Asurini do Xingu – Awaeté

David J Phillips

Autodenominação: Awaeté que significa ‘gente de verdade’ (Müller 2002).

Outros Nomes: Awaeté, Assurini (DAI-AMTB 2010), Akuáwa. Asurini é o nome deles em Juruna e aceito pela FUNAI. São conhecidos pelos Kayapó a ser os ‘índios vermelhos’ devido o uso abundante do urucum, e pelos Xikrin ‘cabeças redondas’ devido à corte do cabelo.

População: 124 (DAI-AMTB 2010), 110 (ISA 2002), 154 (FUNAI/Altamira 2010). Nos ano 30 a população era 150 indivíduos. Sofreram ataques dos Araweté e dos Kayapó que levaram cativas mulheres e crianças. Durante a década 70 durante o contato com os brancos a população diminuiu de 100 a 52, devido às doenças trazidas pelos brancos. Em 2002 a população cresceu para 106 pessoas (33 mulheres, 18 homens e 55 jovens e crianças).

Localização: A margem direita do rio Xingu médio era chamada a terra dos Asurini (Müller 2002). Em 1972 a 1985 viviam em uma aldeia no rio Ipiçava, afluente na margem direita perto de Altamira, PA. Atualmente têm uma aldeia à margem do Xingu na Terra Indígena Koatinemo (388.000ha), homologada em 1986, com 154 habitantes.

Língua: Asuriní, da família linguística Tupi-Guarani, subgrupo V. Dialetos: Asuriní de Koatinema, Asurini do Xingú, Awaeté, Awaté. A maioria tem uma pouca fluência em português (SIL). Número da língua ISO: 639-3 [asn]. Diferente da Asurini do Tocantins [asu]. Em 1998, Ruth Monserrat, do Museu Nacional do Índio publicou uma gramática Asurini, que vem sendo utilizada na escola da aldeia Koatinemo. Todos os Asurini falam sua própria língua, e os mais novos também falam português (Müller 2002).

História:
Os Asurini nos baixos rios Xingu e Tocantins atacaram os seringueiros no século XVIII, forçando-os a fugir deixando suas armas e ferramentas e barcos para os índios. Com as represálias dos seringueiros, acharam que flechas não eram suficientes contras as balas, por isso os índios preferiram fugir para as florestas (Hemming 1987.291).

Primeiro contato com os Asurini foi em 1894 quando atacaram um colono. Também atacaram os seringueiros, que os atacaram queimando as malocas na Praia Grande, nas margens do rio Bacajá e na Serra do Passahy. Eles se deslocaram às cabeceiras dos rios Ipiaçava e Piranahaquara, para afastar dos brancos no Xingu (Müller 2002). Em 1936 os Kayapó Gorotire se dividiram e um grupo ficaram no rio Riozinho, perto da Cachoeira da Fumaça; estes mataram três missionários da MICEBE (UFM), os ‘Três Freds’. O outro grupo foram a norte e atacaram os Asurini e voltaram para viver no rio Fresco, acampando no outro lado do rio de Nova Olinda. A metade morreram de gripe, e receberam assistência médica de outros missionários da MICEBE, mas quiseram armas para atacar o grupo no Riozinho, mas o ataque foi frustrado por sua fraqueza (Hemming 2003.115).

No anos 40, os Kayapó atacaram os Asurini quatro vezes, alguns atacaram pela frente e mais duas fileiras amontaram uma emboscada no fundos da aldeia para capturar os que fugiram (Hemming 2003.124). Na década 50 os Asurini tentaram a travessar o rio Xingu e construíram uma ponte de 300m ligando rochas na cachoeira. A tentativa era abandonada quando uma lancha de brancos veio e atiraram neles. Em 1960 foram parar no rio Bacajá em frente a Altamira, mas mudaram para rio Ipixuna por mais quinze anos (Hemming 2003.283). Viviam no rio Ipixuna até o fim dos anos 60 quando foram desalojados pelos Araweté e os Xikrin (Müller 2002). Também os seringueiros e os caçadores de peles de onça penetraram a região. Voltando para os rios Ipiaçava e Piranhaquara, os Asurini mantinham hostilidades para com os não índios, especialmente para obter ferramenta de aço. Mas a ausência de seringais no território Asurini ajudou a preservação do povo (Müller 2002 citando Antônio Cotrim Soares).

Na década 70 a invasão pela sociedade nacional aumentou com o mapeamento de mineração, o desenvolvimento da agropecuária e a construção da Rodovia Transamazônica. A empesa Meridional Consórcio US Steel pretendeu estabelecer um programa de ‘pacificação’ dos índios pelos missionários católicos irmãos Lukesch. Esta oportunidade de estudar um povo não aculturado, eles consideraram um sonho etnográfico. Os contatos dos padres e de Soares da FUNAI eram a alternativa das ameaças de outras etnias ao leste. Primeiramente eles acharam uma aldeia Asurini ocupada pelos Araweté. Foi alegado que os padres não tomou providencia contra a introdução de malária e gripe e houve 13 mortos, mas a FUNAI não era melhor por falta de recursos para vacinar os índios e fornecer alimentos, quando os índios doentes não podiam cuidar das roças (Müller 2002).

Cotrim fez o primeiro contato dela FUNAI. Viajou 18 dias subindo com dificuldade o rio. Ipixuna e mais 15 dias seguindo uma trilha na floresta até chegou próximo a uma aldeia Asurini. A expedição decidiram não entrar por causa da sua péssima condição depois da viagem e voltaram aos seus barcos. Foram surpreendidos por doze guerreiros Asurini que eram amistosos. Cotrim voltou em fevereiro 1971 e tomou os Asurini de surpresa, para que não pudessem planejar uma ação hostil. A tática ganhou a amizade dos índios e eles estavam prontos para estabelecer contato (Hemming 2003.283s).

Quando em 1976 os Asurini eram se adaptando aos brancos e comprando artigos industriais por vender artesanato pela FUNAI, os Araweté os atacaram violentamente, e os Asurini abandonaram todas suas pertences e sua plantações fugindo para a margem do Xingu. Sofreram as doenças dos brancos e a população caiu até 53 pessoas. Contatado pela FUNAI a segunda vez, eles mudaram de volta para o rio Ipixuna e construíram duas aldeias perto do Posto Koatinemo. Em 1980, Berta Ribeiro descreveu o povo com um sentimento de derrota e a população não cresceu por causa da sua prática de aborto e infanticídio. Mas em poucos anos sua diligencia na agricultura e caça transformou o povo (Hemming 2003.286).

Cotrim saiu da FUNAI em 1972, citando a falta de recursos e as consequências malignas do contato com a sociedade nacional. A FUNAI era um departamento do Ministério do Interior que estava abrindo a Rodovia Transamazônica que trazia os males de doenças, prostituição e invasão das terras (Hemming 2003.287). Os Asurini eram abandonados e visitaram Altamir para obter recursos. Mas com a permissão da FUNAI, o CIMI conseguiu que duas missionárias da Irmãzinha de Jesus se estabelecessem entre os Asurini em 1982 para trabalhar ‘paralelo’ com a agencia governamental (Müller 2002). Terra Indígena Koatinemo (388.000 ha.) foi homologada em 1986.

Estilo da Vida:
As aldeias consistem de casasdo tipo regional, com paredes de barro e telhado de palha. Há uma casa, a aketé ou tavywa, tipo de maloca com a construção muito melhor elaborada, rectangular e com o telhado abobadada que é usada para os rituais e para enterrar os mortos no chão. Esta é maior de 30m comprimento por 12 m de largura. Os Asurini cultivam várias espécies de mandioca. Todos os homens da aldeia são convidados a fazerem a broca, derrubada, queimada e a coivara para abrir novas roças. As mulheres plantam, colheram e preparam a mandioca doce ou brava por diversas maneiras para fazer farinha, beiju, mingau. Plantam também o milho, amendoim, batata-doce, banana, melancia, cará, fava, tabaco, algodão e urucum. Fazem a coleta de frutas silvestres de castanha do Pará, coco inajá e coco babaçu. O jabuti é um prato predileto.

Os Asurini pescam durante o verão no lagoas e igarapés do rio Ipiaçava com timbó e tapagens. Eles adotaram rapidamente os artigos industriais logo depois contato em 1976. Armas de fogo substituíram arco e flecha e machados tornaram essenciais para derrubar as arvores; anzóis e linha tornaram necessários para a pesca (Hemming 2003.285).

Sociedade:
A unidade social é um grupo de mulheres da mesma parentela sob a liderança de um homem. O casamento é uxorilocal e os maridos cooperaram com o sogro no trabalho de subsistência. Há casos de poliandria e nesta situação as mulheres tomam responsabilidade para os rituais sendo cantadoras que auxiliam os pajés. Durante a gestação da criança a mãe mantem relações sexuais com vários homens para o nenê ‘nasça forte’ (Müller 2002).

Os Asurini do Xingu manifestam uma vitalidade cultural com a realização dos rituais e xamanismo e um extenso sistema de arte gráfica. Esta é vista na pintura corporal e nas cerâmicas com desenhos geométricos em preto, vermelho com um fundo de amarelo. Os desenhos são representação estilizadas da natureza e de seres míticos. Os desenhos representam cipó, feijão grande, pata de jabuti, rabo de macaco, favo de mel e cangote de onça (Müller 2002). São notáveis por seu bom humor e sua gentileza e sua generosidade. Anton Lukesch descreve como os Asurini lhe ofereceram comida de diversos tipos. São muito trabalhador na caça e nas roças (Hemming 2003.285). Os Asurini controlaram a população em tempos de crise por aborto e a infanticídio, mas mulheres que tinham muitos abortos ficaram inférteis (Hemming 2003.286).

Artesanato: As mulheres confeccionam as cerâmicaspintadas e tecem redes, carregadores de bebê e tiras de cabeça de algodão. As cuias são decoradas com desenhos. Fabricam banquinhos de um só pedaço de madeira.

Religião: A maioria dos homens são pajés e todo o grupo é mobilizado quando alguém está doente. A doença é interpretada como o resultado da ação dos espíritos por causa de uma desobediência de prescrições do sobrenatural. A maioria são gripe, malária e tuberculose. Os métodos das curas envolvem a invocação dos espíritos pelo maraká (canto e dança) e pelo petymwo (massagem e defumações). O remédio terapêutico é indicado pelos espíritos ao pajé em transe. Os pajés fumam charutos de um metro de comprimento (Hemming 2002.284). O maraká é ritual para propiciar os espíritos dos animais do mato para ajudar na caça. Os espíritos reproduzam os seres no mundo humano e sua hierarquia corresponde as relações na terra. São espíritos guardiões e na terra há também as anhynga, os que prejudicam os homens, combatidas pelos espíritos guardiões. São usados Taingawa, um boneco usado nos rituais xamanísticos e que significa também “imagem, modelo, réplica do ser humano.

Cosmovisão:

Comentário: Carl H Harrison e Velda Nicholson (SIL – Sociedade Internacional de Linguística) fêz o estudo da língua nos anos 60 e 80. Velda Nicholson estudou a língua Asurini do Tocantins e realizou um trabalho comparativo com a língua dos Asurini do Xingu (1982), no qual aponta semelhanças e diferenças na fonologia, regras morfológicas e gramaticais. ALEM continua a trabalhar com este povo.

Bibliografia:

  • DAI-AMTB 2010, ‘Relatório 2010 – Etnias Indígenas do Brasil’, Organizador: Ronaldo Lidório, Instituto Antropos instituto.antropos.com.br
  • HEMMING, John, 1987, Amazon Frontier – the Defeat of the Brazilian Indians, London: Pan Macmillan.
  • HEMMING, John, 2003, Die If You Must – Brazilian Indians in the Twentieth Century, London; Pan Macmillan.
  • MÜLLER, Regina Polo, 2002, ‘Asurini do Xingu’, Povos Indígenas do Brasil, Instituto Socioambiental, São Paulo. pib.socioambiental.org/pt/povo/asurini-do-xingu
  • SIL 2009, Lewis, M Paul (ed), Ethnologue: Languages of the World, 16th edition. Dallas, Texas: SIL International. Versão on line: www.ethnologue.com