Baniwa

David J Phillips

Nome Próprio: Usam o nome da sua fratria com autodenominação como Dzauinai, Hohodene, etc. Baniwa é um nome usado por todos os povos aruak no Rio Içana.

Outros nomes: Baniua do Içana, Maniba, Baniva, Baniba, Issana, Dakenei.

População: 15.000 (Socioambiental). Brasil: Amazonas: 5.811 (Dsei/Foirn 2005), 5.460 no Brasil (1983 SIL), incluindo 4.057 Baniwa, 1.000 Hohodené, 403 Seuci; Colômbia: 7.000 (2000). Venezuela: 1.192 (1992), 433 (2002 SIL)

Localização: No Médio e Baixo Rio Içana, e nos rios Cubate, Cuiari e Aiari, Amazonas, Brasil. Em comunidades nas cidades de Barcelos, São Gabriel da Cachoeira e Santa Isabel, AM, Brasil. Também entre os rios Curipaco e Guarequena, na fronteira colombiana. Há mais de 150 assentamentos com populações entre 10 e 150 pessoas, mas em média é de 30-40. As aldeias maiores têm escolas e templos evangélicos (RM Wright: ‘Settlements’). Outra fonte conta 93 povoados, entre comunidades e sítios (Socioambiental 2000). Vivem em seis Terras Indígenas do oeste a leste são:

  • T I Alto Rio Negro: Homologada e registrada no CRI e SPU de 7.999.380ha com uma população de 26.046 (SIASI 2013) de 16 etnias.
  • T I Médio Rio Negro I: Homologada e registrada de 1.776.140ha com população: 2.480 de 11 etnias.
  • T I Balaio: Homologada etc. de 257.281ha com 350 indivíduos de nove etnias.
  • T I Baixo Rio Negro: Em identificação com três etnias, área e população ainda não definida.
  • T I Cué-Cué/Marabitanas: Declarada de 808.645ha com nove povos, população: 1.864 (GT/FUNAI 2010).
  • T I Médio Rio Negro II: Homologada etc. de 316.194ha com 1.083 indígenas de nove etnias.

Língua: Baniwa. Dialectos: Hohodené (Hohodena, Kadaupuritana), Siusy-Tapuya (Seuci, Siuci, Siusi). Alguns grupos no Rios Içana e Ayarí falam Baniwa: Hohodené, Kadaupuritana, Sucuriyu-Tapuya, Siusy-Tapuya, Irá-Tapuya, Kawá-Tapuya, Waliperedakenai (Ribeiro 1967). Também falam espanhol. Novo Testamento 1965–1985 (SIL).

História: Antigamente os povos do rio Uaupés viviam nas cabeceiras dos igarapés em malocas grandes, devido ao esvaziamento pela escravidão e as expedições de regate. Os Baniwa eram e ainda são divididos em fratrias, liderados por grande chefes, como os Hohodene do Igarapé Uaraná, afluente do rio Aiari, e os Walipere-dakenai do rio Içana. Sob a influencia da missões católicas e os comerciantes regatões, os Baniwa transferiram-se para as margens dos rio maiores, inclusive no médio rio Negro abaixo de São Gabriel da Cachoeira.

Estilo de vida:
Os Baniwa têm muita experiência de caçar, fazer roças, cultivar mandioca e frutas. A pesca é muito importante. O Rio Içana nasce como um rio de água branca, mas muda para água preta em baixo de Iauareté, e em algumas áreas faltam igapós para facilitar a criação de peixe.

Antigamente os Baniwa construíam malocas comunais de uns 20m de comprimento, 17m de largura e 7m de altura, com compartimentos para cada família nuclear. Hoje as aldeias consistem em casas individuais de dois cômodos por cada família, organizadas em redor de um espaço ou ‘praça’, ao lado do rio.

Sociedade: A sociedade se subdivide em várias fratrias exogâmicas – como os Hohodené, os Walipere-dakenai e os Dzauinai, cada uma dividindo o território dos trechos dos rios. Cada fratria é formada de quatros ou cinco clãs ou sibs patrilineares, em uma hierarquia conforme a ordem de emergir dos ‘irmãos’ ancestrais mitológicos da canoa da transformação.

Artesanato: Cestaria, raladores de mandioca, urutus e balaios.

Cosmovisão:
Os Baniwa se auto-denominam os ‘Guardas do Universo’ (R Wright 1998.65-95). Os indígenas vivos são chamados Walimanai, os antepassados são Waferinaipe que criaram o mundo de hoje. Robin Wright adverte que as cosmologias apesar de serem semelhantes variam, e não há um padrão. Os leigos interpretam os mitos de maneira diferente dos pajés.

O Cosmos consiste de diversos níveis em uma dimensão vertical: Os quatro maiores são o Outro Céu, o Outro Mundo, Este Mundo e o Lugar de nossos ossos. O sol forma o cume, mas está refletido no nível mais baixo no rio subterrâneo em baixo da terra. O entendimento dos leigos ou não-pajés segue a informação dos pajés, porém com diferenças, pois os mitos baniwa dão uma dimensão mais horizontal e incluem os outros povos em redor do seu próprio povo.

Cosmogonia:
Há vinte ou mais mitos, que descrevem como o universo tem sofrido diversas catástrofes seguidas por renovação. O primeiro desastre foi quando os seres ‘espirituais’ ou povos primordiais e super-humanos, os Duemieni, foram devorados por feras e onças ferozes que deixaram o mundo um caos. O chefe das feras jogou um osso de um cadáver no rio. Dentro do osso foram gerados Iaperikuli e seus dois irmãos; seu nome significa ‘ele – dentro do osso’. Tirados do rio, eles foram criados dentro de uma cuia por uma velhinha; eles comeram, cresceram, cantaram e aprenderam com ela. Durante suas vidas eles passaram por diversas transformações. O chefe das feras tentou matá-los diversas vezes, e quando finalmente os cercou, pôs fogo no jardim em que se encontravam. Mas eles ficaram escondidos dentro do tronco de uma árvore e escaparam do fogo. Após saírem de lá, se tornaram imortais, o ‘povo do universo’ (hekwpinai).

Iaperikuli derrotou as feras enganando-as para revelar seu ponto fraco. Ele fez descer uma noite escura, e por temor da escuridão as feras subiram em uma árvore. Esta foi derrubada por um raio e todas as feras se afogaram num dilúvio que Iaperikuli também fez surgir. Porém o chefe das feras sobreviveu, e hoje ele é o dono do veneno, representado por ipeki, o macaco noturno, que anda na aldeia à noite tentando matar com veneno. Por isso a caça é considerada uma troca: Os homens matam os animais para comer, portanto os animais tentam matar os homens com veneno.

De tudo isso saiu Iaperikuli como o criador que renova e sustenta a natureza, e controla dia, noite e o tempo. Ele forneceu dos seus donos espirituais diversos instrumentos da vida humana, como fogo, mandioca, etc. Ele faz isso com os poderes de pajé. Os mitos ensinam que o cíclico da destruição e renovação do universo pode acontecer novamente e a atuação dos pajés mantém o mundo como está.

Kuwai, filho de Iaperikuli que nasceu de Amaru, a primeira mulher, transformou o mundo pequeno primordial em o mundo do seu tamanho atual com a mesma paisagem e todos os animais. A segunda catástrofe aconteceu quando Iaperikuli matou Kuwai em uma fogueira. Kuwai, morto, ascendeu ao céu, mas as plantas venenosas e as doenças vieram das suas cinzas. O mundo encolheu para seu tamanho menor.

Depois desta catástrofe veio a renovação. Entre as cinzas de Kuwai apareceram as flautas e cornetas sacras usadas nos ritos xamanísticos. A mãe de Kuwai, Amaru, a primeira mulher e outras mulheres furtaram as flautas e trombetas e percorreram o mundo tocando os instrumentos, essa música abriu a terra até atingir seu tamanho atual. Por isso, todo lugar é sacro e associado com este começo.

Este Mundo (hekwapi): Os primeiros homens saíram dos buracos das rochas da cachoeira para habitar a terra. Os Baniwa – Hohodene habitam no centro e os outros grupos estão ao redor nas margens. Este centro do mundo é Hipana ou Uapui, a cachoeira no rio Aiary, onde as pedras têm petróglifos. Aqui Kuwai, filho de Iaperikuli, foi queimado e ascendeu ao céu, e a árvore paxiuba cresceu do seu corpo.

A ‘Queda’: Desde a queimada de Kuwai, as doenças vieram de suas cinzas também. Por isso Este Mundo é imperfeito; os pajés o chamam de ‘podre’, ‘mal’, ‘doloroso’ e até ‘envenenado’ e ‘lugar cheio de cadáveres’. O chefe dos espíritos do ar, da floresta e dos animais espalha doenças e males, pelo temor que incitam quando uma pessoa passa pela floresta. Por isso o mundo necessita ser constantemente curado ou re-criado. Os pajés são treinados para curar o mundo por se identificarem com o criador Iaperikuli e entrar no lugar dos espíritos (iaradate), pedem animais para a caça e a devolução das almas dos doentes. Outra fonte de doenças é a feitiçaria realizada por bruxos, etc. Assim os mitos ensinam como o mundo atual chegou a ser do universo primordial e como os pajés são mediadores para sustentar o mundo que conhecemos.

O Lugar de nossos ossos (Wapinakwa): Este nível do cosmos consiste de quatro camadas, chamadas pelos nomes de tipos de madeira, e caracterizado por ser horizontal em vez do vertical do Outro Mundo. Os espíritos maus de diversos tipos habitam este lugar; por exemplo, lá estão os espíritos de corpos vermelhos, que dormem pendurados de cabeça para baixo em galhos, e são descritos como os que nunca nasceram; estes provocam desastres. Os espíritos de corpos pretos são predatórios dos homens. Também há os espíritos de tinta vermelha que convidam gente para suas casas e as comem. Um rio de água doce atravessa este lugar, e são jogados dentro dele as doenças durante os ritos de curas e as canções. Os pajés procuram as almas dos doentes no rio.

O Outro Mundo (Apakwa Hekwapi) consiste de cinco níveis ou ‘quartos’ e nele habitam as aves, os espíritos auxiliares (wapira) dos pajés, que os ajudam a achar as almas perdidas dos doentes. São as filhas de Dzulíferi, o pajé primordial. Os pajés ‘se casam’ com elas, preferem os abutres e geram mais filhas-espíritos. As mais filhas que tenha, o mais poderoso seria o pajé, pois estas wapira são donos de dardos espirituais que são específicos para todo espécie de doença.

O Outro Céu (Apakwa Eenu):
Aqui estão as almas dos mortos. Os que fizeram o mal, como envenenar ou matar pessoas, andam por um caminho cercado em direção a aldeia das trevas da morte. Este caminho é atraente com flores, mas é decepcionante, e quando chegam à aldeia as almas sofrem todos os sofrimentos deste mundo. Também no Outro Céu estão as almas dos mortos bons que são purificados por passar pelo fogo ardente de resina; elas perdem sua forma corporal e saem brancas brilhantes ou ‘lavadas’. São as ‘almas-coração’ que procedem da casa em cima de Kuwai, o filho do criador, ou a casa de Iaperikuli, o criador. Lá ficam ocupadas com diversos afazeres e se esquecem da terra das suas famílias.

Para curar Este Mundo na sua viagem ao Outro Céu, os pajés passam por diversos espíritos de aves, e atravessem o fogo ardente como os outros. Os pajés entram o Céu Médio, Apakuma, o lugar de Kuwai e de Dzulferi, o pajé primordial; eles ‘morrem’ espiritualmente e se encontram com a alma-sombra de Dzuliferi. O conceito de alma-sombra é explicado como sendo a escuridão que todo homem tem, a lacuna pela qual o homem sente a necessidade da luz onipresente e onipotente do lugar de Iaperikuli, o criador. Depois disso, o pajé tem que passar pela porta perigosa do céu, ou ‘a boca do céu’ que abre e fecha constantemente como uma tesoura. Ele somente consegue passar porque Kuwai deixa cair seu cordão, na forma de uma cruz, segurando o, ele é puxado para cima por Kuwai.

Neste nível de Apakuma, no conceito vertical do cosmo, o pajé procura as almas perdidas dos doentes. Kuwai é dono de uma plantação de doenças fatais que ele envia aos homens e dardos venenosos. Os outros pajés primordiais moram lá.

Uma trilha em Apakuma vai para o nível mais alto, o cume do universo, que é ‘apontada como uma faca’. Lá existe uma aldeia linda e limpa, que contrasta totalmente com Este Mundo. É um lugar de felicidade e de luz brilhante do sol primordial, Heiri. É a habitação de Iaperikuli e a sua águia harpia (R Wright 1998.71). Esta é o irmão mais novo de Iaperikuli, morto por inimigos, vingou- se deles, e agora vê todas as coisas com uma visão onisciente. Ele deu os cristais aos pajés pelo quais eles enxergam o mundo todo.

Donos do universo:
Iaperikuli, Dzuliféri e Kuwai são os donos do universo por criá-lo e por organizar as condições da vida humana. Kuwai envia os venenos e as doenças à humanidade, mas ajuda os pajés também em curas. Dzuliféri é o velho que fuma, demonstrando o rito de cura de soprar a fumaça e chupar as doenças do corpo dos doentes; ele deu o tabaco e a piraka para visitar e conhecer o Outro Mundo e para fazer as curas. Para conseguir uma cura nem sempre é fácil, o pajé tem que negociar; uma oferta pode ser exigida, e às vezes esta não é suficiente e a cura é recusada. Sob a influência de piraka em seus pensamentos, os pajés recebem o poder dos Donos e se transformam em Iaperikuli, onça, jacaré ou boto e até criam rochas e floresta. Os Seres primordiais Iaperikuli, Kuwai, Dzuliferi e a águia Kamathawa são chamados as Onças Iaperikuli.

Pariká é considerado ‘o conhecedor do mundo’, que capacita os pajés a ‘ver’ o Outro Mundo e o Céu. Os mitos justificam isso descrevendo a árvore de Kaali que se estendeu entre a terra e o céu, e Iaperikuli cobiçou um colar de dentes de onça, símbolo dos poderes xamanísticos. Uma anta o pegou, tornando- se como uma onça, mas Iaperikuli a capturou e ela ficou mansa. Houve mais uma catástrofe quando a árvore foi derrubada, mas a renovação seguiu estabelecendo a ordem atual do mundo. Assim os pajés de hoje tem o poder de controlar a natureza, o tempo, a fertilidade das plantações, etc.

Os Mediadores: Os pajés cumprem diversos papéis:

  1. Os pajés têm o poder de mediadores entre o mundo primordial e os doentes dEste Mundo. O Outro ou Primordial Mundo é a fonte de transformação ou recriação deste mundo. Eles têm este poder devido ao conhecimento dos mitos e a cosmologia e das doenças e os seus remédios; as doenças são de quatro categorias: a. As infligidas por feiticeiros. b. As causadas por venenos. c. As causadas pelos espíritos da floresta, do ar, etc. d. As causadas por outros pajés.
  2. Uma hierarquia é reconhecida entre os pajés, conforme seu conhecimento, que determina para qual nível do Outro Mundo ele subirão; depois um tempo de a aprendizagem de seis ou oito anos morando com um mestre pajé, o discípulo paga-lhe com um presente, como uma espingarda ou máquina de costura; os que completam o curso podem entrar na casa de Dzuliféri.
  3. Os pajés são os guias dos mortos, encontrando–se com eles em Wapinakwa sobre o rio subterrâneo, a fim de avisar a alma para se despedir da sua família e subir ao Outro Mundo.
  4. São também profetas, que recebem visões do futuro e do fim do mundo dos Seres Primordiais, com presciência dos acontecimentos em outras aldeias distantes.
  5. Os pajés têm o poder de se transformar em animais poderosos, especialmente a onça. Alguns podem ser ‘como Iaperikuli, nossa salvação’, que é o dono do universo, e estes têm um título semelhante ao mestre do povo onça porque são reputados como ‘sabe tudo’. Isso é por conviver com o criador nos sonhos.
  6. O corpo do pajé é cheio de objetos virtuais, como pedaços de pedra ou madeira, ‘recebidos do céu’ que representam as doenças saindo dos doentes. São considerados guerreiros da guerra espiritual que recebem armas virtuais como dardos ou espadas para lutar. Também estão cobertos com o manto da onça ou de Kuwai e a tinta vermelha.
  7. O maracá ou bastão do pajé é um importante instrumento, e jamais se separa dele, por ele o pajé tem contato entre Este Mundo e o Outro Mundo. Tem forma de uma cabeça de uma ave com cresta de penas, o globo contém sementes e pedrinhas, é pintado com desenhos representando Kuwai e Dzuliféri, e é furado nos lados com quatro buracos, pelos quais o pajé pode ‘ver.’
  8. As curas são feitas através de visões causadas por pariká, pelas danças e por interpretação das formas das nuvens, soprando a fumaça do tabaco para a alma se concentrar no coração. Suas viagens ao Outro Mundo são para se comunicar com os Seres. Uma oferta deve ser feita a Kuwai, se esta for suficiente Kuwai se transforma na alma-sombra de Dzuliféri, e pode enviar de volta a alma do doente ou dar a doença que forma o remédio para o doente. O pajé tira objetos do corpo que representam as doenças, seja cabelo, ou pedaços de madeira, enquanto ele sacode o maracá ou bastão.
  9. Os pajés têm o poder de criar de novo, preservar ou renovar o mundo ao subir ao Outro Mundo; pela passagem do fogo sua alma fica incorporal e sem forma, plástica para absorver outras formas, como por exemplo ao se transformar em um remédio. ‘Nos seus pensamentos’ é capaz de assistir ou ‘abrir’ o ‘ponto alfa’, isso é, participar no ato primordial de criação do cosmo de Itaperikuli, e assim renovar a criação, mantendo o rodízio temporal e espacial do mundo, e por isso ser mediador a favor da humanidade. Quando os Baniwa se converteram ao Evangelicalismo e a influência dos pajés terminou, os conversos pensaram que o fim do mundo estava iminente (R Wright 1998.95).
  10. Os anciões têm a função de kalidzamai ou cantores, que cantam para proteger a comunidade da ameaça de doenças, inimigos ou ter sucesso na caça, na pesca ou nas plantações. Também cantam canções especiais para os ritos de passagem.

Comentário:
Os Baniwa têm uma cultura historicista teófana que destaca a cosmogonia; portanto, nós deveríamos começar o ensino bíblico a partir da história da criação e da queda, frisando a bondade do Criador e a rebelião dos homens.

Os Baniwa têm uma preocupação com o problema do mal natural e a renovação do mundo, mas conforme eles a fonte do mal e da cura é o próprio Criador e seu filho Kumai. A queda bíblica indica que a origem do mal é a desobediência humana na sua preferência em aceitar a autoridade da serpente, e no desejo de determinar o que é o bem e o mal por si mesmo em em vez de aceitar a instrução (tora) do Criador. O homem foi criado para dominar ou administrar a natureza, como represante ou imagem do caráter do Criador e não se orientar pelo conhecimento da natureza. Por terem dado ouvidos ao antecedente de Satanás criou-se a possibilidade de submissão as forças do cosmo em vez de tratar diretamente com o caráter do Criador. A justiça e a graça do Criador é a solução para esse problema. A alma-sombra baniwa é considerada uma lacuna do eterno; o evangelho oferece comunhão e eterna felicidade na presença do Criador.

Destruição e renovação são temas bíblicos como na Queda, no Dilúvio, no Julgamento e na renovação final da criação em novos céus e nova terra (Is. 65:17; Apoc. 21:1). Em tudo isso o homem é culpado. Deus ordena o mal como também o bem, porém o mal é a consequência da rebelião do homem e não do caráter de Deus. Deus julga conforme seu caráter que é santo e compassivo, e castiga o rebelde por falta de fidelidade a Ele como Criador. A vontade de Deus é a reconciliação com o pecador arrependido. O meio e a prova disso é a morte do seu Filho, como propiciação no lugar dos homens. Esta morte foi executada pelos próprios homens rebeldes, mas é a solução e fonte de reconciliação e comunhão com o Criador.

Alguns aspectos da mitologia podem ser uma distorção da mensagem da Bíblia, porém a Bíblia enfatiza a desobediência humana como a fonte dos problemas cósmicos. Esta desobediência consistiu de substituir a autoridade do Criador pela autoridade humana; isso é a raiz da crença indígena. O homem cria ‘deuses’ de sua própria imaginação, das coisas em que confia, admira, teme, e necessita (CHJ Wright 2006.164-171). A Bíblia defende que são de feição humana, mas como muitas invenções humanas se tornam demoníacas procurando ‘possuir’ ou habitar em pessoas (Lc 11:24-26; CHJ Wright 2006.147-160).

Em reposta defendemos que a bondade de Deus, tanto em criar o mundo ‘ tudo bom’ como pela sua providência ele sustenta o mundo e pela provisão do Salvador. Jesus é diferente de Kumai. Javé na experiência de Israel afligia com pragas como castigo por pecados explícitos e podia curar se houvesse arrependimento apropriado. Jesus sempre curava, mas também exigia arrependimento, e advertiu do juízo futuro. Como mediador, através de sua morte e sua ressurreição Ele é o ponto transformador para o universo e indivíduos, fundamental para o fim das doenças, da morte, de todas as imperfeições do mundo, e para a renovação da criação.

A aldeia linda do Criador é prometida na vida após a morte, o aperfeiçoamento da alma: na santificação; a natureza do céu: é comunhão com o Criador e seu Filho, e a ressurreição: é parte da renovação da criação. Deus se aproximou e se identificou com os homens através de seu Filho, a união com Cristo pela fé abre o caminho.

A revelação é de um Criador que se comunica em linguagem humana, interagindo com todo o mundo sem pajé ou pariká, e no contexto de uma cultura indígena e não ocidental. A transcendência de Deus não é questão de distância, um Deus remoto, mas de diferença de natureza, poder e de caráter moral. Mesmo os textos bíblicos que descrevem Deus no trono e nos céus falam que Deus está envolvido com poder nos acontecimentos da terra. A presença do Pai, Deus cuidando de nós, do Filho, Deus conosco, e do Espírito Santo, Deus comunicando em nós, elimina a dependência em especialistas ‘subindo’ para o céu a fim de buscar soluções.

Bibliografia:

  • ANDRELLO, Geraldo e Robin Wright, 2002, ‘Baniwa’, Povos Indígenas do Brasil, Instituto Socioambiental, São Paulo. pib.socioambiental.org/pt/povo/baniwa
  • CABALZAR, Alosio, 2006 (redator), Povos Indígenas do Rio Negro, uma introdução à diversidade socioambiental do noroeste da Amazônia brasileira, São Gabriel da Cachoeira, São Paulo: FIORN-ISA.
  • DAI-AMTB 2010, ‘Relatório 2010 – Etnias Indígenas do Brasil’, Organizador: Ronaldo Lidório, Instituto Antropos instituto.antropos.com.br
  • HEMMING, John, 2003, Die If You Must – Brazilian Indians in the Twentieth Century, London: Pan Macmillan.
  • SIL 2009, Lewis, M Paul (ed), Ethnologue: Languages of the World, 16th edition. Dallas, Texas: SIL International. Versão on line: www.ethnologue.com
  • WRIGHT, Robin M, 1998: Cosmos, Self and History in Baniwa Religion for those Unborn, Austin, Texas: University of Texas Press.
  • WRIGHT, Robin M 2009: ‘Settlements’ www.everyculture.com/South-America/Baniwa-Curripaco-Wakuenai-Settlements, acessado 27.03.09.
  • WRIGHT, Christopher H J, 2006: The Mission of God, Unlocking the Bible’s Grand Narrative, Leicester: IVP.