Yawanawá

David J. Phillips

Autodenominação: Yawanawá, ‘o povo da queixada’ (Yawanawá 2006.11). Chamam-se Yaminahua no Peru e na Bolívia. O nome é muitas vezes traduzido ‘gente do machado’ (Sáez 1998). Eles aceitam este nome, mas explicam seus nomes verdadeiros ser também: Xixinawá (povo do quati branco), Bashonawá (gente da mucura), Marinawá (povo do cutia) etc.

Entre os Yaminawa (T. I. Cabeceira do Rio Acre) vive um subgrupo chamado Yawanawa, porém os Yawanawá do rio Gregório não reconhece este grupo (Naveira 1999).

Outros Nomes: Yawanawa, Iauanauá. Yuminahua, Yabinahua, Yambinahua (Sáez 1998), Yawavo, Jawanaua, Yawanaua ou Iawanawa (Naveira 1999).

População: 519 (DAI/AMTB 2010). 630 no Brasil, total conforme a FUNASA: 1.298 (2010). População dos Yawanawá do rio Gregório: 636 em cinco comunidades que incluem outras etnias (Yawanawá 2006.13). Os Yaminawá contavam no Peru com uma população de 324 pessoas, segundo o censo de 1993. Na Bolívia eram 630 indivíduos em 1997.

Localização: T. I. Rio Gregório, no município de Taraucá, Acre, com 187.400 ha. Demarcada em 1984 e declarada. População: 494 de Katukina e Yawanawá, mas veja em baixo, 25 km ao sul da BR-364. Vivem nas aldeias Tibúrcio, Escondido, Mutum, Nova Esperança e Matrinxã. (Yawanawá 2006).

Língua: Yawanawá ou Wawanawa. É da família linguística Pano (28 línguas), do grupo sul-central com Poyanáwa (403 pop), Tuxnáwa, Xipináwa no Brasil e duas no Peru: Sharanahua e Yaminahua (SIL). Inteligível ao outros do rio Purus como os Sharanahua (Marinawá). O português é dominante nas aldeias e a língua Yawanawá é falada somente pelos velhos (Vinnya 2006.8). Mas Naveira diz que todos os adultos são bilíngues e as crianças são dividas entre bilíngues e as outras que entendem as duas línguas mas preferem falar só uma (Naveira 1999). Participaram nos projetos de ensino da Comissão Pró-Índio do Acre, mas o prestígio da edução é baixo (Sáez 1998).

História: Os Yawanawá do rio Acre viviam no começo da sua história em duas aldeias, no rio Moa, afluente do rio Iaco e entre os rios Iaco e Tahuamanu. Depois mudaram-se para as cabeceiras do rio Chandless (Sáez 1998). No Peru viviam no rio Shambuyacu.

Primeiro contato com os brancos era no princípio do século XX com os caucheiros peruanos que mataram muitos índios. Entre os peruanos era um patrão chamado Baxico, cujos capangas mataram os índios. Ele foi assassinado por seu próprio guarda costa e os índios perseguiram os peruanos (Vinnya 2006.21). Ângelo Ferreira, um seringalista brasileiro, persuadiu os índios trabalhar com ele, e adotou um menino Yawanawá que depois tornou-se chefe do povo.

Hoje os Yawanawá do rio Gregório vivem nas cabeceiras daquele rio, um dos maiores afluentes na margem direita do rio Juruá, no Estado do Acre, com um comprimento de 350 km, a metade no Estado de Amazonas. Mudaram-se para as cabeceiras entre o Igarapé Palharal e rios Tarauacá e Riozinho da Liberdade. Eram desconhecidos à sociedade nacional até 1984 e confundidos com os Katukina, que vivem também na Terra Indígena. Os Yawanawá vivem com as famílias Iskunawa e Ushunawa.

Com a vinda do patrões seringalistas Abel Pinheiro e Antônio Carioca, os Yawanawá tiveram mais contato com outros povos indígenas. Eles encontraram com os Katukina (Kãmãnawa) que vieram do vale do Javari e os Arara Shanenawa (Shawãdawa) dos rios Tejo e Bajé, e também os Kaxinawá do rio Tarauacá. Tiveram boas relações com estes e houve casamentos entre eles.

Os seringalistas dividiram os índios e diversos grupos dos Yawanawá se separaram dos outros. No anos 70 os seringais eram vendidas para a empresa Paranacre, que os índios dizem os escravizou e apoiamentos dos indígenas apareceram no jornal Varadouro de Rio Branco de agosto 1981 (Vinnya 2006.32). Em 1968 cem Yaminawá se estabeleceram no seringal Petrópolis, onde sofreram exploração econômica, alcoolismo, desorganização social e prostituição. O estabelecimento do Posto da FUNAI em 1975 quebrou o dependência do seringal.

Nos anos 80, jovens educados na cidade eram conscientes dos direitos dos índios promoveram a demarcação da Terra Indígena Rio Gregório. Com o apoio do CIMI e da FUNAI a empresa saiu e ao mesmo tempo alguns lídres foram à Brasília para reivindicar a Terra. Os Yawanawá receberam assistência médica de missionários norte-americanos da MNTB, mas queixaram que estes não se importavam pela questão de direitos: ‘Fala muito do deus branco deles, mas sobre a nossa terra eles não ajuda não. . . roubar o nosso espírito’. Mas os missionários também abriram uma escola para os meninos que ajudou preparar os jovens para falar português e se empenhar na luta de direitos. Na década 80 o povo participaram nas assembleias da Comissão Pró-Índio do Acre e criaram uma cooperativa para comerciar a seringa por conta própria. A T. I. do Rio Gregório foi demarcada em 1984 pela FUNAI. As limites da T. I. do Rio Gregório eram revisadas em 2003 (Yawanawá 2006.14).

Estilo da Vida: Antigamenteas malocas (shunu) eram circulares, construídas de varas fixadas no chão e curvadas até amarradas juntas em cima, cobertas de palha e de 20 m. de altura. O assoalho era o chão. As casas atuais dos Yawanawá são construídas de madeira serrada com telhados de alumínio de Brasilit (Yawanawá 2006.117). A assistência médica diminuiu a malária, pneumonia e sarampo e em 1992 os índios se mudaram para a nova aldeia de Nova Esperança.

Os Yaminawá praticam a agricultura quase monopolizada pela macaxeira e a banana. Também caçam e pescam, mas a última é péssima por muito do ano. Os salários e as aposentarias são usados como crédito com comerciantes na cidade de Assis Brasil. A venda de peixe, banana, etc. pagam pelas viagens e estadias na cidade. Alguns criam gado e porcos ou plantam arroz (Saez 1998).

Para plantar escolham uma área do solo bom por furar a terra e uma área que não é muito plano porque o fogo da coivara não ‘corre’ bem. O solo mais arenoso é mais fácil cavar e é boa para a batata, mas a farinha é plantada em terra mais dura. Depois marcaram os limites do roçado com uma trilha de três metros de largura. As mulheres tinham o costume de assistir a derrubada para ver quais dos homens eram bons de machado para se casar como eles. Elas ascenderam o fogo da coivara e coletaram cogumelos dos paus. Acreditaram que uma mulher gestante fazia o fogo queimar melhor. Mas este costumes são descontinuados (Yawanawá 2006.57-58).

A roça é plantada depois a primeira chuva, o algodão se planta enquanto o solo ainda é quente. Plantam ‘roça para comer'(mandioca), cana, urucum (‘para nós é como a roupa’), xiri, cará, inhame, ananá, abacaxi, batata doce, feijão, tabaco, quatro especies de banana e mamão. Caiçuma é uma bebida feita de macaxeira (Yawanawá 2006.59-63). Eles observam tabus sobre diversas carnes e frutas (Yawanawá 2006.81-83).

O chefe (shãnãïhu) organiza as caçadas com todos os homens da aldeia. Há tabus de comer a carne da caça entre os Yawanawa e os Katukina. A carne do macaco e sauim podem dar a loucura, e outras carnes como dos gatos são imundas. As carnes prediletas são da anta, do veado e do porquinho. A caçada pode durar cinco dias e a época melhor é no tempo das chuvas, novembro a maio. Os caçadores e suas famílias preparam alimentos suficientes para que possam passar os dias dentro da mata. Os principais alimentos levados são a banana madura e verde, milho, macaxeira, farinha e batata doce. Diversas folhas são usadas no corpo do caçador para ter sucesso na caçada (Yawanawá 2006.83, 88, 98-100). O verão quando as águas estão baixas nos lagos o chefe da aldeia chama os homens para pescar e usam canoas, arco e flecha e zagaias.

Moram algumas famílias Yawanawá nas cidades de Tarauacá, Cruzeiro do Sul, Feijó e Rio Branco. Tarauacá é o ponto para comprar mercadorias, receber assistência médica e tratar seu direitos, receber aposentadoria, votar, etc. Mas a viagem para a cidade é difícil pelo rio na estação da seca ou pela estrada na época das chuvas. O escritório da Organização dos Agricultores Extrativistas Yawanawá (OAEYRG) fica na cidade.

Sociedade: Os Yawanawá do rio Gregório vivem nas cinco aldeias de Nova Esperança, Escondido, Mutum, Tibúrcio e Matrinxã. Estas comunidades incluem famílias Arara, Iskunawa (povo do japó), Katukina (Kãmãnawa gente da onça), Kaxinawá (povo do morcego), Rununawa (povo da cobra), Shanenawa (povo do pássaro azul) e Ushunawa (gente branca). A língua mais falada é o português, exceto nas comunidades de Tibúrico e escondido dentro as famílias Katukina e Yawanawá são faladas. Nos anos 90 do século passado os Yaminawá têm intensificado sua mudança para as cidades, principalmente Rio Branco montando acampamentos no centro ou em baixo das pontes, com consequências sérias para a saúde de desnutrição, alcoolismo e outros vícios.

Depois dez anos o rapaz não come doce porque ‘não fica bom para matar caça.’ Também as moças as dez anos não comem certos alimentos ‘para não ficar gravida antes da idade’ (Yawanawá 2006.64). Quando um rapaz quer se casar ele acompanha e trabalha para um casal com a esposa gravida, na expectativa que o nenê seja feminina. Às vezes o marido de uma mulher gravida chama seu sobrinhos, na expectativa que o bebe seja moça. O trabalho é ajudar em carregar lenha, caçar, pescar e até fazer a casa. Depois o nascimento ele deve carregar a menina, a futura esposa, e dormir com ela quando ela tem três anos. O casamento é depois a menina tem nove anos. O ideal é entre primos cruzados. O chefe da aldeia serve como intermediário entre as famílias e quando tiver conflitos (Yawanawá 2006.114).

Artesanato: Fazem cerâmicas, misturando o barro com as cinzas da casca de uma árvore. Como dizem ‘Enquanto a roça cresce se faz cerâmica.’ Acreditavam que o sexo e beber água durante a fabricação causam a cerâmica não sair bem. Fazem redes de algodão, esteiras, peneiras com desenhos tradicionais. Acreditam que o algodão tenha o poder de chorar quando uma morte é imanente. O espírito do morto se transfere para o algodão (Yawanawá 2006.63,65).

Religião: Enquanto cada queimadura é feita o caçador imita o som da voz do veado, do porco do mato, etc. Acreditam que o leite proteja de muitas doenças (Yawanawá 2006.93). Acreditam que o rapaz com mais de dez anos não deve comer doce porque prejudica sua habilidade de caçar (Yawanawá 2006.64).

O xupa ou cipó dá sabedoria aos pajés por eles chupar um mingau fervida das folhas e eles ficarem em transe. É cultivado nas roças com outras plantas medicinais (Yawanawá 2006.68). Todos os Yawanawá podem plantar o cipó para o pajé tratar o doente, e entrar em transe ou a miração. Deve plantar também saco, um tipo de batata que mastigada em uma pasta pode tirar a dor ou mudar a miração. A roça do pajé só pode entrar com a permissão dele, ou pode pegar uma alergia. Hoje em dia o pajé pratica a cura pelo canto de cura e a reza de shuãnka sobre um pote de caiçuma de mandioca que depois o doente bebe.

Cosmovisão: Contam a história do povo Iri, povo de milagres que morava muito longe deles, mas ouviam as suas vozes, falava a mesma língua. Os Yawanawá abriram uma trilha na direção e depois muito tempo chegaram na aldeia deles. Os Iri ensinaram como fazer plantio, machado e fogo e foram embora levando ‘tudo’. Agora os Yawanawá moram em um lugar que tem pouco. (Yawanawá 2006. 54-55).

Comentário:

Bibliografia:

  • DAI/AMTB 2010, ‘Relatório 2010-Etnia Indígenas do Brasil’, Organizador: Ronaldo Lidório, Instituto Antropos –instituto.antropos.com.br.
  • HEMMING, John, 1987, Amazon Frontier-The Defeat of the Brazilian Indians, London: Pan Macmillan.
  • NAVEIRA, Miguel Carid, 1999, ‘Yawanawá’, Povos Indígenas do Brasil, Instituto Socioambiental, São Paulo. pib.socioambiental.org/pt/povo/yawanawa.
  • SIL 2013, Lewis, M. Paul, Gary F. Simons, and Charles D. Fennig (eds.). 2013. Ethnologue: Languages of the World, Seventeenth edition. Dallas, Texas: SIL International. Online version: www.ethnologue.com.
  • YAWANAWÁ, Aldaíso Luís Vinnya, et al, 2006, Costumes e Tradições do Povo Yawanawá, Organização dos Professores Indígenas do Acre, Comissão Pró-Indio do Acre, Brasília: MEC/SECAD/DEDC, www.cpiacre.org.br/pdfs/projeto_yawa_visualizacao.pdf.