainda vivem na terra serão eliminados, por isso este dia é muito temido.

Comentário:
A MNTB e Missão ALEM trabalham com este povo.

Uma criação, uma queda, uma dilúvio e uma palingenesia são partes da cosmovisão Araweté. Sua visão encarar a terra e a vida como imperfeita devida uma ofensa moral, e os Araweté somente têm a oportunidade de chegar a perfeição divina. Porém o universo é um sistema fechado em si mesmo e não há deus transcendente e a criação é autônoma e providencia a salvação pelos outros humanos que os procederam. A preocupação com a busca da imortalidade e ser ‘como deus’ é importante em comparação com o Evangelho. O desejo pela comunhão primordial com os deuses, pode ser substituído pela restauração da comunhão em Éden através a encarnação de Deus transcendente se tornado homem para ser, pela sua morte e ressurreição o modelo de transformação por seus discípulos.

A Bíblia é de história linear pelo cumprimento da promessa de Deus cumprindo o propósito da criação através das promessas dadas ao Abraão, ampliado na aliança da lei para formar o povo Israel que recebe profecias que se cumprem no filho de Davi, o Messias Jesus. A finalidade da vida e do ministério de Jesus é um caminho para a transformação da morte da cruz e da ressurreição. Estas estabelece como o ‘novo homem’, que é a imagem em que todo discípulo dele se transforma após da morte (2 Cor 3:18; 1 Cor 15). Para o Cristão ‘A morte é um evento produtivo.’ A semente que cai no chão tem que morrer para se transformar na vida eterna da ressurreição. Jesus usou a a figura de comer sua carne e beber seu sangue para ensinar a união espiritual de dependência dos discípulo dele (João 6). Esta transformação é chamada a vida eterna. A preocupação dos Araweté com o futuro é a oportunidade do evangelho.

Bibliografia:

  • DAI-AMTB 2010, ‘Relatório 2010-Etnia Indígenas do Brasil’, Organizador: Ronaldo Lidório, Instituto Antropos instituto.antropos.com.br
  • MNTB, 2010, Missão Novas Tribos do Brasil, relatório da equipe.
  • SIL 2009: Lewis, M Paul (ed), 2009. Ethnologue: Languages of the World, 16th edition. Dallas, Texas: SIL International www.ethnologue.com
  • VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. 2003, ‘Araweté’, Povos Indígenas do Brasil, Instituto Socioambiental, São Paulo pib.socioambiental.org/pt/povo/arawete
  • VIVEIROS DE CASTRO, 1992, Eduardo Batalha, From the enemy’s point of view: humanity and divinity in an Amazonian society, University of Chicago Press.