Avá-Canoeiro – Avá

David J Phillips

Autodenominação: Avá (Hemming 2003.617).

Outros Nomes: Abá, Avá, Awana, Canoa, Canoe, Canoeiros (SIL). São chamados ‘Cara-Preta’ e ‘Carijó’, mas desde dos primeiros contatos no século XVIII era conhecidos como ‘Canoeiros’. Desde 1970 o nome Avá-Canoeiro é usado.

População: 14 (DAI-AMTB 2010), 18 (FUNASA 2010), 40 (SIL), 40 (ISA 1998). Há quatro grupos, dois isolados. 14 em 1988, 40 em 1998.

Localização: Goiás, na Ilha do Bananal e nas cabeceiras do rio Tocantins (SIL).

  • Um grupo localiza-se na T I Avá-Canoeiro, de 38.000ha, nos municípios de Minaçu e Colinas do Sul, Goias. Uma família de sete pessoas (SIASI 2013). Situação Jurídica em 2012: Declarada (ISA).
  • Outro grupo na aldeia Boto Velho na T I Inãwebohona, 377.114ha, Homologada e registrada no CRI e SPU, com Javaé e Karajá: População total 186.
  • T I Parque do Araguaia, 1.358.500ha na Ilha do Bananal, nos municípios de Formoso do Araguaia, Lagoa da Confusão, Sandolândia e Pium, no Estado do Tocantins, com Javaé, Karajá e Tapirapé: População total 3.502 de Ava-Canoeiro, Javaé, Karajá e Tapirapé. Homologada e registrada no CRI e SPU.
  • T I Taego Ãwa (29.000ha), Identificação aprovada e contestada: 25 Avá-Canoeiro (2014).
  • Dois grupos isolados: Um nas serras dos formadores do alto rio Tocantins e outro no sul da Ilha Bananal (Toral 1998).
  • Outros na T I Avá-Canoeiro do Araguaia (ainda em identificação).

Língua: Avá-Canoeiro da família linguística Tupi-Guarani, subgrupo IV com Asurini do Tocantins, Guajajára, Parakanã, Suruí do Pará, Tapirapé e Tembé (SIL). Há dois dialetos do Araguaia e do Tocantins (Toral 1998).

História:
Inicialmente os Avá tinham reputação de ferrenhos adversários da colonização, mas desde dos primeiros contatos com fazendeiros, garimpeiros, eles têm se deslocaram de lugar constantemente (Toral 1998). Os Avá Canoeiros eram assim chamados, porque em contraste com os Timbira, Xavante e Xerente, eram peritos de navegar nos rios. Eram evasivos, atacando de repente, surgindo e sumindo nas suas canoas e menos conhecidos do que os Xavantes e os outras tribos na região do alto rio Tocantes. A Coroa Portuguesa proclamou que ‘existe, atualmente, nenhuma alternativa, mas para intimidar e se necessário destrua-los’. Nos meados do ‘seculo XIX eles tinham colocado todo o norte de Goias (atualmente Tocantins) sob cerco (Watson 2000.55).

Uma teoria sugeriu que os chamados Canoeiros eram na verdade sobreviventes dos Carijó fugidos de São Paulo, que aprenderam os métodos dos brancos e por isso eram mais perigosos e receberam a reputação para resistir até a morte. Outros pensaram que eram realmente grupos de Xavantes (Hemming 1987.191). Estudos mais tarde afirmam que são Carijó de São Paulo levados pela bandeira de Bartolomeu Bueno em 1724-26 para defender dos índios locais e trabalhar na mineração do ouro. Escaparam na floresta quando a bandeira fracassou. Os Carijó eram realmente Guarani escravizado no litoral de São Paulo. Outro estudo linguístico propõe que sejam um grupo dos Tupi-Guarani do norte do Brasil (Toral 1998).

Eram encontrados como os Canoeiro ao longo do rio Tocantins e também eram encontrados nas montanhas entre os rios Maranhão e Canabrava pelos garimpeiros. Atacaram as fazendas, porque gostaram da carne de cavalos e gado. Expedições contra eles eram montadas em 1789, 1811, 1819 e 1836. Mas o presidente de Goias era relutante em puni-los, crendo que os colonos provocaram os ataques (Hemming 1987.191).

Em 1831 uma lei proibiu o escravidão dos índios cativos em expedições. Uma bandeira de 1836 era incompetente e provocou mais represálias dos Canoeiro, Xerente que atacaram Carolina, Porto Nacional, Natividade e Amaro Leite ao longo do rio Tocantins (Hemming 1987.186). Quando os Canoeiro avançaram a destruição era certa; usavam espadas e baionetas capturadas, flechas com pontas de aço e jogaram seus bastões pesados no fim de uma corda. Depois sumiram da história para ser descobertos na divisas das águas entre os rios Araguaia e Tocantins em 1974 (Hemming 1987.191). Alguns deslocaram-se na direção do rio Araguaia e a Ilha do Bananal entre 1844 e 1865 (Toral 1998).

Outros ficaram em Goias. Foram descobertos na área do atual Estado de Tocantins, na Serra Negra, uma paisagem de cerrado e colinas 200 km. ao norte do Distrito Federal e mais de 450m em cima do nível do mar (Hemming 2003.616). Os Avá abandonaram os rios para viver como caçadores – coletadores e roubando animais das poucas fazendas na região. Em 1962 os fazendeiros atacaram a aldeia Mata do Café de represália e mataram todos senão quatro que escaparam para viver em uma caverna (Hemming 2003.616).

Os primeiros tentativos de atração foi em 1946 na região do rio Canabrava, afluente do Tocantins, mas não conseguiu estabelecer contato. Em 1968 os fazendeiros do município de Cavalcante no norte de Goias, fundado por um garimpeiro do mesmo nome em 1740, reclamaram à FUNAI sobre os ataques no seu gado pelos os que chamaram ‘quilombolas’! Mas durante a década 70 não conseguiram contato.

Nos anos 80 chegaram as equipes para construir a hidroelétrica Serra da Mesa. As águas da represa (1.784 km2) cobriram o território dos Avá e os seis sobreviventes apareceram no jardim de um colono que informou a FUNAI. Mais um grupo foi descoberto em 1973 entre os Karajá na Ilha da Bananal (Hemming 2003.617). Os quatro sobreviventes do massacro da aldeia Mata do Café entraram em contato com Toral, então da Frente de Atração. A interdição da T I Avá Canoeiro começou. Fica na margem direita do rio Tocantins ou Maranhão com 38.000ha que é atingida pelo lago da Usina Hidrelétrica Serra da Mesa por 10% do território nas limites sudoeste. Em 1974 oito Avá-Canoeiro foram transferidos para T I Canoanã, e depois em 1988 para a área da T I Avá Canoeiro.

Estilo da Vida:
No passado os Avá Canoeiro praticaram a agricultura com caça e coleta. Mas foram obrigados a fugir do avanço da colonização e os deslocamentos constantes que tem sido seu modo de viver nos últimos cem anos, os forçaram abandonar a cultivação e a fabricação de cerâmica (Toral 1998).

O grupo no rio Tocantins prefere isolamento maior da sociedade regional em uma área definida. Depende da caça e coleta e tem suas roças em uma área escolhida por eles porque era um lugar de antigos roçados e independente das roças dos funcionários da FUNAI.

Os grupos do rio Araguaia se desloca constantemente, mas ao mesmo tempo depende dos recursos das fazendas, com abates de gado e cavalos. Depois de contato queriam depender dos funcionários da FUNAI do Posto Canoanã, porém os funcionários recusam os alimentar querendo que eles se cuidam de suas roças. Então passam fome quando próximo ao Posto e gozam fartura nas raras expedições de caçar. Eles trocam carne de caça por produtos agrícolas com os Javaé (Toral 1998).

Os grupos no rio Araguaia abandonaram aspectos da cultura material como a cerâmica, música com flautas, a pintura corporal, plumária e o consumo de tabaco. Mas eles aprenderam a adaptar sucata e trabalhar ferro à frio para fabricar artigos uteis. As suas flechas com ponta de metal são conhecidas desde o século XIX. Com a pilhagem de gado aprenderam a fazer artigo de couro (Toral 1998).

Sociedade: A escola no Posto Canoanã oferece aulas em português e Javaé e por isso as crianças Avá-Canoeiro não frequentam a escola. Os jovens ressentem-se do isolamento da sua situação. Por causa da pequena população não há oportunidades de casamento e criar na nova geração. Não é prático combinar os dois grupos do Tocantins e Araguaia devido à separação por mais de cem anos e diferenças culturais e linguísticas (Toral 1998).

Artesanato:

Religião: Conforme Joshua Projeto 10% dizem que são Católico.

Cosmovisão:

Comentário: As crianças Avá-Canoeiro assistiam às aulas na escola do Posto, voltada exclusivamente à alfabetização bilíngue Javaé-Português, apesar de sua língua é completamente diferente do Javaé. Por isso todos os Avá-Canoeiro, atualmente, são analfabetos. Os mais jovens conseguem, à a muito custo, desenhar o próprio nome (Toral 1998).

Bibliografia:

  • DAI-AMTB 2010, ‘Relatório 2010 – Etnias Indígenas do Brasil’, Organizador: Ronaldo Lidório, Instituto Antropos instituto.antropos.com.br
  • HEMMING, John, 1987, Amazon Frontier – the Defeat of the Brazilian Indians, London: Pan Macmillan.
  • HEMMING, John, 2003, Die If You Must – Brazilian Indians in the Twentieth Century, London; Pan Macmillan.
  • JOSHUA PROJECT: ‘Avá-Canoeiro in Brazil’ joshuaproject.net/people_groups/10494/BR
  • SIL 2009, Lewis, M Paul (ed), Ethnologue: Languages of the World, 16th Edition. Dallas, Texas: SIL International. Versão on line: www.ethnologue.com
  • TORAL, Andre, 1998, ‘Avá-Canoeiro’, Povos Indígenas do Brasil, Instituto Socioambiental, São Paulo. pib.socioambiental.org/pt/povo/ava-canoeiro
  • WATSON, Fiona et al, 2000, Disinherited: Indians in Brazil, London: Survival International.