Parkatêjê (Gavião do Pará)

David J. Phillips

Autodenominação: Parkatêjê é o nome escolhido pela comunidade (Ferraz 2000).

Outros nomes: Gavião do Pará, Timbira do Pará, Gavião de Mãe Maria (DAI-AMTB).

Gavião do Mãe Maria, Gavião Parkatêjê, Gavião do Oeste (Ferraz 2000). SIL vincula os Parkatêjê com Pukopjê

População: 338 (Ferraz 2000).Na década 70 perderam 70% da sua população. 400 (DAI/AMTB 2010).

Localização: Vivem na T. I. Mãe Maria, homologada e registrada no CRI e SPU, de 62.488 ha no município de Bom Jesus do Tocantins, PA, na floresta da terra firme na margem direita do rio Tocantins entre os Igarapés Flecheiras e Jacundá (Ferraz 2000), na aldeia Kaikouré. Perto de Marabá e outros espalhados no Maranhão (SIL).

Língua: Gavião do Pará, classificada: Macro-Ge, Ge-Kaingang, Ge, Noroeste, Timbira (SIL), um dialeto da língua Timbira Oriental, português é usado desde 1981 pela escola da FUNAI. Mas a língua original é usada nos rituais (Ferraz 2000). A mesma língua dos Pukobjê (Gavião do Pará) e relacionada à Krinkati-Timbira, Canela, Krahô (SIL).

A língua Parkatêjê (Gavião do Pará) encontra-se em perigo de ser extinto, porque é falada apenas por um pequeno número de pessoas da comunidade, e não aprendia como primeira língua das crianças que falam somente o português (Ferreira 2010).

História: Todos os grupos de Timbira foram chamados ‘Gavião’ pelos colonizadores por ser belicosos. Segundo Nimuendaju, o grupo, os Gavião do Pará (Parkatêjê), que ele classificou os Gaviões do Oeste que não aceitaram a ‘paz’ e se separam para a bacia do Tocantins enquanto os Pykôpjê e Krinkatí ficaram no alto rio Pindaré, no Maranhão (Farrez 2000).

Os Gaviões do Pará se dividiram em três grupos:

Os Parkatêjê (o povo de jusante), os Kyikatêjê (o povo de montante) do rio Tocantins no Maranhão e os Akrãtikatêjê (o povo da montanha). Foram reunidos na Comunidade Indígena Parkatêjê, apesar que as divisões ainda existem (Ferraz 2000).

Sob a FUNAI a população da comunidade tem aumentado. Em 1976 os Gaviões ganharam a independência do comércio da coleta de castanha que a FUNAI operou, para ter contato direto e negociar com os compradores em Belém, e assim ganharam mais respeito da sociedade nacional, e passou a se chamar Comunidade de Parkatêtê (Ferraz 2000). Esta comunidade encontra-se no Km 30 da BR 222 que corta a Terra Indígena. Depois dividiram e uma nova aldeia de Kyikatêjê é situada no Km 34. A reserva é cortada também pela Estrada de ferro Carajás da Empresa Vale e a linha de transmissão da Eletronorte, originada na Usina Hidrelétrica de Tucuruí. Os índios recebem compensação pelos danos socioambientais. A Terra Indígena Mãe Maria, com uma área de 62.488 hectares, foi homologada pelo presidente Sarney em agosto 1986.

Estilo de Vida: A aldeia Kaikoturé fundada em 1984 está construída em forma de um círculo tradicional timbira composta de 33 casas de alvenaria servidas de água, luz e esgotos (Ferraz 2000). Em frente às casas há um caminho amplo e caminhos entram para o centro do pátio. A construção das casas é o resultado de pressão de comerciantes de materiais de construção e a maioria das casa possuem atrás um tapiri semelhante a uma casa tradicional aonde as famílias passam uma boa parte do dia.

As mulheres trabalham em grupos de ‘irmãs’ no plantio e colheita da roças, as quais pertençam às mulheres. Cultivam mandioca, milho, bata, cará, amendoim inhame e seis variedades de banana. A coleta de frutos silvestre e da castanha do pará é tarefa da mulheres.

Os homens cultivam grande áreas de arroz, inicialmente para o consumo da comunidade e ainda mais áreas são plantadas por não indígenas contratados pelos Parkatêjê para vendar o arroz no comércio. A caça é limitada por causa dos desmatamentos em redor, e o consumo é reservado para o tempo das festas. Os homens usam espingarda para abater veado, caititus, pecari, tatus paca e macaco. As pesca é limitada mais ao poraquê (Electrophorus electricus) para a confecção dos berarubus, alimento exótico dos povos Jê. Na estação da seca saem em canoas para pescar com tarrafa. Formou uma clube profissional de futebol.

Artesanato: O nome ‘gavião’ vem das penas usadas em suas flechas. Os homens mais velhos fabricam os arcos e flechas e os instrumentos de sopro e percussão tanto para as cerimonias e para vender aos visitantes (Ferraz 2000).

Sociedade: Os Parkatêjê dividem em duas metades: os Pàn (arara) e os Hàk (gavião) com graus de idade e outros divisões. Renovaram o costume do casamento monógamo e uxorilocal, com famílias extensas morando juntas da linha materna no círculo da aldeia. Hoje em dia as reuniões dos homens se realizam na alpendre da casa do líder e não no centro do pátio.

Todos os Parkatêjê são dados dois nomes, um é segredo e nunca deve ser divulgado, pois para revelá-lo significa transferir o poder sobre a pessoa. O outro nome é de um antepassado que traz a responsabilidade de manter as caraterísticas do morto e quem deu o nome assume a responsabilidade de ensinar a cultura. Um tabu de não usar os nomes é praticado por um tempo determinado entre nora e sogro e genro e sogra.

Religião: Entre 1960 e 1983 depois o contato com os não indígenas, o povo deixaram de praticar os ritos, mas começaram a refazer ‘as brincadeiras’ com eles chamaram suas cerimonias. Para incentivar os estudo e vivencia da cultura e língua duas Gincanas Culturais foi realizada em 2009 e 2010 pela Escola Indígena Estadual Pẽptykre Parkatêjê.

Os rituais tratam dos relacionamentos sociais entre as duas metades, que fazem corridas de toras e jogos de arco e flecha. Os corridas de tora usam pedaços de estipe de de coqueiro babaçu ou de sumaúma, pintados de urucum. As mulheres participam na parte final e banham os homens quando chegam no pátio. É mais importante que as turmas chegam juntas no pátio, o alvo é o divertimento e não quem chega primeiro.

Os jogos de flechas, Apãnare, são realizados na mata ou no pátio, atirando a maior distancia de trezentos metros ou mais, ou o tiro acurado em cortar um arco a pouca distancia. Os corredores e atiradores melhores ganham prestigio na comunidade.

Há outras divisões chamadas Arraia, Lontra e Peixe para realizar um outro ciclo de cerimonias e ainda outras com a participação dos graus de idade, os amigos formais, e famílias (Ferraz 2000). Jogos de futebol também são realizados no pátio.

Outra ‘brincadeira’ é chamada Akô que é uma corrida de revezamento entre duas equipes de quatro homens de casados e solteiros carregando um bastão de bambu.

Os Parkatêjê realizam uma iniciação dos jovens, chamado pemp. Os jovens iniciantes ficam reclusos por alguns meses, numa casinha fechada como palha de babaçu, atrás a casa de o guia de cerimonias, aonde recebem ensino sobre a bravura de guerreiro. O grupos de jovens fazem tudo juntos para o tempo de recluso, saindo para caçar, banhar ou a colheita de roças (Ferraz 2000).

No fim de janeiro a ‘festa do milho novo’ é realizada quando começam a coleta de castanha do pará (Ferraz 2000).

Cosmologia: Os Parketêjê possuem diversas estórias como mitos, fábulas relatos do cotidiano e autobiográficos e suas canções tradicionais. Um projeto está em andamento para documentar as narrativas do povo (Ferreira 2010).

O mito Pyt me Kaxêr conta sobre a criação dos primeiro índios e a transmissão na cultura aos Parkatêjê. Eles consideram o Sol, Pyt, uma personagem responsável e de confiança. Entretanto a Lua, Kaxêr, é a origem de tudo que é ruim. A Lua, tendo necessidade de atravessar um rio, foi convida andar em cima do Jacaré. Durante a travessa o Jacaré pergunta o que ela pensa da sua nuca. A Lua mentiu que é bonita. Depois de chegar no outro lado do rio, em vez de agradecer o Jacaré, cantou que a nuca realmente era feia. A Lua encara todos aqueles que não respeitam os outros e não é grato pelo bem que lhe é feito (Ferreira 2010).

Para ensinar como proceder na morte, o Sol cuida da Lua que está doente e morre. O Sol cumpre o ritual fúnebre como arrumar sua franja, pinta o rosto e corpo com urucum, e a coloca em posição sentada, encostada em uma árvore sem enterrar. Depois do por do sol a Lua retorna a viver e promete fazer igual ao Sol, mas não cumpre sua promessa. Por isso os humanos não devem ser enterrados. Se fossem postos na árvore, eles viveriam de novo. Porém a Lua enterrou o Sol e assim condenou toda a humanidade a morte. Também o Sol subiu ao céu e nunca fala mais com a Lua por isso segue dia e noite.

Uns três ou cinco anos depois do enterro os ossos do morto são desenterrados para cumprir as segundas exéquias e sepultar de novo. É o costume de todos os povos Jê (Ribeiro 2002.72).

Comentário: Os Parkatêjê mantêm seu contato com os missionários da MNTB.

Bibliografia:

  • DAI/AMTB 2010, ‘Relatório 2010-Etnia Indígenas do Brasil’, Organizador: Ronaldo Lidório, Instituto Antropos –instituto.antropos.com.br.
  • FERRAZ,Iara 2000, ‘Gavião Parkateje’, Povos Indígenas do Brasil, Instituto Socioambiental, São Paulo, pib.socioambiental.org/pt/povo/gaviao-parkateje.
  • FERREIRA, Marília, 2010, ‘Análise de uma Narrativa tradicional oral do Povo Parkatêjê’, Espaço Ameríndio, Porto Alegre, v. 4, n. 2, p. 191-205, jul./dez. 2010
  • RIBEIRO, Liliane Brum, 2002, ‘Limpando Ossos e Expulsando Mortos, Estudo comparativo de Rituais funerários em Culturas Indígenas Brasileiras através de uma revisão bibliográfica, Dissertação de Mestrado de Antropologia, Centro de Ciências Humanas, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis.
  • SIL 2009 Lewis, M. Paul (ed.), 2009. Ethnologue: Languages of the World, Sixteenth edition. Dallas, Tex.: SIL International. Online version:  www.ethnologue.com.