Arara do Acre – Shawãdawa

David J Phillips

Autodenominação: Shawãdawa que significa ‘o povo do pássaro azul’ (Yawanawá 2006.8).

Outros Nomes: Shawanáwa, Xawanáua, Xawanáwa, Chauã-nau, Ararapina, Ararawa, Araranás, Ararauás e Tachinauás (Correia 2005).

População: 319 (DAI-AMTB 2010); 332 (CPI/AC 2004).

Localização: Na Terra Indígena Arara do Igarapé Humaitá, entre este e o igarapé Nilo, afluentes da margem direita do alto rio Juruá. É de 87.000 ha Também na T I Jaminawa/Arara do Rio Bagé de 28.926 ha com Yaninawá. As duas terras são homologadas e registradas no CRI e SPU.

Língua: Arara ou Shenenawa (SIL) da família linguística Pano. Muitos poucos falam a língua, mas os adultos a entendem. A geração mais nova fala só português. Mas começando em 1990 os Arara buscaram ‘resgatar’ a língua, e têm contado com o apoio da CPI-Acre (Comissão Pró-Índio do Acre) para consolidar uma educação bilíngue entre o grupo e muitas crianças estão aprendendo Arara (Correia 2005).

História:
O vale do Juruá era ocupado pelos povos Aruak e Pano por séculos e foi invadido pelos brancos somente nos últimos vinte anos do século XIX. Principalmente estes brancos eram nordestinos, se estabelecendo como seringueiros à busca dos seringais. Outros grupos dos Arara desconhecidos eram espalhados na floresta.

Uma missão católica foi estabelecida em 1871, perto da foz do rio Machado Ji Paraná chamada São Francisco com 135 Tora e Arara. O capuchino Guiseppe Coppi foi enviado no ano seguinte para administrar a missão e ele descobriu que os regionais, os regatões e seringueiros tinham escravizados os índios. Ele pediu o Presidente do Amazonas que cancelasse os ‘débitos’ dos índios e expelisse os ‘patrões’. Porém os dois soldados enviados pelo Estado tomou o lado dos regionais e depois um ano o padre Coppi pediu demissão da situação. A missão atraiu um ataque pelos Parintintin em 1874, matando o chefe Arara (Hemming 1987.286,315).

Os Shawãdawa no alto Juruá entram em contato com a sociedade nacional em 1905 quando a estrada entre Cocamera e Cruzeiro do Sul foi aberta. Na época os Arara Shawãdawa viviam na margem do igarapé Forquilha, afluente da margem esquerda do Riozinho da Liberdade com os Rununawa. Eles sofreram dos brancos e contam que eram seringalistas peruanos, especialmente um chamado Baxico, que mataram os índios por seus capangas. Os Yawanawá conseguiram a convencer um capanga Rununawa matar o Baxico. Ângelo Ferreira fez amizade com Yawanawá e tornou-se patrão deles e fez contato os Arara, até foi morto por outro seringalista (Yawanawá 2006.21). Os Arara eram insertados no trabalho dos seringalistas por cinquenta anos, percorrendo as ‘correrias’ no território associado com seus ancestrais. Os Arara se dividiram e fizeram diversas migrações na época a procura de condições melhores no seringais.

Depois 1912 veio um padre francês Constantino Tastevin, que contou que os Arara travaram muitas guerras com as outras tribos. Houve muita troca de mulheres entre os povos vizinhos, e o grande chefe Tescon tinha mãe Arara e pai Rununawa. Os Arara eram divididos em dois grupos e no fim o chefe Tescon foi morto por seu próprio povo em 1914. Estes conflitos levaram os Arara a migrarem para os rios Bagé, Tejo, Gregório e Riozinho Cruzeiro do Vale e localizaram se na década 20 nos seringais Cruzeiro do Vale e Humaitá e depois voltaram (Correia 2005).

Mas em 1985 foi identificada e delimitada a Terra Indígena Arara do Igarapé Humaitá e diversas famílias abandonaram os seringais e mudaram-se para a Terra. Eles revindicaram o aumento da área da Terra e e ganharam posse permanente em 4 de dezembro 2002. A Terra é invadida por caçadores profissionais conseguindo grande quantidades de carne para comerciar.

Estilo da Vida:
O Rio Juruá é décimo sétimo de comprimento no mundo com 3.283 km. Ele nasce no Peru (rio Yuruá) e atravessa os Estados do Acre e do Amazonas até deságua no Rio Solimões. Os Arara vivem em uma região da bacia rica em sua biodiversidade, com espécies que são desconhecidas em outras regiões. A paisagem é variada com floresta densa da terra firme, várzeas e campina. Vivem em três aldeias – Raimundo do Vale, Foz do Nilo na T I Arara do Igarapé Humaitá, espalhados nas margens do Riozinho Cruzeiro do Vale (Igarapé Humaitá) e do Igarapé Nilo. A aldeia Boa Vista se localiza na margem esquerda do Igarapé Grande, afluente do rio Valparaíso. A distribuição é conforme o acesso pelos rios, mas existem caminhos entre as aldeias que atravessam a Terra Indígena (Correia 2005).

A roça e seu plantio é a responsabilidade do homem, mas a mulher o ajuda durante a colheita. Cultivam mandioca, milho, arroz, batata doce, cana, inhame, banana e mamão. A farinha é feita pelo homem. O homem deve ter uma espingarda para caçar e o melhor tempo de caçar é a época das chuvas. As mulheres cuidam da casa, as crianças e a criação de galinhas e porcos. Os Arara pescam de diversos métodos: timbó, anzol, zagaia, etc. Os Arara compram produtos necessários, como o sal, o açúcar, munições, etc, no comércio de Cruzeiro do Sul e vendam porcos, galinhas e patos.

Sociedade:
No ano 2000, as aldeias tiveram em Raimundo do Vale 126 habitantes, em Foz do Nilo 108 e em Boa Vista 41. Entre estes foram 12 Poyanawa, 25 brancos e 1 Yawanawa. Havia 82 Arara e 12 brancos de parentela Arara que moraram nas cidades próximas, porém há uma tendencia dos Arara mudar-se para a Terra Indígena onde as condições de vida são melhores. As famílias extensas residam em grupos de casas pequenas de uma família nuclear que estão próximas. Os grupos de casas são distribuídas ao longo do Riozinho Cruzeiro do Vale, do Igarapé Nilo e do Igarapé Grande. Os conceitos de organização social antiga se perderam com o abandono de falar a língua. Não há ritual de casamento, exceto alguns se casaram na igreja católica. O marido construí a casa e a regra é patrilocal (Correia 2005).

Organizaram a Associação do Povo Arara do Igarapé Humaitá (APAIH). Alguns Arara são professores bilíngues, agentes agroflorestais e agentes de saúde.

Artesanato:

Religião:
Os idosos ainda se lembram dos rituais tradicionais. O ritual do mariri é uma dança que ressalta a identidade Arara, e os mais idosos cantam. O ritual do sinbu envolve beber o ayahuasca. É consumado também nas sessões de cura (Correia 2005).

A festa da ‘injeção do sapo’ é para garantir a sorte do caçador. Eles tiram o ‘leite’ de um sapo e o colocam sobre algumas queimaduras pequenas feitas no pele do caçador. As queimaduras são raspadas com os ossos de animais, e assim é feita a ‘injeção’. A festa envolve o consumo de caxiri que gera vômitos (Correia 2005). A seita do Santo Daime é forte na cidade de Cruzeiro do Sul e desde 1990 alguns Arara se tornaram adeptos.

Cosmovisão: O mito da origem dos Arara conta de uma maloca cheia de crianças, que estava próxima a uma roçada de um gavião. Quando a caça começou a acabar o gavião pegou todas as crianças e deu para comer ao seu filhote, até sobreviveu apenas uma criança. Então um ‘caboclo’ da maloca resolveu se a matar o gavião e o conseguiu. Depois colocou um cesto cheio das penas do gavião no ninho. Cada noite ele escutou um barulho que veio de dentro do cesto. Mas quando abriu o cesto de manhã conferiu que tinha apenas as penas no cesto. Até um dia quando ele abriu o cesto saíram todos os povos Pano: Shawãdawa, Yawanawa, Kaxinawa, Xaranawa, Duwanawa, Poyanawa e outras (Correira 2005).

Comentário:

Bibliografia:

  • CORREIA, Cloude de Souza, 2005, ‘Arara Shawãdawa’, Povos Indígenas do Brasil, Instituto Socioambiental, São Paulo pib.socioambiental.org/pt/povo/arara-shawadawa
  • DAI/AMTB 2010, ‘Relatório 2010-Etnias Indígenas do Brasil’, Organizador: Ronaldo Lidório, Instituto Antropos instituto.antropos.com.br
  • HEMMING, John, 1987, Amazon Frontier – the Defeat of the Brazilian Indians, London: Pan Macmillan.
  • HEMMING, John, 2003, Die If You Must – Brazilian Indians in the Twentieth Century, London; Pan Macmillan.
  • SIL 2009, Lewis, M Paul (ed), Ethnologue: Languages of the World, 16th edition. Dallas, Texas: SIL International. Versão on line: www.ethnologue.com
  • YAWANANWÁ 2006, Organização dos Professores Indígenas do Acre, Comissão Pró-Indio do Acre: Costumes e Tradições do Povo Yawanawá, Brasilia: MEC/SECAD/DEDC www.cpiacre.org.br/pdfs/projeto_yawa_visualizacao.pdf