Arara do Pará – Ukarãngmã

David J Phillips

Autodenominação: Ukarãngmã que significa ‘o povo das araras vermelhas’ e se refere ao mito da origem da terra (Pinto 1998).

Outros Nomes: Ugorongmo, Ukaragama (DAI-AMTB 2010).

População: 305 (DAI-AMTB 2010); 453 (FUNAI/Altimira 2010).

Localização: 299 na T I Arara (274.010ha), homologa 1991, se sobrepõe ao quatro municípios Altamira, Brasil Novo, Medicilândia e Uruará. 591 na T I Cachoeira Seca (734.027ha) em três municípios: Altamira, Placas e Uruará; 102 na T I Arara da Volta Grande do Xingu (25.500ha) se sobrepõe ao município Senador José Porfinio.

Língua: Arara, da família linguística Karib do subgrupo Arara com os Ikpeng (população 459) que vivem no Parque Indígena do Xingu e duas línguas extintas: Apiaca do Tocantins e Yaruma. Nome alternativo Ajujure (SIL).

História:
Os Arara do Pará são formados de subgrupos autônomos no interflúvio dos Rios Tapajós e Xingu. Os grupos eram ligados por uma rede de prestações de caça e as festas na época das secas. Esta ligação entre os grupos é considerada conforme os mitos, que contam de um acordo para não repetir os conflitos que causou um cataclismo que resultou na criação do mundo terreno e os Arara sendo condenados a viver na terra. Eram famosos por sua paixão guerreira e a prática de fazer flautas das caveiras do seus inimigos.

Sua terra de origem é provavelmente nas formadores do Rio Xingu, atualmente no P. I. Xingu, com os outros povos do seu subgrupo linguístico. Os Arara mudaram-se para o norte nos meados do século XIX quando os Kayapó migraram do vale do rio Araguaia ao médio Xingu. Os povos indígenas no Xingu se moviam constantemente até que as invasões da região dos nordestinos depois de 1920 (Pinto 1998). Eles viajaram ao longo das margens do Rio Xingu, e após os conflitos com os brancos, atravessaram o rio abaixo do grande meandro chamado Volta Grande, para concentrar-se na margem esquerda entre a foz do afluente Iriri e Altamira. Foram ocupar a região do divisor de águas entre o Xingu e o Tapajós. Esta região deu aos Arara de muitos recursos.

Já na segunda metade do século XIX, os Arara tiveram contatos pacíficos com os brancos, mas entre 1889 e 1894 foram perseguidos pelos seringueiros dentro do seu território. Gateiros, caçando peles dos animais, subiram os Rios Jaurucu e Penetecaua da foz do rio Xingu e entraram em conflito com os índios até o comércio de peles foi proibido em 1967. Também começou a extração de madeira que foi levada para fora da região na forma de jangadas nos rios. Os Arara desapareceram nas florestas e da história e considerados extintos por Darcy Ribeiro em 1956.

Eles voltaram à cena com a construção da Rodovia Transamazônica na bacia do médio rio Xingu na década 70. Em 1967 Orlando Villas Boas e Chico Meirelles tentaram contatá-los. Os Arara tinham atacado os serigueiros e gateiros que penetraram sua floresta e se defenderam contra os Kayapó que queriam exterminá-los. Um grupo de gateiros mataram doze Arara e deixou um presente de comida venenada (Hemming 2003.287). A FUNAI queria contatá-los antes da invasão da estrada. Os Arara queriam saber porque a FUNAI constantemente os seguiram e eles abandonando casas e roças, sempre fugiram mais distante na floresta. Entenderam que dos brancos quisessem matá-los (Hemming 2003.288). Mas a FUNAI errou por usar Kayapó como guias. Os Arara sofreram uma invasão dos Kayapó Kubenkrankren (Pinto 1998). Conforme a mitologia dos Arara os Kayapó eram espíritos malignos, que destruíram a ordem primeval e eram enviado à terra para persegui-los.

Em 1964 o sertanista Afono Alves da Cruz achou as trilhas largas e limpas dos Arara e suas plantações bem trabalhadas. Cruz tentou ter contato antes de todo o movimento de máquinas e homens da Transamazônica aniquilar os índios Arara. Ele não conseguiu evitar todos os massacres, mas conseguiu garantir ao menos a sobrevivência do povo, que também se recupera demograficamente. Realizou o contato pacífico com um dos grupos Arara sem que nenhum índio morresse por epidemia posterior (Pinto 1998).

O trecho longo da Transamazônica entre o Rio Xingu e o Rio Tapajós cortou as plantações e as trilhas de caça dos Arara e passou a poucos distancia de uma das suas aldeias maiores. Colonos eram dados as roças abandonadas pelos Arara e em 1974 o trecho do território dos Arara de 400.000 ha ao norte da estrada foi vendido. Os Arara atacaram estes colonos durante 1976-1979, ferindo alguns e levando as cabeças dos mortos.

Sydeny Possuelo, sertanista bem experimentado da FUNAI, tomou diretor em 1980 e estabeleceu uma área ao sul da estrada e 80 a 160 km de Altamira como uma reserva futura. Ele parou as expedições para procurar os índios e construiu um acampamento com defensas contra ataque. Ofereceram presentes e gritaram mensagens no mato. Entre os presentes as flautas feitas pelos Wai-Wai foram muitas apreciadas. Os Arara responderam no princípio por colocar barreiras nas suas trilhas e em 12 julho 1980 atacaram o Posto, porque não entenderam as intenções diferentes dos sertanistas, dos outros brancos que estavam derrubando a floresta. Feriram dois dos agentes do Posto. No fim os Arara pensaram que eram eles mesmos que estejam amansando os sertanistas (Hemming 2003.289). Em setembro os Arara começaram a deixar presentes para os homens no Posto e modificaram sua mitologia quanto aos sertanistas. Estes mudaram de tática e recomeçaram expedições ao norte e ao sul achando casas e plantações da tribo.

Em outubro os sertanistas tocaram flautas no acampamento e os Araras, permanecendo escondidos da mata, tocaram em resposta sem ser vistos. Afinal, em fevereiro 1981, depois quase um ano, cinco Arara saíram do mato para ‘conversar’ por uma hora, e prometeram voltar com suas famílias. O chefe queixou ‘Meu povo está viajando por muito tempo, correndo, correndo. Muita gente por todo lado. Não temos mais lugar para fugir.’ Todas as ramificações da construção rodoviária impediram os contatos entre os subgrupos Arara. A consequência da estrada é que quatro subgrupos ficaram ao sul da estrada e outro grupo ao norte. Mas o grupo contatado pelo Posto ajudou a FUNAI contatar o grupo ao norte da estrada em 1983 e outro ao sudoeste em 1987 (Hemming 2003.290).

Os Arara receberam duas ‘Terras’ ao sul da Transamazônica, mas ainda são ameaçados por colonos ao lado da rodovia e madeireiros penetrando suas terras. O território Arara ao norte era abandonado para colonização, que era ilegal e contra a Constituição, mas já com uma população de 2.000 regionais. Também é impossível expulsar os colonos já nas terras ao sul por falta de verba para recompensá-los. Em 1995, 600 famílias fizeram uma invasão de protesto nas Terras Indígenas ao sul e foram evictas pela polícia. Madeireiros é um problema maior porque as Terras possuem magno e uma empresa cortou uma estrada até o rio Iriri e construiu uma serraria na margem do rio. O processo continua na Justiça (Hemming 2003.292).

A TI Arara foi homologada em dezembro 1991 e registrada em Altamira em 1992 e a maioria dos Arara mora na aldeia Laranjal em contato com a Transamazônica. A TI Cachoeira Seca foi delimitada em 1993, mas ainda os direitos dos índios não são estabelecidos. Uma Área Indígena ao norte da estrada de 46.000 ha foi revindicada em 1983 e chamada TI Arara II, mas nunca foi reconhecida e foi abandonada pelos índios (Hemming 2003.742).

A Usina Hidroelétrica de Belo Monte criou outra ameaça do outro lado. É planejada ser a terceira maior do mundo para gerar 11.200 MW, mas com a variação do nível das águas do rio Xingu conforme as estações do ano, pode gerar apenas 4.500 MW. O Brasil recebe 85% da sua energia de usinas hidroelétricas. Devido aos protestos cinco outras represas rio acima eram canceladas. Os Primeiros e Segundo Encontros dos Povos do Xingu em 1989 e 2008 levaram os protestos ambientalistas, porque o reservatório vai inundar 400 km quadrados de floresta e com uma segunda represa 6.500 km quadrados. A represa vai deslocar 20.000 pessoas e prejudicar dezesseis povos indígenas alem dos Arara. É calculado que o projeto vai atrair 100.000 mais pessoas para a região. A energia vai suprir a energia à industria de alumínio e não beneficiar a população regional.

Estilo da Vida: Os Arara não têm um termo para ‘aldeia’. Os Arara são conhecidos pelo subgrupo residencial que pertencem. O subgrupo é liderado por um homem que é pai das mulheres e sogro dos homens. Moram em uma casa coletiva que forma o subgrupo dentro da aldeia. Mas na Terra Cachoeira Seca a aldeia não tem grupos residenciais bem formados, formando um só grupo e por isso falta o sistema de interação tradicional (Pinto 1998). Caçam na estação seca para enxergar melhor as trilhas dos animais. Nas roças cultivam de preferencia macaxeira e também batata, milho, cará e as frutas como banana e abacaxi.

Sociedade: Antigamente os Arara formavam subgrupos autônimos e dispersados, mas eramligados por laços matrimoniais e os encontros rituais. O casamento é exogâmico do grupo natal e uxorilocal. Cada grupo deve ter homens suficientes para cooperar nas roças e na caça. O homem casado rende cooperação obrigatória ao sogro e aos cunhados solteiros. Mas a construção da Rodovia Transamazônica e as invasões resultantes têm modificado a escolha de lugar para os assentimentos. Depois de formar uma só aldeia os Arara se formam em subgrupos residenciais na aldeia, que são socialmente e economicamente independentes. Na Terra Indígena Arara vivem os subgrupos contatados entre 1981 e 1983, inicialmente em duas aldeias diferentes e, posteriormente, em uma única aldeia, que foi levantada próxima ao igarapé Laranjal pela FUNAI. Um outro grupo vive às margens da Rodovia ao lado do Posto da FUNAI.

Na Terra Indígena Cachoeira Seca do Iriri vive o subgrupo contatado somente em 1987 de 56 indivíduos, todos da família de uma só mulher. A área ao norte da rodovia Transamazônica foi completamente abandonada pelos índios, tanto como moradia, quanto como território de exploração econômica. A TI Arara da Volta Grande do Xingu é acessada somente por barco no rio.

Artesanato:

Religião:
Os Arara crêem na circulação de ekuru, a substância vital de todas as coisas. O sangue dos animais abatidos é nutrição para a terra e as plantas, e a carne da caça e piktu, a bebida fermentada preparada das plantas da roça, transferem a ekuru para envigorar os homens. Depois da morte o defunto perde a ekuru pelo cadáver ser deixado para secar em uma casinha fúnebre construída em cima de um jirau na floresta. Assim ekuru é devolvida aos seres sobrenaturais que rondeiam o corpo, que a deu no momento de nascer.

Os pajés são todos os homens que em degraus variados praticam as curas e a mediação com o sobrenatural. Eles controlam as especies animais para pedir filhotes serem criados pelos homens. As redes de ligações entre os grupos independentes é por laços matrimoniais, trocas de alimento e os encontros rituais. Os Arara trocam a bebida fermentada para a carne de caça, um grupo caça enquanto um outro prepara a bebida. A música é feita com trombetas e usada para avisar os seres sobrenaturais a morte dos animais na caça. As músicas vocais estabelecem as relações entre os que caçam e os que oferecem a bebida nas festas.

Cosmovisão: Houve uma grande briga entre os ancestrais que causou um cataclismo celeste, que resultou em os Arara ser banidos a viver na terra. A sociedade Arara de grupos independentes ligados é resultado de um acordo político entre aqueles que, por serem causadores da tragédia inaugural (Pinto 1998).

Comentário: Isaque Souza (SIL) estudou a língua no anos 80 e outros missionários protestantes tiveram influencia no povo (Hemming 2003.742). Missão ALEM continua ter interesse neste povo.

O evangelho deve ser apresentada com respostas bíblicas aos conceitos d home ser bandido para viver na terra e a ekuru. A terra foi criada conforme da vontade do Criador, cada parte sendo ‘assim foi’ e declarada ser ‘bom’ (Gen 1:10,12,18,21,25) e o homem criado ser representante de Deus na terra e ‘dominar’ (reger) a natureza por obedecer ao Criador. (Gen 1:28) e cultivar (Gen 2:5). Por isso o cuidado ambiental é uma prioridade para a humanidade. O mal surgiu espontaneamente pelo homem substituir a Palavra do Criador pela atração a bondade da natureza (Gen 3:2-6).

A ekuru da Bíblia é o ruach ou Espírito de Deus que anima e faz o homem ‘ser vivente’ (Gen 2:7). Assim o homem deve ter uma relação pessoal e moral com o Criador, que providenciar tudo necessário para sua vida. O sangue é a vida do animal ou o homem e não pode ser comido ou derramado sem o culpado perder sua vida (Gen 9:4-6). Para reconciliar o homem desobediente o Criador substitui seu sangue em ter o Filho encarnado derramar seu sangue.

Bibliografia:

  • DAI/AMTB 2010, ‘Relatório 2010 – Etnias Indígenas do Brasil’, Organizador: Dr. Ronaldo Lidório, Instituto Antropos instituto.antropos.com.br
  • HEMMING, John, 1987, Amazon Frontier – The Defeat of the Brazilian Indians, London: Pan Macmillan.
  • HEMMING, John, 2003, Die If You Must – Brazilian Indians in the Twentieth Century, London; Pan Macmillan.
  • PINTO, Márnio Teixeira, 1998, ‘Arara’, Povos Indígenas do Brasil, Instituto Socioambiental, São Paulo pib.socioambiental.org/pt/povo/arara
  • SIL 2009, Lewis, M. Paul (ed), Ethnologue: Languages of the World, 16th edition. Dallas, Tex: SIL International. Versão on line: www.ethnologue.com