Yanomami-Sanumá – Sanima Dibi

David J. Phillips

Autodenominação: Sanima dibi, ‘os povos’.

Outros Nomes: Chirichano, Guaika, Samatali, Samatari, Sanema, Sanima, Tsanuma, Xamatari.

População: SIL:Total 6.410: Venezuela 4.610 (2000), Brasil 1.800 (2006). ISA: Total de Yanomami no Brasil : 11.700 (2000). Ramos (1995a): Total Yanomami 22.000, 10.000 no Brasil; Sanumá: 900-1.000 em 20 comunidades no Roraima e 88 comunidades na Venezuela (Ramos 1995a.21).

Localização:No Brasil: Rio Auaris, Roraima. Na Venezuela: Rios Caura and Ervato-Ventuari.

A Terra Indígena Yanomami está situada na fronteira com a Venezuela e das cabeceiras dos rios Marauía e Cauburis no oeste e o rio Demení no leste no Amazonas e o território do oeste em Roraima até a Floresta Parima no norte, e é de 9.664.975 hectares (96.650 km²). Foi homologada e registrada no CRI e SPU em maio 1992, com 20.875 Yanomami e Ye’kuana (SIASI?SESAI/ISA 2013).

Língua: Sanumá. 1,800 in Brazil (2006 D. Borgman). Uma das quatro línguas Yanomami – dialetos: Yanoma (Kohoroxitari), Cobari (Kobali, Cobariwa) Caura, Ervato-Ventuari, Auaris, Yanoma (Samatari, Samatali, Xamatari, “Kohoroxitari” A última é nome de uma aldeia que significa ‘lugar de vermes’). Quase todos são monolíngue, mas em alguns lugares 25% da população fala Maquiritare. Novo Testamento 2007 (SIL). Das quatro línguas yanomami a Sanumá é menos inteligível com as outras, Yanam, Yanomami e Yanomam (Ramos 1995.21).

História:
Antigamente os Yanomami habitava a serra Parima e se migravam para o sul no Brasil e para o norte na Venezuela, ocupando 9.500 hectares no Roraima e 10.000 no norte. Os Sanumá ficaram mais próximo à origem. A dispersão começou no princípio do século XIX depois os primeiros contatos com os brancos. Dois fatores os ajudou: Sua população aumentou grandemente depois de aprender a horticultura dos seus vizinhos Aruak para o sudoeste e os povos Carib no norte. Ao mesmo tempo estes povos sofreram mais pelos contatos com os brancos e sua populações eram decimadas e assim deixaram espácio para os Yanomami ocupar sua terras. É calculado que a língua sanumá se separou da língua original no século XIII e que o território do Yanomami era muito maior do que o atual, permitindo as diferenças entre as quatro línguas (Ramos 1995b.6).

Depois 1940 missões católica e evangélicas entrou em contato e postos do SPI eram estabelecidos. Em alguns caso estes postos serviram para atrair os índios sedentariza-se e forneceram objetos dos civilizados para troca e serviços de saúde. Introduziram epidêmicos de sarampo, gripe e coqueluche (Alberto:ISA).

Durante a tentativa falhada de construir a estrada Perimetral Norte (BR-210) de Boa Vista na direção de São Gabriel da Cachoeira,1973-76, os Yanomami sofreram epidemias de gripe e sarampo e os Sanumá perderam 22% da sua população, depois quatro comunidades no rio Catrimani em 1978 perderam 50% devido a mais uma epidemia de sarampo. Em 1980 2.000 garimpeiros invadiram o nordeste do território yanomami causando epidemias e violência. A FUNAI proibiu a entrada de pessoal médico, missionário e antropológico na área (Ramos 1995a.xv). Em 2006 garimpeiros invadiram o território yanomami na Venezuela e 10 garimpeiros foram mortos pelo exercito.

Estilo da Vida:
Os Sanumá preferem a morar na alta terra firme fora dos rios, tirando água de pequenos riachos, interrompidos com arvores caídos. O território consiste de colinas cobertas de floresta, recebendo chuva em todas as estações. Na época das chuvas os igarapés e riachos ficam cheios e com vastas áreas do mato ciliar ficam em baixo da água. Os igarapés com seus nomes formam marcadores não somente da paisagem, mas também das histórias contadas. A seca é o tempo de abundancia de caça, fazer visitas e de acampamentos familiares na mata – até beiju acabar! As aldeias e sua roças (higali) estão ligadas por trilhos ingrimes.

As comunidades consistem em média de 40 pessoas e em 1970 havia uma dúzia de aldeias no alto rio Auaris. As casas são rectangulares e não circulares como os yano do Yanomam ou os shabono dos Yanomami. Estão espalhadas sem praça central. Apesar das diferenças de arquitetura o conceito implícito dos termos para ‘casa’ é associado com a cerimonia sabonomo de tratar os mortos, igual aos demais Yanomami (Ramos 1995.35).

A armação das casas é de madeira, o telhado de palha e as paredes de lascas de paxiúba ou as vezes de pari. Cada casa pode abrigar uma ou até seis família, cada uma com sua fogueira. Só animais dormem do chão consideram os Sanumá, a redes da família estão amarradas em redor da fogueira, as mulheres situam se mais para baixo para que possem cuidar o fogo a noite (Ramos 1995.38s). Os genros fazem seu serviço da noiva (suhamo) moram com a família até o nascimento do segundo ou quarto filho, mas conforme as sogras o suhamo pode durar para toda vida, pois o trabalho do genro e a filha auxiliam a família. Uxorilocalidade é preferida em três quartos dos casos. As aldeias se mudam à procura de melhor terra para as roças e oportunidades de caça mais próximas de casa.

Para criar uma nova roça os homens derrubam as arvores no fim das chuvas em maio. As mulheres plantam. As roças estão sempre em uma ladeira, com a mandioca plantada em cima que retem menos água e as bananeiras em baixo para aproveitar a mais umidade, e batata doce e tabaco no meio. Todos os Sanumá chupam um pedaço de tabaco na boca. O algodão está plantado perto das casas. Plantas para uso médico ou de feiticeira são cultivadas. As mulheres colhem a mandioca e a levam para casa três vezes por semana.

Os Yanomami aprenderam a horticultura, faz cinco ou seis gerações, dos Maiongong, e os cestos, ralos, tipiti e peneiras também ainda procedem destes (Ramos1995.25). (Os Maiongong (na Venezuela Maquiritare e Yekuana) são de fala caribe, espalhados por mais de quarenta aldeias. No Brasil: 200 indivíduos. Na Venezuela: 1.000.) Desde então o beiju (~isha~i) tomou o lugar de importância de bananas na dieta dos Sanumá. Cada família tem dois ou três roças, pois depois de dois anos a fertilidade da roça termina e outra precisas de ser cortada no mato. Em cem anos a floresta está restaurada, mas no intervalo os Sanumá voltam para colher frutos e caçar os pequenos animais atraídos à capoeira.

Os homens caçam sozinhos durante o ano ou em grupos duranta a seca, ou famílias fazem acampamento no mato durante 15 dias ou mais. Caçam anta, queixada, tatu, macaco, cutia, aves e algumas cobras. Há uma convenção social de não ser demonstrativo sobre sucesso na caça, quando o homem chega na aldeia, como fosse uma coisa envergonhosa. Os índios falam de nagi, ‘fome de carne’, quando a caça falta (Ramos 1995b.28). Os homens são envergonhados pelas mulheres se falham em trazer caça para casa (Ramos 1996). A carne é moqueada para preservá-la. Os Sanumá nunca come a carne crua, porque cozinhar faz a diferença entre homem e animal. Cachorros são usados e bem tratados se caçam bem, porém os Sanumá não os treinam bem. A pesca é menos importante para os Sanumá, porque as cachoeiras limitam a subida de peixe. Pescam de tinguijada (Ramos 1995a.30).

As mulheres colhem das roças, preparam a comida, colhem lenha e cuidam das crianças. Os adolescentes aprendem e participam das atividades dos adultos. A tendencia é que toda atividade domestica ou pessoal é acompanhada por outros. (Ramos 1995a.213).

Artesanato: Os homens e as mulheres fazem redes de algodão e cestos.

Sociedade:
Os Sanumá só revelam os nomes pessoais com relutância, mas todo o nome é identificam pelo nome do seu sib ou clã. Os sibs são patrilineares, exogâmicos e uxorilocais. Não há preocupação com histórias de um ancestral do sib, a enfase está no grupos de parentela atual, possivelmente por causa da reserva em pronunciar os nomes pessoais dos mortos (Ramos 1995a.205). Este nome do sib é transmitido exclusivamente pelo pai e a mulher, mesmo casada, continua por toda a vida como membro do sib do seu pai e com este nome. Os Sanumá diferenciam entre si conforme o sib, como ‘meu povo’ ou ‘aqueles outros’. Cada sib se associa com um lugar de origem, com o conceito brasileiro de ‘terra’. Visitantes esperam hospedagem com aqueles do seu sib (Ramos 1995a.59ss).

Há uma tendência de certos sibs escolher suas mulheres de um ou dois determinados sibs, como um sistema incompleta de metades ou moities matrimoniais. Porque a população da aldeia é pequena, um rapaz muitas vezes tem que mudar para a aldeia da esposa, por causa da exogamia que é uxorilocal. Ele deve completar anos de serviço de noiva entre em uma família que não é do seu sib. A sogra é uma pessoa importante e temida, e parte essencial no conceito de casamento. Onde não há sogra potencial não oportunidade de casamento (Ramos 1996.7).

A estreita ligação entre os homens e a natureza começa quando a criança tem poucos dias. O pai vai à floresta para caçar um nome pessoal; ele procura um animal para dar o nome da espécie à criança (Ramos 1995a, 218,224s). Ele deve matar um animal comestível entre dez espécies, mas algumas destas são proibidas por não serem apropriadas por sua parentela (Ramos 1995a, 219). O pai toma cuidado de não tocar o animal, mas carrega o de volta embrulhado em folhas. Os pais não são permitidos comer do animal; ele é comido por parentes que pronunciam se a carne é boa ou não; e eles acreditam que a qualidade afeta à sobrevivência da criança (Ramos 1995a, 222,225). O espírito do animal entra no corpo da criança pelo cóccix (humadi) e a protege dos espíritos da selva (meini dibi) e ajudá-la crescer (Ramos 1995a, 164,219). É falta de educação revelar o nome pessoal para um alheio. É tabu porque um pajé pode usar o nome para prejudicar a pessoa.

Entre os Sanumá outros nomes podem ser dados durante a vida, e nem todos têm um nome de humadi. O nome do animal nem sempre é dado à criança, por não ser apropriado à sua parentela, e menos que a metade recebem o espírito do humadi, recebe o nome do animal. O espírito fica com a pessoa para sempre em toda a vida, mas o nome pode ser abandonado. O primogênito e outros filhos podem receber o espírito de humadi, como representando e protegendo toda a família (Ramos 1995a. 219-221, 226). O ritual estabelece a criança e os pais na sua sociedade e o pai é declarado o pai legitimo. Este processo representa o ideal. O espírito de humadi talvez seja um passo de humanizar o novo ser e também ser estabelecido com o mundo dos espíritos e dos animais (Ramos 1995a. 225). Assim começa a ter seu papel no processo reprodutivo do universo.

Todo o mundo pode participar em discussões, mas por meio do sib. Os líderes são os velhos com sabedoria (pada dibi) e devem ser bons pajés, mas o chefe da aldeia (kaikana) que nem sempre é pada. As velhas podem ser respeitadas como pada (Ramos 1996.4). O último deve ter habilidade retorica e poder de argumento. Os Sanumá têm o costume que quando visitantes de longo entram a aldeia os homens, em pares, começam uma batalha ou duelo de palavras envolvendo ameaças e promessas de paz. Os chefes devem ser superior nestes encontros (Ramos 1995a.112s). O duelo ou dialogo é ritualizado mas cria oportunidades de de trocar noticias importantes ou fechar negociões ou promessas de comércio. Todo isso é ajudado pelas sugestões da torcida das mulheres, que o homem finge de não ouvir, mas realmente tem influencia na conclusões deste diálogos cerimoniais (Ramos 1996.4).

Religião:
Os Sunumá crêem que estão integrados com a preservação do universo, que funciona de uma maneira circular, mas ao mesmo tempo avança com as gerações humanas (Ramos 1995a, 154). Saula-dulia é a casa dos espíritos, dos mortos e os espíritos humanos que vão nascer. É o ponto referencial e estável no meio das mudanças da vida, o contato com os antepassados e as origens. Os Sanumá não acreditam em reencarnação; este lugar fornece constantemente os espíritos das gerações novas para preservar a ordem do mundo. Este lugar está na região do Rio Ocamo na Venezuela no sul, o ponto de partida da migração do Sanumá.

Todo o Sanumá tem também um animal de sombra (noneshi) ou totem individual, associado com a sombra do corpo. Acredita-se que um individuo de uma espécie de animal que vive muito longe dele tem um nascimento, crescimento, isso é, tem uma vida e morte paralelas e sincronizadas com a vida do índio. Normalmente os homens têm um noneshi de uma ave grande e as mulheres de um animal terrestre (Ramos 1995a.165-5). Estes dois, o Sanumá e seu noneshi são comprometidos com o mesmo destino. Quando o índio sofre ou morre, eles acreditam que o animal foi atacado e morto também.

Durante os estágios de vida de procriação e de puberdade do adolescente até os filhos do casal são crescidos e independentes, os Sanumá devem observar certos tabus de não comer definidos animais, associados com cada estágio da vida. Se o tabu não estiver observado o espírito do animal (uko dibi), ou até o espírito de partes do corpo do animal, pode vingar se do índio. Os pajés mandam seus espíritos auxiliares contra o espírito do animal. Sendo o espírito de um animal pode perder sua existência. Os outros espíritos de animais vão para habitar partes da floresta que são a terra da sua espécie (Ramos 1995a, 170).

O conhecimento da condição dos mortos é vago, mas aparentemente são felizes e têm muita comida lá (Ramos 1995a, 169). Saula-dulia é o ponto referencial da cosmovisão, a origem dos novos homens e o depósito dos mortos que são cônscios e podem voltar para ajudar os vivos pelos pajés. As almas imateriais dos mortos (ni pole bi dibi) podem ser relutantes em entrar, e podem assombrar os vivos e até os tentar morrer também. Eles podem ser ‘vistos’ pelos pajés. Os Sanumá praticam como todos os Yanomami a cerimônia de sabonomo, quando a família comer as cinzas do falecido em um mingau de banana.

Os pajés passam por uma dolorosa preparação, usam o pó alucinógeno yãkõana, feito da resina da casca da árvore Virola, para enxergar os espíritos xapiripë. Estes são os espíritos de todos os animais e plantas, da paisagem e da lua e do trovão, etc. e são vistos com homenzinhos com enfeites brilhantes semelhantes aos usado pelos índios (Albert ISA). Todo aspecto do meio ambiente tem o potencial de causar falta de alimento ou doença e até a morte. Todo contratempo é causado por alguém ou um poder personalizado. A preocupação das cerimônias dos pajés é descobrir o porquê do sofrimento, considerado ser o ato de um espírito ou pajé, etc. Os rituais descobrem a fonte causadora do problema, e beneficiam a sua comunidade ou o individuo sofredor, porém só por fazer um mal contra a fonte danificadora. Os poderes podem ser considerado em guerra, e a proteção desejada é ter poder pelos rituais. O uso deste poder é quase sempre para causar o mal e sofrimento a alguém.

Cosmovisão:
Os Sanumá crêem que no princípio os homens e os animais viviam juntos, ambos imortais e ambos tinham corpos de forma humana. Todos os Sanumá moravam juntos em uma grande casa redonda com um pátio central, semelhante ao shabono do Yanomami. Era sempre dia e os homens não podiam dormir. Então por uma ‘metamorfose’ os antepassados criaram dia e noite, e os Sanumá dispersaram e separaram no alto Rio Auaris, devido aos ataques de outros povos. Os nomes dos sibs recordam os lugares onde moravam durante a migração. Assim o espaço ou a locação geográfica torna-se uma dimensão temporal da história (Ramos 1995, 171).

Devido aos seus atos antissociais os animais perderam a sua imortalidade e a forma humana e agora estão caçados e comidos pelos homens (Ramos 1995, 169). Os Sanumá consideram que os espíritos dos animais mortos vão para ‘casas’ conforme sua espécie, situadas em certos lugares na floresta, onde eles recuperam sua corporalidade em forma humana pequena e sua indestrutibilidade, e desta forma podem viver entre os homens de novo (Ramos 1995, 170).

No princípio os homens perderam sua imortalidade também. Saula-dulia é um depósito dos espíritos humanos que garantem a continuidade da história e círculo de vida dos Sanumá (Ramos 1995, 172). Os espíritos têm a oportunidade de ser espíritos auxiliadores (hekula dibi) dos pajés, e recebem um tipo de corporalidade por residir no peito do pajé.

Comentário: A Missão Evangélica de Amazônia serviu os Sanumá por muitos anos.

O conceito da imortalidade, perdida e ganha de novo, pode ser um ponto de contato com a cosmovisão. A palingenesia da criação é uma doutrina bíblica (Is 9:7; 11:6s; 65:17s; Rm 8:20-22; Mt 19:28; Atos 3:21; Apoc 21:1ss) formando um paraíso terrestre como o alvo do Criador. O homem não supera seu destino original de ser imago Dei, represente de Deus no meio da criação; a salvação é por isso, conhecer Deus e assim a glória de Deus encherá a terra pela ressurreição, provido de um corpo novo o domínio do Espirito Santo (1 Cor 15:44, veja 3:1,16). A permanência dos animais por especies é provável, como C S Lewis sugeriu, para completar uma criação redimida.

Bibliografia: