David J Phillips
Autodenominação: Akuáwa, mas nas últimas décadas o nome começou a ter o sentido de ‘índios do mato’ ou ‘índios bravos’, por isso o povo aceitam Asurini como sua autodenominação. O nome Asurini vem da língua Juruna e é utilizado para nomear diversos grupos Tupi da região do Tocantins. O SPI o empregou para este povo da década 50 do século XX (Andrade 1999).
Outros Nomes: Asurine do Tocantins, Assurini, Assurini do Trocará, Akuáwa, Assuriní (DAI/AMTB 2010), Akwaya (SIL).
População: 384 (DAI-AMTB 2010), 300 (ISA 2001), 466 (FUNASA 2010).
Localização: em duas Terras Indígenas:
- Terra Indígena Pacajá ainda em identificação em 2011, no rio Trocará, afluente do rio Tocantins, perto de Tucurui, Pará.
- T I Trocará, homologada e registrada no CRI e SPU, de 21.722 ha 20km ao norte de Tucuri, na margem esquerda do rio Tocantes e cortada pela estrada PA -156 indo para Cametá com 542 Asurini (SIASI 2013).
Língua: Asurini da família linguística Tupi-Guarani, subgrupo IV. Os dialetos são do subgrupo Akwáwa que inclui Parakanã e Surui do Pará (SIL). Número da língua é [asu] diferente de Assurini do Xingu [asn]. Estão se adaptando ao português. Alfabetismos menos que 1% e menos que 55% em português. Gramática e dicionário e porções bíblicas produzidos em 1973 (SIL). Conforme Harrison (SIL) existem várias dialetas entre as línguas dos Asurini do Xingu e dos Asurini do Tocantins. Os Asurini do Xingu continuem a falar sua língua e demoram a adotaram o português, enquanto os do Tocantins já falaram português por volta de 1970 (Andrade 1999).
História:
Os Asurini contam que eram um só povo com os Parakanã no Xingu. No princípio do século XX um grupo mudaram-se para leste para viver nas região das cabeceiras do rio Pacajá, foz perto de Portel, PA e nas florestas entre o Pacajá e o rio Tocantins. Mudaram-se depois para o rio Trocará. A região no Tocantins entre Tucuruí e Marabá desenvolveu na exportação das castanhas do Pará na década 20 e o conflito começou entre os índios e os regionais.
A ideia de construir uma estrada de ferro que contornasse as corredeiras e baixos do rio Tocantins era de 1869, mas foi construída entre 1908 e 1916 com 82 km de trilhos. Recomeçou a construção entre 1939 e 1944 com um total de 118 km. de Tucuruí (Alcobaça) a Jatobal. Durante o tempo da ferrovia houve muitos ataques e contra-ataques. Os Asurini atacaram e sofreram represálias pelos operários (Hemming 2003.721). Em 1945 o diretor montou uma expedição armada contra os Asurini, mas os índios escaparam. O SPI abriu um processo contra o diretor, mas a denuncia foi considerada improcedente pelo juiz de direito de Cametá. As turmas da estrada só trabalharam sob a proteção de guardas armados (Andrade 1999). A ferrovia foi substituída por uma rodovia em 1974.
O sertanista Telésforo Martins Fontes do SPI estabeleceu um ponto de atração e teve sucesso quando um grupo de 190 Asurini, ameaçado pelos Parakanã, foram viver ao lado do Posto. Mas doenças e uma tentativa de um agente do SPI de escravizá-los reduziram a população a 35 em 1962. Um grupo saiu na direção do rio Xingu e sua antiga terra (Hemming 2003.271). Mas um grupo moraram em Trocará desde 1953 e pela intervenção de Nicholson e Aberdour do SIL outro grupo veio do Pacajá em 1973 para morar no Trocará (Andrade 1999).
Eles cresceram em números com a proteção da Parque Indígena Trocará; a população subiu a 233 em 1995 (Hemming 2003.721). Mas a estrada PA-156 entre Cametá e Tucuruí foi cortada através o centro da terra e fazendas de gado foram estabelecidas em todos os lados. A caça é difícil encontrar devido ao desmatamento ao redor da T. I. A aldeia e o Posto da FUNAI ficam no lado leste entre a estrada e o rio Tocantins. A barragem Tucuruí está ameaçando o meio ambiente dos índios, aumentando a população não indígena da região com um crescimento anual de 22.7% (Andrade 1999). A maior problema de saúde é a malária, vindo a população ao redor (Andrade 1999).
Hoje as cachoeiras do Tocantins são cobertas pelas águas da represa de Tucuruí que têm um comprimento de 200km. O rio perdeu as espécies de peixes adaptados às corredeiras ou que migravam ao longo do rio. Em Tucuruí não foi construída nenhuma escada para peixes. Os Gavião e os Asurini não receberam indenização alguma, mas uma indenização pela PR-156 foi recebida.
O Projeto Grande Carajás, que é um programa de exploração mineira metalúrgica, trouxe uma segunda ferrovia, a Estrada de Ferro Carajás, do Companhia Vale do Rio Doce, que é de 892 km e aberta em 1985. Ela carrega minério da Serra Carajás para Porto do Itaqui, São Luís, MA. As locomotivas usam combustível biodiesel vegetal, diminuindo a emissão de CO2. Passageiros viajam no trem até Marabá onde a estrada atravessa o Tocantins, 200 km rio acima da T I Trocará (Andrade 1999).
Estilo da Vida:
As aldeias dos Asurini em 2010 são Trocará, Ororitawa e Oimotawara. A aldeia de Trocará as casas estão situada aos lados do caminho que vai do Posto até a casa de farinha. Não existe um pátio ou casa dos homens ou um chefe de aldeia. Cada grupo de casas têm um pátio na frente. As casas são de forma regional, de sala, quarto e cozinha nos fundos, e construídas pelos homens, com paredes e assoalhos de madeira de paxiúba e um telhado de palha de ubim. A cozinha têm um fogão e um jirau para tratar a carne de caça, preparar a comida e lavar a louça. Algumas casas têm fogão a gás e televisão. Cada casa utiliza também um ponto no curso dos igarapés próximos para tirar água, lavar roupa e tomar banho. No terreno entre as casas e as margens dos igarapés cultivam jardins de milho, cará, batata, banana e abacaxi (Andrade 1999).
A casa da farinha, construída pela FUNAI, contem o ralador, os tipitis e os fornos para torrar a farinha. Esta casa é especialmente para a produção da farinha destinada ao comércio. Antigamente cada família tinha seu próprio lugar por isso e algumas ainda o têm. Antes de contato a mandioca brava era o alimento principal.
A casa cerimonial (Tekataua) tem sua frente voltada ao leste, considerado o local do Espírito Onça. É utilizado somente para as cerimonias rituais e não para reuniões sociais e políticas.
Os Asurini caçam anta, veado, caititu, macaco, cotia, paca, tatu e diversas aves. Caçam com dificuldade e somente à noite com espingardas e lanterna, e por isso muitas vezes não têm carne para comer. Pescam parece estar sendo afetada pelo prejuízo ecológico da região. Pescam com anzóis, tarrafas e malhadeiras no rio Trocará. Durante o tempo da águas baixas, julho e agosto, as famílias passam tempo acampadas para pescar nos rios mais distantes da Terra Indígena. A estação das chuvas é o tempo para coletar açaí, bacuri e castanha do Pará e algum produto é vendido em Tucuruí.
Sociedade:
Antigamente os Asurini viviam em grupos pequenos sob a liderança de um pajé. Contato entre os grupos era por casamentos e rituais. Casamento era entre primos cruzados e era monogâmico. Mas este sistema foi interrompido e hoje o casal mora com a família da mulher até pode estabelecer uma casa própria. Os grupos residenciais podem recompor quando os sogros morrem e os irmãos querem formar um novo grupo (Andrade 1999).
Nas aldeias as casas são organizadas em grupos residenciais com uma família extensa uxorilocal, um casal mais velho, os filhos e as filhas solteiros e as filhas casadas com os genros. Cada grupos residencial forma uma unidade social e econômica com convivência, cooperação e troca de alimento. Nas roças as plantações das famílias nucleares são ligadas conforme seu grupo residencial. Cada grupo funciona como fosse uma aldeia própria, e os genros têm obrigação para cooperar com o sogro. Existe também uma roça comunitária da FUNAI plantada com mandioca, cacau e arroz destinados ao comércio. Os grupos residenciais se reúnem para as cerimonias rituais (Andrade 1999).
Artesanato:
Religião:
As crianças são concebida como o resultado da relação sexual entre a mãe e o herói mítico Mahira durante o sonho, as relações com o pai, e outros homens, só fazem o feto crescer. Os homens não podem ter contato com o sangue do parto, e a placenta e o cordão umbilical são enterrados para que nenhum animal os coma, que faria mal para o recém-nascido. Os pais observam um resguardo com tabus alimentares até o umbigo da criança caia. O bebe é pintado com jenipapo para que cresça rapidamente. O seu pai deve cantar para a criança todo dia. Os nomes são de um aspecto da natureza previamente de um antepassado morto. Um segundo nome era dado quando o lábio inferior era furado, isso não é praticado hoje (Andrade 1999).
Os cerimônias rituais dão a formação biológica e social ao homem e por isso todos devem entender o xamanismo e todo homem é um pouco pajé. A iniciação do pajé é através das festa do tabaco e ele percorre, em sonhos, um caminho de muitos perigos até chegar na presença de Sawara, o espírito onça, e dele recebe o poder de curar. Há doenças por contato com o sobrenatural tratadas pelo pajé e outras que são dos brancos e cristãos que precisa uma visita a enfermaria. Os Asurini têm muitas receitas da plantas para a malária, feridas e picada de cobra, etc.
Cosmovisão:
Os Asurini creem que a primeira criação foi destruída por um dilúvio, quando a terra ‘ficou mole’, e um homem sobreviveu por subir no alto de uma bacabeira. Então o herói Mahira, que chamou a anta para que endurecesse a superfície da terra. Mahira tirou sua própria costela, e dela fez uma mulher e assim começou a população da humanidade. Sua filha não ficava casada por muito tempo por que Mahira se aborreceu com os genros e os transformou em animais. Mahira deu conhecimento cultural de cultivar a mandioca e fazer a música. Depois algum tempo Mahira mudou-se da aldeia dos homens, porque planejaram o matar e ele voltou para o céu. Agora ele mora num lugar chamado Tupana, para onde os mortos vão. Os mortos seguem uma vida semelhante a vida terrestre. De lá Mahira cuida de todos como criador e dá a vida de cada Asurini. Então os Asurini creem que o ciclo da vida começa por Mahira e volta a ele (Andrade 1999).
Há a outra esfera sobrenatural de Sawara (o espírito onça) que remete o xamanismo. Os Takwitimasa são espíritos que vivem na mata e jogam doenças ou Karowara nos homens, especialmente quando os últimos maltratam os animais. Os pajés retiram os Karowara dos homens, pelo contra Karowara que Sawara os dá (Andrade 1999).
Comentário: Carl Harrison, Robin Selly nos anos 60 e mais tarde Velda Nicholson, Catherine Aberdour a Annette Tomkins do SIL analisaram a língua Asurini.
Bibliografia:
- ANDRADE, Lúcia, 1999, ‘Asurini do Tocantins’, Povos Indígenas do Brasil, Instituto Socioambiental, São Paulo, SP pib.socioambiental.org/pt/povo/asurini-do-tocantins
- DAI/AMTB 2010, ‘Relatório 2010-Etnia Indígenas do Brasil’, Organizador: Ronaldo Lidório, Instituto Antropos instituto.antropos.com.br
- HEMMING, John, 1987, Amazon Frontier – the Defeat of the Brazilian Indians, London: Pan Macmillan.
- HEMMING, John, 2003, Die If You Must – Brazilian Indians in the Twentieth Century, London; Pan Macmillan.
- SIL 2009, Lewis, M Paul (ed), Ethnologue: Languages of the World, 16th Edition. Dallas, Texas: SIL International. Versão on line: www.ethnologue.com