Arara de Rondônia – Karo

David J Phillips

Autodenominação: Karo significa ‘arara’ na sua língua. Usam também i’târap que significa ‘nós todos’ (Gabes 2004).

Outros Nomes: Arara Tupi, Arara de Rodônia ou Arara Karo, Uruku, Urukú, Arára do Jiparaná, Ntogaopíd e Urumí.

População: 170 (2004 ISA); 208 (Assoc. Kanindé 2006). Em 2008, sua população era de 189 pessoas (Igreja Luterana). Devem ser distinguidos dos outros povos Arara: Arara do Acre (Shawanawá), Arara do Aripuanã ou de Mato Grosso (Arara do Beiradão), Arara do Pará (Ugorongmo, Ukarãgmã).

Localização: Os Karo vivem na Terra Indígena Igarapé de Lourdes, RO, com 190.000 km quadrados e homologada em 1986. A cidade mais próxima é Ji-Paraná no sul, 70km pela estrada ou descer pelo rio Machado. A T I é dividida um terço dos Karo e o resto é dos 500 Gavião (Ikolen ou Ikólóéhj). Os Karo vivem nas aldeias de Iterap e Paygap, a maioria na primeira. No sudeste são os Zoró e os Paiter.

Língua: Karo da família linguística Tupi Ramarama. É usada nas aldeias e o português está aprendido para contato com a sociedade nacional. Alguns falam Gavião (Gabas 2004).

História:
Os Karo sempre viviam na área onde estão hoje. Os Karo descrevem o tempo antes do contato com o colonizador como os tempos de abundancia de caça e peixe e de muitos índios vivendo em malocas (Freitas 2009). Antigamente existiam os ‘pés pretos’, outro tipo de Karo que falavam os dialeto diferente, mas não existem mais (Gabas 2004).

Nos anos 1920 foram nos primeiros contatos desse povo com a sociedade nacional seringalistas. Os Karo queixam de um seringalista chamado Barros, que quis eliminar os indígenas e trouxe muitas doenças, sarampo, gripes, diarreias, que mataram muitos. As epídemas acabaram com as gerações que anteriormente viviam juntos. As crianças indígenas foram levadas para ser criadas pelos seringalistas e os adultos foram levados para trabalhar por diversos patrões, que resultou na fragmentação das famílias. Porém o Barros por escravizar os índios para trabalhar para ele, resultou em proteger os dos outros brancos, e lhes deram ferramentas e espigadas. Uma época deu ‘um sentido de orfandade coletivo’ (Freitas 2009). Ao mesmo tempo os Gaviões (Ikolen) reivindicaram o território e atacaram os Karo.

O SPI os contatou em 1949; muitos indígenas morreram de pneumonia, gripe e sarampo e sua população restante se espalhou pelos seringais da região, e foi só no fim da década de 1960 que o SPI conseguiu se reagrupar na Terra Indígena em que habitam hoje. Agruparam primeiro ao Posto, mas depois em 1980 fundaram sua aldeia, Iterap, no Igarapé da Prainha. A FUNAI e os padres e depois a Missão Novas Tribos do Brasil começaram a trabalhar entre os Gavião e os Karo (Freitas 2009, Hemming 2003.309). Na década 90 a outra aldeia, Paygap, foi fundada. A Terra Indígena foi homologada em 1986 com 185.534 hectares.

Os indígenas receiam que a barragem em Tabajara de 350 MW no rio Ji Paraná – Machado possa alagar a floresta da Terra. A barragem foi projetado em 1985 e depois o projeto foi renovado como duas barragens; ficaria 300 km rio abaixo da T.I. Os Karo e Gavão protestaram contra o projeto (Nóbrega 2008). Em 2010 o projeto foi embargado depois o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade demonstrou como afetaria o meio ambiente.

Estilo da Vida: Os Karo dizem que a floresta nunca foi destruída e ainda têm caça e pesca. Caçam com espigada ou arco e flecha. Pescam com anzol ou redes, usam tinguijada na estação seca. Cultivam mandioca, milho, cará, arroz, batata doce e banana. As casas seguem o tipo regional tradicional dos brancos e não a arquitetura karo.

Artesanato: Confeccionam colares de sementes, pulseiras e capacetes. Fazem cestos e redes de tucumã e algodão e arco e flechas. Cosem a roupa de pano comprado na cidade Ji-Paraná.

Sociedade: O casamento é uxorilocal, o casal mora com os pais da esposa e o marido trabalha para o seu sogro até este o libera. As crianças recebem um nome arara e outro português pelos avós (Gabas 2004).

Religião: Os pajés dos Arara são reconhecidos como os mais poderosos entre os outros índios em redor. Os Karo têm reavivado as festas tradicionais, aproveitando o Dia do Índio. A Festa do Jacaré foi realizada na aldeia Pajgap em 2010, que celebra o espírito do jacaré que tem um forte significado simbólico para o povo. Na aldeia Iterap realizou uma outra festa.

Cosmovisão: Os Karo encaram o contato com o branco como ‘amansamento’, do branco para o conhecer e aproveitar os produtos industriais; enquanto o branco considera a situação do índio como bravo e em necessidade de amansar ou civilizar. Pois a luta o indígena pensa em amansar a sociedade nacional para reconhecer e respeitar o índio como um igual e providenciar os meios, como território e meio ambiente para manter seu estilo de vida. Os índios acreditam em um contraste entre a natureza e o mato de um lado e a cultura e a aldeia do outro lado (Freitas 2009).Os mitos descreve a origem do bem e do mal por uma estória de dois irmãos, o atrevido mata o bom.

Comentário:

Bibliografia:

  • DAI/AMTB 2010, ‘Relatório 2010 – Etnia Indígenas do Brasil’, Organizador: Ronaldo Lidório, Instituto Antropos instituto.antropos.com.br
  • FREITAS, Edinaldo Bezerra de, 2009, ‘Vozes da (des) integração e Imaginário da sobrevivência: As Narrativas dos Índios Arara de Rondônia’, Labrinto, Revista Eletrônica do Centro de Estudos do Imaginário, Universidade Federal de Rondônia www.cei.unir.br/artigo125.html
  • GABES, Nilson, 2004, ‘Karo’, Povos Indígenas do Brasil, Instituto Socioambiental, São Paulo, SP. pib.socioambiental.org/pt/povo/karo
  • HEMMING, John, 2003, Die if You Must: Brazilian Indians in the Twentieth Century, London: Pan Macmillan.
  • NÓBREGA, Renata da Silva 2008, “A luta dos Arara (Karo) e dos Gavião (Ikólóéhj) contra os projetos hidrelétricos do Rio Machado, em Rondônia”, dissertação de mestrado na Unicamp.
  • SIL 2009, Lewis, M Paul (ed), Ethnologue: Languages of the World, 16th edition. Dallas, Texas: SIL International. Online version www.ethnologue.com