Matsés

David J. Phillips

Autodenominação: Matsés pode significar ‘os que são de nós’, seja os parentes do falante, seja o próprio povo, seja os índios em contraste com os não indígenas.

Outro nomes: Magirona, Majuruna, Maxirona, Maxuruna, Mayiruna, Mayoruna, Mayuzuna (SIL). Antigamente eram conhecidos pelo nome Mayoruna, erradamente (Hemming 2003.538), mas é um termo quéchua usado desde do século XVII pelos colonizadores para se referirem a todos os índios da região (Matos 2008).

População: Um dos povos Pano com Korubo, Kulina-Pano e Maya e compartilham aspectos culturais com eles (Matos 2008).

Peru: 2.000 (SIL), 1.400 (Fleck 2003.21). 1.314 em 14 comunidades Fleck em Matos 2008), 1.000 (DAI/AMTB 2010).

Brasil:1.000 (SIL), 829 ISA 2000) 800 (Fleck 2003.21). 1.143 (Funasa 2007) em oito comunidades. 1.592 (DAI/AMTB 2010). As famílias têm muita mobilidade inclusive na travessa da fronteira (Matos 2008).

Localização: T. I. Vale do Javari:Vivem em oito comunidades no rio Homônimo, no igarapé Lobo, e nos rios Curuça e Pardo. 90 pessoas moram fora da T.I. perto de Pelotão de Fronteira Palmeira do Javari (Matos 2008).

Também no Peru com 14 comunidades, a maioria na Comunidad Nativa Matsés entre o rio Gálvez, a cabeceira do Choba e o Javari (Matos 2008).

Língua: Matsés (DAI/AMTB 2010). É da família linguística Pano e é inteligível com Korubo, Kulina-Pano, Matis e Maya (Matos 2008). Um programa de leitura e o Novo Testamento traduzido em Peru e bem usado nas igrejas. A MNTB usa esta matéria no Brasil (Anonby e Holbrook 2010.15). Na aldeia as crianças aprendam e falam somente a Matsés (Matos 2008).

História: O rio Javari tem desembocadura no rio Solimões perto de Benjamim Constant e forma a fronteira entre o Brasil e o Peru. No passado era uma região remota dos capitais e as autoridades dos dois países, entretanto os serigueiros avançaram nas florestas até o fim do círculo da borracha em 1915. Algumas tribos eram aculturadas depois de décadas de conflito. Kenneth Grubb pesquisou a região a favor da Missão Coração de Amazônia (atualmente MICEB e M. AMEM) em 1927 e descobriu que elementos dos índios, como os Kulina, Korubo e Marawa, eram incorporados na população ‘civilizada’. Outros como os Kanamari e Katukina, que eram nações numerosas então na década 20 muito reduzidos.

Na margem esquerda no Peru moraram os Matsés. Desde o século XVIII eram conhecidos como resistentes às invasões dos brancos, e até os militares peruviano os atacaram (Hemming 2003.58). Durante o primeiro tempo da borracha, 1870-1920, os Matsés evitaram conflitos com os não-índios e fugaram para dentro a mata interflúvio mas assim perderam acesso aos ovos de tartaruga e tracajá.

Durante o século XX os Matsés tornaram-se o maior povo entre os povos Pano, por meio de guerras e pela captura de outros grupos, e provavelmente foram responsáveis por extinguir quatro povos (Matos 2008). Durante a época da borracha muitos migaram para o lado brasileiro.

Em 1964 a SIL identificaram grupos isolados por sobrevoos e jogaram presentes de ferramentas de aço. A reação inicial dos Matsés foi para empurrar os presentes para dentro o rio com varas para não os tocarem. Afinal no Peru duas missionárias norte-americanas tiveram contato e analisaram a língua (Hemming 2003.538). As missionárias tentaram ter contato por mediação de um peruviano capturado que fugiu, mas este foi morto pelos Matsés. Depois as senhoras acamparam à margem do rio Javari com apoio de aviões da sua Missão. Os contato foi amigável e os Matsés no Peru adotaram até uma parte da ética cristã e congregaram perto do posto missionário da SIL e também receberam assistência médica. Eles construíram uma pista para o avião próxima ao rio Choba. A presença das missionárias foi importante para a proteção dos indígenas. Esta comunidade deixou o posto missionário nos anos 80 para morar espalhados em casas de famílias nucleares (Matos 2008).

No Brasil, depois a FUNAI montou o posto Lobo por volta de 1974 e ajudou os indígenas vender madeira, especialmente cedro, andiroba e jacareúba, e também látex em Benjamin Constant, e eles comparam sabão, roupa, agulhas e fio, panelas, machados e espingardas. Assistência médica veio com uma equipe da Escola Médica de São Paulo. Conflitos entre famílias Matsés resultou na sua transferência pela FUNAI ao meio Javari. Uma campanha a favor de criar uma Terra Indígena começou em 1985, que foi homologada em 2001 (Matos 2008). As comunidade no rio Javari mudaram as margens dos rio Cucuçá e Pardo (Matos 2008). O contato com os Matsés é a responsabilidade da Frente de Proteção Etno-Ambiental do Vale do Javari (Conde 2010). Há um alto índice de contaminação de hepatite B e Delta entre os Matsés (Matos 2008).

Estilo de Vida: Os Matsés compartilham aspectos culturais com os Kulina-pano, Matis, e outros, como o uso da zarabatana, técnicas de caça e uma sociedade de metades patrilineares.A maioria continua a vida tradicional de roça, caçar e pescar. Combinam uma vida de aldeia nas margens dos rios com expedições constantes de caça e para defender seu território, e têm casas e roças secundárias espelhadas no mato aonde gostam de passar tempo e caçar (Matos 2008).

A maloca é situada no meio de uma roça comunal aonde cultivaram banas e mandioca. As famílias tinham as outras casas e roças, aonde cultivaram milho, um dia ou mais de viajem das maloca principal. As malocas são de forma hexagonal elongada, com portas pequenas às extremidades. O interior é dividida por uma ala entre as portas e os lados divididos por esteiras para formar os compartimentos para as famílias nucleares. Cada compartimento tem um fogo. O homem principal mora no compartimento perto da porta. Aqui também estão troncos para servir de bancos para os visitantes. Atualmente somente a aldeia Lobo tem uma maloca habitada.

Os Matsés moram em casas tipo regional e o casamento sendo patrilocal os filhos constroem casas ao lado dos pais, depois um perídio logo depois do casamento com os sogros (Matos 2008). O casamento preferido é com primos cruzados, mas a poligamia é muito comum. No passado tinham uma reputação de roubar esposas dos outros povos.

A caça mais apreciada são o macaco-preto e as queixadas, mas também caçam anta, veado, jacarés, caititu e animais menores e várias aves. Usam arco e flecha, espingardas, cachorros, armadilhas e cercas. As mulheres e as crianças participam nas caçadas, como os homens ajudam nas roças. Mas têm o preconceito que os animais não gostam do cheiro feminino, e por isso os homens praticam abstenção de relações sexuais quando estão montando armadilhas. Na estação da seca caçam as tracajá e seus ovos nas praias. Pescam nos rios pertos das aldeias e usam tinguijada na época da seca (Matos 2008).

No Peru formaram uma associação e têm escolas e seus próprios professores. São mais assimilado à cultura nacional do Peru. Eles vendem carne de caça defumada, galinha, porcos e patos e fruta em Colonia Angamos.

Entretanto os Matsés no Brasil não gostam de participar no comércio. As famílias têm muita mobilidade inclusive na travessa da fronteira (Matos 2008). O estudo de português é disponível em Cruzeirinho mas os Matsés não tomaram a oportunidade (Anonby e Holbrook 2010.15). No Peru as cerimonias e rituais são descontinuados, mas renovados no Brasil.

As aldeias no Brasil têm professores da própria etnia, mas a maioria não têm formação completa e por isso estudantes estão saindo para estudar na cidades próximas de Atalaia do Norte, Benjamim Constant e Tabatinga (matos 2008).

Artesanato:

Sociedade: Durante o século XX a população dos Matsés cresceu e são o maior povo Pano por atacar outros povos, matar os homens e raptar as mulheres e crianças para incorporá-las na suas comunidades. Com a poligamia tiveram famílias grandes com pessoas falando até dez línguas diferentes. Os Matsés se orgulham em ser um povo ‘misturado’ mas mantêm uma cultura unida, que reúne aspectos das outras culturas. Durante o tempo de guerras dos grupos mudaram lugar frequentemente. Cada grupo consistiu de um grupo de irmãos que seus filhos se juntaram depois de servir seus sogros.

Os Matsés se dividem em duas metades que são os tsasibo e os macubo. Os casamentos são quase sempre entre pessoas de metades diferentes.

Os tsasibo (grupo duro) ou bëdibo (grupo onça), shëctembo (grupo porco do mato ou caititu) crêem que não estejam atacados pelas onças quando as caçam. Usam pinta de urucum nas flechas e na pintura corporal para que os animais percebam que são ‘parentes’. Os animais que são ferozes e solitários com carne escura são tsasibo. Os homens tsasibo não devem ver uma plantação de milho para não prejudicar seu crescimento.

Os macubo (grupo larva) ou shëctenamëbo ou aiabo (grupo queixada) conhecem bem as larva nas roças, que comem o milho se os homens macubo não as tirarem das plantas. Porém se os tsasibo tentar tirá-las as larva vão se multiplicar. Macubo são os animais que andam em bando. Os macubo usam uma pintura corporal que se assemelha às pegadas dos queixadas em triângulos ou traços paralelos que representam as larvas.

No passado os melhores caçadores têm prestígio, mas agora é os que falam português ou espanhol melhor têm mais influencia. Em 2009, foi criada Organização Geral dos Mayuruna (OGN), a primeira associação Matsés (Matos 2008).

No Peru o sistema semi nômade começou a mudar depois da vinda das missionárias para ficar em uma só lugar, estabelecendo um assentimento mais ou menos permanente, mas saindo para passar tempo nas outras malocas. Os próprios Matsés desejaram ouvir a palavra das missionarias. No lado brasileiro um fator de usar casas dispersas foi a necessidade de defender seu território e e realizam expedições fora da aldeia com este motivo (Matos 2010).

Religião: As metades têm importância nos rituais. Os cantos de lamento dos mortos são diferentes conforme as metades e começam a entardecer e podem durar toda a noite (Matos 2008). Os homens tomam diversas preparações para melhorar sua habilidade na caçada. As crianças são banhadas com a infusão da planta certa para as proteger do espírito das animais que os pais comem (Matos 2008).

Bibliografia:

  • CONDE, Ananda, 2010, Índios Isolados do Vale do Javari www.valedojavari.com.
  • DAI/AMTB 2010, ‘Relatório 2010-Etnia Indígenas do Brasil’, Organizador: Ronaldo Lidório, Instituto Antropos –instituto.antropos.com.br.
  • HEMMING, John, 1995, Amazon Frontier; The Defeat of the Brazilian Indians, London: Pan Macmillan.
  • HEMMING, John, 2003, Die if You Must: Brazilian Indians in the Twentieth Century, London: Panmacmillan.
  • MATOS, Beatriz de Almeida, 2008, ‘Matsés’, Povos Indígenas do Brasil, Instituto Socioambiental, São Paulo. pib.socioambiental.org/pt/povo/matsés.
  • SIL 2009, Lewis, M. Paul (ed.), Ethnologue: Languages of the World, Sixteenth edition. Dallas, Tex.: SIL International. Online version: www.ethnologue.com.