Siriano — Siria-Masã

David J. Phillips

Autodenominação: Siria-masã

Outros Nomes: Surirá, Suriana, Siria-Masã (DAI/AMTB 2010). Selea, Sürá, Chiranga, Cirnga, Si-ra, Sura Masa (SIL).

População: Brasil:71, Colômbia: 665 (DAI/AMTB 2010 e DSEI/FOIRN 2005). Colômbia: 200, população étnica: 750 (SIL 2001).

Localização: Amazonas vivem às margens do Rio Uaupés e seus afluentes – Tiquié, Papuri, Querari e outros na Terra Indígena Alto Rio Negro, de 7.999.380 ha, homologada e registrada no CRI e SPU com 26.046 indígenas de Siriano e 19 outras etnias. No Brasil vivem dispersos nas margens dos rios da bacia do Uaupés e e nas margens rio Negro (Cabalzar 2006.45). Na Colômbia moram nos rios Caño Viña e Caño Paca (no rio Ti), afluentes do rio alto Papuri. No departimento Vaupes em 3 áreas próximo ao rio Vaupes, ao sul e oeste de Mitu (SIL) no Resguardo Parte Oriental del Vaupes de3.354.094 ha. constituído em 1988.

Língua: Siriano, da família linguística Tukano Oriental, e português (DAI/AMTB 2010). 90% semelhanças com Desano, porém os sufixos gramaticais são diferentes. Alfabetismo em Siriano 5%-30%, em espanhol 15%-25%. Gênesis e o Novo Testamento foram traduzidos entre 1998 e 2009 (SIL). A família linguística Tukano Oriental engloba pelo menos 16 línguas, mas o Tukano possui maior número de falantes (Equipe 2002).

História: Os petrogrifos nas rochas nos rios Papuri, Uaupés e outros, demonstram a antiguidade da presencia dos indígenas na região do alto rio Negro, por mais de três mil anos. Cacos de cerâmica diferente da cerâmica dos Tukano e Baniwa foram descobertos na roças do povos de hoje. Não se sabe se fossem os ancestrais dos povos atuais. Os Tucano e os Wanana já viviam no rio Uaupés quando chegaram os Tariana em Iauaeté, fizeram guerra primeiro mas depois começou a se casar com as mulheres Tucano. Análise da cerâmica descoberta em Jurupari indica que os Tariana chegaram acerca de 1400 depois Cristo. As indicações que os povos de hoje viviam na região muito tempo antes disso e com uma população maior (Cabalzar 2006.57-58).

Os primeiros contatos com os portugueses para os indígenas do alto rio Negro eram nos últimos anos do século XVII com as ‘tropas de regate’ que capturaram os índios e os levaram para Belém e São Luís trabalhar nas plantações ou as ‘guerras justas’ nas quais caciques aliados aos portugueses atacaram outras tribos para ganhar as ‘peças’ ou escravos em troca de bens recebidos. Também os jesuítas estabeleceram missões no rio mas eram obrigados cooperar com a escravidão (Cabalzar 2006.76). O baixo rio Negro ficou vazio de índios. Os Manao, que tinham comércio com os holandeses, e viajavam também rio acima até o rio Orinoco e rio Uaupés. Eles resistiram os portugueses no médio rio Negro, impedindo acesso aos rios do alto rio Negro, mas também venderam índios. Os colonos pediram uma ‘guerra justa’ contra os Manao em 1728, e foram derrotados e o caminho foi aberto para escravizar os indígenas no Alto Negro (Hemming 2008.80-81).

Depois as missões portuguesas estabelecidas temporariamente no século XVIII, a evangelização dos Siriano começou depois da chegada do missionários católicos em 1914 e as missões Protestantes depois a Segunda Guerra Mundial. Nas décadas 60 e 70 o governo colombiano promoveu a colonização da bacia do rio Vaupés, mas poucos responderam (Olson 1991.336). O governo estabeleceu um resguardo indígena por todos os povos Tukano na região do Vaupés. Todos os contatos até o século XX veio do Brasil pelo rio Negro. A sede do Departamento, a cidade de Mitú, foi estabelecida em 1936, quando a fronteira foi demarcada (Reichel-Dolmatoff 1996.22). É o Resguardo Parte Oriental del Vaupes nos municípios de Mitú -Caruru – Pacoa – Yavarate, com uma população de 12.000, com Tucanos e Kubeos, e de 3.354.094 ha. constituído em 1988 (Instituto Colombiano de la Reforma Agraria -INCORA).

Os Siriano fazem parte do “sistema social do Uaupés/Pira-Paraná” e falam uma língua do grupo Tukano Oriental, que consiste dos Arapaso, Bará, Barasana, Desana, Karapanã, Kubeo, Makuna, Mirity-tapuya, Pira-tapuya, Siriano, Tariana, Tukano, Tuyuca, Kotiria, com mais três só na Colômbia, os Tatuyo, Taiwano, Yuruti.

Estilo da Vida: A economia dos Siriano depende da cultivação da mandioca brava e a pesca. A caça é secundária. Eles vendam a farinha da mandioca e beiju para comprar anzóis, facão, machados, espingardas, etc. Também têm adotaram a criação de porcos e galinhas (Olson 1991.336). Os Siriano fazem coleta dos frutos da floresta. Para os povos Tukano certos produtos silvestres são substâncias sagradas – como a pintura vermelha carayuru, cera de abelha, cera de breu (resina vegetal), epadu (feito com variedades de coca), tabaco e ayahuasca ou yagé (feito por cozer folhas de Banisteriopsis caapi).

Sociedade: Os povos Tukano são patrilineares e exogâmicos, então os filhos pertencem ao povo do pai e falam a sua língua, mas se casam com uma mulher de um dos outros povos que fala sua língua. Porém todos falam pelo menos duas das línguas e compreendam outras. Os Siriano se dividem em vinte e sete sibs (Cabalzar 2006). Os ancestrais dos clãs são considerados filhos do ancestral que subiu o Amazonas e o rio Negro na Canoa ou Anaconda de transformação e desembarcaram em ordem de nascimento, e esta ordem determina a hierarquia do clãs. A residencia dos clãs é determinada tradicionalmente pela ordem na hierarquia, os mais altos nos lugares mais favoráveis no rio abaixo e os mais baixo rio acima nas cabeceiras e por preconceito são as vezes confundidos com os índios Maku, os Nukak e os Kakua, na Colômbia. Os clãs mais alto têm chefes que patrocinam os principais rituais e controlam os ornamentos de dança e os Yurupari.

Artesanato:

Religião: Há três tipos de festa. As festas de caxri ou cerveja quando uma comunidade convida os vizinhos para dançar e beber para agradar uma ajuda na coivara de uma nova roça, ou celebrar um casamento, ou a construção de uma nova casa. Os dabukuris ou intercâmbio cerimonial que reforçam os laços de matrimonio e afinidade. Os ritos de Yurupari envolvem as flautas sagradas, esta ritual celebram os papeis de homens e mulheres e suas capacidades reprodutivas complementares. Formam a iniciação dos meninos (Equipe 2002).

Cosmovisão:Os Siriano compartilham do corpus mitológico dos povos tukano. Os mitos descrevem a origem do universo, que não diferencia bem entre a humanidade e os animais, nem entre tempo e espaço. A canoa ou anaconda de transformação veio do lago de leite, subiu os rio Amazonas e os rios Negro e Uaupés, trazendo todos os ancestrais da humanidade. Durante a viagem os ancestrais se transformaram de ornamentos de pena em seres humanos até chegaram na cachoeira de Ipanoré, considerado o centro do universo. Os ancestrais saíram das rochas e foram para seus territórios designados. Cada povo possui suas flautas de Yurupai, feitas do tronos da palmeira paxúba que representam seu ancestral por incorporar o seu sopro e canto (Equipe 2002/2003).

Comentário: Perry e Anne Priest (SIL) analisaram a língua.

Bibliografia:

  • CABALZAR, Alosio, 2006, (redator) Povos Indígenas do Rio Negro, uma introdução à diversidade socioambiental do noroeste da Amazônia brasileira, São Gabriel da Cachoeira/ São Paulo: FIORN-ISA.
  • EQUIPE do Programa Rio Negro do Instituto Socioambiental (ISA), 2002, ‘Siriano’, Povos Indígenas do Brasil, Instituto Socioambiental, São Paulo. pib.socioambiental.org/pt/povo/siriano.
  • DAI/AMTB 2010, ‘Relatório 2010 – Etnias Indígenas do Brasil’, Organizador: Ronaldo Lidório, Instituto Antropos –instituto.antropos.com.br.
  • HEMMING, John, 1987, Amazon Frontier-The Defeat of the Brazilian Indians, London: Pan Macmillan.
  • HEMMING, John, 2003, Die If You Must – Brazilian Indians in the Twentieth Century, London; Pan Macmillan.
  • HEMMING, John, 2008, Tree of Rivers The Story of the Amazon, London: Thomas Hudson.
  • OLSON, James Stuart, 1991, The Indians of Central and South Americ: Ethnohistorical Dictionary, Westport, CT, USA: Greenwood Press.
  • REICHEL-DOLMATOFF, Gerardo, 1996, The Forest Within-The World-View of the Tukano Amazonian Indians, Totnes, Devon, UK: Green Books Ltd.
  • SIL 2014, Lewis, M. Paul, Gary F. Simons, and Charles D. Fennig (eds.). 2014. Ethnologue: Languages of the World, Seventeenth edition. Dallas, Texas: SIL International. Online version: http://www.ethnologue.com.