Arara do Mato Grosso – Lugapkatã

David J Phillips

Autodenominação: Iugapkatã (D’Angelis 2010.2), Yugapkatã (CIMI).

Outros Nomes: Arara do Rio Branco, Arara do Beiradão, Índios Vela ou Nêcadês.

População: 209 (DAI-AMTB 2010); 150 (ISA 1994); 290 (CIMI 2005).

Localização: Vivem entre os rios Branco e Guariba, Mato Grosso, na Terra Indígena Arara do Rio Branco, homologada em 1996 de 114.842 ha e 150km ao oeste do Rio Roosevelt.

Língua: A língua própria não tem falantes conhecidos. Falam português (SIL). Membros do CIMI reuniram um primeiro vocabulário da língua Arara na década 90 (D’Angelis 2010.1). Em 2011 os Arara procuraram professor Wilmar da Rocha D’Angelis da UNICAMP e indigenista para recuperar conhecimento da sua língua, mas ele achou que os três informantes tinham uma memória muito fragmentária e os vocabulários devidamente Arara eram apenas 220 itens (D’Angelis 2010.1).

História:
Os Iugapkatã ou Arara do Rio Branco era um povo guerreiro e inimigos dos Cinta Larga e dos Rikbaktsá. Pouco se sabe do seu passado. Os guerreiros pintaram-se de jenipapo e para as festas usavam urucum. Os homens perfuravam o septo nasal e as mulheres o lábio inferior, onde ambos colocavam um adorno de penas de Arara. Dormiam em redes de tucum na casa e de algodão para acampar no mato. Usavam um arco de pupunha de dois metros de altura, com flechas de taboca de pracuúba e usavam bordunas de pau d’arco. Antigamente não usavam canoas. Bebiam diversas bebidas fermentadas e tocaram flauta de taboca. Fabricavam cerâmicas de argila misturada com caripé (D’Angelis 2010.3).

A extração da borracha da segunda metade do século XIX dependia em uma sistema de exploração dos seringueiros pelos patrões que pagavam pelo látex por uma troca desigual com produtos industrializados e mantinham os seringueiros em escravidão de dívida. Esta sistema chegou à região subindo os Rios Madeira e Roosevelt para alcançar seringais nos rios Branco e Guariba. Os Arara eram acossados nos dois lados, pela frente extrativista e seus inimigos os Cinta-Larga, Zoró e Rikbaktsa. Afinal eles se aliaram com a frente da borracha nos anos 20 do século XX. Tornaram a trabalhar com o gerente de seringal, o peruana Olegário Vela, com sua armazém na margem direita do rio Branco. Por isso eles começaram a ser chamados ‘índios Vela’. Devido ao contato sofreram epidemias de gripe e varicela.

Cel Rondon levou o Presidente Teodoro Roosevelt em uma expedição na região dos Arara e desceram o rio Dúvida (mais tarde Roosevelt) até o rio Aripuanã em 1914 e índios, possivelmente Cinta Larga, mataram seu cachorro (Hemming 2003.46).

Por 1960 ficaram dispersos em um 25 ‘colocações’ conforme as posições dos seringais. Houve alguns casamentos com seringueiros. Os seringueiros e os índios ficaram desamparados quando o preço do látex caiu na década 1970 e os patrões eram substituídos pelos regatões, que exploraram os índios com os ribeirinhos por um comércio desigual, mantendo os ‘fregueses’ em dívida (Dal Poz e Santos 2007).

Chegou o projeto de colonização e os novos ‘proprietários’ ‘compraram’ grandes terrenos e requeriam a expulsão dos antigos moradores indígenas do seus territórios. Os Arara resolveram se retirar do Rio Branco, enquanto pistoleiros expulsaram suas famílias e queimaram as malocas. O CIMI buscavam a reconquista do território dos Arara entre 1984 e 1985 e a FUNAI instalou postos de vigilância. Em 1992 os remanescentes dos Arara voltaram para viver em uma aldeia à margem esquerda do rio Branco. A T. I. Arara do Rio Branco foi demarcada em 1995 e homologada em 1996, de extensão 50 por 40 km (Dal Poz e Santos 2007).

No município de Aripuanã está em construção a hidrelétrica de Dardanelos que pode gerar energia suficiente para atender uma cidade de 500.000 habitantes. Durante 2011 a obra atrasou sobre questões legais e as questões ambientais dos indígenas não eram consultadas. Índios dos Arara e Cinta Larga ocuparam a usina duas vezes em 2011 e saíram das instalações quando conseguiram e acertaram o recebimento de oito caminhonetes e oitos barcos de alumínio com motores, e mais, a construção de duas casas de sede para a associação dos dois povos. A licença ambiental para a construção foi concedida sem atender aos interesses indígenas (Edna Simão, OESP, B4).

Estilo da Vida:
O território dos Arara do Mato Grosso entre os rios Banco e Guariba tem uma rica biodiversidade e consiste de floresta ombrófila, com duas estações de muita chuva e de seca com áreas de campo. A agricultura é baseada em roças em média 2 ha por cada família nuclear. As roças são cortadas durante a estação seca, a broca em abril e a derrubada das árvores e a coivara em agosto. O plantio é feito com o começo das chuvas em outubro. São cultivados mandioca brava para a fabricação da farinha, e mandioca doce, milho, cará, batata, banana, arroz, amendoim, abacaxi e melancia. A colheita da mandioca acontece depois um ano. A farinha e outros produtos vão para o comércio (Dal Poz e Santos 2006).

A caça é feita à espreita ou à noite surpreendendo animais nas beiras dos rios com uma lanterna. Os animais caçados são o queixada, o caititu, o veado, a anta, a paca, o tatu, diversos macacos e o jacaré. A pesca é praticada por todos, especialmente pelas crianças, diariamente com vara de pesca ou linhas ou com timbó na épocas das secas, que é o tempo melhor para pesca. A coleta de frutas silvestres é feita na estação das chuvas. As castanhas do Pará são consumidas na forma natural ou feitas em um leite que é usado para molhar a farinha. Também as castanhas e o leite são vendidos no comércio. São coletados o pequi, patuá, açaí, caju-do-mato, maracujá, araçá, murici, etc. As larvas chamadas ‘coró’ são alimento Arara (Dal Poz e Santos 2006).

Os Arara operam uma barreira de pedágio na estrada entre Aripuanã e o distrito de Conselvan, que atravessa a Terra Indígena. As famílias mantêm um rodizio na barreira e a arrecadação no pedágio é divida entre as pessoas da família responsável pela barreira (Dal Poz e Santos 2006).

Sociedade: Vivem distribuídos em 20 aldeias, algumas com uma só família, outras com mais que cinco. Estão situadas com acesso aos rios e e quase todas têm estradas ligando à cidade de Aripuanã. A maioria vivem em nove aldeias no sul da T. I., duas aldeias mais no sudoeste, e há sete aldeias no nordeste. 57 Arara moram na cidade (pop. 26.547 com hospital e Posto de saúde). Algumas famílias alternam a moradia entre a aldeia e a cidade. Cada aldeia tem uma casa comunitária, escola, um posto de saúde, poço artesiano e água encanada e banheiro com fossa séptica. Diversos Arara trabalham como agentes de saúde ou professores (Dal Poz e Santos 2007).

Artesanato:

Religião: 10% Cristão: 1% Evangélicos (Joshua Project).

Cosmovisão:

Comentário:

Bibliografia: