Aweti

David J Phillips

Autodenominação: Awytyza que provavelmente significa ‘homens’ (Souza & Drude 2006).

Outros Nomes: Aueti, Awytyza, Enumaniá (DAI-AMTB 2010). Auetö, nome usado na literatura devido ao estudo fonético do alemão Karl von den Steinen, mudado em português para Aweti (Souza & Drude 2006). Arauine, Arauite, Aueti, Aueto, Auiti, Awetö (SIL).

População: 140 (DAI-AMTB 2010), 195 (IPEAX 2011).

Localização: No Alto Xingu, Mato Grosso, na região do ribeirão Tuatuari.

  • Parque Indígena Xingu (MT), homologado e registrado no CRI e SPU, de 2.642.004ha com 5.982 indígenas (SIASI/SESAI 2012).

Língua: Aweti da família linguística Tupi-guarani, mas forma um ramo separado e semelhante ao Sateré-mawé. Os homens e as mulheres usam pronomes etc. diferentes (Souza & Drude 2006). Há um projeto de documentação da língua que inclui gravações e traduções da língua e da cultura.

História: Os ancestrais dos Aweti chegaram no Alto Xingu, depois dos povos karib, entre os séculos XVII e XVIII, devido à colonização europeia. Sua chegada entre os povos aruak provocou guerras e necessitava uma acomodação, com grupos sendo absorvidos por outros. Como os Kmayurá, os Aweti são descendentes de uma fusão de povos Tupi, predominante os Enumaniá.Vivem no centro do Alto Xingu entre povos da língua aruak a oeste e sul e entre povos da língua karib a leste e eram intermediários em circular notícias e na troca de bens da região (Souza & Drude 2006).

Karl von den Steinen visitou a região em 1884 e em1887 visitou a aldeia Aweti perto da rede de canais e lagoas. Impressionou se com as pinturas nos utensílios, flautas, máscaras, e nos postes e traves do rancho dos homens. Tinham visitantes de muitos outros povos na aldeia. O dardo de ponta de pedra ou madeira era a a arma principal (Souza & Drude 2006). Ramiro Vasconcelos visitou a aldeia em 1924 e a descreveu como um círculo de 50m de seis casas elípticas.

No princípio do século XX sofreram um sério declínio da população, reduzida a 80 pessoas em 1924 e menos de 30 no final dos anos 40, e a epidemia de sarampo de 1954 reduziu os a 23. Continuavam no século XX de ser intermediários no comércio de trocas entre o Posto e as outras tribos (Souza & Drude 2006).

Estilo da Vida:
Vivem na faixa de floresta alta na região dos canais e remansos que formam o ribeirão Tuatuari e perto do baixo rio Kurisevo (Culiseu). Mudam suas aldeias de quinze a trinta anos. A principal aldeia, Tazu’jytetam, com 85 pessoas, fica sete km do Kurisevo e duzentos metros do ribeirão. Uma segunda aldeia com 55 pessoas foi criada uns dezesseis km ao norte aproxima do Posto Leonardo. A aldeia principal tinha uma dúzia de casa no círculo com a casa dos homens no centro da praça. A praça é o lugar dos homens para conversar e fumar, onde recebem vistantes e enterram os mortos.

As casas reúnem uma família extensa do ‘dono da casa’ com as famílias dos filhos e genros ou cunhados e outros indivíduos dependentes. O ideal é residencia patrilocal. Os genros fazem um tempo de serviço ao sogro. No centro do interior da casa é o fogo, com as panelas para cozer o beiju. As roças são a responsabilidade das famílias nucleares, plantada pelos homem e os produtos colhidos pela esposa. A caça e a pesca na estação seca são atividades individuais. Entretanto a construção de casas, a derruba da mata e coivara de roças, e a pesca com timbó são atividades coletivas. Os homens organizem viagens à cidade para vender artesanato e comprar produtos industriais.

Plantam mandioca, pimenta, batata doce, mamãozeiros, bananeiras e outras frutas. A base do alimento é a mandioca, em forma de diversos tipos de beiju, produzida pela mulheres. A produção do sal vegetal extraído da folha do aguapé (Eichhornia), é uma atividade de famílias inteiras para o alimento e em troca de produtos de fora. Cultivam também o urucu, o jenipapo para a pintura de objetos e do corpo humano, e o algodão. A palmeira buriti (tapaj’yp) é utilizada para a produção de redes e cordas em geral, e como palha para cobrir as casas (Souza & Drude 2006).

Sociedade: Uma preocupação é a diminuição dos Aweti pelos casamentos com outras etnias e a residencia de cônjuges falando outras línguas nas aldeias. Mais da metade das 13 crianças cresciam em famílias onde ambos os pais falam outra línguas. Também a presença da influença da sociedade nacional nas aldeia é cada vez mais forte. Por exemplo na casa do chefe é o rádio que liga a aldeia ao mundo fora para tratar assunto de saúde, escola e aquisição de bens não indígenas. Também a televisão na casa do chefe com seu gerador que atrai as crianças no dia e os adultos à noite para assistir um filme ou futebol. A praça funciona como campo de futebol e especialmente para encontros intertribais. Uma das casa era a farmácia, até o agente se mudou para a segunda comunidade. Mas a escola é nos fundos da casa de um dos professores.

Durante a gravidez e depois do nascimento o pai observe resguardas alimentais para proteger o bebê das influências más dos espíritos. Crianças com claros defeitos físicos, bem como gêmeos, são enterradas e abandonadas, o que também pode acontecer no caso de filhos indesejados. As crianças recebem dois nomes dos avós, um é usado pelo pai, outro pela mãe. Quando a criança começa a andar e falar é parte da sociedade. Por volta dos nove anos a iniciação do jovem começa com rituais de fortificação com a escarificação do pele com um ‘arranhadeira’, feita de dentes de peixe cachorra, e depois folhas limpam o corpo do sangue. Também o jovem toma bebidas tóxicas e para depois vomitá-las. Depois o jovem é ‘preso’ um compartimento na casa sem contato com a família, recebendo comida de outras pessoas, e sai somente à noite para banhar, etc. Ele recebe um nome novo. As jovens fazem-se reclusões de seis meses ou mais e deixam o cabelo crescer. O ideal casamento é entre primos cruzados. Se o namoro é aprovado pelos pais, a rede do noivo é amarrada em cima da rede da noiva na casa dos pais dela e o casal mora com os pais dela por algum tempo. No caso de um casamento desfeito a mulher pode continuar viver sem casar-se de novo e ter sua própria casa e roça (Souza & Drude 2006).

Artesanato: Os homens confeccionam bancos, armas, e mascara, adornos e flautas. As mulheres fabricam as redes de dormir e podem negociar trocas.

Religião:
A casa dos homens guarda as flautas sagradas e as mulheres são proibidas identificar os tocadores ou ver as flautas. Hoje não há ninguém que sabe fabricar as flautas ou conhece os cânticos tradicionais, e por isso seu ritual não é realizado por duas décadas. À noite, a praça é dita pertencer a Karytu, o espírito relacionado às flautas rituais cerimoniais. As atividades de cortar uma nova roça ou pescar com timbó são consideradas de envolver rituais com Karytu, com alimentos de beiju e peixe entregues a todos os participantes, consumidos coletivamente em frente à casa dos homens (Souza & Drude 2006). Perderam aspectos da cultura com a redução da população, mas em 1998 voltaram a festejar um Kwarýp e em 2002 um Jawari.

A morte é vista como outro estagio de vida da pessoa, mas é considerada o efeito de um feitiço. Os mortos são enterrados na praça, depois de o corpo ser lavado, enfeitado e colocado na sua rede. Os chefes são pendurados nas suas redes em um túnel entre dois buraco, mas pessoas comuns sentados em uma cova própria. A festa do kwar’yp é uma homenagem do morto e é a despedida das almas partam para a aldeia eterna dos mortos, uma viagem que é perigosa (Souza & Drude 2006).

Cosmovisão: Os katou espíritos são responsáveis por várias doenças, e o remédio é um ritual específico pelo pajé.

Comentário:

Bibliografia:

  • DAI-AMTB 2010, ‘Relatório 2010 – Etnias Indígenas do Brasil’, Organizador: Ronaldo Lidório, Instituto Antropos instituto.antropos.com.br
  • HEMMING, John, 2003, Die If You Must – Brazilian Indians in the Twentieth Century, London: Pan Macmillan.
  • SIL 2013, Lewis, M Paul, Gary F Simons, & Charles D Fennig (eds), 2013, Ethnologue: Languages of the World, 17th edition. Dallas, Texas: SIL International. On line: www.ethnologue.com
  • SOUZA, Marcela Coelho de, Sebastian Drude,, 2006, ‘Aweti’, Povos Indígenas do Brasil, Instituto Socioambiental, São Paulo: https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Aweti