Barasano do Norte – Hanera

David J Phillips

Autodenominação: Hanera, também se denominam: jebá – baca que significa ‘povo da onça, Jebá’, esta sendo seu herói ancestral.

Outros Nomes: Barasana (Equipe 2002), Bará, Pokanga, Hanera, Bará-Tukano.

População: 1.000, Brasil: 61; Colômbia: 939 (DAI/AMTB 2010), 600 in Colômbia (SIL1995), crescendo 100 in Brasil (1998). 1.890 (SIL 2001).

Localização: Amazonas, Brasil, e a Colômbia.

  • Na Colômbia: Vivem nos igarapés Tatu, Komeya, Colorado e Lobo, afluentes do Pira-Paraná, e no próprio Pira-Paraná, no alto Papuri em Mitú na Comiseria de Vaupés.
  • No Brasil: Encontram-se dispersos na bacia do rio Uaupés e no Tiquié (Equipe 2002).
  • T I Alto Rio Negro, AM, de 7.999.380ha homologada e registrada no CRI e SPU com 16 etnias, população total 26.046 (SIASI 2013).

Língua: Barasana-Eduria (SIL) e chamado no Brasil Waimaha. O povo considera Barasana e Eduria línguas e etnias separadas e que podem se casar entre os falantes (SIL). Talvez Jepa Matsi no Brasil seja um dialeto (SIL). Usado por todos e por todo aspecto da vida, com uma atitude positiva. 40-50% falam também espanhol e é usado nas escolas. Alfabetismo nas duas línguas 25%, porém SIL dá 1- 5%. Todos falam também pelo menos duas dos seguintes: Tukano, Tatuyo, Tuyuca, Yuruti, Macuna ou Carapana. Falam a Língua Geral. Têm o costume de escrever cartas entre as comunidades. Barasana (Barasano do Suk, Comematsa, Janera, Paneroa, Yebamasa), Eduria (Edulia, Taiwano) são dialetos. Existem um dicionário e uma gramática. Porções Bíblicas eram traduzidas entre 1975-1994. A tradução do Novo Testamento foi completo em 2001 (SIL).

História: Os Barasano formam uma parte integral dos povos Tucano, que trocam espocas e outros bens, mas são distintos por ter línguas e costumes diferentes. Conforme os mitos migraram rio acima travessando Brasil até chegar nos rios Negro e Uaupés. Os povos Tukano fugiram dos portugueses para o alto rios Negro e Uaupés, temendo pela escravidão e pelas epidemias, e que eram mais que os contatos do lado colombiano.

Entretanto no fim do século XIX chegaram os franciscanos que pelos seus métodos missionários tentaram destruir a cultura indígena. Esta ameaça provocou movimentos messiânicos e ‘profetas’ para enfatizar a identidade étnica e até a superioridade do índio sobre o branco. Estas seitas misturaram elementos indígenas com o catolicismo popular. Depois no século vinte veio a regime dos internatos dos Salesianos no lado brasileiro da fronteira, pela qual as crianças eram tiradas das aldeias e ensinados em português e proibidas usar suas próprias línguas. Durante este tempo era a época da borracha, com a saída de muitos homens para trabalhar com os seringueiros. Os padres queimaram as malocas e forçaram os índio morar em vilas de casas de construção regional e em famílias nucleares.

Os padres conseguiram limitar a exploração dos comerciantes regatões que subiram os rios desde do século XIX. Hoje em dia a maloca é substituída pelo centro comunitário e as festas incluem danças pelo forró e a cachaça, que resulta em brigas e embriaguez. Na Colômbia os padres Javerianos adotaram a Teologia da Libertação na década 50 e deixaram a religião tradicional ser praticada (Equipe 2002).

Estilo da Vida:
O território é coberto de floresta da terra firme, mas a caça e peixe são limitados. O tempo da chuva é setembro a dezembro, e março a agosto. A estação da seca é de dezembro a março. Os rios são perigosos por ter muitas cachoeiras. Os Barasano se sustentam pela horticultura cultivada em roçados na floresta. A cultura é baseada na cultivação da mandioca brava e a preparação de beiju. Plantam também milho, batata doce, abacaxi, cana, bana e banana da terra. Coca e babaço estão cultivados para usar no ritual. Colhem frutos da floresta. A pesca é importante, usando tinguijada, os homens preparam o timbó e as mulheres colhem os peixe.

A caça de queixada, caititu, paca, aves e macaco barrigudo é a ocupação dos homens, antigamente usava o zarabatana e hoje mais a espingarda. Os Barasana procuram a cera da abelha mais que o mel (Hugh-Jones 1979.29-63, 163). Ao contrário da maioria dos povos indígenas os Barasano não gostam muito de mel, mas a cera de abelha é valorizada para o ritual. Coca e tabaco são cultivados para os cerimonias. Preparam yagé a bebida alucinógena do ‘cipó da alma’ (Banisteriopsis).

Artesanato: Fabricam canoas, bancos, cestos e potes.

Sociedade:
Os Barasana são do grupo de povos Tukano orientais que consiste de: Tukano, Tuyuka, Wanano, Bará, Pira-Tupuya e Mirití-Tupuya, Arapaso, Karapanã, Tatuyo, Yurutí, Taiwano, Desana, Kubeo, Makuna, Siriano, e Yurutí. Hugh-Jones inclue também Letuana, Pisá-mira, e Tanimuka (Goldman 2004.406). Eles usam Tukano como língua franca e praticam uma exogamia linguística e virilocal e assim têm uma unidade regional, mas mantêm suas identidades étnicas por suas distintas tradições religiosas praticadas pelos homens. Apesar da exogamia as línguas ainda estão incompreensivas. Porém os Kubeo e os Makuna são a excepção em praticarem endogamia linguística. A preocupação de cumprir a exogamia é obsessiva, como a regra social mais importante conforme Reichel-Dolmstoff (1996).

Há 36 subdivisões entre os Barasana (Cabalzar 2006.45) com sete fratrias exogâmicas que são divididas em sibs ou clãs. Os Barasana têm cinco sibs ou clãs conforme os irmãos ancestrais do Yebi Meni ou Povo Anaconda: 1. Koamona, ou kumua Chefes de cerimonias, 2. Rasegana, cantores, 3. Meni Masa, guerreiros, 4. Daria, pajés e 5. Wabea, ascendedores de cigarros. Os sexes eram divididos, usando as portas diferentes das malocas.

Religião:
Todos os seres vivos têm um estilo de vida semelhante aos homens e uma sociedade organizada apropriada da sua especie. Mas cada especie encara os humanos como tivessem o mesmo caráter da sua daquela especie. As onças veem os homens como fossem onças, etc. Todos os povos são como especies diferentes. Entretanto no nível espiritual nas cerimonias dos rituais, e pelas visões sob a influencia do caapí ou yagé, todos os animais e os homens são considerados iguais e para os homens matar e comer os animais é considerado como matar e comer gente. Os homens usam yagé, uma bebida alucinógena preparada do cipó (Banisteriópsis). Os espíritos dos animais maiores são mais perigosos e têm ressentimento do nascimento de humanos e os bebes devem ser protegidos deste espíritos. A carne da caça tem armas invisíveis para se defender e o pajé deve fazer encantações para a desarmar antes que ela pode ser consumida (Equipe 2002).

As festas caxiris (festas de cerveja) são encontros sociais quando os vizinhos são convidados para dançar e beber caxiri para agradecer uma ajuda em brocar uma roça nova ou construir uma casa, ou na ocasião de dar o nome a uma criança ou um casamento, etc. Dançam em redor do cocho cheio de caxiri a noite toda e toda a bebida deve ser consumida antes que os convidados voltam para suas casas.

As festas dabukuris celebram os laços entre a família e o clã exogâmico pelos matrimônio. Dádivas são dadas pelo cunhado ou o sogro para o marido.

O ritual de Yurupari envolve a cosmovisão indígena, e tem a finalidade de confirmar a integração do grupo com as forças da criação pela ligação dos homens com os ancestrais. Envolve as flautas e trombetas sagrados, o Yurupari, e quando estão tocados o ancestral volta à vida terrestre para participar da festa. A cerimonia restabelece a situação mítica do começo do mundo e da origem do clã. Celebra também a complementaridade sexual do homem e da mulher. Os instrumentos Yurupari são usados também na iniciação dos meninos.

Pajés: Há uma distinção entre o yaî (pajé) ou ‘onça’ e o kumû (benzedeiro) que atuam em esferas diferentes (Hugh-Jones 1996). Os yaî realizam curas e tratam as relações com o Mestre de Animais para facilitar a caça e influenciar por bem ou mal pessoas de fora, seja amigos ou inimigos. Quase não existe mais este tipo de pajé na região devido a influencia do Cristianismo. O kumû é mediador entre este mundo e o mundo invisível da cosmovisão mitológica. Sua capacidade é baseada em contar os mitos de memoria e demonstrar as conexões entre os seres invisíveis e as doenças ou as feitiços do inimigos. Também é como sacerdote em dirigir as cerimonias. Cada maloca tinha seu kumû, hoje em dia muitos homens em famílias nucleares se dedicam a entender os mitos para praticar este papel entre seus parentes (Laşmar 2005.231ss).

Cosmovisão:
O Barasana contam a estória da criação: Whippoorwill caiu do céu para baixo no escuridão silencioso primordial, e em terror gritou ‘Quem sou eu?’ Do escuridão respondeu uma voz, ‘Tu es homem’. Ele respondeu, ‘Quem es tu?’ A voz respondeu, ‘Sou mulher.’ Assim crêem que mulher existia sempre como parte da terra eterna. A maioria dos mitos falam da rocha na cachoeira Ipanoré, no rio Uaupés em cima da foz do Tiquié, como o lugar da chegada do homem na terra (Rechel-Dolmatoff 1996.28)

A criação da terra começa com a terra seca e infértil. Romi Kumi, quem é a mãe de todos os seres vivos, colocou um jurau grande em cima da montanhas que agora forma o céu. Dentro do céu ela abriu a Porta da Água que deixou água cair na terra e assim ela criou todas as criaturas. Ela tinha um cabaço especial que os Barasana cobiçavam; eles corregeram atrás dela e afinal a acharam no leste. Ela rendeu lhes o cabaço, porém o povo descobriu não era aquele que queria. Ficaram zangado com ela e planejaram matá-la. Mas ela rendeu lhes o cabaço certo e escapuliu pela Porta da Água para o céu e tornou-se as Plêiades. As Plêiades são um aglomerado de sete estrelas na constelação do Touro, conhecido na Bíblia com Sete-estrelo (Jó 9:9; 38:39; Amós 5:8) que é importante em muitas culturas, inclusive a do Barasana. Este mito etiológico explica o cabaço cheio de cera de abelha usado nas cerimonias, que simboliza Romi Kumu e a cera a constelação. É usado na iniciação dos rapazes (Hugh-Jones 1979.293ss).

Outro mito conta do herói Opossum, que foi morto por um homem que tinha raptado sua mulher; sua morte causou as chuvas começar na terra, a origem da estação de chuva (Hugh-Jones 1979.66).

Comentário:
O relacionamento dos homens (inclusive as mulheres Gên 1:27) para com os animais é descrito como sendo a imagem de Deus e ‘dominem sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu e sobre todos os animais que se movem pela terra’ (Gên 1:28). Esta ordem seria encorajador para o homem primitivo sem armas e a tecnologia. Como o papel de ‘dominar’ deve ser entendido, está no contexto. Deus trouxe todos os animais ao homem, e o homem deu nomes a todas as criatura, e classificando as conforme a sua natureza, reconhecendo sua responsabilidade (Gên 2:19). Porém uma companheira para cumprir a tarefa (Gên 2:18) deve ser igualmente a imagem (Gên 1:27; 2:23) e sujeito à obediência a palavra de Deus (Gên 2:17; 3:2).

A serpente é apresentado como o ‘mais astuto’ e provocou dúvidas sobre a bondade de Deus. A responsabilidade do homem e a mulher é ‘dominar’ pela palavra de Deus e rejeitar a dúvida. Não era para os animais liderar ou instruir a humanidade. Antes, a vontade do Criador para os animais seria cumprido pelo homem ser a imagem ou representação de Deus para como os animais, por obedecer a palavra do Senhor. Em vez disso, o homem aceita o conselho da natureza para fazer como ele quiser com ela, e desde do princípio tem abusado sua posição (Gên 3:15a).

A conservação dos animais é demonstrada na história da arca de Noé e o fato que a carne era consumida nas ocasiões de sacrifícios. Os animais não deve ser preservados para a gerações futuras da humanidade apreciar, mas cada especie tem o seu direito próprio para existir e viver conforme sua criação original (Gên 1:20-22, 24-25), e Deus mantem seu relacionamento com todos deles. O domínio de Deus é estabelecido de novo como um Descendente da mulher, chamada a Palavra (Jo 1:1) feriria a cabeça da serpente e toda como ela, inclusive Satanás (Gên 3:15b).

Bibliografia:

  • CABALZAR, Alosio, 2006, (redator) Povos Indígenas do Rio Negro, uma introdução à diversidade socioambiental do noroeste da Amazônia brasileira, São Gabriel da Cachoeira, São Paulo: FIORN-ISA.
  • DAI-AMTB 2010, ‘Relatório 2010 – Etnias Indígenas do Brasil’, Organizador: Ronaldo Lidório, Instituto Antropos instituto.antropos.com.br
  • EQUIPE 2002, Equipe do Programa Rio Negro do Instituto Socioambiental (ISA), ‘Barasana’, Povos Indígenas do Brasil, Instituto Socioambiental, São Paulo pib.socioambiental.org/pt/povo/barasana
  • HUGH-JONES, Stephen ‘Etnias do Rio Uaupés’ pib.socioambiental.org/pt
  • HUGH-JONES, Stephen, 1979 The Palm and the Pleiades, Cambridge: CUP.
  • HUGH-JONES, Stephen, 1996, ‘Shamans, prophets, priests and pasots’ in Shamanism, History and the State, Thomas H Humphrey, ed, Michigan: University of Michigan Press, page 32-75.
  • REICHEL-DOLMATOFF, Gerardo, 1996, The Forest Within – the World View of the Tukano Amazonian Indians, Totnes, Inglaterra: Themis Books.
  • SIL 2009: Lewis, M Paul (ed), 2009. Ethnologue: Languages of the World, 16th edition. Dallas, Texas: SIL International. www.ethnologue.com